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Discussão sobre a Criação no Gênesis

Muito boa noite, muito bem-vindos a mais uma das nossas sessões do nosso grupo Geischer. Nós o que temos vindo a fazer, e vamos continuar a fazer hoje, é falar um pouco sobre vários aspectos do princípio do livro de Genesis, aproveitando o ensejo que estamos a recomeçar a ler toda a Torá. desde o princípio e, portanto, esta é uma parte mais ou menos fundamental para perceber uma série de conceitos no judaísmo e podemos aproveitar o ensejo então para falar sobre uma série de coisas mais ou menos avulsas, digamos assim.

Nós, na semana passada, a grande preocupação foi olhar para a questão da criação, da criação do universo, obviamente, a relação entre o tempo e o espaço. e, em última análise, como é que nós vemos a relação entre a Torá e a ciência, no geral. Portanto, foi essa, digamos, a grande preocupação da semana passada.

Continuando a narrativa, o primeiro tópico que nos aparece depois é a criação do ser humano. E, portanto, é interessante, é importante perceber os detalhes da criação do ser humano. E as implicações que isso tem. Portanto, a primeira coisa é que a descrição da criação do ser humano é fundamentalmente diferente da criação de tudo o resto. Todas as outras coisas, digamos assim, que foram criadas, à qual foi dada existência, foi dada existência através de, Deus disse, que haja luz e houve luz, que haja...

uma árvore e que aí a árvore apareceu e que haja uma vaquinha e a vaquinha criou portanto foi tudo criado com palavras o ser humano foi criado de uma maneira diferente de uma maneira bem mais complexa e mais significativa porque foi criado como? Foi criado num processo de dois tempos dois tempos numa primeira fase foi criado da terra, do pó da terra, e portanto foi, digamos, feito, formado o pó da terra, e portanto tem essa conotação, uma coisa muito física, se quisermos. Mas depois houve uma segunda fase em que o que torna o ser humano vivo foi Deus ter ele.

ter respirado para as narinas deste ser humano o nefesh hayah que é uma alma viva de vidência, uma alma viva e portanto há aqui uma diferença grande entre a maneira como tudo o mais foi criado e o ser humano foi criado o ser humano é criado com estas duas potencialidades, por um lado a parte física mas por outro lado a parte espiritual... E isso explica, entre outras coisas, porque é que a Torá, quando nos fala de todas as outras criações, tem o cuidado de nos dizer que Deus criou e olhou para aquilo e achou que era ótimo. Estou a parafrasear.

E viu que era bom. E quando chegou à criação do ser humano, isso não foi dito. Não foi dito que era bom. E, portanto, a pergunta óbvia é, mas então, o ser humano, obviamente, parece que em toda esta história, é um ser fundamental e, contudo, não se diz que, Deus não disse que era bom.

E isto aponta numa direção muito interessante que é, nós só podemos dizer que uma coisa é boa quando está completa, senão não sabemos se é boa ou se não é, quando está completa. E acontece que tudo o resto da criação foi criado... de uma maneira completa.

Ou seja, mais uma vez, a vaquinha, quando foi criada, a vaquinha não tem margem de progressão espiritual, digamos assim. A vaquinha está criada, está criada, pronto, está, é o que é, não é? Ou seja, a vaquinha não tem como objetivo tornar-se uma melhor vaquinha.

A árvore não tem como objetivo tornar-se uma melhor árvore. O conceito não existe. Mas para o ser humano não é assim. Ou seja, o ser humano é feito como uma... criação que não só é trabalho a decorrer, ou seja, é uma coisa que não está completa, e nós é que somos chamados a completar essa criação, no sentido de que nós conseguimos melhorar, conseguimos tornar-nos melhores pessoas, e o objetivo é mesmo esse, é trabalhar em nós próprios e tornarmos tudo o que precisamos ser.

Mas, portanto, há uma grande capacidade, ou se dizemos, há uma grande margem de crescimento no ser humano que significa que nós não somos criados completos. para nos completarmos para nos tornarmos melhores e portanto essa é uma diferença grande aliás a tradição judaica diz-nos uma coisa muito interessante que é que o ser humano é a razão fundamental da criação ou seja, toda a criação é feita para ou por causa de ou para uso fruto de, do ser humano. Portanto, o ser humano é o pináculo da criação, aliás, é o pináculo até porque é a última coisa que é criada.

O que é que isto significa? Aqui há uma perspectiva muito interessante, que é, bem, o ser humano sendo o último a ser criado e sendo tudo criado pelo propósito de servir, vamos dizer assim, o ser humano, o ser humano tem esta criação dual de aspecto físico e aspecto espiritual, tem este aspecto de crescimento que nada mais tem, com isto tudo a gente pode dizer assim, bom, o ser humano realmente é uma coisa muito importante. E, portanto, seria perfeitamente compreensível, se quisermos, desenvolvermos um sentimento de arrogância pelo facto de, bem, nós não só somos criados à imagem de Deus, que é coisa que mais ninguém...

não foi dito sobre mais nada nós somos criados à imagem de Deus somos criados com esta sofisticação toda somos criados para tudo nos servir nós somos uma coisa muito especial bem, e aí os nossos sábios dizem-nos imediatamente que quando este pensamento nos vier à cabeça que nós estamos assim tão especiais e tão importantes e tão não sei o quê consideremos só o facto de que Antes de nós sermos criados, os vermes mais vermes e os insetos mais insetos e as moscas mais moscas foram criadas antes de nós. Elas já existiam quando nós fomos criados. E, portanto, esta ideia de que nós somos assim tão importantes, Deus podia perfeitamente ter acabado a criação sem nós. Porquê? Porque nós fomos os únicos a ser criados.

E até as coisas mais... e mais irrelevantes e até mais ignóveis, se quisermos, foram criadas antes do ser humano. É importante pôr a coisa em consideração e não deixar que a nossa atitude seja uma atitude de arrogância e, pelo contrário, deve ser uma atitude de humildade a reconhecer que sim, nós tivemos esse privilégio de ser criados no fim e de ter o mundo à nossa volta, digamos, de alguma maneira para nos servir, mas isso é uma responsabilidade, por um lado, e, por outro lado, não esquecer que... fomos os últimos a ser criados e, portanto, já havia outras existências antes de nós, para pôr a coisa com mais moderação, em termos do nosso entusiasmo, digamos assim. Ainda a questão da criação do ser humano e esta criação dupla, esta criação em dois tempos, se fizermos.

É muito importante, porque, por um lado, aliás, o ser humano, o primeiro ser humano, e já agora eu dizer, não é por acaso que eu estou a dizer ser humano, eu estou a dizer sempre ser humano, não estou a dizer nem homem nem mulher, lá iremos aí, mas este ser humano, o nome era Adão, Adão, não é? Adão. E o que é interessante em relação a este...

é que o termo Adão, Adam, que não significa nada, que não tem nenhuma conotação para nós em português, em hebraico tem conotações muito específicas. Porque Adam, por um lado, vem de Adama. Adama é o quê? É a terra.

Portanto, tem este aspecto da terra. Ou seja, o nome do ser humano deriva em parte... de ser from Adama, da Adama, da Terra.

Por outro lado, é também a palavra que é usada para dizer criada à semelhança de... Ad-Ma Elohim, à semelhança de Deus. Portanto, a raiz da palavra Adão aparece como não só o aspecto físico da Terra, mas como o aspecto de centelho do Divino, que nós sempre quisermos chamar a nossa alma.

E, portanto, o termo é um termo muito importante, é um termo muito significativo em referir-se a estes dois aspectos do ser humano. Quando nós falamos, por exemplo, quando a Torá nos diz que o ser humano é feito à imagem do divino, é uma constatação que cria, em certos círculos, grande confusão. O que significa ser feito à imagem do divino não é o aspecto físico. O aspecto físico não é o que é feito à imagem do divino.

A imagem do divino que é feita à imagem do divino é a parte espiritual. Porque a parte que é Adama, que é feita à imagem semelhante do físico, é a parte que é feita da Terra, não é a outra parte seguinte. Portanto, a referência a que nós somos feitos à imagem e semelhança de Deus, e portanto essa relação com o termo, com o próprio nome do Adão, vem da parte espiritual, não vem da parte física.

E portanto, o que significa ser feito à imagem de Deus? Significa ser feito com, neste caso... ter vontade, ter desejo de criar, ter desejo de fazer as coisas, ter livre arbítrio, ter poder escolher, ter este aspecto intelectual e, sobretudo, o facto de ter esta nefes raiá, esta alma vivenciadora, esta alma que nos torna únicos. E aqui talvez valha a pena fazer um parênteses e pensar no seguinte, que é do ponto de vista sobretudo mais místico judaico, todas as coisas, animais e plantas e tudo, tudo tem uma centelha do divino e portanto se quisermos usar esse termo, tudo tem uma alma, enfim, usando com algum cuidado a palavra.

E portanto tudo tem uma centelha do divino, porque estando vivo... existindo, tem uma centelha do divino que lhe garante essa existência e que condiciona essa existência. Mas, a centelha do divino que existe no ser humano é de uma dimensão muito mais profunda. E aqui, a explicação que o misticismo nos traz é muito interessante porque, o que é que diz?

Diz, a diferença entre a criação de tudo e a criação do ser humano é o quê? É a diferença entre falar e superar, não é? Tudo foi falado.

No caso do ser humano, foi superado. Deus superou, nas narinas do ser humano, a alma vivenciadora. Qual é a diferença entre falar e superar?

É uma diferença muito grande. Como eu gosto de dizer, eu consigo falar durante muitas horas a fio sem problema nenhum. Eu superar, consigo superar durante 15 segundos.

