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Conservação Marinha e Biodiversidade em Ilhabela

Ilha Bela, um paraíso com biodiversidade única, essencial para a proteção de inúmeros animais. Uma área de preservação ambiental que serve de abrigo para pelo menos 12 espécies de baleias e golfinhos. Um número significativo, já que no mundo temos um total de 92. Realizamos essa expedição entre fotógrafas, mergulhadoras e biólogas para mostrar a importância da conservação deste habitat. Incentivando a redução do impacto do turismo e de outras atividades humanas, é possível proteger nosso planeta e gerar empregos, potencializando a economia local. Estamos aqui para mostrar o que acontece de mágico nas águas quentes do litoral paulista.

Ilha Bela torna um hotspot. A gente tem uma concentração, uma biodiversidade marinha muito grande. Algumas espécies são residentes, ou seja, a gente pode encontrá-la o ano inteiro aqui. E tem algumas espécies que são migratórias, como por exemplo a baleia franca e a baleia jubarte.

As baleias jubarte foram caçadas por décadas, fazendo com que a população chegasse à beira da extinção. Esse cenário mudou em 1986, com a proibição da caça. E as notícias são animadoras. Em 2014, a jubarte saiu da lista de espécies ameaçadas e o número de indivíduos vem subindo a cada ano. Muitas pessoas perguntam, mas nossa, de onde estão vindo essas baleias?

Por que agora elas estão vindo aqui? Então, na verdade, elas já vinham aqui e agora elas estão reocupando. Só que agora elas estão encontrando um novo cenário.

Um cenário onde tem porto, onde tem um fluxo gigantesco de navio, uma poluição sonora absurda, poluição química, poluição de resíduos sólidos, como o plástico. Foram meses de pesquisa, mergulhos e avistamentos para entender melhor o comportamento desses animais e como nós, seres humanos, influenciamos essa cadeia. Nosso maior objetivo foi acompanhar animais migratórios que passam por aqui. Um refúgio fundamental em sua longa jornada. A cerca de 45 quilômetros de Ilhabela, temos outro paraíso, o arquipélago de Alcatrazes.

Um conjunto de ilhas, lajes e parciais que se tornaram o local ideal para a preservação de diversas espécies. Por algum tempo, foi utilizado como base militar brasileira, o que impactou diretamente a fauna terrestre e marinha. Hoje em dia, é administrado e fiscalizado pelo ICMBio, com o apoio da Marinha. E é uma unidade de conservação denominada de Refúgio de Vida Silvestre.

Possui o maior ninhal de fragatas do Atlântico Sul e a segunda maior colônia de Atobás. abriga uma grande biomassa de peixes, que funciona como um berçário na região. O acesso terrestre ao arquipélago é permitido somente para pesquisa e atividade de gestão.

Poder assistir e participar do trabalho do Instituto foi um privilégio. Documentar cenas que, nos dias de hoje, se tornaram tão raras, foi mais do que especial. O oceano é responsável por incontáveis funções ecológicas.

Também é uma estrada imensa e profunda que interliga diversos caminhos. Em sua longa jornada, animais migratórios transportam nutrientes importantes para a saúde do ecossistema. Entre eles, a graciosa baleia jubarde.

Ela se alimenta ali na Antártica, então ela sai dessa região muito fria, quando começa o inverno, e migra para a nossa região tropical, procurando águas mais rasas. Água mais quente, para uma segurança. que aqui é onde ela vai ter os filhotes.

Nessa região que ela tem os filhotes, que elas amamentam esses filhotes, lembrando que as baleias jubartes são mamíferos muito parecidos com a gente, a gestação dura um ano. Então a baleia que copulou o ano passado, ela voltou para cá já pronta para ter o filhotinho. Durante a passagem dessas gigantes, conseguimos presenciar diversos comportamentos, sendo o salto um dos mais incríveis.

É muito comum a gente ver a mãe fazendo o movimento e o filhotinho fazendo o movimento repetido em seguida. Então ela salta, o filhotinho salta. Aí ela expõe a nadadeira peitoral, o filhotinho vai lá e expõe a nadadeira peitoral. Então é muito gostoso de ver esse movimento.

Ainda não se sabe ao certo o motivo desse espetáculo. As principais hipóteses estão relacionadas à comunicação, devido ao som produzido pelo impacto na água. Também é possível que utilizem o salto para tirar parasitas e cracas do corpo. As acrobacias são analisadas como brincadeiras e importantes interações sociais, que geram diversos momentos emocionantes para quem está assistindo.

Uma semelhança conosco é que as baleias também possuem uma digital. A cauda de cada indivíduo é diferente, com manchas e formatos únicos. Assim, é possível identificar a mesma baleia em diferentes lugares do mundo. A comunicação é um elemento primordial dentro da cultura e dos sistemas sociais.

