Transcript for:
Análise do Conto da Aia

Bom dia, boa tarde, boa noite a todos. Bem-vindos a mais um episódio de Coffin Resistance Literature, um podcast organizado pela turma de Letras em Inglês do ano de 2019 da Universidade Federal do Pará, no campus de Bragança. Nós estamos aqui com o meu colega Sávio.

A minha colega Mabel e eu, quem vos fala, Ana Ri, e nós vamos trabalhar com The Handmaid's Tale, ou como é mais conhecido aqui no Brasil, O Conto de Aya, que é um romance distópico publicado em 1985 e escrito pela escritora canadense Margaret Atwood. O Conto da Aya é uma obra distópica... que reúne vários elementos desse gênero, como a desumanização, a violência e a opressão por um regime totalitário. Esse regime, no caso, é o Estado de Gileade, fundado após um golpe de Estado no território que um dia havia corretado.

correspondido à parte dos Estados Unidos da América. Gilead é uma sociedade classista e sexista, marcada pelo fundamentalismo religioso, no qual as mulheres são divididas em castas segundo alguns critérios, sendo o mais determinante deles... a capacidade reprodutiva. A primeira casta da qual nós vamos falar são as tias. As tias são as que supervisionam o treinamento e a doutrinação das aias.

Elas vestem marrom, cor que simboliza a austeridade, e dirigem o centro vermelho, para onde as aias são enviadas para serem doutrinadas. As tias têm poder naquela sociedade porque elas são responsáveis pela propaganda do estado de Gileade. por não permitir basicamente que as aias escapem.

Elas leem sermões bíblicos, dirigem sessões violentas de uma suposta terapia na qual as aias são expostas a situações vexatórias, incultam culpa, executam punições. E na obra existiam várias mulheres dispostas a servirem como tias. Fossem pela crença genuína nos chamados valores tradicionais ou fossem pelos benefícios que teriam nessas posições. A própria obra faz referência a isso.

Abre aspas. Quando o poder é escasso, ter um pouco dele é tentador. E a obra faz referência a como o Estado de Gileade usou mulheres para doutrinar outras mulheres de maneira racional, de maneira consciente.

Tudo isso em prol da eficiência e da manutenção daquele Estado totalitário. A segunda casta é a das esposas. Elas são representadas pela coazul, como a nobreza, e são as mulheres que ajudaram a fundar o Estado de Gileade. de leades, sejam sendo casadas com homens fundadores ou tendo auxiliado de alguma outra forma.

Elas têm algum prestígio naquele regime, na sociedade supostamente monogâmica por causa das normas religiosas. São as mulheres de mais alta posição e status, casadas com homens que também possuem status. Elas são vítimas da opressão, mesmo que não percebam ou que não tenham esperado isso. As esposas não são autorizadas à lei, apenas tricotam cachecóis para os homens que lutam em batalhas, representando o que antigamente se conhecia como prendas do lar.

que seriam muito mais importantes para uma mulher, do que a autonomia intelectual. Existe nessas esposas uma discotomia, a do casamento como privilégio e a da inveja, o ciúme das aias pela fertilidade delas. Uma delas chega a golpear uma das aias com uma das agulhas de tricô.

Embora elas sejam, em parte, responsáveis pela violência sofrida por outras mulheres, elas acabaram também sendo vítimas do regime totalitário, o que elas esperavam que não fosse acontecer se elas a auxiliassem. A terceira casta é a das aias, representada pela cor vermelha, pelo sangue do parto. Mas, afinal, quem são essas aias? São as figuras que personificam a extrema subjugação e opressão feminina no Estado de Gilead. Aquelas cujos corpos são tomados como propriedade do Estado devido à sua capacidade reprodutiva.

Elas sofrem um processo de perda de autonomia e identidade, no qual seus amores, suas famílias, sua vida anterior ao golpe de Estado, totalmente anulados e até mesmo seus nomes são apagados. O próprio nome Ofred, da narradora protagonista, vem de Of Fred, de Fred ou pertencente a Fred. A exploração reprodutiva das aias ocorre de forma sistemática, por meio de um ritual mensal que consiste em um estupro com a presença da esposa para a inseminação daquele corpo feminino.

E esse ritual tem um discurso religioso que o sustenta, o de uma suposta missão para gerar filhos. para o Estado de Gilead. É a fé justificando a opressão. Mas apesar de, contudo... As mulheres serem violentadas na presença de outras mulheres, no caso das esposas, exemplificando aquela máxima da Simone de Beauvoir, a de que o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos, existem alianças secretas entre as aias como estratégias de sobrevivência e resistência.

E tudo isso nos leva à seguinte reflexão. Como que o conto da aia pode contribuir para uma educação para a ética? É uma obra muito forte, é claro, e embora ela seja ambientada em um futuro aparentemente distante, ela está fundamentada em práticas que ocorreram em diversos contextos na história.

Seja na própria história da escravidão do Brasil, ou seja em seitas que resistem nos dias de hoje. Até mesmo quando a gente pensa na perspectiva do próprio gênero de distopia. Quando esses elementos, essas problemáticas são apresentados no futuro, de uma maneira um tanto exacerbada, na verdade eles querem apontar para problemáticas do nosso presente, apresentando esse futuro aparentemente distante como uma denúncia para como essas questões acontecem nos dias de hoje, no presente.

Sim, e é assustador pensar que a desumanização está mais próxima da nossa realidade do que nós imaginamos, mas o debate é necessário. Recorrendo mais uma vez à Simone de Beauvoir, basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes.

Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida. Discutem-se hoje questões urgentes como os direitos reprodutivos, educação sexual, usos contraceptivos, direito ao aborto, principalmente em casos de violência sexual, e o direito à laqueadura por jovens mulheres. Portanto, a obra, embora escrita nos anos 80, permanece atual e inspira debates sobre questões essenciais.

Essa é a nossa análise, mas existem várias outras possíveis, porque é uma história tão forte quanto rica. Então, queremos ouvir de vocês. Qual a opinião que vocês têm sobre essa obra?

Deixem aqui nos comentários e esperamos que vocês tenham gostado. Obrigada pela participação e até!