Depois de 15 segundos, quando chegar aos 20, já começa a ter tonturas. E isso chega aos 30 segundos, desmaio. Há uma diferença muito grande entre falar e superar.

Qual é a diferença? Falar é um fenómeno superficial. É uma passagem do ar, mas é uma passagem superficial.

É uma coisa que sai da minha boca. Não vem de lado nenhum. Sai da boca.

superar vem de dentro vem do nosso âmago, se quisermos vem cá de dentro, e portanto como vem cá de dentro tem outro potencial e tem uma energia completamente diferente e necessita um esforço completamente diferente, ou seja eu quando falo, eu estou a dar algo de mim mas não estou a dar muito eu quando sopro estou a dar muito de mim, e mais uma vez é como por exemplo, falar ou encher um balão Ora bem, o que isto significa é que o grau, a intensidade da centelha do divino que tudo tem e que o ser humano tem, são fundamentalmente diferentes. Porquê? Porque a centelha do ser humano é uma centelha que vem, se quisermos, do âmago do divino, vem das partes mais recónditas do divino. Porquê?

Porque é superado, portanto, vem de dentro, da mesma maneira que nós quando superamos também o ar. vem muito dentro de nós. E, portanto, esta centelha do divino que aparece no ser humano, que é colocada no ser humano...

tem um nível, de um mundo superior do que as outras centelhas, e é essa centelha do divino que nos torna, que nos faz a imagem do divino. É isso que nos diferencia dos animais e de tudo o resto, e é isso que nos torna, portanto, que significa ser feito, criada a imagem do divino, é termos, digamos, heredado uma parte muito íntima. do divino. Agora, isto tudo tem uma tem uma relação muito interessante com o género porque, como eu digo até agora, o que eu tenho falado só é na criação do ser humano se nós quiséssemos podíamos ter falado, ter dito com o Adam Neste caso era um Adão com letra pequena, era um Adão genérico, era um ser humano genérico.

No hebraico não se escreve com letra pequena e letra grande, o que imediatamente não permite esta distinção. Mas se fosse em português uma tradição própria, dizia que este ser humano era Adão com letra pequena, porque era um ser humano genérico. Ou seja, não era aquele Adão específico, era um ser humano. E este ser humano, segundo diz a Torá muito explicitamente, foi criado à imagem de Deus e depois o verso continua a dizer homem e mulher. Este primeiro ser humano foi criado homem e mulher.

À imagem de Deus, homem e mulher. Ou seja, o primeiro ser humano é um ser andrógeno que é homem e mulher. Os dois ao mesmo tempo. Porquê que isto é importante? É importante por várias razões.

Primeiro porque o estereótipo de que o homem foi criado primeiro e depois a mulher é um estereótipo errado do ponto de vista da tradição judaica. Não é verdade que o homem foi criado primeiro e a mulher foi criada depois. O que foi foi criado a um ser humano que era homem e mulher, diz taxativamente, isto não é nenhuma interpretação, diz exatamente homem e mulher, e depois o homem e a mulher foram separados. separados e portanto que foram criados ao mesmo tempo ou seja, o Adão com letra pequena que era este ser humano genérico depois foi dividido num Adão com letra grande e numa Eva com letra grande também que são dois indivíduos específicos é a primeira coisa não existe esta noção de que o homem foi criado primeiro e como tal tem privilégios especiais o homem no sentido de homem versus mulher. E, portanto, não existe nenhuma noção de superioridade masculina em relação à feminina.

Por causa disso. Noutros textos religiosos, não judaicos, noutros textos religiosos, nós vemos claramente que a bandeira, como este texto é visto, é que o homem foi criado primeiro e... como tal foi criado antes da mulher e portanto tem precedência sobre a mulher e a mulher obedece ao homem e se não obedecer ao homem leva na cara. E não estou a parafrasear, estou mesmo a dizer o que diz o texto, isto é quase citação e preciso verbos do Alcorão. Portanto o homem nasceu primeiro, tem primacia a mulher deve ser obediente, se a mulher não é obediente há uma série de trâmites que se faz mas em última análise se não é obediente leva na cara.

Portanto está bom de ver. Mas quer dizer, é uma coisa que, enfim, é uma deturpação, se quisermos, mas que sai de uma interpretação errada para começar, de que o homem foi criado primeiro. Não foi. Foram criados ao mesmo tempo. Depois, como é que é separado o homem e a mulher?

Isto também é um aspecto importante. Como é que é separado? Como é que os dois são separados? São separados também, enfim, a tradução mais ou menos...

convencional, que não é uma tradução literal e correta, é que foi tirada uma costela. O que diz na Torre é que foi tirado da parte de dentro, da parte de dentro deste ser humano genérico. Portanto, o que nós temos é, temos um Adão com letra pequena, um ser humano genérico, e da parte de dentro foi tirada a mulher e a parte de fora ficou o homem.

A descrição bíblica, que é a descrição que é... que é a base de todo o pensamento depois místico sobre este tipo de coisas é exatamente este nasceram, portanto foram criados os dois foram criados unissex, se quisermos ou os dois e depois foram separados, mas nesta separação a mulher vem de dentro e o homem é a parte de fora isto, do ponto de vista místico em particular, tem uma implicação muito interessante que é dita o processo de criação, o facto da mulher vir de dentro e do homem vir de parte de fora dita uma série de características estereotipadas se quisermos, do que é o comportamento masculino e o comportamento feminino do que é as características masculinas e as características femininas e sobretudo tem uma implicação muito grande em relação à compreensão dos níveis de espiritualidade vamos usar esse termo nível Em vez de espiritualidade. O que é que isto quer dizer? Se nós tivéssemos que escolher quem é que tem uma sintonia mais natural com a espiritualidade, e o conceito de espiritualidade nos judeus não tem muito que se liga, mas vamos aceitar em termos mais normais e genéricos possível.

A mulher, a Rava, a Eva, vem do meio, vem do interior deste ser humano genérico. No interior deste ser humano foi aí no interior que Deus soprou, não foi para fora, foi para dentro deste ser humano genérico, que Deus soprou a sua essência, soprou a sua alma vivenciadora. A tal Nefesh Hayah.

Ou seja, se tivéssemos que escolher, a presença do divino, a centelha do divino, estava dentro. E, portanto, simbolizada por o que sai de dentro. E, portanto, a interpretação do misticismo é que, de um ponto de vista espiritual, se quisermos pôr dessa maneira, o feminino...

está muito mais, digamos, está muito mais em sintonia com o espiritual do que o masculino. Isto não é, obviamente, dizer mal dos homens, é dizer que é diferente. E, aliás, é um dos temas que vamos depois discutir a seguir. nós estamos perfeitamente confortáveis com a ideia de que homens e mulheres são diferentes e é um bocadinho tonto dizer que não são mas lá iremos a isso portanto, têm características diferentes e neste sentido o que estamos a dizer é que o feminino tem características maiores de espiritualidade isto depois é transferido para uma série de outras áreas no misticismo, por exemplo o povo de Israel é referido nos escritos místicos e não só como o feminino das nações o feminino das nações porque é o que pode ter uma relação maior com o divino por causa de toda a relação do Sinai e de tudo isso não quero dizer que o resto do pessoal não tenha a sua relação, obviamente que tem a relação com o divino, mas existem gradações como eu costumo dizer todos nós temos ligação à internet mas se calhar alguns de nós têm uma ligação de cinco geração outros têm de quatro e se calhar alguns de nós ainda não com aqueles modems que faziam um barulho muito esquisito mas toda a gente tem ligação, quer dizer, nós não temos a noção que existe um ser humano que não tenha ligação com o divino tem, algumas ligações podem ser melhor que outras e umas podem estar mais oleadas que outras ou mais bem lubrificadas que outras, mas todos nós temos essa relação e portanto...

O que isto significa, então, aqui, é que o processo de criação, de separação, já nos diz, deixa-me só aqui, eu vou pôr em mute porque tenho algum fluido de fundo. O Artur também está on. Pronto, eu agora posto todos em mute, espero eu, porque é que está aqui alguns que não estão ainda mute, mas pronto, estão todos em mute, mas se vocês quiserem fazer alguma pergunta de interrogar, não tem problema nenhum, a qualquer altura fazer, é só para não ter tanto barulho no back, assim, tanto barulho de fundo. Ok, parabéns.

Portanto, o ponto onde eu estava a querer chegar com tudo isto era que, por construção, se quisermos, por desenho, o feminino tem uma sintonia mais normal, mais imediata com o divino, com a espiritualidade, se quisermos. E isso, pois, como digo, reflete-se não só na percepção do povo israel como o feminino das nações, mas também... um papel fundamental que na redenção final o feminino tem. Porque ao fim e ao cabo, quando nós dizemos o estereotipo, se quisermos, místico do feminino e do masculino, é um estereotipo muito claro que tem a ver com a dualidade na existência entre o chamado Maspia e o Macabdel. Maspia e Macabdel.

Máspia é o quê? Máspia é alguém que dá. O mecabel é alguém que recebe.

E, portanto, toda a dinâmica da vida, em tudo, é dar e receber. Essa é a dinâmica. Mas se nós tivermos que olhar para dizer quem é que é o doador, digamos assim, por excelência, é Deus.

Dá. Quem é que é o receptáculo por excelência? Vemos que é nós. E, portanto...

Não só se refere ao povo de Israel como feminino, neste sentido, a receber a mensagem do divino, mas também as comparações que são feitas muitas vezes é Deus é o Sol e nós somos a Lua. A Lua, qual é a diferença? A Lua não tem luz própria.

A obrigação da Lua, entre aspas, é refletir a luz do Sol. Deus tem as suas emanações e nós, a nossa obrigação é refletir essas emanações, refletir essa luz, recebê-las e refleti-las. E, digamos, pronto, comparti-las, mas refletir essas emanações.