Os mamíferos desenvolveram diferentes localizações. Cada espécie emite um tipo de som. Na água, esses sons se propagam muito bem, sendo ouvidos a quilômetros de distância.

Não se sabe ao certo para que ele serve, mas claramente ele é feito na região de reprodução, então ou é para atrair a fêmea ou é para dizer para o outro macho, já estou aqui, essa área é minha. Os machos eles cantam nessa área e tem registro de canto aqui também e tem a formação de grupo competitivo. Um grupo competitivo é quando vemos diversas baleias juntos, tendo como uma fêmea na frente e vários machos atrás, a perseguindo na tentativa de copular. Visto de cima, parece uma dança, mas na verdade é uma grande disputa, com golpes de peitoral e batidas de caudal.

O mágico que demonstrar mais força, ou aquele que conseguir chegar mais perto, conquista a fêmea. Apesar das jubartes conquistarem a atenção pelo seu comportamento brincalhão e exuberante, temos outra espécie que também passa por aqui, discreta, porém tão gentil quanto... A raia-manta. Essa manta é uma espécie migratória, elas fazem grandes travessias justamente para alimentação e reprodução.

Inclusive, está para sair uma publicação de um artigo científico nosso comprovando Ilhabela como um grande hotspot, um grande ponto de agregação dessas raias manta oceânicas. É admirável saber que temos heróis e heroínas atuando na linha de frente das pesquisas científicas e na proteção ambiental. Existem várias formas de estudar o comportamento desses animais.

Vamos conhecer e entender o trabalho do ponto fixo, feito pelo Viva Instituto Verde Azul. O interessante do ponto fixo é porque a gente está num ponto alto, a gente tem uma visão muito ampla, então a gente consegue ver todos os animais que estão nessa área e as atividades antrópicas. Então a gente consegue ver quando entra um animal, quando ele sai daquela área, quando entra um barco, se esse barco vai se aproximar ou não. Então só a presença do barco pode fazer com que ela mude o comportamento, mude a direção, né? Muitas fêmeas com filhotes param de amamentar.

E então o trabalho de ponto fixo é o único que a gente pode dizer que a gente não interfere de forma alguma com o comportamento desses animais. Ele também tem algumas limitações, que é a distância, então por exemplo... Fazer uma foto da caudal de uma jubarte, que é quando a gente consegue ter a identificação do indivíduo, já é uma limitação para o ponto fixo. A gente consegue observar a presença desses animais e a gente consegue, via rádio ou outras comunicações, avisar outros pesquisadores que estão na água para eles se aproximarem desse animal e sim fazer um registro, por exemplo.

Outra parte importante da pesquisa e conservação acontece nos barcos. São loras em alto mar buscando esses animais, com diversos profissionais envolvidos em terra e água. A gente encontra as mantas aqui em Ilha Bela, principalmente com base em relatos das comunidades locais, dos pescadores e também do pessoal de turismo. E a gente tenta encontrar esses animais para poder registrá-los, saber que eles estão por aqui.

medir o tamanho deles também e o principal que é a foto identificação. E a gente encontra esses animais tanto no visual com a embarcação, quanto por uso de drone, que ajuda bastante a nossa pesquisa hoje em dia. Assim que a gente encontra ele, a gente tenta chegar perto do animal e as mantas são uma espécie muito tolerante, muito tranquila em relação à presença de embarcações, mergulhadores, enfim. A gente chega perto, tenta não assustar o animal e o mergulhador, que geralmente sou eu, entro na água e tento fazer uma foto do ventre dela. que é por onde a gente identifica esses animais.

Para garantir a segurança desses animais e dos turistas, existem regras para o avistamento de cetáceos no Brasil. Especialmente na época das jubartes, que a jubarte é uma espécie de cetáceos muito acrobática, né? Então ela salta, ela expõe a nadadeira peitoral, pessoas gostam de observá-la e a gente acha que a sensibilização está aí. Porém...

tem um lado que a gente tem que tomar muito cuidado. Esse turismo de observação, ele precisa ser muito bem ordenado para que ele aconteça de forma saudável, tanto para o operador, tanto para os turistas, e quanto para esses animais. Então, isso precisa ter um regramento.

Existem uma série de leis, de normas que precisam ser seguidas em relação ao distanciamento, ao motor estar em neutro, o tempo que você pode permanecer. naquele grupo de baleias, quantas embarcações podem estar próximas daquele grupo ao mesmo tempo. Então, tem uma série de regras que precisam ser seguidas para que a observação do cetáceo seja positiva para todo mundo. Como seres humanos, temos o costume de afastar o que acontece no oceano de nós.

