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Justiça e Virtude na Filosofia

O tema de hoje é o tema que mais se aproxima da minha vida universitária, é o que mais dá conta da singularidade da minha trajetória. E completei três cursos de graduação, comecei sete. E os três que eu completei foram direito, jornalismo e filosofia. E o tema justiça e virtude é o tema que mais contempla, não digo no jornalismo, mas direito...

e filosofia, realmente é um tema que se encontra um pouco no cruzamento dessas duas áreas de conhecimento. E queria parabenizar a todos pelo auditório, é realmente um privilégio. Ontem eu já estreei aqui É uma maravilha Mercury nunca mais E acho que aqui é realmente muito melhor Estamos a gosto Vocês mais próximos E sinto-me feliz Parabéns aí pelos prêmios Impressionante como vocês ganham prêmio todo dia E não consigo ganhar nenhum Algum dia me mudarei para BH Para saber como fazer Obrigado Midas parabéns mesmo.

Os que eu conheço mais são esses da ABERJ, porque muito tempo fui jurado desse prêmio. Parabéns, não é um prêmio fácil. Parabéns ao pessoal de comunicação.

Certamente são trabalhos de excelência, porque para botar quatro entre os finalistas, é um departamento de comunicação espetacular que vocês têm. Parabéns mesmo. Bom, o tema justiça e virtude é a nossa preocupação a partir de agora. E eu começaria destacando que a preocupação com a justiça é, de fato, mais antiga que a filosofia. Vou ser fiel, portanto, ao meu método e começo no chamado saber pré-filosófico, saber homérico, saber mitológico, que tanto inspira a nós e inspirou os pensadores.

que deram sequência a essa reflexão. E eu gostaria de começar o primeiro degrau dessa análise com um mito. E vou, ao longo das nossas aulas, procurar diversificar as histórias, os relatos míticos. E o que pretendo contar hoje é o do rei Midas O rei Midas muitos de vocês certamente já ouviram falar. Bom, o rei Midas é apresentado na mitologia como um fulano não muito astuto.

De certa maneira, alguém acanhado de inteligência e de discernimento. E digamos que essa perspectiva negativa de Midas, ela se manifesta na mitologia em dois momentos distintos. Num primeiro momento, o relato... é mais conhecido.

Midas acolhe o sábio Sileno, amigo de Dioniso. O sábio Sileno foi preso pelos soldados de Midas, e Midas, sabedor que Sileno era amigo de Dioniso, acabou soltando Sileno e organizando uma festa para ele de dez dias e dez noites. E, como sabem, Sileno é uma personagem da mitologia, muito ligada ao pessimismo dos primeiros filósofos. E, de certa maneira, alguém que vivia permanentemente alcoolizado.

E Dioniso também era um deus legal, que gostava de encher a cara, os dois eram amigos, e a festa de Midas caiu como uma luva. Dioniso ficou super agradecido e perguntou o que Midas queria como presente, compensação daquela festa tão legal. E Midas propõe a Dioniso que lhe dê uma prerrogativa toda particular, que é a de converter tudo o que ele tocasse em ouro.

Dioniso acha estranho, pensa consigo mesmo que aquilo poderia ser, na verdade, muito nefasto, mas, de certa maneira... concede essa prerrogativa a Midas Então, Midas passa a converter em ouro tudo o que toca. E num primeiro momento ele se enche de júbilo, ele rapidamente percebe que se tornará o mais... rico dos homens em muito pouco tempo.

E ele sai convertendo tudo em ouro, coisas da natureza, etc. Quando ele volta para casa, já converte todos os móveis em ouro, paredes, etc., e passa a viver. viver num palácio de ouro, e aí, super feliz, ele, cheio de fome, pede alguma coisa para comer. E vem lá a coxa de algum animal qualquer, imaginemos que seja de galinha mesmo, para nos aproximar, deve ter vindo um quiabinho junto, um negócio tal, o giló. E quando ele toca a coxa, ele já quebra a dentadura, porque, claro, a coxa de galinha também se converteu em ouro, e o vinho que ele tomou também virou pó.

pó de ouro e ele rapidamente percebeu que ia morrer de fome e de sede se aquilo continuasse assim. E aquela prerrogativa tão auspiciosa, tão divina, converteu-se numa verdadeira desgraça existencial. Midas, então, vai a Dioniso e diz, meu, volta atrás, cara. Não tinha me tocado.

E Dioniso diz, pô, tá vendo? Você pisou na bola, eu vou quebrar seu galho, vou fazer com que você volte a ser o que era, mas vê se deixa de ser tão ganancioso. É, é... Procure de certa maneira aceitar que se você pode transformar tudo em ouro em teu benefício, quando você transforma qualquer coisa vivente em ouro, você de certa maneira transforma a matéria orgânica em inorgânica, você mata as coisas que toca e, portanto, você pode representar simplesmente o fim do mundo.

De certa forma, o fim do mundo vivente. Você pode colocar em risco o mundo vivente, a ordem universal, a ordem cósmica. tão bem disposta por Zeus. Então, de certa forma, pretender transformar tudo em ouro implica blasfemar contra a ordem cósmica disposta por Zeus, nos relatos míticos já comentados com vocês. E você não deveria fazer isso, afinal de contas, blasfemar contra a harmonia, blasfemar contra a disposição cósmica proposta por Deus é...

Talvez a pior das coisas que alguém possa propor. E eu sei que você, na verdade, não pensou em tudo isso, porque você não é exatamente uma figura astuta, mas por isso mesmo eu vou deixar você voltar a ser o que era, mas vê se não pisa na bola de novo. E Midas, então, vai tomar banho onde Dioniso manda e acaba se livrando daquela mazela e voltando a ser o que era.

Quando Midas volta a ser o que era, ele acaba... Acaba, de certa maneira, mudando de vida e vai passar mais tempo na floresta e tal. E ele faz, agora é a segunda parte do relato, ele faz amizade com Pan.

Pan é uma figura que, como Sileno, é monstruosa, horrenda, que vive na floresta e é filho de uma cópula espúria de um deus com um humano. E Pan, como... como sileno também é sábio, também é astuto, também é ligeiro, e por isso atrai a atenção de Midas E o que mais Pan gostava de fazer era perseguir ninfetas, com o escopo, ânimo escopulante mesmo.

E ele era medonho, então não era comum que as ninfetas aquecessem ao seu assédio. Era muito raro para não dizer que era um ser humano. elas nunca aqueciam ao seu assédio e PAN tornou-se, digamos, um pouco revoltado por causa disso.

E PAN partia para cima das ninfetas com sede e produzia nelas pânico. Não é uma brincadeira, é a origem mesmo da palavra, a palavra pânico advém do efeito produzido por PAN em todos aqueles que ele encontrava. Então...

Um das ninfetas preferiu se suicidar a encontrar Pan. Pan a perseguia e ela se jogou num precipício, caindo lá embaixo numa espécie de um rio, e quando ela morre, imediatamente o seu corpo se transforma numa cana. Como se fosse um bambu, assim.

E aí, essa cana ainda trêmula, Pan a apanha e faz dela uma flauta. Quem estuda música, certamente já ouviu falar na flauta de Pan. E Pan tocava a sua flauta. falta que, na verdade, é uma forma de ressurreição da ninfa que se suicidou por causa dele mesmo.

E queria que você percebesse que essa perspectiva mitológica de que uma ninfeta morre... e se torna uma planta, essa perspectiva vai influenciar decisivamente o pensamento filosófico grego posterior, tipo estoico, né? Somos eternos porque o agenciamento atômico que nos constitui desaparece, mas a matéria que nos constitui vai se reorganizar diferentemente e nós ganhamos a eternidade.

Lembra? Virando maçaneta, chifre de boi, etc. Conforme eu já expliquei para vocês, perceba que isso também tem origem mitológica. E Pan se torna...

um tocador de flauta. E num determinado momento ele achava que ele era super bom de flauta e de fato ele tocava bem flauta. Midas aí, com a cara na lua, depois de ter passado na cachaçaria que eu visitei outro dia, o Pan decidiu desafiar Apolo E toco muito melhor música que Apolo Aí desafiar Deus não é exatamente o que se deve. fazer então organiza-se um concurso entre a flauta de pã ea arpa de apolo a lira de apolo ea lira de apolo o que significa é o que ela simboliza a lira de apolo simboliza a perfeição da harmonia do universo é a tensão das cordas da lira de apolo elas são matematicamente calculadas em função da sua espessura em função da distância entre as cordas e etc etc a linha de apolo é perfeito E a combinação do dedilhar das cordas simboliza a harmonia perfeita do universo disposta por Zeus no mundo.

Então, esse aí é a parte simbólica da coisa. A lira de Apolo é o símbolo da harmonia e da perfeição. E a flauta de Pan?

A flauta de Pan é uma flauta monotonal de uma nota só e de um som gutural rústico. e de certa maneira raspado, e que agradava muita gente. Midas, quando Apolo toca a sua lira e Pan assopra a sua flauta, a discrepância da harmonia dos acordes de Apolo e da guturalidade do som extraído da flauta de Pan faz com que todos, por unanimidade, aplaudam Apolo e considerem Apolo vencedor. Exceto um voto.

Apolo O de Midas, que votou em Pan. Curiosamente, Apolo não se irritou com Pan, mas ficou pé da vida com Midas E o que Apolo faz? Castiga Midas E quase sempre na mitologia o castigo tem a ver com o erro.

E Midas recebe de Apolo orelhas de asno. Orelhas porque não deve ouvir bem a música. Diasno porque não consegue discernir o harmônico, o ordenado, o cósmico, o perfeito. do desarmônico, do desordenado, do caótico, do imperfeito.

A flauta de Pã e a lira de Apolo Midas, então, acaba vendo nascer... nele orelhas puxadas para cima e peludas, orelhas de asno. Ele tenta esconder isso com panos, passa a usar turbantes, imagina, até que um dia, num barbeiro, o barbeiro olha, mas majestade, você tem orelhas de asno?