E, portanto, tudo o que é receber é o feminino, o povo de Israel é o feminino, e, portanto, é esta capacidade de receber o divino que, em última análise, vai fazer a diferença para nos levar à redenção final. Muito bem. Quem que está a dizer com isto tudo? Que desde a própria criação a coisa está feita de tal maneira em que esta dicotomia entre receber e dar e receber, que é uma dicotomia que existe a vários níveis, incluindo Deus e o ser humano, é uma dicotomia também que existe entre homem e mulher. Agora, para termos a certeza que percebemos bem exatamente o que é que estamos a dizer e não pensar que estou a dizer aqui uma...

como é que se diz? uma Maria Alves muito grande nós temos que perceber que esta dualidade do dar e receber é uma dualidade muito complexa e o facto de nós começarmos por receber não significa que não acabemos por dar mais do que quem deu deixem-me brulhar esta ideia um bocadinho por exemplo Se nós pensarmos no papel do homem e da mulher na criação de um ser humano, nós poderíamos dizer que o homem dá a sua contribuição, a mulher recebe. E portanto dizemos, oh, estamos no estereótipo, o homem dá, a mulher recebe. E temos um bocadinho a noção de que, ah, mas quem recebe está um bocadinho mais dependente e se calhar não é assim a nível tão alto. Mas isto é uma visão muito miúda das coisas, porque...

O homem deu, a mulher recebeu, mas o homem depois foi de férias. O homem não teve mais nada a ver com a coisa. E é passado nove meses, a mulher que transformou o que recebeu numa dádiva monumental que é a criança.

É um bom exemplo de que quem recebe... A obrigação que têm é dar ainda mais e o facto de receber não é não é uma não nos põe numa situação subalterna. Pelo contrário, porque, mais uma vez, se nós só queremos receber bem, acabamos por dar muito mais do que o que recebemos.

E esse é o caso que nós estamos a falar. Sobre a contribuição do homem ser uma contribuição externa, é uma contribuição que tem a ver com a própria criação, como o homem foi feito, é uma coisa exterior. E depois é a parte interior que faz todo o desenvolvimento. que transforma o que se recebeu numa coisa permanente, numa coisa muito mais importante. Este fenómeno de muitas vezes quem recebe é quem dá mais, por paradoxo que pareça, coisa que acontece muito.

Acontece muito na... Nós, por exemplo, se pensarmos a relação que nós temos com um bebê, nós podemos dizer, o bebê de nós fazemos tudo. Portanto, nós damos tudo e o bebê recebe tudo.

Mas se nós formos a pensar bem, se calhar o bebê dá-nos mais do que o que recebe. Porque, quer dizer, a maravilha que é, o espanto que é, está a faltar a palavra, mas o espetacular que é, o espantoso que é olhar para uma criança, para um bebê. pode-nos dar uma satisfação e pode-nos dar um contentamento, pode-nos dar um foco, pode-nos dar emoções que são mil vezes superiores às emoções que nós conseguimos criar naquele ser humano pequenino que ali está que não...

Portanto, quem é que dá mais? Somos nós que damos mais ao bebê? O bebê é que nos dá mais a nós, não é? Não é assim tão óbvio, não é?

Não é assim tão óbvio. Bom, portanto, o ponto disto tudo, então, mais uma vez, é que a criação... do homem e da mulher dá-nos este interior versus exterior, dá-nos uma maior espiritualidade do feminino, dá-nos um exemplo desta dualidade entre dar e receber mas que é uma dualidade que não tem nenhuma conotação negativa, diz-me o contrário por enfim e em última análise perceber que, de uma forma fixa da nossa tradição Homem e mulher são criados de tal maneira que têm papéis diferentes. A contribuição do homem é uma contribuição mais superficial, mais externa.

A contribuição da mulher é uma contribuição mais profunda, mais pronunciada, mais prolongada, mais... permitir o crescimento. Ou seja, mais uma vez em termos de estereótipo, pode ser que o homem tenha uma grande ideia, mas a grande ideia que o homem tem só vai ser...

concretizada se tiver um espaço onde possa crescer e esse espaço onde cresce é o espaço do feminino, é o espaço de Binah é esse espaço ou seja, para terminar esta parte da conversa homem e mulheres no judaísmo foram criados ao mesmo tempo O homem e a mulher foram criados ao mesmo tempo, foram criados de um ser humano genérico e pela própria maneira como a criação ocorreu, dá as características do homem e da mulher, sendo que a característica da mulher é uma característica de maior espiritualidade. Isto não significa que os homens não consigam ser espirituais, obviamente, mas é mais natural, digamos assim, e mais profundo, de alguma maneira. uma capacidade maior de criação e tudo isso.

Ok. Um ponto que eu quero passar a seguir, mas vou fazer uma pausa pequena para vos deixar fazer perguntas sobre esta matéria, se assim o desejarem, espero que desejem, é ver como é que tudo isto se transmite depois no papel do homem, como vemos na tradição judaica, no papel do homem e da mulher, na tradição judaica, não é? como é que se vê o papel, porque são papéis diferentes.

Aliás, para reiterar um aspecto aqui, que é, sem nenhuma pedir desculpa, na nossa tradição nós olhamos para as coisas como diferentes. Ou seja, o homem e a mulher são diferentes. Um judeu e um não judeu são diferentes. Um português e um espanhol são diferentes.

Isto não significa que um seja melhor do que o outro. Mas são diferentes. E na nossa tradição, onde resta a diferença? A diferença é divina. Nós somos diferentes porque Deus quer que nós sejamos diferentes, porque senão podíamos ser todos iguais, não é?

Portanto, por definição, por criação, nós somos diferentes. E como somos criados diferentes, por definição, por criação, por desenho, a diferença é uma coisa que nos deve dar muito prazer, digamos assim. Portanto, que devemos honrar muito, que devemos respeitar muito. A diferença. E isso eu penso que é uma distinção muito grande entre, enfim, a filosofia, se quisermos, da vida do judaísmo e outras filosofias, é esta ideia de respeitar completamente a diferença, a honra da diferença.

A diferença não é uma coisa má. Ser diferente não é mau. Ser diferente é uma coisa boa. E, portanto...

Estar constantemente a falar ah, são a mesma coisa, são iguais, não são. Podem ser iguais em certas dimensões. O homem e a mulher podem ser iguais em certas dimensões. As espanhas podem ser iguais em certas dimensões, mas as outras não são. E isso é que é importante perceber as dimensões é que não são porque ser diferente significa também se completarem.

Ser diferente significa a potencialidade de serem complementos. De fazerem um mais um não serem só dois, um mais um ser três ou quatro. Portanto, ter um efeito multiplicador esta capacidade de pôr juntas coisas diferentes. Mas, portanto, enfim, dito isto, depois farei então a transição para a questão do papel do homem e da mulher no judeísmo, como se pratica hoje, e na visão do mundo.

Mas, agora, parando e abrindo para qualquer questão que possa ter, cándido. sobre estas questões específicas que temos estado a falar. Cândido, diga.

Respeitável, já vi. Eu tenho o conceito de que a tradição é sempre transportada pela mulher. Desde o tempo de Mitra, desde...

Zoroastro, ainda hoje os persis são seguidores de Zoroastro e são as mulheres que transportam essa tradição. Elas casam e conseguem dar a volta ao parceiro para os chamar para o culto. Então, o exemplo dos persis, por exemplo, Prédio Mercury. Era um seguidor da família de Zoroastro. Ora bem, com a mulher, e dentro do judaísmo aconteceu, acho que a mesma coisa.

A mulher, segundo o conhecimento que eu tenho, de ter lido, portanto, também não sei dizer onde, mas formatei a minha ideia. E a ideia é o seguinte, é que foi a partir do período talmúdico que a mulher deixou de ter liderança. Por exemplo, ela, mulher do patriarca, ela seria sempre a matriarca.

E a mulher, no período talmúdico, os escribas da altura... seguiram muito o que acontecia no geral e alterou um bocadinho o processo. Tanto é que a tradição assenta sempre em quatro colunas para se construir uma sinagoga.

Uma delas é a Raquel, a Rebeca, a Lia e a Sara, não é? Por aquilo que, pelo pouco que eu sei. Ora bem, foi.

Foi o estilo de vida que o ser humano encontrou que secundarizou a mulher e a arredou da vida pública e projetou-a para casa, mas em casa ela também vai manter a tradição. Ok, deixa-me pegar imensas coisas aí a pegar. Desculpa.

Não, não, não, por favor, adeus. deixe-me só pegar aqui na última parte que você disse e partir daí e é citando o que você acabou de dizer que é que em casa a mulher tem outro papel bem, primeira pergunta que é a pergunta importante qual é o lugar mais importante no judaísmo? qual é o lugar que é o centro da prática judaica, o centro de tudo.

É a casa. É a casa. É a casa.

E, portanto, dessa perspectiva, não é nada de despreciante dizer-se que a mulher é a fundação da casa, que era tabait, é a fundação da casa, é o fundamento da casa, é o que permite a casa. E se nós olharmos para a prática judaica, é uma coisa que é absolutamente clara, é que numa família... se a mãe, se a mulher seguir as práticas judaicas por exemplo em relação às leis da dieta em relação às leis observância e do shabat e tudo isso se a mulher fizer, toda a gente faz se a mulher não fizer é uma chatice muito grande é muito difícil fazer e portanto o fundamento da vida judaica é em casa não é fora de casa é em casa e em casa em casa Quem é rei e senhor é a mãe da família, é a senhora.

Por exemplo, isso reflete-se em coisas como, por exemplo, acender velas no Shabbat. Imagino que tem o homem e a mulher, e os dois... O homem dá-lhe na cabeça de dizer assim, ah, eu quero acender velas aqui no Shabbat, e tu não acendes.