Tudo parece muito distante. Porém, as ameaças ao ecossistema da nossa costa interferem diretamente em nossas vidas. São mais de 11 milhões de toneladas de plástico que chegam ao oceano todos os anos.

Isso equivale a um caminhão de lixo jogando seu conteúdo no mar por minuto. A cada ano, mais de um milhão de animais marinhos sofrem por conta do plástico. Inclusive, espécies filtradoras como as mantas, que se alimentam próximas da superfície.

É fácil você imaginar que num lugar onde tem muitos animais marinhos e também muita atividade humana, acidentes e vários tipos de mortes... de animais podem acontecer por causa disso. Elas são muito suscetíveis aos atropelamentos. E esse é um dos pontos que a gente tem também aqui em Ilha Bela, justamente pelo grande fluxo de embarcações, e seria um ponto para ser abordado a diminuição da velocidade das embarcações por aplicação de leis.

Mas, além dessas ameaças, no Brasil elas são protegidas por lei, não é permitido pescar raia manta, mas acontece. Obviamente, não é proposital, mas não interessa para a vida do animal, tanto faz se é proposital ou não. E é por isso também que no Brasil a gente deve proteger cada vez mais.

Já que em outros lugares elas não estão com a proteção necessária, o Brasil pode ser um grande protetor desses animais. Outro exemplo são as taninhas. O menor cetáceo que encontramos por aqui está gravemente ameaçado.

Nos últimos anos, houve uma redução de 30% dessa população, com uma estimativa de que 1.500 indivíduos sejam mortos por ano. A captura acidental... é o maior vilão contra essa espécie que corre o risco de desaparecer. Uma das principais razões hoje que mata baleias e os golfinhos é a captura acidental, quando esses animais ficam presos em redes de pesca.

O pescador não tem intenção nenhuma em matar a baleia, nem perder o equipamento dele pesqueiro, mas a gente precisa juntos encontrar alternativas para que todo mundo ocupe a região de forma harmônica. O Bycatch. ocorre quando animais que não são alvo da pesca são capturados acidentalmente. Muitas vezes são descartados machucados no mar, causando morte e sofrimento.

Isso é causado por um animal que não é alvo da pesca. causada por diversas modalidades, como a pesca de arrasto. Estima-se que 4 milhões de toneladas de animais são descartados anualmente. Animais emaranhados por redes e outros detritos humanos podem sofrer amputação de membros ou morrer por asfixia e afogamento. Mais de 300 mil baleias e golfinhos são mortos mundialmente por ano pelas práticas exploratórias da pesca industrial.

Foi na tentativa de conter ameaças como essa que hoje Alcatraz é uma região protegida. O arquipélago funciona como um grande repositório de estoques para outros locais do litoral. Para quem pesca nesses outros pontos do litoral onde a pesca é permitida, é fundamental que você tenha um ponto de concentração, de reprodução desses estoques. Se Alcatraz for mais um ponto em que a gente possa pescar...

Certamente, outros pontos do litoral em que a pesca é permitida vão sofrer as consequências. Um cenário que nos chamou a atenção foi o do coral-sol. O animal que habita originalmente o Oceano Índico e Pacífico é uma espécie invasora no Brasil. Foi introduzido no país por meio de plataformas de petróleo e teve seu primeiro registro aqui em 1980. A gente tem um trabalho, desde 2014, de manejo desse coral. Então, como é que é o trabalho?

A gente mergulha com talhadeira e com uma marreta e vai tirando um por um. Espécies invasoras causam um enorme impacto ambiental, principalmente pela ausência de predadores naturais, gerando um desequilíbrio ao ecossistema onde chegam. Apesar dos desafios, é possível seguir caminhos mais conscientes e até mesmo mais econômicos. Podemos transformar a coexistência e a sustentabilidade em uma realidade.

Eu acho que o turismo é o primeiro a ser impactado pelas mudanças climáticas ou pela mal utilização do homem quando ele faz a poluição que ele está acostumado a fazer. Se a gente não tiver um cuidado com saneamento básico, com lixo, rapidamente as praias vão ficar impróprias, as cachoeiras vão ficar sujas e o turista vai parar de vir para Inabela. Não faz sentido não prestar 100% de atenção nisso. Isso é business, basicamente assim.

Eu tenho uma economia... onde as minhas placas solares em quatro anos pararam de ser custo e viraram lucro. Tem a parte de consciência, mas tem a parte de negócio como um empresário. Eu não tenho vergonha de dizer isso.

Eu acho que quem é dessa área e não está pensando nisso está perdendo a viagem. Em termos de conservação do ambiente marinho, o Brasil ainda tem muito a avançar. A gente tem hoje uma porcentagem ainda pequena de preservação frente à imensidão desse ambiente que a gente tem. Mas a gente está avançando aos poucos. O que falta mesmo é a gente expandir o quantitativo de área a ser preservada, ou seja, a criação de novas unidades de conservação, a criação de novas áreas protegidas.