E Midas diz, se alguém ficar sabendo, você morre. E aquele barbeiro queria contar. O comichão de contar, da fofoca, ele queria contar.

E ele sabia que ele não podia contar. Então o que faz o barbeiro? Ele abre um buraco na terra e...

E grita, Midas tem orelha de asno! E tampa o braço. E se sente mais aliviado.

Midas veio a primavera e a terra revolta. E o vento da primavera fazem ecoar para sempre uma voz trazida pela brisa. Midas tem orelha de asno.

Midas tem orelha de asno. E assim termina o relato do rei Midas Você perguntará, e a justiça? Pois muito bem, esse relato mitológico permite entender, através de uma alegoria, que é a alegoria do toque de ouro, mas sobretudo a alegoria da harpa, que a justiça, na perspectiva antiga... era entendida como um ajuste.

Um ação justa é uma ação ajustada, é uma ação encaixada, é uma ação que tem o seu lugar e a sua hora. Ora, é uma ação que tem a ver com a peça de um quebra-cabeça. É a ação que se encontra inscrita num todo que lhe é maior, mas que lhe é harmônico.

É uma ação, portanto, ordenada, coerente e harmônica com as outras, com o resto, com o mundo. Portanto, a perspectiva de justiça no pensamento antigo é uma perspectiva de adequação ao... ao universo e que tem na arpa de Apolo o seu símbolo mais perfeito. A arpa de Apolo é, digamos, o símbolo de que o dedilhar de uma corda será justo quando ajustado na harmonia das outras cordas e das outras vibrações, numa perfeição definida por Zeus quando pôs ordem na casa. Zeus, que como a gente já contou...

comeu a mulher Têmis, justiça, e porque comeu a mulher Têmis, comeu no sentido gastronômico, porque comeu a mulher Têmis, soube, na hora de ganhar, da primeira geração dos deuses, dos titãs, soube distribuir o mundo de maneira igual, dando para cada um dos seus amigos um pedaço do mundo. E aí Zeus teria posto ordem na casa e fez do universo caótico um universo cósmico. E a gente...

Justiça é essa adequação, essa inscrição, essa, digamos, essa imbricação de uma existência no resto, na harmonia do todo. E aí, então, é que você percebe essa primeira lição do pensamento clássico. Não é possível entender a justiça de um comportamento sem entender em relação a que essa justiça será harmônica ou desarmônica. É preciso... Ah, hoje nós diríamos, contemporaneamente, se a gente não entender o contexto, a gente não consegue atribuir valor a uma ação tomada dentro desse contexto.

É mais ou menos isso, só que o contexto a que se refere a mitologia é o próprio universo e toda a sua maravilhosa perfeição. Acho que você entendeu, essa perfeição universal do intestino peristaltar e ser perfeito para peristaltar, do... do nariz respirar e ser perfeito para respirar, do olho ver e ser perfeito para ver, em outras palavras, essa perfeição que não foi o homem que fez e, portanto, só pode ser divina, é exatamente o quadro de justiça aonde a ação humana poderá ou não ser justa. A harpa de Apolo é o símbolo da justiça, a flauta de Pã é o símbolo da desarmonia e, portanto, da injustiça.

Esse é o primeiro degrau, acho que ficou claríssimo. O segundo degrau da nossa aula é a Bíblia. Nós saímos da mitologia e nós passamos para a Bíblia num livro muito específico, que é o livro de Reis.

Vocês que gostam de ler as coisas que eu ensino e tem dois ou três que são os CDFs, me mandam um e-mail, professor, que livro é aquele, dá pra dar, editora, não tô achando tal coisa, então agora é Bíblia Sagrada, reis, né? Nota aí, reis. Reis, Reis.

Primeiro livro de Reis. Aí você olha e diz, professor, qual é o capítulo e o versículo? Não decorei, amigo. Dá uma lidinha lá e tal, né?

Aproveita e lê o livro de Reis todo, não vai te fazer mal. Agora, você deve imaginar, relato bíblico sobre justiça, livro de reis, acho que já sei qual é o relato. E o relato, que é clássico, é uma das partes da Bíblia mais citadas pelos filósofos, e certamente a mais citada pelos filósofos que estudam justiça, filósofos da moral, que é o relato do julgamento do rei Salomão. Então, rapidamente, o que acontece na história... Duas prostitutas têm filho.

a uma distância de três dias uma da outra. Eles moram juntas e, portanto, são duas prostitutas parientes no mesmo instante. E as duas dormem com seus filhos recém-nascidos, quando uma delas, supostamente, acaba dormindo, cobrindo o seu filho e asfixiando, matando o próprio filho.

Percebendo que tinha matado o seu filho, ela troca. de criança e coloca o filho morto na cama da outra e pega o filho vivo e coloca na própria cama. A prostituta quando acorda percebe o filho morto, se desespera, mas quando vai olhar, bem, percebe que não é aquele o seu filho, que o seu filho é o outro, o que está vivo com a outra. Então, as duas vão ao rei Salomão para ver o que o rei Salomão decide.

E a história a partir daqui, ela é mais conhecida, o rei Salomão... Decide então cortar a criança no meio e dar metade para cada uma das mães pretendentes. E naturalmente, conforme vocês sabem, também o final da história, uma das mães diz, não, não, não, pelo amor de Deus, não corta, deixa com ela então.

E a outra mãe diz, não, não, não, corta, porque assim ninguém fica com nada. E naturalmente Salomão, ouvindo aquelas duas manifestações, rapidamente identifica que a mãe é aquela que abriu mão da criança e entrega a criança. a verdadeira mãe relato do rei salomão muito bem você dirá porque esse relato é filosoficamente tão rico porque esse relato contém algumas das peças mais decisivas da reflexão filosófica sobre justiça a primeira delas é o fato de que toda justiça parte de um impasse toda justiça parte de uma situação de conflito entendamos por conflito pretensões ou apetites excludentes entre si, conflitos que não podem ser satisfeitos simultaneamente.

Tá claro? Então eis aí a primeira ideia, não existe justiça se não a partir de um impasse, de um conflito, de uma pretensão contraditória. Por que a justiça é tão importante? Porque afinal de contas somos desejantes, primeiro dado, e segundo dado... se somos desejantes, os nossos desejos são a miúde incompatíveis com desejos de outrem.

Razão pela qual, como diz Hobbes, se o homem é desejante, a sociedade é uma guerra, é uma arena de conflitos de todos contra todos. Ora, por isso a justiça é tão importante, porque ela, de certa maneira, ela tende a administrar pretensões excludentes entre si. Essa é a primeira ideia, eu gostaria de chamar a tua atenção para uma certa mudança de angulação de perspectiva da Bíblia em relação à mitologia. Na mitologia, justiça é harmonia cósmica.

Na Bíblia, justiça resulta do que? De desarmonia de apetites humanos. Quer dizer, a natureza do homem é desejante...

e a vida do homem em sociedade é, de certa forma, desarmônica por causa disso. Está claro? Então perceba, existe uma mudança de angulação evidente entre o primeiro relato e o segundo relato. Então, essa é a primeira ideia.

Existe conflito, e o conflito é o pontapé inicial de toda a reflexão sobre a justiça. Segunda ideia fundamental. Existe na justiça, invariavelmente, a presença de um terceiro elemento. E terceiro elemento em relação às partes em conflito, em relação às pretensões contraditórias.

E supõe-se que esse terceiro elemento... É terceiro por conta da sua equidistância, por conta da sua imparcialidade suposta em relação às pretensões iniciais. Acho que você entendeu. Toda justiça, portanto, é triangular.

E essa perspectiva triangular da justiça, você encontra, claro, manifesta de maneira cristalina no julgamento de Salomão. As duas prostitutas não decidiram a questão elas mesmas, elas recorreram a um terceiro elemento, um terceiro elemento supostamente equidistante das pretensões iniciais. E a terceira ideia, importantíssima, central na reflexão filosófica, filosófica sobre justiça, é que esse terceiro elemento não pode ser qualquer um. Esse terceiro elemento tem que ser autorizado pelas partes, reconhecido pelas partes, como competente para dirimir o conflito.

Em outras palavras, para que a decisão seja uma decisão efetiva, é preciso que esse terceiro elemento seja legítimo, isto é, autorizado pelas partes, reconhecido pelas partes, como competente para decidir aquela... pretensão contraditória. Acho que você entendeu.

Três ideias presentes no relato de Salomão. A primeira ideia, a questão do conflito, da contraditoriedade das pretensões. A segunda ideia, a questão da terceiridade. da triangularidade da justiça, e a terceira perspectiva, a ideia da legitimidade do terceiro elemento.

E, para completar, uma quarta ideia importante no relato de Salomão. A ideia de que... Aqui, Salomão propõe uma primeira decisão, essa primeira decisão é uma caricatura de justiça, e essa caricatura de justiça é uma simulação de justiça, e essa simulação de justiça se funda numa perspectiva que a Bíblia aqui... Inicia a discussão que é a da justiça como igualdade.

Duas mães pretendendo a mesma criança, decisão justa, cortam a criança no meio e ficam as duas mães com partes iguais da mesma criança. Perceba... Essa solução é absurda, no entanto, ela se funda num certo tipo de igualdade. Então, qual é a pretensão do relato bíblico?

Começar uma discussão sobre que tipo de igualdade pode fundar a noção. de justiça. Perceba que, nesse caso concreto, uma igualdade sumária, uma igualdade fundada na divisão de uma parte em duas partes iguais, é uma decisão aberrante, absurda, injusta, patética e, portanto, de certa maneira, a reflexão sobre que igualdade funda a justiça tem início no relato de Salomão.

Quatro ideias centrais desse relato que são, de certa maneira... sequenciadas na história do pensamento sobre o tema. Eis o segundo degrau.

Primeiro degrau, o rei Midas Segundo degrau, o rei Salomão. Começamos com dois reis. Nada melhor para abrir uma aula neste sábado. Vamos então agora à filosofia. E sendo fiel ao meu método, passo para Platão.

