Um novo, claro Brasil surge, indeciso, da pólvora. Meu Deus, tomai conta de nós. Estes versos são do poema Outubro 1930 e foram publicados no primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade em 1930. Seu pau do sul, pra frente avança Em fuga e esforça, como um fuzil Meu grande pé, meu... Carlos Alberto Richelli é o herói do filme Sonho Sem Fim no papel do pioneiro do cinema gaúcho, Eduardo Abelim. Ele foi contaminado pela mesma euforia que tomou conta do país quando estourou a Revolução de 1930 e embarcou na esperança de que estava nascendo um novo Brasil.
A revolução levou 21 dias para chegar ao Rio de Janeiro. O Palácio Guanabara, residência oficial do Presidente da República, e o Palácio do Catete, sede do governo federal, foram cercados. O presidente Washington Luiz recusou as intimações que recebeu da junta militar para renunciar.
Foi preso no dia 24 de outubro e levado para o forte de Copacabana, de onde embarcaria para o exílio. Estas imagens inéditas na televisão brasileira mostram os últimos momentos de Washington Luiz no poder, quando o presidente ainda pensava ser possível resistir ao levante militar e também a entrada das tropas revolucionárias no Rio de Janeiro. Quando Washington Luiz foi deposto em outubro de 1930, multidões saíram às ruas para comemorar por todo o Brasil.
Edifícios públicos foram tomados, os jornais governistas empastelados. A República Velha desaparece. Uma República Nova se anuncia.
O curso na Avenida Rio Branco foi um dos pontos altos do primeiro carnaval da década de 20. Comemorado em grande estilo no Rio de Janeiro, a capital do Brasil e o berço do samba. Nos anos 20, o carnaval ainda não atraía turistas estrangeiros. Lá fora, o Rio era mais conhecido por suas belezas de cartão postal. Como o Canal do Mangue.
E sobretudo pelo pão de açúcar, de onde já se podia admirar a paisagem. O Corcovado não passava de um morro, pois a estátua do Cristo Redentor só seria inaugurada um ano depois da Revolução. Em 1920, o Rio tinha pouco mais de um milhão de habitantes, seis vezes menos do que hoje em dia.
Já naquela época, a Avenida Rio Branco era a mais importante e movimentada da cidade e a Rua do Ouvidor o seu ponto mais elegante. Música No encontro da Avenida Rio Branco com a Beira Mar, ficava o Palácio Monroi, que a partir de 1925 abrigou o Senado Federal. E ao lado do Palácio, o Obelisco, marco da abertura da Avenida Beira Mar.
Depois de outubro de 1930, quando os gaúchos amarraram seus cavalos no Obelisco, ele passou a simbolizar a vitória da Revolução. O Obelisco de Granito continua de pé como marco de um tempo de grandes transformações. Existe uma história sobre o Obelisco.
Existe um tipo de política no Brasil, existe um tipo de sistema político no Brasil, anterior a 1930, regionalista, marcadamente oligárquico, liberal elitista, etc., que morre em 1930. O Brasil continuava a viver da exportação de açúcar, café, cacau e borracha. Quando o café tomou o primeiro lugar da lista de exportações, São Paulo passou a dividir o mando político com Minas Gerais. Os paulistas entravam com o café... os mineiros com o leite. Na velha república, os grandes proprietários rurais de São Paulo faziam os presidentes da república e controlavam a cidade.
controlavam as decisões econômicas. E havia sempre um banquete para sacramentar essas decisões. Dos 11 presidentes eleitos da República Velha, apenas dois não eram de São Paulo e Minas.
Mas em nenhum governo, o café deixou de ser generosamente beneficiado. Toda vez que os preços do produto oscilavam no mercado internacional e as exportações caíam, o governo entrava em cena tomando empréstimos no exterior e comprando a produção excedente para restabelecer o nível dos preços. Mais de 60% da população brasileira vivia no campo, produzindo a riqueza do país, mas distante das grandes decisões nacionais. Na República Velha, os presidentes eram eleitos por menos de 3% da população.
As mulheres não tinham direito a voto, nem os analfabetos, que representavam 50% da população adulta. O voto, por sua vez, não era secreto, facilitando a fraude e o voto de cabresto. Na hora da eleição, quem dava as cartas eram os coronéis.
Enquanto isso, no Brasil urbano, os coadjuvantes da elite nacional, profissionais liberais, jovens oficiais do exército e intelectuais, sonhavam com o século XX. Música Um século que na verdade só havia começado em 1914 com a primeira guerra mundial. Música O Brasil só entrou na guerra a partir de 1917 e lucrou muito enquanto durou o conflito mundial, vendendo de tudo as nações aliadas, de matérias-primas a gêneros alimentícios e até mesmo certos produtos. industriais. Durante a guerra, a economia brasileira prosperou a olhos vistos e uma nova classe, produzida pelo surto de industrialização, fez a cidade de São Paulo ficar mais parecida com os grandes centros urbanos do mundo.