Não pode. Porque quem tem que acender as velas é a mulher, o homem até pode, mas só se a mulher der a autorização. Quem tem a primacia, quem tem a prioridade, digamos assim, de acender as velas é a senhora. Portanto, é muito importante imediatamente percebermos que quando nós dizemos, ah, a mulher foi puxada para casa, isso na nossa tradição não é bem assim.

Quer dizer, puxada, repara, eu não estou a fazer constatações sociológicas ou históricas. Temos uma constatação teológica. Temos que ver bem a diferença. A senhora não é empurrada para casa. A senhora está no seu pedestal em casa.

Porque é realmente a fundamentação, o fundamento de toda a vivência judaica em casa. Nós temos, aliás, um caso muito interessante e que nos diz respeito a todos nós, de uma maneira mais diretamente ou mais indiretamente, que é... a sobrevivência de um judaísmo, enfim, adulterado, mas de sobrevivência de um judaísmo em Portugal, durante os séculos todos que se seguiram às conversões forçadas dos anos 1497, e portanto no século XV, no século XVI, no século XVII, até ao próprio... século XX, quando essas comunidades apareceram, a supervivência do judaísmo, cripto-judaísmo, chamem-lhe o que quiserem, é e foi possível única e exclusivamente por causa das senhoras.

E, enfim, tive o privilégio e a experiência de ver, nos anos 80 ainda... algumas dos serviços ecológiosos que eram feitos em certas zonas de Portugal, nomeadamente em Belmonte, e a coisa era um bocadinho patética, porque os homens não percebiam muito bem o que é que se andava ali a passar, a coisa era tudo feito pelas senhoras, e portanto a tradição toda era passada pelas senhoras. Porquê? Porque o judaísmo é feito em casa, e portanto ali em casa é que era o mais fácil.

depois tem um outro aspecto obviamente que é o que é exterior tem que ser muito mais dissimulado em condições desse tipo ou seja, o homem da família não se pode dar ao luxo de ir para o trabalho e depois dizer agora está-me-se a aproximar a sexta-feira à noite e o sábado eu não vou trabalhar quer dizer, em condições adversas isso não funciona o próprio homem, por exemplo não pode dar-se ao luxo, digamos assim estamos a falar destes séculos todos de segredo e de secretismo e de perseguição enfim, quando o islismo estava enfim debaixo da superfície, se quiserem. Os homens não podiam ser circuncisados, porque ser circuncisados era uma manifestação óbvia disso. E, portanto, tudo o que tinha a ver com o exterior e tudo o que tinha a ver com manifestações mais abertas e tudo isso que era manifestações masculinas, porque é um masculino que é um exterior, em toda esta narrativa, não funcionava.

E, portanto, o que salva... que dá permanência à vivência judaica, é a mulher, porque a vivência judaica faz-se em casa. E o que diz sobre as rabinas?

Lá iremos. Agora, há várias questões aqui que são bastante importantes e eu, antes de continuar... a conversa até para ver o papel do homem e da mulher relativamente no judaísmo, é muito importante fazer uma constatação e fazer uma declaração inicial de intenções, que é o nível de conversa a que eu estou a falar é um nível filosófico-teológico. Eu não estou a fazer, não vou, nem vou a fazer constatações históricas ou culturais ou sociológicas, o que quer que seja. Dito de outra maneira, o que eu estou a falar é...

é do que o sistema nos diz. Não é como o sistema é implementado, porque o sistema pode nos dar, o sistema do judaísmo indiscutivelmente dá uma grande primacia à espiritualidade feminina, mas depois, na prática, nós podemos ser uns filhos da mãe monumentais para com as senhoras, porque a sociedade à nossa volta é o que é, e nós não somos melhores que os outros. Portanto, a constatação, como digo, não é uma constatação sociológica, é uma constatação mais... teológica, se quisermos, filosófica e isto é importante porque a transição desta noção de que a vida não está à volta da casa, eu não estou a falar no mundo de daqui, estou a falar no mundo geral, é uma transição que se fez não há muito tempo, há dois ou três séculos a vida era centrada na casa e a partir de uma certa altura passou a ser mais generalizado para fora e em particular com uma certa evolução do pensamento não judaico pensamento cristão em particular que teve esta ideia de transferir deliberadamente a certa altura o foco da observância, neste caso cristã, da casa para a igreja, neste caso também, para o mundo. E, portanto, aí criou-se na sociedade, no geral, a ideia de que a essência da vida, se quisermos, a parte mais importante do nosso funcionamento está fora de casa.

Mas isso não é um conceito judaico. Enfim, o conceito é prática o que é. Ora bem, agora, como é que tudo isto se manifesta...

em relação aos diferentes papéis na nossa tradição. É de alguma maneira fácil descrever e depois mais complicado detalhar. Mas se nós tivéssemos que escolher verbos, o verbo para o homem é fazer.

O verbo para a mulher é ser. Há uma diferença muito grande entre ser e fazer. No judaísmo tradicional, pelo menos, tudo o que tem a ver com fazer, com ação, é no âmbito, se quisermos, masculino.

Tudo o que tem a ver com a essência, com o ser, é feminino. Por exemplo, de acordo com a lei judaica, quem é judeu é filho de mãe judia, não é de pai, é de mãe judia. Ou seja, a essência de ser judeu vem da mãe. A essência de ser.

Agora, ao mesmo tempo, por exemplo, quem é que é um levita? Ou quem é que é um kohanim? Portanto, seguindo essa tradição bíblica de a pessoa poder ser...

ou um de três grupos, ou digamos um ser normal comum, ou pode ser um levita, pode ser um sacerdote. como é que se passa digamos hereditariamente essas funções é através do pai ou seja, um sacerdote e um levita é filho de um pai levita porquê? porque isso são coisas que são funcionais, tem a ver com fazer tudo o que tem a ver com fazer é através do pai, tudo o que tem a ver com ser Vai através da mãe.

Por exemplo, se nós queremos fazer uma oração especial para alguém que esteja doente, o nome equivocante é o nome da mãe, que é o nome da essência da pessoa, não é o nome do pai. Bem, ou seja, não só era o nome da mãe, igual que é o nome do pai, enfim. Mas, portanto, está muito enraizado na nossa tradição, esta distinção entre ser e fazer.

E reparem, A essência do ser é muito mais importante do que a essência de fazer. Se nós olharmos para os dias da semana, e isto é uma conversa que iremos também ter, perceber os Shabbat e os outros dias, qual é a diferença entre o Shabbat e os outros seis dias da semana? Durante seis dias nós fazemos coisas.

Ao sétimo dia somos. É fazer e ser. O sétimo dia é o dia mais santo, é o dia mais sagrado. é o dia em que nós somos.

Portanto, nós não fazemos de propósito para podermos desfrutar o ser, sermos quem somos, a nossa essência. Bom, portanto, em todas as manifestações, como digo, filosóficas e teológicas no judaísmo, é esta distinção entre o fazer e o ser e é uma distinção que é fundamental e que se transmite nas coisas mais importantes como... a própria definição do que é um judeu ser filho de mãe, judeu não é pai, é filho de mãe pois há aqui um outro aspecto que é um aspecto que é muito muito importante que leva a uma confusão muito grande também que é nós tendemos a olhar para a relação entre o homem e a mulher de uma perspectiva...

que é uma perspectiva que não é judaica. Enfim, é uma perspectiva ocidental, mas que não é judaica. O que é que isso quer dizer? O que quer dizer com isto? Como é que nós medimos as coisas na nossa sociedade?

Como é que nós medimos a igualdade, por exemplo? Nós estamos sempre a falar na igualdade porquê? Estamos a falar na igualdade de direitos. Igualdade de direitos. Nós estamos a falar num sistema que está baseado em direitos...

faz todo o sentido, uma igualdade de direitos. Portanto, temos o sistema de liberdade, liberdade para todos. Temos direito, direito, enfim, os direitos adquiridos são iguais para todos. E não há discussão nenhuma. Portanto, se nós medirmos o critério de como nós nos relacionamos uns com os outros, como nós funcionamos como sociedade, se pensarmos na sociedade como uma sociedade baseada em direitos, então ter iguais direitos é importante, quem tem mais direitos está melhor do que quem tem menos, parece óbvio, não é?

E portanto numa sociedade deste tipo não se pode dizer tu não podes fazer isto ou não podes fazer aquilo, mas o outro pode somos todos iguais, temos todos direitos a fazer a mesma coisa, e portanto daí por vezes aparece a perceção de que Como no judaísmo tradicional, há uma série de coisas que as senhoras não fazem, que fazem os homens, nomeadamente ser reino, que as senhoras não fazem, que é o homem que faz, isto significa que as senhoras não fazem, fazem menos, têm menos direitos. É, digamos, o pensamento normal, quem olha para estas coisas, fora do sistema. Acontece que a ideia de que um sistema social é baseado em direitos... É uma ideia que não tem nada a ver com o Torá, não tem nada a ver com a Bíblia.

Diga-me onde é que na Bíblia diz que nós temos direito a XYZ. Não diz. O que é que diz na Bíblia?

Temos obrigação de fazer isto. Temos obrigação de fazer aquilo. Temos obrigação de fazer o outro. O sistema bíblico é um sistema de obrigações.

Não é um sistema de direitos. É um sistema de obrigações. Se nós estamos a falar num sistema de direitos...

estamos a falar num sistema em que toda a gente tem que ter os mesmos direitos. Se estamos a falar num sistema de obrigações, estamos a falar num sistema em que as pessoas têm obrigações diferentes dependendo das suas características. Dependendo do diferente que possam ser. Homens têm umas obrigações, os senhores têm outras obrigações. Os judeus têm umas obrigações, outros têm outras obrigações.