Ora, Platão fala sobre justiça num diálogo específico. Lembra que eu falei do amor? E quando eu falei do amor, eu falei, temos sorte, porque o pensamento de Platão sobre o amor está no banquete, ou do amor. Agora, temos sorte de novo, porque o pensamento de Platão sobre a justiça está num diálogo específico, a república ou da justiça.

Então, a tarefa do investigador foi facilitada, porque... que Platão indica aonde prioritariamente devemos buscar a república. É uma imensa reflexão sobre a justiça e é alguma coisa dessa reflexão que vamos apresentar aqui. E vamos começar com uma reflexão presente no livro 5. E essa reflexão que está presente no livro 5 você não deve esquecer mais. Vem comigo, já viemos até aqui.

Invadamos essa reflexão com competência. Platão vai propor um paralelo. Isto é, uma reflexão filosófica comparada entre o indivíduo e o Estado. Ou, se você preferir, o indivíduo e a cidade. Estado e cidade são traduções diferentes da mesma palavra polis.

Então, se preferirem, o indivíduo e a polis. E qual é a proposta de Platão? E abro aspas.

É, é, tanto podem ser justos... Justos da mesma maneira o indivíduo quanto a polis. Em outras palavras, justo é adjetivo para indivíduo e justo é adjetivo para cidade, para polis.

Do mesmo jeito que amargo é adjetivo para chocolate. Você entendeu? É muito importante você investigar que tipo de substância pode ter aquele atributo. Estou falando de justiça, mas o que pode ser justo?

Um girafa? Nunca. Um Fiat? Nunca. Um Coca-Cola?

Nunca. O que pode ser justo? O homem e a cidade.

O homem e a cidade. Isso que Platão propôs, de certa maneira, ninguém mais desdisse. Quando se pensa em justiça, pensa-se em justiça individual e em justiça, para pegar um termo da moda, em justiça social, propriamente.

e o indivíduo. Então, ora, se tanto o indivíduo quanto a cidade podem ter o mesmo atributo, como talvez giló e chocolate, os dois são amargos, Então, é sinal que existe um paralelismo possível entre eles, e é esse paralelismo que Platão vai apresentar para estruturar a sua reflexão. Muito bem.

Segundo Platão, tanto o indivíduo quanto a cidade são constituídos por três partes, por dizer assim. Então, existe uma análise tripartite, tanto do indivíduo quanto da cidade, que vai facilitar esse paralelismo. Segundo Platão, Segundo Platão, a cidade é constituída por três tipos de gente.

Pessoas que devem estar no topo da pirâmide social. Por quê? Porque pensam bem.

E essas pessoas que pensam bem, elas não devem estar no topo só porque pensam bem. Midas elas devem estar no topo porque pensando bem conseguem controlar o próprio corpo, controlar-se a si mesmo, ser senhor da própria vida e, portanto, Assim é viver bem. Essa é a ideia.

Então, perceba que na filosofia grega, o filósofo não é aquele fulano que tem grande capacidade de abstração e leva uma vida caótica e de hecatombe. Nunca. A grande abstração que não se converte numa vida feliz é, evidentemente, inútil. Desprezível.

O filósofo... candidato a sábio, o filósofo que busca a sabedoria, não é exatamente aquele que abstrai, abstrai, abstrai, por abstrair, não, é para viver bem, e por que o filósofo vive bem? Porque é senhor na própria casa, para usar uma expressão freudiana no sentido contrário, Freud dirá, não somos senhores na própria casa, e Platão diz, o sábio é senhor na própria casa, isto é, a razão parte superior da alma.

a alma controla os apetites, os desejos, de tal maneira a poder julgá-los. Do tipo, desejo isso, e isso é bom, vou atrás. Desejo aquilo, e isso é ruim, não vou atrás. Então você percebe que, de certa maneira, eis aí a primeira perspectiva, você tem o sábio, ou o filósofo candidato a sábio, que é o cara que vive bem, por quê?

Porque controla a si mesmo pela razão. O segundo tipo é o fulano que tem menos medo do que normalmente se tem, é um fulano valente, é um fulano cuja parte desenvolvida da alma está no tórax, e esse fulano deve ser destinado à briga. E conto. E contei rapidamente ontem a história de um taxista que me trouxe aqui para a Universidade, vindo lá do mercado.

E só ele falou. E, precisamente, não abri a boca durante o trajeto. E, ao longo do trajeto, ele me fez seis relatos de situações que ele saiu do táxi para espancar a pessoa que o abordava.

Esse fulano, ele está fora de lugar. Não é exatamente dirigindo táxi que ele melhora... Ele tem que ser colocado no exército brasileiro que vai invadir a Bolívia. Dá um cabo de vassoura para ele e ele vai brigar com taxistas bolivianos e tal. Numa cena edificante.

Midas acho que você entendeu, tem gente assim, esses tem que ser soldados e tal. E tem o terceiro tipo de gente que nem pensa bem e nem é nervosinho. vivem muito próximos da animalidade, são regidos pelo baixo ventre, pela parte inferior da alma. Esses, quando têm fome, vão comer, quando têm sede, vão beber, quando têm tesão, vão bimbar, e, portanto, fazem o que um javali faria, propriamente.

E esses, diz Platão, é melhor botar uma inchada na mão deles, para que eles gastem energia, porque um indivíduo regido pela parte inferior da alma, que não gasta energia, ele será um transtorno para a cidade em muito pouco tempo. Ora, o pensador sábio e filósofo governa, o valentão briga e o... O tigrão, o mané, esse carpe, carpe, para gastar energia e ponto final, essa perspectiva. São três classes sociais, sociedade dividida em três, em função de um critério muito conhecido, que é o tipo de alma que é desenvolvida. Chega a dizer que os primeiros têm alma de ouro, alma de prata e alma de bronze, para deixar claro que existe uma hierarquia, tem gente que é melhor do que outros, e o indivíduo é bom para Platão, e por isso ele deve mandar, ele é bom para Platão, quando esse indivíduo controla-se a si mesmo.

Ora, sendo assim, o paralelismo está feito. O que é um indivíduo justo? O indivíduo justo, antes de mais nada, é um indivíduo que vive bem.

Perceba isso. O indivíduo justo é um indivíduo que vive bem. E o indivíduo que vive bem é um indivíduo que, antes de mais nada, conhece a si mesmo. A reflexão sobre a alma, o conhecimento da própria alma, onde estão as verdades, ele deixa claro que o mundo não é o mais importante. O mais importante para viver bem é conhecer-se a si mesmo.

Aquela famosa frase que está no oráculo de Delfos até hoje, conhece-te a ti mesmo. Em outras palavras, é conhecendo-se a si mesmo que eu vou identificar. qual são as minhas inclinações, quais são as minhas recorrências, quais são os meus apetites, quais são os meus talentos, quais são as minhas fragilidades e sabedor de tudo isso, eu conseguirei disponibilizar... a minha vida da melhor maneira possível.

Portanto, para viver bem, é preciso conhecer-se a si mesmo. É preciso fazer o que Platão já denominava de autoanálise ininterrupta. Aí você dirá, professor, nessa perspectiva platônica do homem justo como o homem que se conhece a si mesmo, o mundo não interessa para nada?

Não, é verdade. E não falei nada disso. O mundo interessa. Só que o mais importante não é o mundo, é você.

E, portanto, o mundo será importante quando te permitir conhecer-se melhor. Então, eu queria fazer uma comparação entre Platão e a tia Guilmar. A tia Guilmar é a mulher que me deu aula da primeira à quarta série primária.

E a tia Guilmar me dizia, é, Clóvis Quirito, você vai passar a sua vida usando o que você tem na cacholinha pra conhecer o mundo. O que diria Platão? Clóvis, querido, você vai passar a vida inteira usando o mundo para conhecer o que tem na cacholinha.

Porque o mais importante não é o mundo, muito mais importante do que a samambaia é... sou eu. E é aqui... Peço que me entendam que Platão proporá pela primeira vez na história do pensamento, porque outros farão isso, de Platão à psicanálise, passando por Spinoza, por Nietzsche, etc., proporá a teoria do espelhamento. O mundo é o nosso espelho.

Então o mundo é importante porque o mundo é o único meio de que dispomos para conhecer-se melhor. Professor Clóvis, eu não sei se eu entendi. Como assim o mundo é o meu espelho? Ora, meus amigos, quando você levanta de manhã e olha no espelho, o que é que o espelho te conta? O espelho te conta alguma coisa que sem ele você não saberia.

A cara que você tem naquela manhã. E o espelho não precisa ser exatamente o espelho do seu banheiro, pode ser o lago, ou pode ser qualquer coisa que faça a função de espelho. Midas se não tiver alguma coisa fazendo a função de espelho, você não sabe a cara que tem. Portanto, definição de espelho, aquilo que conta alguma coisa sobre você Que você não saberia se não fosse ele Pois muito bem, se eu estou dizendo que o mundo é o seu espelho É porque o mundo conta coisas para você, sobre você Que você não saberia se não fosse ele Professor, o espelho do banheiro, eu sei Ele me conta qual é a topografia da minha cara E eu concordo, eu não saberia se não fosse Agora, o resto do mundo, eu não entendi. O que ele conta a mim, sobre mim, que eu não saberia se não fosse ele?

Ele conta coisas muito mais importantes do que o tamanho do teu nariz. Ele conta coisas sobre os teus afetos, sobre as tuas inclinações, sobre aquilo que te alegra e aquilo que te entristece, sobre aquilo que te amedronta e aquilo que te dá esperança, sobre aquilo que te dá dor e aquilo que te dá prazer. O mundo, portanto, informa a você. Que você é aquele que, diante daquele mundo, sente o que sente, pensa o que pensa, reage como reage. O mundo é o teu espelho.

É graças a ele que você sabe que você, diante de uma aula de filosofia, reage como reage. Se eu não venho aqui, você não descobre o que você sente diante das ideias que houve. E sou o seu espelho, informo coisas sobre você que você não saberia se eu não estivesse aqui.

