Música Eu fui selecionado pelo sistema de cotas, então aconteceu meio de um modo inesperado e mudou minha vida as cotas. E eu decidi entrar por cotas na UEL porque eu sei que é um direito que eu tenho. O sistema de cotas foi implantado a partir do vestibular de 2005 e envolveu um debate muito profundo, muito interessante com toda a universidade e com a comunidade de Londrina. É uma experiência que tem sido muito positiva.
para a universidade, porque a participação de setores com características socioeconômicas e culturais diversas enriquece a universidade. O principal responsável foi... foi a atuação do movimento negro e ter tido uma gestão que acolheu naquele momento o sistema de cotas, ou seja, acolheu um apelo que vinha não só do movimento negro, mas porque o movimento negro estava em sintonia com os acontecimentos a nível nacional e também a nível internacional.
O sistema de cotas só enriqueceu a Universidade de Londrina. O sistema de cotas só enriqueceu a Universidade de Londrina. só melhorou a Universidade Estadual de Londrina. Na medida em que ele trouxe os negros para dentro da universidade, ele trouxe o aluno da escola pública para dentro da universidade, o aluno periférico, ele trouxe também uma outra cultura, ele trouxe uma outra leitura de mundo, ele trouxe uma outra visão de mundo.
Tenho tido conhecimento de pessoas, de alunos, que a partir do sistema de cotas teve a possibilidade... a oportunidade de estar nesse espaço da universidade e, a partir desta oportunidade, construir uma história diferente dos seus pais e dos seus avós. Quando começamos a discutir que os negros também teriam, e as negras também teriam direito a ter acesso ao ensino superior, na verdade começou a resistência, porque na nossa sociedade existe um racismo institucional, um racismo estrutural, e que fez com que as pessoas considerassem normal Que o negro não chegasse à universidade.
Então, antes dos sistemas de cotas, nós tínhamos apenas 2% da população que conseguia adentrar o espaço do ensino superior. Eu acho que eu não sofri preconceito diretamente em relação à secundária. mas mais por ser negra.
Eu sofri racismo, não de uma forma explícita, mas de uma forma velada, que é um dos tipos de racismo que é predominante aqui no Brasil e que a gente denomina racismo estrutural. racismo institucional. A princípio eu não sentia essa diferença entre outros professores e os alunos, mas depois quando eu percebi que eu comecei a usar algumas características dos negros, que é eu coloquei transe, eu fiz dread, coloquei turbante, eu percebi um certo incômodo em algumas pessoas.
Foram inúmeras resistências, nós tivemos que... trabalhar com aquelas pessoas que desconheciam os dados, desconheciam a realidade, nunca tinham parado para refletir em relação à população negra. Então essas pessoas foram mais fáceis de convencer. Então muitas pessoas que não tinham tido essa oportunidade, se juntaram a nós depois, na verdade, de um processo de conscientização, de discussão, de debates, mas até hoje, E muito mais no início, nós encontramos inúmeras resistências, sobretudo das pessoas que consideram que o negro deve estar fora do espaço universitário.
É difícil, é um processo longo, mas que eu acho que o mesmo vetor, a mesma força vetorizada que nós temos da onda conservadora, nós temos também de pessoas progressistas que apoiam e que lutam pelo sistema de cotas. Nós temos uma configuração do sistema de cotas na UEL que ele passaria por avaliações. A primeira avaliação, então, ele foi instaurado em 2005. E a primeira avaliação do sistema de cotas da UEL, ela foi em 2011. Nessa primeira avaliação, nós tínhamos aqui um problema que era o da proporcionalidade.