Portugueses têm uma obrigação, espanhóis e brasileiros têm outras obrigações. E, portanto, quando estamos a falar num sistema baseado em obrigações, também é lógico dizer que quem é que está melhor? É quem tem mais obrigações ou quem tem menos obrigações? Se estamos a falar num sistema de direitos, com certeza, quem tem mais direitos está melhor.

Está a um nível superior, digamos assim. Se tivermos um sistema de obrigações, quem é que está melhor? É quem tem mais obrigações ou quem tem menos?

Eu parece que é lógico dizer que é quem tem menos obrigações. E porquê que alguém tem menos obrigações? Tem menos obrigações porque há certas coisas... que são naturais para uma senhora e que não são para um homem. A obrigação, por exemplo, bíblica, obrigação natural, de procriar, de procriar de ter filhos, é uma obrigação sobre o homem, não é sobre a mulher.

Porquê que não é sobre a mulher? A mulher não tem a obrigação de procriar. A mulher não precisa de lhe dizerem que tem que procriar. Não precisa de ser obrigada para estar em sintonia com isso.

Porquê? Porque, vamos voltar ao que tínhamos feito, mas isto está perfeitamente em sintonia com o que estávamos a falar antes, que é haver, do ponto de vista das senhoras, digamos assim, uma sintonia maior com a espiritualidade, uma sintonia maior com uma empatia com os outros e por aí. Há uma série de coisas que é importante obrigar os homens a fazer e não é necessário obrigar as senhoras a fazer. E, portanto, neste sistema, o próprio facto de haver uma relativa, vamos pôr esse termo, uma relativa, não quero usar o termo de superioridade, mas não me estou a falar de nenhum outro termo, uma relativa superioridade espiritual, neste sentido, do ponto do feminino, significa que tem menos obrigação. Exatamente.

Por exemplo, uma outra área. As senhoras têm a obrigação de rezar, mas não têm a obrigação de rezar três vezes por dia. Os homens têm a obrigação de rezar três vezes por dia.

Porquê que os homens têm a obrigação de rezar três vezes por dia? Por a mesma razão que os homens têm a obrigação de fazer, de procriar. Têm essa obrigação. Porquê? Porque se não forem obrigados, não faziam.

Mais uma vez, estando mais em sintonia com a espiritualidade, A ideia de conectar com o divino, a ideia de rezar, é muito mais natural vindo de uma senhora. Isto é, estou fazendo contundentes pedidos como estereótipos que aqui acabam por fazer. Mas é muito mais normal vir de uma senhora, esse sentido, essa intuição para rezar. Enfim, como eu costumo dizer, com algum risco de ser até um bocadinho... menos educado, digamos assim.

Se eu estiver a fazer uma coisa qualquer e se eleijar, ela diz, ai meu Deus, meu Deus, meu Deus, eu se estiver num sítio qualquer e me eleijar, se me der uma martelada no meu dedo com um martelo, não sei exatamente o que é que me vai sair da boca, mas provavelmente meu Deus não era. que é obviamente também uma maneira mais brincalhona de validar alguma coisa, mas reflete no geral. E portanto, o que é aqui fundamental perceber, como digo, é que na nossa tradição do judaísmo, o judaísmo é um sistema que é baseado em obrigações, são os mandamentos, as obrigações que temos que cumprir, e como é baseado nas obrigações, as pessoas têm obrigações diferentes, e por definição... Quem tem menos obrigações está numa posição mais favorável.

Dito isto, quem tem menos obrigações também pode assumir a obrigação. Isto é, não há nenhuma regra que diz que a senhora não pode arrasar três vezes por dia. Com certeza, com certeza, com certeza. Pode decidir fazer, com certeza.

Não tem a obrigação. Se quisermos passar a comparação, é a diferença entre ter... A permissão, ter a possibilidade de votar em algumas eleições e ter a obrigação de votar.

O homem tem a obrigação de votar. neste caso a senhora tem toda a capacidade de votar mas não tem a obrigação de votar é essa a diferenciação como digo isto estando como está esta ideia, esta diferenciação de papéis e tudo isso é uma diferenciação que nos deve dar alguma humildade mas também é uma diferenciação que nos deve dar alguma reflexão porque se nós quisermos olhar para a história e não para a filosofia e para a teologia o que é facto é que o papel do feminino tem muito se lhe diga as coisas historicamente porque tem passado e todas as injustiças e tudo isso. E portanto há uma maneira que nós temos é que desenvolver um sistema um sentido de respeito muito grande e um sentido que não as outras coisas não se podem fazer e tem que haver um respeito muito grande.

Eu devo dizer que uma das coisas que me chocou mais ao estudar a história dos Estados Unidos um bocadinho, que me chocou foi o período, estudar um bocadinho o período da guerra civil. em que os escravos foram libertados e foi dado direito a voto aos antigos escravos, e portanto à população negra foi dado direito a voto. Nessa altura, nessa mesma altura, foi decidido que se dava direito a voto à população negra, mas só aos homens negros, às mulheres não.

As mulheres nem negras nem brancas tinham direito a voto, o que é uma coisa que é absolutamente espantosa. nós olharmos para os factos históricos e, de facto, nós temos um sistema que é um sistema muito belo, é um sistema muito bonito, é um sistema muito inspirador, mas as realidades sociológicas, por vezes, são muito diferentes e temos que reconhecer isso também, não é? Mas, dito isto, o nosso sistema está direcionado num grande respeito de compreensão da capacidade de... espiritual superior, de alguma maneira que tem, e essa capacidade de conexão do divino mais profunda, que vem do próprio fenómeno da criação. Eu paro aqui um momento para dar oportunidade para quem quiser fazer as suas perguntas e reflexões.

Ah, diga, Fernanda. Só para desanuviar, Rabino. Boa noite.

Eu achei muito bonito uma vez um Rabino ia para uma sinagoga ia fazer as suas rezas e tudo e a esposa disse-lhe assim olha, tu não vais sair daqui. E ele disse, então, mas eu tenho que ir já estou quase a ficar atrasado. E ela disse, mas não vais.

E ele pensou, não, eu não vou. Como é que eu não vou? Ela me está a dizer, eu não vou.

Isto é um capra rir. E ela disse, não vais, não vais, porque tu te esqueces de comer. Portanto, a obrigação da mulher é muito saudável, muito salutar. Ela cuida dos filhos, da própria educação, cuida do marido. Está atento ao que se passa com o Criador e com as coisas que Ele tem para nos ensinar.

E é muito importante, porque realmente, na vida dos seres humanos, neste mundo que nós estamos habituados, muitas vezes, realmente, é como o Rabino diz, pensam que nós estamos postas de lado, mas nós somos muito amadas. Isso não é verdade. Pronto, isto foi só para...

foi só uma opiniãozinha. tão verdade ao mesmo tempo, quer dizer, por um lado é verdade que o papel feminino é absolutamente fundamental e que deve ser respeitado e que deve ser completamente aceito e compreendido como tal, mas por outro lado também temos que ter a noção que muitas vezes é a diferença entre a poesia da filosofia e a realidade dos factos, e a realidade dos factos é que o abuso, por exemplo, o abuso... Não há nenhuma razão para justificar abuso físico, e essas coisas todas existem, não é? E, portanto, na realidade as coisas são menos lineares. Mas o que é importante é saber qual é o paradigma em que nós queremos alcançar.

E o paradigma que queremos alcançar é reconhecer que o judeu, o judaísmo, é o feminino das nações, que o Shabat é o feminino da semana, que o feminino é quem está em mais sintonia, que a redenção final vem através das características do feminino, que é receber e saber projetar a imagem de Deus e a luz divina. o mais possível e, portanto, digamos, lembrar-nos dessas coisas para, na prática, tentar ser um bocadinho menos misóginos. Mas a ideia é essa.

Deixa-me só fazer aqui uma reflexão e eu depois quero voltar à Fernanda de novo, mas fazer uma reflexão aqui que é a questão da diferença, a questão da diferença é uma questão muito importante. E a nossa noção de que a diferença é algo a louvar, é algo a desenvolver, é algo a saudar e a aceitar e tudo isso. E, portanto, quando nós nos focamos na igualdade, às vezes perdemos um bocadinho o comboio nestas coisas. Eu não sei se quem terá ouvido o vídeo curto sobre... o Bar Mitzvah e o Bat Mitzvah.

Portanto, as cerimónias para os meninos e para a menina. Uma coisa interessante, que do ponto de vista tradicional, o rapaz torna-se adulto aos 13 anos. As raparigas tornam-se adultas aos 12. Uma das coisas que é muito comum aqui, enfim, em todo o mundo, nas sinagogas e nos grupos judaicos liberais, menos tradicionais, é fazer tudo aos 13 anos. Porque é assim, dizer assim, então, como é que é isto?

São todos iguais, e portanto são todos iguais, fazem tudo como faz o homem. Bem, e a resposta é, a reação é, vocês não perceberam a primeira coisa sobre o que é que isto quer dizer, fazer um bar mitzvah ou um bat mitzvah. Não perceberam a primeira coisa, porque nós estamos a dizer é que... A criança atinge a sua maturidade, do ponto de vista de saber a diferença entre o bem e o mal, de saber escolher com propriedade, digamos, torna-se responsável pelas suas ações, é o nível de amadurecimento, não é? E o que nós estamos a dizer é que, do ponto de vista do judaísmo tradicional, nós reconhecemos que as senhoras amadurecem mais cedo que os homens.

as senhoras amadurecem aos 12 anos, os homens amadurecem aos 13, em média. E, portanto, quando nós queremos pôr as senhoras a fazer o bat mitzvah aos 13 anos, o que é que nós estamos a dizer? Estamos a dizer implicitamente que nós não acreditamos na ideia de que elas amadurecem mais rapidamente que os homens.