Mais um exemplozinho. Ontem eu entrei no avião, vim pra cá, no mesmo voo de sempre, 10h06, voo da TAM. E eu sentei na poltrona 6D, a mesma poltrona de sempre.

O sistema Universidade é de uma eficácia irritante. E não preciso perguntar nada, eu já chego para fazer o chiquinho e eu digo 6D. Já foi feita a reserva nessa poltrona.

E sei. Entrei no 6D, sentei, abri um micrinho para escrever sobre o julgamento de Salomão porque eu estudo de vez em quando, não sei... e vendo quem entrava, né? e entrou uma japinha anódina, como são muitas e se sentou na 6C Ali, eu ali.

Foi quando ela fez um menear de pernas e desnudou a parte da canela e da panturrilha. E eu olhei, porque a panturrilha e a canela da japonesa é um negócio maçudo, velho. E olhei praquilo e aquilo me encheu de júbilo. A ponto de eu, sabedor de como sou, já desliguei o computador, o julgamento de Salomão foi pro saco, e fiquei contemplando a canela da japonesa, que percebendo, ainda facilitou a minha contemplação. E só fui interrompido pelo carrinho que servia um sanduíche quente.

O senhor quer alguma coisa? E pensei, digo ou não digo? O que foi que a canela da japonesa me ensinou que sem ela eu jamais saberia? Que eu sou aquele que, diante da canela da japonesa, enlouquece de júbilo. Assim eu me defino hoje.

E é graças a ela que me contou. O mundo é meu espelho. Canela da japonesa. Super informativa. Procurei até observar outras canelas no mundo e percebi que no quesito canela, a japonesa é imbatível.

Não uma japonesa teórica, é aquela japonesa. E ela saiu pelo avião. E fui atrás. Toque, toque, toque.

vendo que tanto a direita quanto a esquerda me interneciam, eram mais ou menos iguais. Toque, toque, toque. E eu fui indo, desci a escada rolante, ela também não tinha mala.

E fui indo até que apareceu uma figura com a plaquinha Universidade, professor Clóvis, e a japonesa se perdeu na turba. Foi-se embora a canela e o mundo que tanto me interneceu. O mundo é espelho, acho que você entendeu definitivamente. Midas o que importa mesmo não é conhecer o mundo, o que importa mesmo é conhecer-se a si mesmo. O mundo é espelho, como todo espelho, é meio, é instrumento, é ferramenta que usamos para o autoconhecimento.

A justiça é impossível sem autoconhecimento, sem reflexão permanente sobre si mesmo. Para que possamos cada vez mais deter as rédeas da própria vida, é preciso cada vez mais conhecer-se a si mesmo, como somos diante do mundo concreto, que é o mundo no qual vivemos. Segundo degrau analisado, terceiro degrau também é platônico, mas é na República o discurso proposto por Glauco. no livro 2 então, começamos justiça na mitologia justiça do rei salomão justiça em platão e agora justiça em glauco curiosamente está no mesmo livro mas é justiça em glauco glauco é irmão de platão mas não sei se era um irmão muito querido Porque Platão coloca na boca de Glauco teses que ele abomina.

O problema é que as teses que Platão abomina também ficaram famosas. Quisse mais famosas do que as teses que Platão defende. Lembra quando eu falei do banquete e eu disse...

que Aristóteles, figura que Platão detesta, propôs o mito dos andrógenos e que o amor é o reencontro com a parte faltante, e que Platão achava essa tese idiota. propôs outra, mas o discurso de Aristóteles ficou mais famoso que o de Platão, pois aqui acontece mais ou menos a mesma coisa. O discurso de Glauco é, de certa maneira, tão importante quanto o de Platão no livro da República.

E o discurso de Glauco está no livro 2. E o que Glauco propõe? Glauco propõe o seguinte, a justiça nada mais é do que uma convenção entre os homens. E essa convenção entre os homens decorre de uma conveniência, decorre, digamos, de uma comodidade. necessária e indispensável para a vida em sociedade.

E por quê? A tese de Glauco é super radical. E Glauco propõe. Normalmente, cometer uma injustiça permite a oferir alguma vantagem e, portanto, algum prazer.

Sofrer uma injustiça significa obter alguma desvantagem e, portanto, algum desprazer, alguma dor. E assim, as relações entre os homens são... segundo esse quesito, de dois tipos. Ou você comete injustiça, ou você sofre injustiça.

Então, naturalmente, poderíamos deixar os homens à solta, sem nenhuma convenção, e eles saem por aí, ora cometendo injustiças, ora sofrendo injustiças. Por que, então, surgiu a convenção sobre o certo e o errado? E Glauco esclarece.

A convenção sobre o certo e o errado surgiu porque o homem rapidamente percebeu que se ele sair para viver à solta, como nos animais, a chance dele sofrer injustiça e, portanto, desvantagem e, portanto, dor é muito maior do que a chance dele cometer injustiça e, portanto, vantagem e, portanto, prazer. E isso para qual? um e por quê porque quantitativamente o único que pode cometer a injustiça e ter prazer é quem comete a injustiça um só para cometer a injustiça Enquanto que sofrer a injustiça, você pode ser vítima de qualquer um. E, portanto, potencialmente, você, no mundo, parece sofrer muito mais do que cometer. Porque afinal de contas, qualquer um, e são infinitas as possibilidades, podem, cometendo injustiça com você, fazer com que você sofra uma injustiça.

Portanto, você é sozinho para cometer injustiça, mas é vítima de qualquer um, vítima de infinitos, vítima de muitos, e portanto a chance de você se ferrar é muito grande. Já falamos do estado de natureza. Essa é uma reflexão, né? É claro que Glauco não usa essa expressão, que é uma expressão típica da modernidade, mas é um pouco isso.

No estado de natureza, você só se dá bem se você for sistematicamente o mais forte. E ainda por cima, não pode pegar no sono. Porque se você cochilar, depois de ter traçado meio o mundo... Você acorda sem as 23 preguinhas regulamentares Porque durante o seu sono, alguém apetitoso fez a festa no seu parque de diversões E como não faltam apetitosos no mundo, a chance de você perder uma preguinha atrás da outra é imensa E é pau de todo lado, e é por isso que é melhor não deixar assim, porque nesse esquema todo mundo mais se ferra do que se dá bem. Então, situação extrema...

justiça, convenção, peraí reúne todo mundo, chega aí, chega aí você não tá se fudendo? tô, e você também então peraí, vamos fazer o seguinte vamos fazer o seguinte, vamos dar um basta nisso todo mundo para, e aí todo mundo sofre, todo mundo vai ganhar então percebeu, a justiça ela tem uma gênese que é a gênese do sofrimento A gênese da dor, a gênese do desprazer, a gênese da sensação de você se dar mais mal do que bem. É isso.

A justiça surge da dor. E naturalmente, quem é que não vai estar disposto a fazer convenção nenhuma? Quem é que não vai estar disposto a respeitar convenção nenhuma?

Aquele que tenha certeza de que pode cometer injustiças sem sofrer a dor de qualquer punição ou reprimenda. Oh, houve quatro séculos antes de Cristo. E vou repetir. Quem é que não vai dar bola para a convenção e não tenderá a respeitar a lei nenhuma?

Aquele que tiver a certeza de que vai cometer a injustiça, oferir a vantagem e não vai sofrer represália nenhuma pelo que fez. Glauco fez um estágio no Ministério dos Transportes, em Brasília, e concluiu isso. eu tive que falar porque aparentemente você me ouve né, isso é coisa de grego coisa de grego, o escambau velho coisa de grego, o escambau quatro séculos antes de cristo o nego diz Quem é que luta pela justiça?

Quem sabe que vai se foder? Quem é que está dando bolacha para a justiça? Quem sabe que vai se dar bem?

Quem, por exemplo, consegue ter um advogado que vira na mídia e diz Quando chegar no Supremo, é nóis! ou eu sou doido ou só eu ouvi quando chegar no supremo nós ganha e o que é mais incrível é que tinha razão ea lei por respeitar porque se eu me dou bem já porque você percebeu canela da japonesa vontade de agarrar a galinha japonesa imensa ver e eu ali assistindo o duelo dos afetos né o tesão de um lado eo medo do outro lado ali em luta feroz Não é Deus e o demônio transcendentes brigando no meu ombro. Não. É carne brigando contra a carne.

É tesão e medo. E a razão procurando ver o resultado. É melhor não. É melhor não.

Não pelo menos desse jeito. Porque o jeito que eu queria é o jeito expeditivo, é ajoelhar do lado da japonesa e já dar uma mordida na panturrilha sem dizer nada. Não tem essa de investir numa Coca-Cola, nada, nada. É chegar e começar a lamber. Não fiz, nunca fiz, porque sempre o medo venceu.

Midas se porventura eu tivesse certeza que eu pudesse lamber a panturrilha da japonesa e nada fosse acontecer, eu tinha ficado 40 minutos só ali. 40 minutos que é o tempo que leva o voo, 50 minutos só ali. Tudo isso foi para explicar Glauco. Professor, o senhor usa exemplos indecentes. Agora só tem uma porta, fica mais chato.

Isso aí vai ficar à vontade, se está se chocando. Midas essa é a perspectiva de Glauco. Só vai ser justo quem sabe aonde aperta o calo. Quem se acha suficiente...

fortemente forte para segurar a onda, vai dar pelotas para leis e para justiças. Perspectiva de Glauco, quarto degrau da nossa reflexão. E queria... Chegar agora no quinto degrau, o mais importante da nossa aula. Depois da aula de ontem, a gente foi comer alguma coisa e todas as perguntas durante o jantar foram em cima desse quinto degrau.

É sem dúvida nenhuma o mais importante pensamento sobre justiça da história da humanidade, o pensamento de Aristóteles presente em Ética Anicômaco. Aristóteles... Aristóteles, entre muitas outras coisas, apresenta dois tipos de justiça que ele denominará de distributiva e corretiva. Então, isso é absolutamente imprescindível, nunca mais esqueça, é embaçadíssimo de entender lendo Aristóteles, mas é facílimo de entender ouvindo o professor Clóvis. E por quê?