E uma melhoria nas instituições públicas para fazer dar conta dessas ferramentas legais que a gente tem hoje no Brasil. Para que a gente consiga... proteger esses animais, o que é preciso ser feito? Políticas públicas, mudança de legislação, novas normas e regras, tanto de tráfego quanto de pesca. E para isso, para você conseguir isso, não é só simplesmente você chegar em um governo, em uma instituição e pedir.

Você precisa de substância para que isso aconteça. A gente precisa de dados. A ação conjunta entre sociedade e o governo é fundamental para as mudanças no meio ambiente, que são capazes de transformar Ilha Bela.

Os benefícios de ter esse animal aqui é tão grande, né? Tanto para a população dos turistas como para a população que mora aqui, que pode começar a depender disso como renda. Então hoje já é um mercado que Ilha Bela está vendendo. A temporada baixa da ilha agora está se tornando uma temporada mais alta, justamente porque está trazendo esses turistas que estão com olhar para a conservação marinha, para poder observar uma baleia.

Então hoje na loja você já vê, nas lojinhas você já vê as pessoas... Vendendo camisetas com baleia, chaveirinhos, então isso faz um fluxo na rede hoteleira, nos restaurantes. Então é muito importante para o turismo a gente ter esses animais, só que a gente tem que saber fazer isso muito bem, tem que saber balancear.

É um turismo muito possível de ser feito quando a gente leva pessoas convidadas que são... cidadãos assim como eu, que vão numa embarcação e vêem aquele animal pela primeira vez, elas ficam maravilhadas, todo mundo quer ver aquilo, quer de novo, pagaria por aquilo de novo, então sem dúvida é um meio muito possível de ser explorado. É fácil comprovar que uma raia manta viva vale muito mais do que uma manta morta, porque a manta morta você vende uma vez só a carne dela.

Agora, você explorar o turismo, essa manta pode ser várias vezes explorada de uma forma responsável, obviamente. Então é muito mais sustentável, muito mais economicamente viável até, o turismo do que a exploração pesqueira. E vários pescadores se tornaram guias de turismo, como a gente vê isso aqui no Brasil também, em várias regiões, várias cidades, onde antigamente o cara era lá, um pescador. ou era um caçador, ele vivia daquilo que ele aprendeu daquele jeito e com o passar do tempo ele viu que o turismo, levar uma pessoa para ver aquele animal é muito mais valioso para ele, ele consegue fazer várias vezes e aquilo não acaba. É um bem inesgotável se usado com responsabilidade.

Unindo o turismo sustentável às nossas atitudes individuais, podemos contribuir com a conservação ambiental. A consciência é o primeiro passo, e o segundo passo é a mudança de hábito. São atitudes que precisam ser feitas individualmente para que o coletivo se beneficie disso. E a gente tem sim como interferir com isso, que é fazendo melhores escolhas.

Não só do nosso lixo, o que a gente faz com o lixo, mas antes disso. São as escolhas de compra, são as empresas que a gente compra, são as coisas que a gente decide colocar dentro da nossa casa. Cada pouco conta, sim. Tudo que você faz, conta. Especificamente falando de Ilhabela, mais ainda.

Então, se você é da região de Ilhabela, você mora aqui, você pode, mais do que as outras pessoas, inclusive, consumir menos plástico. É usar menos. A gente pode e é muito possível.

A gente acredita fielmente que as pessoas vão proteger e cuidar aquilo que elas conhecem. Atualmente a gente desenvolve um trabalho junto com a prefeitura aqui de Ilhabela, onde a gente atinge todos os anos 400 professores, diretores e coordenadores. E aí depois a gente vai para as salas de aula conversar com as crianças.

A gente tem a certeza de que quando a pessoa vai para o mar e vê pela primeira vez um golfinho... Ou uma baleia, é tão emocionante que ela vai se tornar uma outra pessoa, ela vai ter um outro olhar, vai ter um cuidado especial. Quando você vê uma manta pela primeira vez, é um negócio que você não acredita. Uma manta chega a ter oito metros de comprimento, de envergadura, de ponta a ponta.

Maravilhoso, é amor à primeira vista. Eu fiquei encantado e até hoje eu continuo encantado. Toda vez que eu encontro uma manta é como se fosse a primeira vez. Proteger essas criaturas mágicas que temos o privilégio de abrigar durante sua grande jornada é nossa responsabilidade. A coexistência é a única maneira de conhecermos um futuro.

Esperamos que a luta pela preservação dessas e de todas as outras espécies ganhe cada vez mais força para garantir que elas não só resistam, mas que prosperem.