E, portanto, o que parece ser... promover a igualdade e promover a dignidade não é não reconhecer o que é óbvio que é que as senhoras amadurecem mais depressa e repara, isto não sou eu que estou a dizer não sou eu que estou a dizer eu tenho essa experiência com os meus filhos em Portugal eu sinceramente não sei mas aqui nos Estados Unidos e em qualquer outro sítio assim deste tipo Se tivermos um jovem que tirou a carta de condução e precisa de ter seguro, seguro de automóvel para poder guiar, a idade aqui em que se pode começar a guiar é aos 16 anos. Ok? Aos 16 anos, o seguro que as companhias exigem de um rapaz é muito maior do que o seguro que existem de uma menina.

Porquê? Porque os seguros reconhecem, estatisticamente falando, que as raparigas amadurecem mais depressa que os homens. Os rapazes.

É tão simples como isso. E daí que por mês eu, por um rapaz, tenho que pagar 150 dólares e por uma rapariga paga 75. Enfim, também estou a inventar um bocadinho os números, não é? Portanto, esta obsessão, por vezes, na igualdade, acaba por perder um bocadinho a... A gente...

às vezes acaba por se perder a essência das coisas é um caso disto portanto nós dizemos no judaísmo nós queremos a igualdade entre o homem e a mulher nós não queremos a igualdade porque dizer que a igualdade é puxar a mulher para baixo do ponto de vista teológico do ponto de vista filosófico da sua perspectiva mais profunda e mais espiritual se quisermos por essa expressão Uma questão, uma reflexão também muito interessante aqui nisto que tem a ver com a diferença e que tem a ver com a igualdade e tem a ver com tudo isso, com a uniformidade, eu acho que na nossa tradição judaica há um compromisso muito equilibrado, digamos assim, de difícil equilíbrio, mas muito equilibrado, entre o indivíduo e o grupo. O indivíduo e o grupo. O indivíduo e o grupo são duas entidades diferentes e nós temos que saber como é que as duas coisas se ligam. Nós não temos a noção que no grupo têm que ser todos iguais.

As pessoas não têm que ser todas iguais. Quer dizer, um grupo não é feito de pessoas iguais. Porque se as pessoas fossem todas iguais era uma existência monumental. Portanto, o grupo é feito de pessoas diferentes. E, portanto, o que nós temos que reconhecer são duas coisas.

Que o grupo é feito... da diferença entre as pessoas, por um lado, é o que faz o grupo mais rico, e que, por outro lado, a individualidade de cada um de nós só se expressa de uma boa maneira, de uma maneira mais efetiva, no contexto do grupo. Portanto, o grupo não existe sem o indivíduo, o indivíduo também não existe sem o grupo.

Se nós estivermos sozinhos não conseguimos interagir com ninguém. E, portanto, há esta simbiose, se quisermos, entre as duas coisas. mas tudo isto parte da ideia de nós sermos diferentes.

Expressamos as nossas diferenças dentro do contexto do grupo e é isso que enriquece o grupo. É a ideia de diferença e, portanto, haver também obrigações diferentes, se quisermos, e tudo isso. É uma ideia que é muito pouco abraçada no... Na cultura ocidental, mais uma vez, não só porque se parte de uma cultura de direitos e não de uma cultura de obrigações.

Eu tenho a impressão que se nós partíssemos de uma cultura de obrigações nós vivíamos em sociedades muito mais civilizadas, se nós vivéssemos num contexto de obrigações em que nós temos que respeitar a vida do nosso semelhante e temos que respeitar as opções do nosso semelhante e temos a obrigação de respeitar a privacidade e de respeitar a segurança. e de garantir a segurança do nosso semelhante, nós não tínhamos as coisas que se têm visto nos últimos tempos, que é, como dizia o outro caso, o judeu da Europa. Portanto, é muito importante perceber que ter obrigação é uma coisa muito mais estruturante do ponto de vista social do que ter liberdade, do que ter direito. E esta cultura de...

de igualdade e cultura de direitos e tudo isso, é uma cultura que está muito entranhada numa... E eu aqui peço desculpa se vou dizer a sustentabilidade de alguém, porque não é essa a minha intenção, de todo em todo, mas é uma parte, se quisermos, da cultura, da teologia... cristã que não foi herdada do judaísmo o que é que eu me estou a referir exatamente é que esta ideia de igualdade e esta ideia de devemos ser todos iguais e devemos ser todos o mesmo e que depois trai uma falta de respeito pela diferença vem da ideia de que? vem da ideia que existe só um caminho correto para fazer coisas Se só há um caminho correto, quem faz do caminho correto está bem, quem não faz do caminho correto está mal. Devemos estar todos iguais a seguir o caminho correto, não há diferentes caminhos, é só um.

E isto do ponto de vista teológico vem, se quisermos, teológico e histórico, vem da transição da teologia judaica para a teologia cristã. A teologia cristã apanhou... algumas ideias fundamentais do judaísmo.

Mas houve outras que não apanhou. Se me quiserem passar a expressão, havia um memorando qualquer que os judeus deram aos cristãos e os cristãos só leram a parte da frente do memorando, não leram a parte de trás. E, portanto, faltou ali qualquer coisa. O que é a parte da frente do memorando que foi transmitido e que foi bem entendido para a tradição cristã e para esse efeito, a tradição musulmana também?

é o conceito de um só Deus, o monoteísmo. O monoteísmo é uma contribuição judaica, o monoteísmo não existia antes do judaísmo, e, portanto, é uma contribuição civilizacional, se quisermos, do judaísmo, e é uma contribuição que foi adotada pelo cristianismo e pelo islã, em particular, a crença num só Deus. Ótimo!

Mas essa é a parte de frente do Memo. É a parte de frente do Memorando. A parte de trás do Memorando dizia que o facto de haver só um Deus não significa que haja só um caminho para chegar até Deus.

Há vários caminhos possíveis de chegar até Deus. Da mesma e simples maneira que eu dir aqui até à China, há muitas maneiras de ir daqui até à China. A China é muito longe e eu posso ir de várias maneiras. Não há só uma maneira de ir daqui para a China. Há muitas maneiras.

E há muitas maneiras do infinito se ligar ao infinito e há muitas maneiras, pois algumas poderão não ser muito boas, mas há várias maneiras, não é só uma maneira de ligar ao infinito. Esta parte foi, digamos, está omissa na interpretação cristã e depois muçulmana destas coisas, que é, para eles, a ideia que eles adotaram é existe um Deus e há só um caminho para chegar a Deus. e o caminho, ou seguem o meu caminho e somos todos iguais na ideia de seguir o meu caminho e se não somos todos iguais na ideia de seguir o meu caminho como eu o interpreto e como eu o sigo vão parar ao inferno ou a um outro sítio qualquer e portanto é uma versão muito absolutista das coisas uma versão até um bocadinho imperialista que é há um caminho só e ou seguem o meu caminho ou se não seguem o meu caminho estão perdidos, é assim Portanto, no momento em que se adota esta ideia de que só há um caminho correto para o que quer que seja, tudo o que seja diversidade, por definição, é mau.

Por definição, porque não é o caminho correto. Todas as atitudes diferentes, todas as maneiras de ver a diferença são erradas. Reparem, se forem ver a história do cristianismo, e Deus nos livre que eu tivesse, não é a minha intenção.

de modo nenhum dizer apenas falar da história não é dizer mal de ninguém quem me conhece já sabe que não eu não gosto de dizer mal de ninguém e pronto quem tiver a sua orientação a sua religião que tenha e que não que respeite e o mais possível bem, mas o que eu quero dizer com isto é em termos históricos grandes batalhas grandes batalhas e grandes mortandades ocorreram dentro do mundo cristão entre diferentes grupos por coisas muitíssimo pequenas quer dizer, pelo menos visto de fora parecem muito pequenas, não é? mas é ou é esta maneira ou está errado e portanto se está errado os protestantes não podem, não suportam os católicos e vice-versa e os anglicanos não gostam não sei de quem e é tudo e depois os ortodoxos das igrejas... No leste também tem umas são melhores que as outras e Roma é uma coisa rosa para as igrejas do leste e vice-versa. Porquê?

Porque não há dignidade nenhuma na diferença. Não há caminhos. É só um caminho.

Qual é a guerra dos 30 anos, Rabino? É a pior guerra. É a guerra que mais matou na Europa.

É a guerra dos 30 anos. Porquê? Portanto, reparem, quando nós dizemos que houve uma falta de tolerância muito grande, por exemplo, entre... Dizer que historicamente que os cristãos não trataram os judeus muito bem, ou que os muçulmanos não trataram os judeus muito bem. Isso pode ser verdade, mas eles trataram-se muito pior uns aos outros.

Quer dizer, qual é o ódio maior que existe hoje no mundo islâmico? Entre chiitas e sunnis, não é... Quer dizer...

tudo a la volta daquilo, entre os chiitas e os sunnis. Do ponto de vista histórico, mais ou menos também, quantos protestantes é que foram mortos por serem protestantes e vice-versa? Vem tudo do mesmo. Vem tudo do mesmo desta ideia do monolítico das coisas. E isto, a grande frase que sumariza estas coisas é uma frase do Blaise Pascal.