Porque Aristóteles, eu vou repetir uma coisa que eu já falei em outros encontros, Aristóteles nunca escreveu os livros. que você lê aristóteles dava aula e os livros são anotações de aula você imagina se você for publicar aquilo que você anotou do que eu falei é ruim nem é ruim então é ruim a leitura de aristóteles mas como é o que temos vamos ao que ele deixou eu vou dar uma melhorada e vai ficar claríssimo aristóteles está convencido de que toda justiça se funda na igualdade Midas existem dois tipos de igualdade a considerar. A primeira igualdade, ele denomina de aritmética.

É a igualdade entre dois termos. A segunda igualdade, ele denomina de geométrica. E esta é a proporcionalidade entre duas relações. Midas, olha, diz...

Entendi porra nenhuma. Então eu te dou um exemplo fácil de entender. Festa de aniversário, 10 crianças presentes. Vamos cortar o bolo. E a mãe corta o bolo em 10 fatias iguais, para 10 crianças presentes.

E esta é uma igualdade. Aritmética. A igualdade aritmética está entre dois termos, uma criança, um pedaço de bolo.

As crianças, abstratamente, são iguais entre elas, os pedaços de bolo. bolo também a individualidade da criança a individualidade de uma fatia de bolo idêntica às demais igualdade aritmética acontece que a mãe decidiu fazer diferente ela percebeu que algumas crianças se empenharam mais na confecção do bolo do que o então ela resolveu premiar aqueles que se empenharam mais na confecção do bolo dando um pedaço maior Há aqueles que trabalharam mais e um pedaço menor há aqueles que trabalharam menos. E não sei se você percebeu, agora nós temos três elementos. A criança, a fatia do bolo e o mérito na confecção do bolo.

A partir de agora, a justiça tornou-se geométrica, a igualdade tornou-se geométrica, ela tornou-se triangular, são três os elementos. aqueles que vão a oferir o benefício, o benefício a ser oferido e o critério de proporcionalidade segundo o qual esse benefício será distribuído entre os pretendentes. Naturalmente eu acho que você percebeu que esse critério de proporcionalidade pode mudar e oscilar indefinidamente.

Afinal de contas, no lugar de propor o engajamento na confecção do bolo, é possível que o bolo já tenha sido comprado pronto. E, portanto, a mãe decide distribuir o bolo em fatias diferentes, em função do tamanho da criança, supondo que crianças maiores precisem de mais energia. têm mais fome e, portanto, precisem de um pedaço maior do que crianças menores, que, obviamente, têm um estômago menor e comem menos. A mãe poderia pegar ainda um terceiro critério, a obesidade.

E aí crianças maiores comerão menos e crianças esqualidas comerão mais. E não sei se você percebeu, mas esse terceiro elemento pode variar ao infinito. E eu acho que você percebeu que dependendo do terceiro elemento, a forma de distribuir o bolo variará completamente.

Até mesmo opondo-se contraditoriamente. Aristóteles então dirá... que esse terceiro elemento será sempre objeto de luta esse terceiro elemento será sempre objeto de conflito porque dependendo do terceiro elemento, critério da proporcionalidade geométrica a distribuição dos benefícios na cidade será, de um jeito ou de outro, de certa maneira, atendendo aos interesses de uns ou atendendo aos interesses de outros.

Portanto, a decisão de justiça passa pela escolha desse elemento de proporcionalidade geométrica na igualdade geométrica que é a própria da justiça distributiva. Você poderá dizer, professor, mas por que esse terceiro elemento é tão importante? Por uma razão muito simples.

Quase nunca na vida a igualdade pode ser aritmética. Quer dizer, quase nunca na vida podemos distribuir o bolo em fatias iguais. E por quê? Porque são muitos os pretendentes e pouco o bolo.

Não sei se me entendeu. E poderia te dar um milhão de exemplos de políticas públicas. Vamos imaginar que a Universidade de São Paulo recebesse a todos aqueles que completam 18 anos para estudar lá.

Fica evidente que não tem lugar para todo mundo. Fica evidente que os números de 18 anos são maiores que o número de cadeiras dentro da universidade. E, portanto, a Universidade de São Paulo não pode fundar...

a justiça da distribuição de vagas na educação pública por uma igualdade aritmética. Não tem como. Essa discussão é tão importante que quando eu tenho colegas da Universidade de Buenos Aires e eles me dizem, a tua universidade não é pública.

O conceito de pública dele é fundado numa justiça aritmética. Quer dizer, todo mundo tem direito de entrar na UBA. Todo mundo que completa o ensino médio tem direito de entrar na UBA.

E é por isso que na faculdade de direito da universidade... de Buenos Aires, o primeiro ano tem mil, dois mil alunos. E do primeiro para o segundo ano, você reprova 95%.

Midas todo mundo tem direito de entrar. Agora, quando você tem o curso de jornalismo da USP, com 20 vagas... por ano, evidentemente, essa universidade não é pública. Essa universidade é uma universidade aristocrática.

É uma universidade para os melhores. E você percebe que o critério de ingresso na universidade é a performance no vestibular. Esse é o critério da proporcionalidade. E aí alguém levanta o braço e diz... Vamos abrir vagas para o pessoal da escola pública.

Luta para identificar um novo critério de proporcionalidade. Um novo elemento de proporcionalidade. Buenos de escola pública entrarão por uma outra via.

E alguém levantará. Etnia! Os negros sempre foram explorados no Brasil.

Vagas para negros! Hein? Se tem pra negros, tem pra amarelos! Hein?

Judeus sofreram no holocausto. Vagas para herdeiros do holocausto. Hein?

Pensador de óculos. Não tem como competir, eu não enxergo direito a prova. Não tem problema. Hein? Indivíduos com dificuldade de ereção.

Afinal de contas, já não conseguem gozar, que pelo menos estudem de graça. Só agora você gostou? Puxa...

Cada um sabe a que grupo pertence... E não sei se você entendeu, cara. Quando você vai administrar coisa pública, a justiça aritmética está excluída.

É evidente, não tem patrimônio que dê conta da complexidade do mundo. Outro dia dizíamos sobre o uso de um anfiteatro lá na USP, anfiteatro Lupe Cotrim. Então, alguém disse, tem muito mais gente querendo usar o anfiteatro do que vaga para o anfiteatro.

Não é claro? Então, justiça distributiva, método geométrico, terceiro elemento. Qual será o critério?

O problema é que tem horas que é desagradável. Por que eu vou dar prioridade para um e não para outro? Então, você aí...

O homem cria justificativas para tornar o arbitrário daquele terceiro elemento racionalmente aceitável para si e para o grupo. Aí você olha para mim e diz, o que Aristóteles achava desse terceiro elemento? Aí é o fim da história.

Aristóteles achava, digam o que disserem, A distribuição de proporcionalidade só pode ser feita a partir da virtude. A virtude é a excelência, a arete. E a excelência é a competência com que você participa do universo, desempenhando o seu papel no universo. E ainda sobra uma dúvida.

Admitamos que Aristóteles tenha razão e que alguns sejam mais virtuosos do que outros. Então eu vou distribuir como? Dando mais para o mais virtuoso e menos para o menos virtuoso?

Ou dando mais para o menos virtuoso e menos para o mais virtuoso. Perceba? É claro que Aristóteles tem a resposta na ponta da língua. É claro que é mais para o mais virtuoso. Óbvio.

E não sei se você entendeu a dúvida. Aristóteles também achava, como Platão, que a cidade pode ser justa. E quando é que Apólis é justa?

Apólis é justa quando Apólis consegue patrocinar pessoas justas. E Apólis é justa quando distribui desigualmente os privilégios, as benesses, A partir da excelência dos aquinhoados. A pólis é justa quando consegue permitir a pessoas virtuosas que obtenham a excelência nos seus talentos. E a pólis é justa quando ela não gasta nenhum tostão com quem não tem talento nenhum. Isso, pra você entender, o espírito que é aristocrático mesmo.

Isto é, se você já é o fodão, se você é bom, tem que ter tudo para ser o melhor possível. Agora, se você não é de nada, não terá nada. Porque ninguém deve perder tempo com você.

E vou dar um exemplo, se quiser tomar como arrogância minha, faça como quiser, mas o objetivo é didático. Vamos imaginar que o professor Clóvis tenha um papel no universo de ser professor. Vamos imaginar que por causa disso ele...

tenha um talento de professor. Vamos imaginar que, portanto, a vida eudaimônica do professor Clóvis seja dando aula. E está tudo encaixado.

E o professor Clóvis de fato dá aula. A polis será justa quando permita o professor Clóvis desenvolver a sua excelência no último. E Aristóteles dirá, e aí você perguntará a Aristóteles, mas todo mundo então tem o seu talento? Todo mundo então tem a sua expertise? Todo mundo então tem, digamos, um...

Aristóteles, não necessariamente assim. muitas das pessoas estão no universo para desempenhar atividades para as quais a cidade não deve dar praticamente nenhum recurso. Então Aristóteles propõe uma administração...

pública fundada num terceiro elemento de justiça de proporcionalidade que é a virtude aos mais virtuosos tudo o sujeito que é um virtuoso em violoncelo a cidade será justa quando der a esse fulano totais condições para ser o melhor possível no violoncelo o sujeito que é um virtuoso o fulano aqui tem que dar uma enxada pra ele é um lugar pra ele capinar Naturalmente por isso fica justificada a escravidão Na obra de Aristóteles Não só a cidade será justa quando dará tudo para o virtuoso Como também a cidade será justa quando fizer do não virtuoso um escravo do virtuoso E estou forçando nisso para você entender o quanto o pensamento cristão mudou A concepção de justiça para o mundo contemporâneo Contemporâneo Ok? Então, eu espero que tenha ficado claro. Nós temos dois tipos de justiça, justiça distributiva e justiça corretiva.