Então, assim, era até 20% dos alunos que poderiam ingressar. Em 2011, na avaliação, foi superada essa questão da proporcionalidade e a UEL efetivamente começou a reservar 20% das vagas. para alunos negros de escola pública. E outro grande momento foi no debate que nós fizemos em 2016 para uma nova avaliação e na avaliação em 2017 com a aprovação para dar continuidade ao sistema de cotas por mais 20 anos e ainda houve uma ampliação de 5% para alunos que são ou oriundos de escola pública ou também de escola privada.
ou seja, independente do percurso. O que é esse 5% tão falado agora no nosso novo sistema de cotas? É que negros de qualquer percurso escolar, ou seja, daquele que é o filho do operário que trabalhou no SESI, aquele que conseguiu bolsa, ele pudesse ingressar também pelo sistema de cotas, porque a gente sabe que o dinheiro, a questão econômica, não diminui o racismo. No processo de avaliação, se constata que as diferenças...
de notas, que os alunos que entraram por cotas ou que não se utilizaram das cotas, que a diferença da nota desses alunos quando estão fazendo seus cursos dentro da universidade é uma diferença irrelevante. E tem muitos casos em que os alunos cotistas mostram médias superiores aos não cotistas. Naquele momento, em 2017, nós inclusive tivemos que...
Foi envolvido o grupo de trabalho de combate ao racismo. racismo. Desde 2012 o Ministério Público criou, junto com o movimento negro aqui de Londrina, e o NEAB faz parte desse movimento e desse GT, nós criamos um GT de combate ao racismo.
O racismo provoca injustiças na nossa sociedade. O sistema de cotas é um dos instrumentos para que nós possamos combater essas injustiças. As políticas de ação afirmativa são de suma importância para a população. negra sobretudo pelo processo, o imenso processo histórico de escravidão e do pós-abolição que veio desacompanhada de qualquer política pública que viesse inserir o negro na sociedade sucessora da escravocrata. Então hoje mais do que uma reparação pelo processo escravista é uma reparação pelo ciclo de desvantagens cumulativas que a população negra enfrentou no período pós-abolição do sistema escravocrata.
O sistema de cotas ele é um divisor de águas na trajetória do estudante, porque a partir da entrada pelo sistema de cotas, é que você começa a se questionar do que é ser negro, do que significa ser negro. Então eu faço esse movimento de conhecer a minha história, porque eu me questiono quem eu sou. O que é ser negro? Onde está essa raiz na minha família?
O que isso significa? Então eu vou buscar isso. E aí eu consigo sair de um lugar de inferioridade.
de um lugar que é pensado para o negro. Diria para as pessoas que estão tentando ingressar na universidade, que utilizam o sistema de cotas, pois foi uma conquista histórica do movimento negro e que ocupa um espaço que historicamente nos foi no negado. Para as pessoas não terem receio de...
de entrar por cotas, de optarem por cotas do que as pessoas vão falar e de se assumir enquanto negro na universidade. É importante a gente participar desse espaço, que também é nosso, para que a gente construa história dentro da universidade. que a gente não negue a importância das cotas na nossa vida, na vida de todos os nossos ancestrais e das próximas pessoas que vão vir.
Não tenham vergonha ou medo de sofrerem algum tipo de preconceito, algum tipo de racismo aqui dentro por terem optado pelo sistema de cotas, porque a universidade é pública, então ela é feita para todos. Eu sou muito grata pela oportunidade que me foi dada. Acredito que todo jovem negro, toda mulher negra, todo homem negro deve aproveitar. porque as expectativas que a gente tem também de qualidade profissional e de vida depois são muito boas, são bem melhores do que a que nós tivemos.
Eu acredito que a educação transforma a vida e não transforma somente a vida do indivíduo que ingressa na universidade, ele transforma a vida da família daquele indivíduo. ...forma a vida das pessoas que estão ao seu redor, então é fundamental que nós também, a população negra e as alunas que são oriundos de escola pública, tenham condições de... entrar numa universidade como a UEL, que é uma instituição de qualidade e é uma instituição que também está aberta, mas essa abertura foi a partir de uma luta. Então a gente não pode deixar ou esquecer que tudo isso faz parte de uma história e muitas pessoas que participaram dessa história já não estão presentes como a Dona Vilma.
Eu acho que todos devem vir para cá sim, devem tentar uma vaga na Uel. No dia de carnaval, eu vou, eu vou...