O grande Pascal, o grande filósofo, ele dizia que quando não se harmoniza o indivíduo com a comunidade, não se tem uma relação harmoniosa entre os dois, nós temos um problema. Porque fazer unidade sem diversidade, ou fazer diversidade sem unidade, são duas coisas muito más. Diversidade...

diversidade sem um fator unificador é o caos. É a anarquia. Mas por outro lado, a unidade sem aspectos diversificadores, dizia o Pascal e muito bem, é tirania. Diversidade sem unidade é anarquia. Unidade sem diversidade é tirania.

dizia o Pascal, não era eu e este é que é um aspecto importante ao não respeitar a diferença o resultado é tiranio o resultado é opressão porque não se respeita da diferença a pessoa está abaixo de cão, digamos assim bom, mais qualquer outra reflexão que possam ter deixa eu ver aqui, não sei se aqui no chat haverá algumas questões Uma igualdade de dignidade em nome de... O Daniel dizia uma igualdade de dignidade. Era acerca da diferença entre o bar mitzvah e o bat mitzvah da... da tarde.

Não, não, era isso. Eu escrevia enquanto estava a falar e estava a dizer que o que devia haver era uma igualdade de dignidade. Não é, como é evidente, uma igualdade de amadurecimento cognitivo que é diferente até por questões de...

testosterona e de outras coisas. Sim, sim. Mas isto é interessante. A igualdade da dignidade é uma igualdade que a dignidade de onde é que vem a dignidade? A dignidade vem da capacidade dos outros de nos respeitarem, não é?

Eu não consigo obrigar os outros a respeitarem-me legalmente, digamos assim. E, portanto, se eu não tiver esta mentalidade, que é uma obrigação que eu tenho, respeitar os outros, é uma obrigação que eu tenho. A minha obrigação é respeitar os outros e por ir por diante. É um sistema muito mais efetivo em conduzir a uma certa paz e harmonia do que um sistema em que eu digo que tenho direito a XYZ. Porque eu quando tenho direito em XYZ, eu estou a apontar o dedo para mim.

Ou seja, o enfoque tudo sou eu. E se vocês me fizerem uma inconveniência qualquer, estão lixados porque eu tenho direito a não ser inconveniente se há algo. Não sei se isso existe.

Portanto, quando eu digo, quando eu não aponto o dedo da lei para mim, mas aponto o dedo para os outros no sentido de dizer eu tenho que respeitar os outros, eu tenho que ter em consideração a dignidade dos outros, obrigação. Coisa um bocadinho diferente. Isabel, Isabel Landeiro, diga, por favor. Tem que tirar o seu mute, exatamente.

Obrigada. Oh, mas você está a falar tão baixinho. O som do meu computador não é muito bom. Assim consegue-me ouvir melhor?

Sim, ouvimos, sim, senhora. Ok, então, lá vai. Tenho estado ali com muita atenção. De facto... da igualdade na diferença, é uma coisa muito importante, de facto nós na civilização ocidental somos, portanto, quase que obrigados a determinados comportamentos.

A mulher em si, isto partendo, por suposto, daquela lenda. que Deus criou o homem e a mulher iguais. Que era o Adão e era a Lili. Que eram iguais. Só que a Lili era muito refilona.

E a Lili também queria as coisas à maneira dela. E o Adão não queria ter quem a confrontasse. E não queria ter quem mandasse nele.

Então despediu a Lili e disse a Lili Senhor, faz-me uma esposa obediente. uma esposa casta, uma esposa que possa ficar bolar, que não me chateie a cabeça, que trate os filhos e que não me incomode. Então Deus arranjou-lhe a Eva.

Esta visão de que Deus legitimou a pretensão do homem a ter alguém muito mansinho em casa, que faz a comida, que limpa, que trata os filhos, que leva os filhos à escola. Vai buscar os filhos à escola. Leva os filhos à explicação. Leva os filhos à natação. Vai buscar os filhos à natação.

Leva os filhos ao médico. Vai buscar os filhos ao médico. Tem que ter a casa num brinquinho, limpinha. A comida feita quando o homem chega à casa, senão é uma chatice. Isto passa-se ainda hoje.

Além de que a mulher também trabalha. A mulher trabalha fora, porque hoje em dia não é possível. para a maior parte das famílias, ter uma casa e uma família sem ter dois rendimentos. E isto continua a acontecer, Rabi. Isto continua a acontecer.

Porque as mulheres, na nossa sociedade, têm muito mais obrigações do que os homens. Lá está. Tudo houve das obrigações.

Num sistema em que existem essas obrigações, quem tem mais obrigações está pior. E não é promotor de igualdade, pelo contrário, é um dos bastante mais vulneráveis. Uma reflexão que eu queria dar é que, várias reflexões, mas uma é, eu tenho que confessar, não é uma confissão assim tão complicada, mas… Tenho que confessar que eu, a teoria do que eu estou a dizer, eu conheço bem. A teoria eu conheço bem. Agora, na prática, eu não sei se a minha prática está sempre em consonância com esta teoria toda que eu estive a falar.

Aliás, se perguntassem à minha mulher, de certeza que ela ia dizer que não. E com toda a razão. E eu consigo compreender que, da maneira como nós somos criados, culturalmente, historicamente e disso, há uma série de coisas que nem me passou para a cabeça, digamos, na minha própria vida. Há imensas coisas que não me passam para a cabeça, não me passam por a cabeça que eu podia fazer ou devia fazer. E eu não estou a querer dizer que me considero uma pessoa malvadíssima.

O produto de sociedade em que vivemos. E, portanto, eu posso ter esta teoria toda, mas depois, na prática, fiz as mesmas disparates que as outras pessoas todas. E é muito importante percebermos isto, porque, aliás, em um tom um bocadinho mais ligeiro, o Rabino que trabalha comigo, ou eu que trabalho com ele, enfim, que é, por acaso, o diretor do Rabado para todo o Estado da Virgínia, ele tem uma história muito interessante que ilustra bem. isto, que é na prática nós não percebemos bem, na teoria percebemos, mas na prática nem tanto.

Ele quando teve o primeiro filho, depois passaram umas semanas, a mulher disse-lhe assim, mas então como é que é? Tu nunca mudas a fralda à criança? Tens de mudar a fralda à criança.

E ele disse, ok, na próxima vez, na próxima vez faço isso. Dali a um bocado. a criança precisou de mudar a fralda e, agora, adivinhem lá quem é que foi mudar a fralda. Foi a mãe.

E a mãe foi ter com ele e foi dizer, pá, mas tu como é que é? Dizias que ias fazer na próxima vez, agora está a ver aqui e não fizeste nada. Ele dizia, não, não, não. Eu estava a referir-me à próxima criança.

Eu mudo a fralda na próxima criança. Não era honesto. E isto é uma história verdadeira. Uma história verdadeira. E dá bem a noção de que quanto quanto Quão longe da realidade das coisas nós estamos.

Enfim, mais uma vez, não indo numa via de masoquismo, eu consigo pensar, consigo ver diversas situações na minha própria vida em que... Eu hoje não faria a mesma coisa que fiz, porque também, pronto, não era, é não pensar certas coisas, não pensar e tomar como garantido que certas pessoas fazem certas coisas, também é fazer as coisas, mas como digo, é uma questão muito, muito, muito importante o respeito, a dignidade e tudo isso. E pelo menos aprendermos. Ou seja, eu posso dizer que o sistema no judaísmo, na teoria é muito bom e na prática nem tanto.

Mas sempre é melhor de um sistema que nem sequer na teoria é bom. Pelo menos temos um paradigma que nos leva numa direção o mais correta possível. Uma outra nota muito rápida para dizer o que a Isabel mencionou toda essa história da Lilith e tudo isso.

É importante perceber que isso não tem nada a ver com a narrativa bíblica. Nada disso vem na Torá, nada disso vem na Bíblia. Isso tudo são escritos, são histórias, são interpretações, mas que não têm nada a ver com o que diz na Torá e, em particular, a questão da Lilith e tudo isso, tem um papel muito pouco relevante na nossa televisão judaica. enfim, conhece-se bem essas histórias mas não é, mas apenas para dizer que de facto aliás eu tenho uma amiga bastante amiga que ela é absolutamente fanática para o Lili porque o Lili é o quê? A Lili é a epitomia da libertação do feminino digamos, é essa a ideia de todos os movimentos feministas e tudo isso, a Lili irá ser uma coisa mas e muito bem Ana não sei, Isabel você ainda tem a mão levantada, não sei se tinha acabado eu vou abaixar só uma opinião um ponto de vista rapidinho eu já comentei aqui algumas vezes que eu comecei a estudar a atuar recentemente e antes eu não estava vinculada com nenhuma religião Então, como mulher, assim, na minha experiência de vida, eu já vi muito preconceito com a mulher.

Agora, quando eu comecei a estudar Torá, eu em momento nenhum vi preconceito contra a mulher na Torá. Eu acho que isso vem quando a pessoa não faz o aprofundamento e não entende o que o senhor falou de início, que é o masculino e o feminino. Porque quando a gente começa a interpretar...

entendendo que não é homem e mulher, é masculino e feminino, eu não vi em momento nenhum preconceito ou machismo natural. Eu acho que isso é a natureza humana que está sempre atrás da vaidade e do poder e que vai interpretando como quer, porque eu nunca vi. Uma coisa importante, que é uma generalização que você está a dizer, e é um ponto que me parece muito importante, mas como digo... transcendo o que você está a dizer. É que um dos grandes problemas que existe, penso eu, na maneira como muita gente lê a Torá, o livro de Gênesis, vamos dizer, é que nós transferimos para o texto a nossa experiência.

Nós não somos capazes de nos colocar no contexto do texto. Nós transferimos para o texto as nossas experiências, os nossos filtros e as nossas vezes. Um exemplo, e eu gosto de fazer até essa experiência, é pedir a alguém que leia aquela passagem onde diz que, e da árvore do conhecimento do bem e do mal, tu não conhecerás, não comerás, porque no dia em que comeres...

morres, tornes-te mortal. E a experiência que eu gosto de fazer é pedir a uma pessoa para ler, mas imagina que estava no teatro, imagina que estava a fazer uma peça de teatro e deu ênfase. Universalmente, as pessoas como lêem é te fazes isto, fazes aquilo, e não comes daquela... Porque se comeres vais morrer. Isto é uma visão editorial do que está escrito.