A justiça distributiva é fundada numa igualdade geométrica e um critério de proporcionalidade em função de um terceiro elemento. A justiça corretiva é aritmética e implica a distribuição de partes iguais para indivíduos abstratamente considerados. Talvez você me perguntasse por que chamar de corretiva a justiça fundada na igualdade aritmética.

Porque na hora que você parte de uma sociedade desigual, aquilo que Aristóteles chamava de hierarquia natural entre os seres, E você distribui igualmente benefícios? Você está, de certa forma, tentando corrigir uma desigualdade de princípio. Mais ou menos assim.

Apesar de você ser muito pior do que ele, eu vou te dar igual para ver se você meio que se aproxima dele. Essa é a perspectiva corretiva da justiça aritmética. Você parte de uma situação de desigualdade e ao invés de reforçá-la, você tenta corrigi-la. Distribuindo igualmente partes iguais para beneficiados desigualmente competentes e merecedores.

Muito bem, fechei Aristóteles, esse foi o quinto degrau e eu gostaria de passar agora para um sexto degrau que me parece fundamental eu vou reunir três autores num mesmo degrau o primeiro é Hobbes nós estamos em 1651 e Hobbes escreve o Leviatã E o que é que chama a atenção na reflexão sobre justiça em Hobbes? Que ele é um herdeiro do pensamento de Glauco. Em primeiro lugar, o que é que vai dizer Hobbes? Não existe justiça no estado de natureza.

A girafa não é justa nem injusta, ela só é. O javali não é justo nem injusto, ele só é. O vento não é justo nem injusto e mesmo o homem quando vivia no estado de natureza era regido pelos seus apetites e portanto era como um animal e portanto não havia justiça antes.

Num determinado momento o homem decide abrir mão de uma série de prerrogativas em nome do estado e se ele decide fazer isso é por uma única razão, é por um medo muito particular. É o medo da morte violenta. E por conta do medo da morte violenta, por conta da ameaça iminente de morrer no estado de natureza, por conta da incerteza absoluta de continuar vivendo numa situação de estado de natureza, o homem decide que é preferível abrir mão de quase tudo em troca da segurança.

E aí então o homem se junta em sociedade, o homem delibera leis e a justiça é a lei, e a lei é a justiça. E a justiça e a lei só tem um objetivo, garantir ao homem segurança e diminuir no homem esse afeto. tão corrosivo da vida que é o medo da morte violenta. Portanto, a pergunta clássica, qual a gênese da justiça no pensamento robesiano? No pensamento de Hobbes.

Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, escreveu o Leviatã, certamente uma das dez mais importantes obras do pensamento filosófico de todos os tempos. O Leviatã. E Hobbes dirá, é simples, o homem vivia em estado de natureza e ele tinha todas as prerrogativas do mundo. Ele fazia o que ele queria e ele vivia mal. A vida do homem, regida pelos seus apetites, era uma vida ruim.

Por isso, o homem deliberou viver em sociedade. Denominou-se a isso o contrato social. E o contrato social deliberou normas.

E a justiça é o conteúdo dessas normas. O objetivo é simples. E não posso mais pegar a pera, porque a pera não é mais minha.

Antes não havia propriedade, agora existe. E não posso mais passar a mão nos glúteos da moça, porque não pode. Decidimos que não pode, só se ela deixar E não posso mais fazer isso porque a lei decidiu que não E não posso, eu não posso, eu não posso Alguém está podendo dizer Quem é que em sã consciência trocaria uma situação em que você pode tudo Por uma outra situação em que você não pode quase nada Quem é em sã consciência? Todo mundo E por quê? Porque quando você podia tudo, você só se ferrava E agora, abrindo mão de quase tudo Você pelo menos pode dormir de porta aberta Obrigado Isso é o que diz Hobbes.

Quando você abre mão de tudo, o Estado tem que te garantir a possibilidade de dormir de porta aberta. Esse é o grande objetivo da justiça. E você perguntaria para Hobbes, e quando o Estado não te garante a possibilidade de dormir de porta aberta?

Hobbes dirá, aí o Estado não cumpre a sua parte no contrato social. E só a revolução permitiria uma nova situação em que você possa dormir de porta aberta. Ah, mas lá não sei aonde dá pra dormir de porta aberta. Ótimo!

Lá o Estado cumpre a sua parte no contrato. Lá onde eu moro, não. E não é que não dá pra dormir de porta aberta. Não dá pra dormir de porta fechada também. Chave Philips.

Tranca 1, tranca 2, tranca 3, tranca 4. Janela, grade, muralha, segurança privada, guarita de segurança privada, policial azeitado, pra dar uma forcinha. E ainda assim o cara invade a tua casa e faz a tua pele. Dentro desse sexto degrau, além de Hobbes, eu queria citar o pensador contemporâneo de Hobbes, também do século XVII, Pascal.

E Pascal, eu vou me permitir... O que Pascal... E vou me permitir ler um parágrafo.

Ah, o senhor nunca fez isso. Pois é. E também nunca tinha visto aquela canela da japonesa.

O mundo é inédito. E eu queria ler esse trechinho só. É justo! Que o que é justo seja seguido. É necessário que o mais forte seja seguido.

E agora veja, essa frase é emblemática. A justiça sem a força é impotência. A força sem a justiça é tirânica.

Que já me calo. Se você se lembrar da famosa frase de Rui Barbosa, a força do direito é superior ao direito da força, essa frase não é pascaliana. Porque o que é que Pascal nos propõe aqui como reflexão?

Pascal nos propõe como reflexão o seguinte. É perfeitamente possível que haja uma solução mais justa do que outra. Midas se a solução justa não tiver do seu lado a força material para a sua imposição, ela será apenas um delírio, um devaneio, uma quimera, um sonho. Por outro lado, se a força dos poderosos não estiver fundada numa concepção de justiça, ela será apenas tirânica, arbitrária, intolerável e execrável. E, portanto, diferentemente do que se possa imaginar, não se trata de opor a força à justiça, mas sim de tê-las os dois, concomitantemente.

imbricadamente, porque separadamente são inúteis, separadamente são nefastos, separadamente não servem. A justiça sem a força é um delírio, a força sem a justiça é uma tirania. Essa reflexão de Pascal, ela é completamente complementar da de Hobbes. Porque Hobbes também estava absolutamente convencido de que se eu quisesse reduzir o medo da morte violenta, se eu quisesse fazer da vida uma vida mais tranquila, uma vida mais segura, uma vida melhor para as pessoas, eu tinha que ter do meu lado o Estado, e não qualquer Estado, um Estado forte.

Porque para segurar a onda de todo mundo que quer ferrar os outros É preciso ser forte Um Estado fraco é o mesmo que um não Estado Não serve para nada Para garantir que a promessa do Estado seja cumprida Você vai poder dormir de porta aberta Isso é um símbolo claro É preciso que o Estado seja muito forte Obrigado Sob pena dele não garantir, apesar de todo mundo dizer que abriu mão das suas prerrogativas, sob pena dele não garantir a sua contrapartida, a redução do medo da morte violenta. Portanto, perceba que o pensamento de Hobbes, que é contemporâneo do de Pascal, dizem mais ou menos a mesma coisa. Não me venha com reflexão abstrata sobre justiça se você não tiver do seu lado mecanismos materiais consistentes para fazê-la triunfar.

O terceiro autor, esse eu gostaria que você prestasse atenção mais cuidadosamente. E estou me referindo já a um autor do século XVIII, grande nome do utilitarismo inglês, e que escreveu muito sobre justiça num clássico. intitulado um clássico tão importante quanto o Leviatã, intitulado Freedom, ou da liberdade em português.

Então queria deixar claro que Milll é um pensador liberal. O título da sua obra não dá margem à dúvida. John Stuart Milll. M-I-L-L. A liberdade.

Ora, o que é que Milll vai propor? Milll vai propor o seguinte. Aristóteles tem razão.

A justiça aritmética é uma quimera. E por que é uma quimera? Porque a abundância...

dos pretendentes, contrasta com a escassez das benesses pretendidas. Portanto, eu preciso de um critério de proporcionalidade. E Milll dirá que esse critério de proporcionalidade só pode ser de dois tipos.

Ouça-me, isso aqui é precioso. Ou eu dou mais para quem tem mais, ou eu dou mais para quem tem menos. Não tem duas, não tem três mil possibilidades, só tem duas. Ou eu pego o bolo e faço do bolo um prêmio, ou eu faço do bolo uma correção.

Só para te dar um exemplo, para você entender o que eu estou falando. Vamos pegar qualquer empresa hoje. Então você supõe que diretores e presidentes dessa empresa já são pessoas que já dispõem de início de uma situação material infinitamente melhor do que a moça que entrega o cafezinho. No entanto, o no entanto já revela... E ia...

No entanto nada. E talvez por isso, o salário do presidente será de 500 mil. E o salário da moça que entrega o cafezinho, de 500. Então eu não sei se você percebeu, mas dentro dessa perspectiva, essa distribuição não é aritmética, ela é geométrica. Ele é super geométrica. Ele é espetacularmente geométrica.

Ele é fantasticamente geométrica. E ela é geométrica de maneira a dar mais para quem tem mais e dar menos para quem tem menos. De certa maneira, consolidando uma situação existente. E é por isso que Mill pensou...

Pensador liberal chamará essa forma de distribuição de conservadora. Porque conserva uma situação pré-existente. Pensador liberal! Não venha imaginar que estamos falando de um esquerdóide revoltado.

Como se fosse o da USP, por exemplo. Não! É um liberal, então ele dirá não tem duas, não tem 1.500 possibilidades, só tem duas ou eu dou mais pra quem tem mais, é o que acontece ou então eu faço o contrário eu dou 500 mil pra moça do café e dou 500 pro presidente E sempre haverá alguém para dizer Ah, mas o presidente é um só e a moça do café são 35 É... Não tem importância Faz a mesma coisa Pega os 500 mil e distribui Divide por 35 E dá os 500 O presidente Continua legal É claro que você ouve e diz, isso é a coisa mais ensandecida que eu já ouvi.

E alguém dirá, não sei porquê. E não sei se você percebeu, mas dar mais para quem tem mais é uma justiça dita conservadora e premiativa, diz Milll. A justiça conservativa, de certa maneira, explica Milll, é mais coerente com a perspectiva cristã de uma certa igualdade de todos perante Deus ou perante a lei.

ensinamento de John Stuart Milll. Então perceba que Stuart Milll pega Aristóteles... e desenvolve Aristóteles, deixando claro que você só tem a fórmula aritmética que está descartada e a fórmula geométrica, ela só tem duas possibilidades.

Ou você distribui em função do prêmio, Ou você distribui em função de uma correção. Ou você conserva, ou você subverte. Ou você premia, ou você conserta. E dirá Stuart Milll, a tendência numa sociedade é que, ora, a distribuição seja feita no sentido do prêmio, Ora a distribuição seja feita no sentido da correção. E Milll continua, a lógica do capital privado...

É a lógica da conservação e do prêmio. A lógica do Estado é a lógica da correção e da subversão. Portanto, não há que confundir as duas lógicas. Não há que abrir mão de prerrogativas do Estado em nome da iniciativa privada.

Por quê? Porque obedecem a critérios de justiça opostos, contraditórios entre si. Ora, poderíamos então imaginar toda a reflexão contemporânea do mundo corporativo sobre responsabilidade social. E poderíamos, de certa forma, entender que a responsabilidade social é uma tentativa do mundo do capital de diminuir a perspectiva conservadora da distribuição de bens que a caracteriza.

Em outras palavras, a responsabilidade social seria uma tentativa cínica ou sincera a discutir. Isso é da moral de cada um. Midas de certa forma, incorporar um pouco de subversão na lógica que é conservadora. O terceiro, o sétimo degrau dessa aula é o pensador escocês David Hume.

E o pensador escocês David Hume escreve no Tratado da Natureza Humana sobre a origem da justiça. E a sua reflexão é consagrada. E David Hume, de certa maneira, é um discípulo de Glauco, é um discípulo de Hobbes, é um discípulo da concepção convencionalista da justiça.

E David Hume propõe a justiça é uma convenção entre os homens uma tentativa de viver melhor e de conviver melhor mas a justiça só surge por conta de dois fatores um tem a ver com os afetos do homem com a índole afetiva do homem E o outro tem a ver com o mundo em que o homem vive. Aquilo que hoje a gente chamaria de fator subjetivo e fator objetivo. Qual é a índole do homem que propicia o surgimento da justiça? aquilo que Hobbes chama, com toda a finesse da ironia anglo-saxônica, o que ele chama de generosidade limitada.

Se você preferir, o egoísmo. E por que generosidade limitada? Porque não somos 100% egoístas. Porque eu me preocupo com a minha filha. Tem também a minha filha, a pequena, né?

Porque os outros... Quem mais? Minha mulher, nos primeiros seis meses de matrimônio. Quem mais?

Perceba que a generosidade é ilimitada. Tem os meus alunos, sabe? E aí eu devo dizer que é uma especificidade minha. Estranho isso. E sou capaz de ficar até uma hora da manhã da faculdade explicando pra um palhaço uma coisa que ele não consegue entender.

Enquanto ele não entende, eu não saio dali. E o entendimento dele parece ser importante pra mim. E isso tem a ver com generosidade. Midas ela é limitada.

Ele é limitada. 99% da vida está centrada no próprio umbigo. Esse é o primeiro fator da justiça. Se a generosidade fosse ilimitada, não haveria justiça. Se pensássemos de fato mais nos outros do que em nós mesmos, não haveria a menor necessidade de justiça.

Essa é a constatação. de David Hume. É porque somos egoístas que a justiça é fundamental.

Poderíamos até lembrar do julgamento de Salomão. É porque somos egoístas que as pretensões são contraditórias. É porque somos egoístas que as pretensões são contraditórias. Que uma pega o filho morto próprio e troca, e coloca o filho morto na cama da outra. É porque somos egoístas que a justiça faz sentido.

E a segunda condição é a raridade dos bens. Coisa que também já surgiu em outros pensamentos. Então, existe um binômio. É raridade do mundo e egoísmo do homem. A combinação desses dois torna a justiça uma necessidade.

E David Hume dirá, quando por alguma razão o mundo não é escasso, a justiça se torna desnecessária. Porque a disputa não é pelo que é bom. A disputa é pelo que é raro.

Os exemplos de David Hume, um ainda vale, o outro mais ou menos. E David Hume dá dois exemplos, o ar e a água. O ar e a água são bens necessários, sem os quais o homem morre.

Midas como eles são abundantes, eles não são objeto de justiça. Não eram. Hoje a água já é, porque é escassa.

Se houvesse abundância, o homem poderia ser egoísta e não haveria justiça. Se o homem fosse generoso, poderia haver raridade e não haveria justiça. Midas é a presença dos dois, o egoísmo e a raridade, que tornam a justiça necessária.

Chegamos no século XIX. São dois os pesos pesados, Midas e Nietzsche. Os dois falam sobre a justiça.

E nós temos mais alguns minutos. Zeus amigos, comecemos por Midas Midas escreve um texto de título muito esquisito, mas de leitura universal. Crítica ao programa do Partido Trabalhista Alemão.

Isso é o nome de um livro? É! Encontra-se esse livro facilmente, em bibliotecas sobretudo, mas em livrarias boas de ciências sociais. E vou repetir, crítica ao programa do Partido Trabalhista Alemão.

E Midas ali propõe duas concepções de justiça que ele analisa. A primeira... Abro aspas, há trabalhos iguais, salários iguais. Então ele diz, numa primeira fase de implantação de uma eventual sociedade comunista, esta vai ser a única possibilidade de justiça. A situação é rudimentar e difícil.

Afinal de contas, estamos culturalmente tomados pela dominação burguesa. E essa é a perspectiva que dá conta de uma herança nefasta do direito burguês. Há trabalhos iguais, salários iguais. Midas vai chegar a hora que a coisa vai melhorar. que já não nos sentiremos mais pertencendo a uma classe ou outra, que já perceberemos que de fato somos iguais numa sociedade de abundância, numa sociedade sem privilégios.

E neste momento uma segunda concepção de justiça naturalmente surgirá. E peço que abram aspas. E comentei ontem, tem alguém de vocês que toda vez que eu falo de Midas na aula me mandam um e-mail?

e meio assim... sentido não fica assim, ele já morreu, né? assim, e...

não tem problema, viu? tá tudo bem abre aspas Dê, anote, anote, dê cada um segundo a sua competência e a cada um segundo a sua necessidade. E vou repetir.

Dê cada um segundo suas competências, a cada um segundo suas necessidades. Você olha pra mim e diz, bom, de cada um segundo suas competências, quer dizer, a sociedade deve esperar como comportamento de cada um, o máximo dentro dos limites das suas competências, mais ou menos como queriam os gregos, nenhuma novidade. Então, o professor Clóvis é justo quando ele dá a melhor aula que ele poderia dar. Tá perfeito. Qual é a contrapartida que você vai me dar?

A cada um segundo suas necessidades. E é aqui que a discussão se abre. Afinal de contas, o que são as minhas necessidades?

Nós poderíamos... Levar essa discussão longe. Imagina, por exemplo, que Epicuro, você se lembra, fala que nós temos desejos naturais e necessários, naturais e não necessários, e não naturais e não necessários. Os naturais e necessários são aqueles que são necessários porque se eu não satisfazer eu morro, como comer, beber e dormir. E naturais porque os animais também têm.

Naturais e não necessários são aqueles que os animais também têm, mas se eu não fizer eu não morro. O sexo. Todo animal gosta de dar uma bimbada, mas se não fizer, não morre. Discutível. Super discutível.

Não testei pra ver se eu morria, mas... Não é porque eu não vou levar a Epicuro tão a sério assim, mas... sabe? E tem os não naturais e não necessários.

A glória, a fama, o reconhecimento, o poder. E tem também a Louis Vuitton, Moet Chandon, Veuve Clicquot, Jazz. Então, naturalmente, dirá Epicuro, se quiser viver bem, satisfaça os naturais e necessários. Por quê?

Porque isto é uma educação para continuar tendo prazer sempre. A vida boa é a vida que você consegue ter prazer com coisas simples. E para conseguir continuar tendo prazer com coisas simples, é preciso educar-se para isso. Aquele que passa geleia no pão já está estuprando o corpo.

Porque o pão fica seco depois. Outro dia uma senhora disse Você vai comer esse arroz aí, puro assim, sem nada? E eu respondi, fiel a Epicuro.

Se eu quero continuar tendo prazer com o arroz, é melhor me educar para encontrar ali algum prazer. Prazer com coisas simples. E por que é importante ter prazer com coisas simples? Porque as coisas simples são mais fáceis de achar.

Você percebeu? É tão óbvia a reflexão. É conforme eu expliquei uma vez.

Se eu precisar, para ter prazer, de temperar comida com lágrima de castor... E tô ferrado, cara, porque pra fazer o castor chorar sem matar o castor, não é simples. Precisa contar uma história pra ele, sabe?

É um negócio difícil. Então pra eu ter prazer é duro. O cara falou, ah, me disse um aluno particular.

E tenho uns alunos particulares que são bago duro. Ah não! Para mim é só a safra tal Se não...

E eu vou tomando a minha coca, velho Porque qualquer esquina tem É mais simples, cara Então alguém dirá Será que é isso que Midas está falando? Comer, beber e dormir? E comer é pão e água?

Sabe que não deve ser? Porque senão não faria sentido a frase Dê cada um segundo suas capacidades e a cada um segundo suas necessidades Por que botar isso numa frase? Então qual é a interpretação possível? Se não é pão e água A pergunta que eu te faço é O que que me é necessário? E a resposta já está na frase.

Se ele colocou junto de cada um segundo suas capacidades e a cada um segundo suas necessidades, é porque as necessidades de cada um têm diretamente a ver com o pleno desenvolvimento das suas capacidades. Em outras palavras, eu não faço questão da lágrima de castor, mas eu preciso de 20 livros por semana. Porque sem os 20 livros por semana, eu não desenvolvo plenamente as minhas capacidades.