Isto não é o que está escrito, é uma visão editorial filtrada por nós. Porquê? Porque a primeira coisa que aqui aparece é a ideia de que a morte, para nós, tem um certo significado, é muito específico, mas é um significado que nós estamos a transferir, se quisermos, para essa narrativa. O contexto da narrativa é o quê?

O Adão e a Eva tinham sido criados há pouco tempo. Eles tinham vindo, eram emanações do divino. Eles estavam no jardim de Éden. Eles só tinham santidade à sua volta. O que é que significa, neste contexto, dizer que eles vão morrer?

Significa que vão deixar o mundo físico e vão se reunir... do divino. Qual é o problema para eles? Qual é o problema?

Para eles não tem problema nenhum. Naquele ponto de vista da narrativa bíblica, nunca ninguém tinha morrido. Eles não sabem o que é que é, para começar. Nunca ninguém tinha morrido.

Mas se quisessem imaginar o que é que era, era voltar ao Criador. Qual é o problema? Ou seja... Nós olharmos para o texto, se não lermos o texto em contexto, se não percebermos o texto em contexto, acabamos por tirar conclusões incorretas e conclusões erradas sobre as coisas.

Temos de mesma maneira, quando nós olhamos para o nome do ser humano, nós vemos que o ser humano, diz lá na Torá, claramente, o ser humano é criado homem e mulher, mas não compila, não entra. O que fica é que o homem é criado primeiro e a mulher depois. Damos vista com outras coisas, que é, a árvore era uma maçã, não sei se era, não é essa tradição judaica. E por aí por diante, há imensas coisas, a costela do Adão também não é tirada da costela, é tirada de uma coisa de dentro. Portanto, há imensas narrativas, se quisermos, que são sobrepostas à Torá, mas não têm nada a ver com o que a Torá diz.

E, portanto, depois, a partir daí, tiram-se conclusões erradas. Se nós formos ver, por exemplo, o próprio caso do Caim e do Abel, qual é a moralidade? Aquilo parece uma história de grande malvadeza. Muitas subtilezas ali, que é importante perceber.

Muitas subtilezas. Mais uma vez, nunca ninguém tinha morrido. Nunca ninguém tinha morto ninguém.

Como é que eles sabiam que fazer uma certa coisa... podia causar a morte do outro. Não há ali nada de premeditado necessariamente. Ok, mas isto podemos ir muito longe, mais uma vez, olhar para as coisas no seu contexto. E reparem, na própria semana passada, nós também falámos na questão de que quando se começa a falar na relação entre a teoria e a ciência, quando se começa a dizer ah, mas a criação, aquilo são não sei quantos bilhões de anos e que aquilo ali são só sete dias.

Mas, mais uma vez, a pergunta no contexto que se tem que fazer é, se levarmos literalmente o que estamos a ler, o ser humano não foi criado como bebê, o ser humano foi criado como adulto, não é? Da mesmíssima maneira que a árvore, quando foi criada, foi criada como madura, digamos assim. Os animais, quando foram criados, não foram criados como bebês, foram criados como adultos. E, portanto, naquele momento, se fôssemos fazer um teste de ADN às células e mais não sei o quê, o que é que nós dizíamos?

Dizíamos que o Adão tinha 25 anos de idade, mas o Adão tinha sido criado naquele momento. Portanto, como é que é? Como é que pode ser?

O que pode ser é que o Adão, digamos, é criado como uma história virtual, se quisermos. Criado como adulto significa que há uma história virtual para trás. É virtual, mas existe. E, portanto, como é que nós conseguimos distinguir uma história virtual de uma história real? Sobretudo de uma coisa como a criação em que não é reproduzível.

Não se consegue, não é? Portanto, mais uma vez, o ponto é realmente ir sempre olhar para o que o texto diz. e nós podemos ir muito longe depois da interpretação do texto, nós não podemos é perder o pé. Digamos assim, não podemos perder o pé em relação ao que o texto diz. e perceber bem o contexto disso vamos lá ver alguma outra pergunta, se não também vamos, deixe-me lá ver aqui ok, então se não há mais perguntas, nós até se calhar podemos ficar por aqui deixe-me lá, eu já não lembro o que é que tinha pensado falar mais Vamos depois da próxima semana.

Ah, pensar, falar no Shabbat e nos dias da semana, que é uma questão muito importante, para reflexão. Qual é a única unidade de tempo que nós usamos que não tem nenhum fundamento astronómico? cosmológico.

O mês tem. É a rotação da lua. O ano tem, é a rotação do sol. O dia tem a rotação da terra.

Portanto, o dia tem. O mês tem. O ano também. Mas a semana não.

A semana não. A semana é a única unidade de tempo que não tem um fundamento astronómico, se quisermos, e que tem uma coisa muito interessante. É que todas as tentativas que houve, historicamente, em mudar a estrutura da semana falharam. E, portanto, há aqui qualquer coisa de muito interessante na estrutura da semana. Parece ser natural.

E como digo, quando nós partimos da semana de 7 dias, queremos fazer uma semana de 10 dias ou uma semana de 5 dias, como se fez na Revolução Francesa ou na Revolução Russa, não funciona, não funciona. É um aspecto interessante. Este ser é uma das contribuições, aliás, das contribuições dos... que o judaísmo traz é esta ideia da semana de sete dias as fases da lua também exatamente, por falar nas fases da lua e uma vez estávamos a falar enfim, não mencionei isso antes mas não é por acaso não é por acaso que existe uma ligação não só etimológica mas também até física, entre o feminino e as fases da lua.

Em alguns idiomas, por exemplo, em particular o inglês, a palavra que é usada para, desculpem a expressão, para menstruação, é uma palavra que é derivada da lua. São os ciclos de 28 dias. esta conexão da lua de feminino e tudo isso vai muito longe vai muito longe muito bem, portanto essa era uma das questões que tinha a questão do sabate e do dia da semana como é que as coisas relacionam, para pensarem a outra coisa que tinha também, quero que vocês pensem e falamos depois na semana que vem é uma pergunta interessante e ao mesmo tempo bastante profunda que é, nós começámos no jardim de Eden em que A humanidade estava completamente rodeada pelo divino e pela presença do divino. Houve ali uma série de situações que acabaram com isso, e depois passamos o resto de toda a existência da humanidade aqui, a procurar uma redenção final, na qual vamos ter um estado em que...

O quê? É um estado da existência em que o mundo está cheio da glória de Deus. E aqui há uma coisa interessante.

Mas espera lá. Então nós começámos por um mundo que estava cheio da glória de Deus, perdeu-se isso e acabámos no sítio onde tínhamos começado. Porquê é que não começámos e deixámos ficar lá onde estávamos? Quer dizer, se nós depois a redenção final vai nos levar a um sítio que é mais ou menos a mesma coisa de onde estávamos do princípio, não é?

Pois. E eu não vi quem é que pôs a resposta no Tikunolam. mas o tico no lama tem muito a ver de facto com a ideia há uma diferença muito grande entre estar no jardim de Éden em que nós fazemos as coisas corretas fazemos as escolhas corretas porque Deus está em cima de nós e não temos opção de não fazer corretas não temos escolha é como um bebé, uma criança de um ou dois anos claro que vai fazer as escolhas corretas estão os pais em cima a obrigarem a fazer as escolhas corretas. Agora, quando chegar a ser adolescente, e quando chegar aos anos 20, de ver os seus 20 e 30 anos, fazer as escolhas corretas, ah, isso é divino.

Fazer as escolhas corretas quando se tem 2 anos não é... E, portanto, quer dizer, é a grande diferença entre o Jardim de Éden e a redenção final, apesar de, na aparência, serem o mesmo, é que no Jardim de Éden nós não tínhamos escolha. E, para chegar à atenção final, nós tivemos que fazer as escolhas, tivemos que fazer o ticu no lame, tivemos que fazer estas coisas todas, mas é uma coisa que é gerada pelas nossas ações e pelas nossas escolhas. E quem tem filhos sabe muito bem o que é que eu estou a dizer, que é, quando os filhos têm 5 anos e fazerem as coisas todas muito bem, muito certinhas, ok, não é de espantar. Não é uma coisa que dê assim grande regozijo.

São pequenos papagaios. Agora, quando fazem as coisas bem feitas, quando têm 20 anos ou 30, ah, ah, ah, ah, e é diferente. É porque têm capacidade de escolher e têm capacidade de decidir.

E, portanto, é este processo de amadurecimento, este processo de amadurecimento que é refletido por esta evolução da humanidade, desde essa parte inicial, até depois, à parte da redenção final. É uma evolução e é um amadurecimento que faz parte da humanidade, mas faz parte também de outros... Outros níveis, por exemplo, um dos grandes temas destas primeiras capítulos de Génesis é a ideia do que é a liderança, quais são as características de uma liderança, de uma boa liderança, e nós vemos um amadurecimento, vemos que o tipo de liderança que o Noé tem não é o mesmo que o Abraão tem, o que o Abraão tem não é o mesmo que o Moisés tem, e perceber, portanto, que a própria humanidade vai amadurecendo. Enfim, bom, ficamos por aqui.

Alguma outra questão, se não houver, ficamos por aqui, com os agradecimentos a todos que tiveram a paciência para aqui estar e para ir ouvindo. Muito obrigado. Muito obrigado a todos. Muito obrigado.

Muito obrigado. Até muito em breve. Obrigado. Obrigado.

Boa noite. Boa noite a todos.