E você então percebe que Midas é muito menos dogmático do que você alguma vez supôs. Porque você percebe que não tem essa de passar a régua, sabe? Tipo refeitório de fábrica, arroz, feijão, picadinho e coisa, passou a régua desconsiderando a singularidade. Esse é o grande argumento antimarxista, o desprezo pelas singularidades. Não é verdade!

Leia! Leia ao invés de reproduzir o rancor dos outros. Leia. As necessidades de cada um são diretamente ligadas ao pleno desabrochar das suas capacidades.

É panoismão, diriam os franceses. E aí, se a capacidade plena que se espera de mim é a aula excelente, a necessidade que é a minha é de todas as condições materiais para que essa... essa aula possa ser a mais excelente possível.

Dê cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades, desde que essas necessidades sejam julgadas pelo metro das capacidades que deles se esperam. Nietzsche, último degrau, décimo. Professor, eu contei nove, não seja chato, se eu estou dizendo que são dez, são dez.

Nietzsche é um herdeiro de Glauco, de Hobbes, de Hume. A justiça é de fato uma convenção. Vem da onde?

A pergunta que Nietzsche faz é simples. Quem teria interesse? Quem teria necessidade até? de definir o certo e o errado para todo mundo.

Essa resposta fica mais clara quando você entende que para Nietzsche, no mundo da vida, existem dois tipos de forças, ativas e reativas. As forças ativas manifestam o tesão de cada um, a potência de cada um. E você então age no mundo para satisfazer o seu tesão, manifestar a sua potência vital. É de você com você mesmo a força ativa.

A força reativa é aquela que existe para se opor à ativa. É aquela que existe para ser obstáculo, é aquela que existe para impedir que o ativo consiga o que ele quer, sempre pelo menos. A força reativa, portanto, é aquela que só existe por conta de uma força ativa.

Diante dessa explicação, que pergunta cabe fazer? Segundo você, quem é que teve a ideia de definir? o justo e o injusto o ativo ou o reativo e por que Nietzsche é herdeiro de Glauco?

herdeiro assumido herdeiro que cita porque é claro é claro que aquele que é regido por uma força ativa que Nietzsche chama de forte Esse não tem tempo para pensar no justo e no injusto, no certo e no errado, no honesto e no desonesto, porque ele está corpo e alma, pesado, manifestando sua potência. E o outro quer que ele se ferre. Esse é o reativo. Esse vai criar regras, esse vai criar normas, esse vai propor leis, esse vai criar regulamentos, esse vai dizer que existe um justo e um injusto, esse vai definir o certo e o errado para todos. A justiça é o triunfo dos fracos sobre os fortes.

E não sei se você percebe, mas a perspectiva de Nietzsche é um pouco contrária da de Midas Porque se você perguntar para Midas qual é a origem da justiça, ele dirá a justiça é um instrumento da classe dominante para oprimir o proletariado. O que dirá Nietzsche? A justiça é uma produção dos fracos. Midas você poderia perguntar, pondo fim a essa aula, se são fracos, como é que tem justiça em todo lugar? É porque esses fracos trabalham em aliança, trabalham em associação.

E por que eles podem trabalhar em associação? Porque tem um objetivo comum. Opor-se aos fortes.

E você poderia perguntar, mas por que os fortes também não se associam? E a resposta é simples. Os fortes são fortes porque agem motivados pelo próprio tesão.

E esses tesões são singulares, não aceitam a associação possível. É impossível um sindicato que tenha Schumacher, Ronaldinho Gaúcho, um político talentoso. Por quê?

Porque quem age regido pelo próprio tesão, age por definição, sozinho, como é solitário o seu tesão. E é por isso que a justiça... É o resultado da união do sindicato dos bundões contra aqueles que lutam por fazer triunfar os seus desejos, solitária, isolada e talentosamente, como convém a um forte.

Portanto, você percebe? Que se para Midas a justiça é um instrumento de dominação de classe, é um instrumento da classe dominante, o que diria Nietzsche? A reflexão de classe só faz sentido na reatividade, porque só constitui classe quem é reativo, quem se opõe aos outros.

E por isso a justiça acaba sendo imposta pela força, mas pela força dos fracos. pela força dos reativos, pela força daqueles que abriram mão da satisfação do próprio tesão, em nome da regra, em nome do enfrentamento, em nome da oposição aos outros sonhadores que lutam pelo pleno desabrochar da sua singular e magnífica potência. Zeus amigos, este foi o sobrevoo desta manhã. E espero que você tenha entendido que se você espremer tudo o que eu falei, existem duas concepções de justiça na história do pensamento.

A primeira delas... A justiça é uma verdade, coisa de alma, coisa de Deus, coisa de universo, uma verdade que se impõe ao homem. E cabe ao homem agir justamente para se adequar a esta verdade que lhe é transcendente, que lhe é superior, que lhe é anterior.

A segunda concepção de justiça é a de justiça como convenção, produção do homem, produção do homem na vida, produção do homem na imanência. Por isso, a primeira concepção é dita transcendente. Segunda concepção é dita imanente.

E aí, neste caso, há divergência sobre se é uma convenção, como é que ela aconteceu. Quase todos concordam, a justiça é o resultado de um enfrentamento, de uma luta, às vezes é a classe dominante que ganha. às vezes é o forte que ganha, às vezes é o fraco que ganha, às vezes é o bundão que ganha, às vezes é o fudido que ganha, ou seja, existe uma divergência sobre, no final das contas, quem é, como é que acontece a convenção que define o certo e o errado, mas o fato é que se o homem decidiu e optou por um certo e por um errado, é porque ele não suportava a vida, uma vida num estado de natureza, onde não havia certo ou errado, uma vida como a da girafa, em que você é regido pelos apetites, vive quando...

e como dá, e será sempre morto por alguém mais forte que você. Era o que eu tinha a dizer. São duas concepções.

Não me peça para dizer qual é a certa e qual é a errada, mas são duas concepções que continuarão eternamente se enfrentando na história do pensamento. Muito obrigado e até a próxima, se Deus quiser. Obrigado.

Obrigado. Obrigado. Ele... sentem-se.

Existem duas concepções de virtude na história do pensamento. A virtude dos gregos, e a virtude dos gregos, como eu expliquei, é o talento que você tem. O olho é virtuoso quando enxerga bem, o joelho é virtuoso quando dobra bem, e o homem é virtuoso quando...

pensa bem e controla os próprios apetites. Portanto, como você deve imaginar, tem gente que não cede aos apetites do corpo, tem gente que cede aos apetites do corpo. Então, a título de exemplo...

um alcoólatra é um indivíduo inferior. E um indivíduo que controla os próprios apetites é um indivíduo superior, é um indivíduo virtuoso. Um indivíduo que controla os próprios apetites é como o vento que venta e o joelho que dobra com competência.

Essa concepção de virtude faz com que nós sejamos moralmente e politicamente hierarquizados em função dela. Portanto, o indivíduo mais talentoso também é o moralmente mais digno e, portanto, o politicamente autorizado. para mandar.

O indivíduo menos virtuoso é moralmente menos digno, mais próximo do animalidade e, portanto, deve ser escravo. Concepção grega, nenhuma dúvida. A segunda concepção é a concepção de um homem que é um homem de uma forma de ser humano. cristã é a que vigora até hoje a virtude não é o talento natural a virtude não é a capacidade de dobrar o joelho a virtude não é a capacidade de se expressar a virtude não é habilidade pra falar a virtude é o uso que você faz disso E o uso que você faz do teu talento será virtuoso quando você direcioná-lo para uma missão que Deus te confiou.

Está claro isso? Então vamos imaginar que Deus tenha me feito para ser professor e me deu o talento de falar. E posso falar dando aula e estarei cumprindo os desígnios de Deus. Estarei agindo de acordo com o que Deus espera de mim. Estarei vivendo bem e virtuosamente.

Midas no lugar de dar aula, eu poderia estar usando o meu talento. talento retórico para enganar para ludibriar para falsificar para me candidatar para mim então claro para mentir para mentir para mentir pois neste caso eu estarei usando o talento que deus me deu indevidamente me afastando do que deus espera de mim não só vou viver mal como vou viver fora da virtude se você preferir em pecado Portanto, percebeu que agora a coisa mudou. E sou livre para usar os meus talentos como eu quiser.

E a virtude não está no talento, mas no uso que eu faço dele. Pouco importa se eu sou um gênio ou um imbecil. Algum talento eu tenho.

E dependendo do uso que eu der a esse talento, eu serei virtuoso ou não. Qual é o bom uso? O que Deus espera de mim. Como é que eu fico sabendo o que Deus espera de mim?

Perguntando para Ele. Ele vai responder? Claro que vai.

Quando? Quando você tiver fé que Ele responda. Ele responderá.

E acho que você percebeu, não tem 1.500 concepções de virtude, tem duas, a grega e a cristã. Eles de certa maneira se enfrentam até hoje. Nietzsche é um defensor do conceito grego de virtude. Ele é um aristocrata, tem uns que são melhores do que outros, e os que são piores, são uns bostas, quase sempre se associam e acabam inventando essas bostas de moral, etc.

Então Nietzsche defende a concepção grega de virtude. Em compensação, sei lá, alguém como Kant, sei lá, um defensor da concepção cristã de virtude. Ou seja, o fato de eu ser burrinho nada tem a ver com a minha dignidade.

A minha dignidade tem a ver com o uso que eu faço da pequena inteligência que eu tenho. E é por isso que a concepção cristã de virtude permitiu o surgimento da ideia de humanidade, que não havia entre os gregos. O que é a humanidade?

A certeza de que somos todos iguais, apesar de sermos diferentes. Porque somos todos livres para usar os talentos que temos, do jeito que quisermos, seja nos desígnios de Deus, seja em pecado. Primeiro?

Sabe o que eu acho? Que é Deus que fala em mim.