As voltas com angustiantes problemas de sobrevivência, o operariado de São Paulo lutou por melhores salários e melhores condições de trabalho. Em sua maioria, imigrantes de origem italiana ligados ao movimento anarco-sindical. os operários paulistas realizam inúmeras greves a partir de 1910, culminando com a greve geral de 1917. Ameaçados de expulsão do Brasil e debaixo de forte repressão, os operários chegariam aos anos 20 sem ter conquistado os mínimos direitos sociais pelos quais tanto lutaram. Depois da Primeira Guerra, a situação da classe operária no Brasil piorou ainda mais, com a retomada da produção industrial nas nações aliadas.
Da noite para o dia, o Brasil perdeu o mercado externo e começou a ser invadido por produtos manufaturados no exterior. Também vindo de fora, em setembro de 1920, chega ao Brasil um herói da primeira guerra, o rei Alberto da Bélgica, o primeiro monarca europeu a visitar o país. Recebido em Belo Horizonte pelo presidente da...
República, Epitácio Pessoa, e pelo presidente do Estado de Minas Gerais, Arthur Bernardes, vistos nessa cena tomando a carruagem, o rei Alberto foi a Sabará. Dessa visita, resultou a criação da companhia de um novo rei, o rei Alberto. A companhia siderúrgica belgo-mineira, que tornaria o Brasil menos dependente do mercado externo de laminados de aço e um pouco mais próximo da modernidade industrial. Um ano depois da visita do rei Alberto, Arthur Bernardes entrava firme na campanha presidencial.
Candidato da situação à sucessão de Epitácio Pessoa, Arthur Bernardes, como era de praxe na República, A República Velha foi apresentar sua plataforma na capital da República. Teria feito melhor ficando em Minas. Seis dias antes de sua partida para o Rio, o jornal Correio da Manhã publicara cartas injuriosas aos militares, atribuídas a artigosos. Numa dessas cartas, o ex-presidente Hermes da Fonseca era tratado de sargentão sem compostura.
Essas imagens, as mais antigas de uma campanha presidencial no Brasil, dão a impressão de que Arthur Bernardes abafou em sua visita ao Rio. Na verdade, depois de ter sido recebido festivamente por seus correligionários, o cortejo do candidato foi estrepitosamente vaiado pela multidão e tão logo entrou na Avenida Rio Branco. A insatisfação explodiria no ano seguinte, na primeira das revoltas militares que levariam à Revolução de 30. A partir de 1930, os políticos tiveram que incorporar na sua retórica muita coisa para satisfazer as reivindicações populares.
Foi a primeira vez, por exemplo, em que a retórica oficial admitiu que havia miséria no Brasil, que havia uma desigualdade gritante, que o trabalhador tinha direitos. Em 1922, no aterro que tomou um pedaço da Bahia para ampliação do centro do rio, pavilhões dos estados brasileiros e de 50 países estrangeiros foram construídos para um evento muito especial. Era a Exposição Internacional, inaugurada a 7 de setembro para comemorar o centenário da Independência.
Faraônicos e de gosto duvidoso, já faz tempo que esses pavilhões foram abaixo. Atraindo milhares de visitantes, inclusive do exterior, a exposição teve de tudo. Desde vinho do porto a objetos de decoração, passando naturalmente por equipamentos industriais e até por invenções aparentemente estapafúrdias.
Uma das maiores atrações foi o avião que acabara de completar a primeira travessia do Atlântico. Com a exposição, o Brasil fez um balanço de suas atividades econômicas e as nações industrializadas começaram a reconquistar o mercado brasileiro que haviam abandonado durante a Primeira Guerra Mundial. No dia da inauguração... O presidente Epitácio Pessoa discursou através de um estranho aparelho que naquela mesma noite transmitiria a ópera O Guarani diretamente do Teatro Municipal. O rádio acabara de chegar ao Brasil.
Estávamos definitivamente condenados à modernidade. Condenados à modernidade. Essa era a palavra de ordem em fevereiro de 1922, quando o Teatro Municipal de São Paulo foi ocupado por um grupo de jovens artistas e intelectuais para uma série de recitais, exposições e concertos radicalmente contrários aos códigos visuais, literários e musicais vigentes. Em dia com as últimas novidades da vanguarda europeia, eles estavam inventando a arte moderna brasileira. A tradicional família paulistana ficou horrorizada com o Cristo de Trancinhas, esculpido por Vítor Brecheret, e com o Homem Amarelo pintado por Anitta Malfatti.
Quando Oswald de Andrade disse Carlos Gomes é horrível a plateia bem pensante da semana de arte moderna reagiu com vaias e insultos mas a cultura brasileira já estava voltada para o futuro as artes nacionais pertenciam agora aos modernistas Menos de um mês depois da Semana de Arte Moderna, Arthur Bernardes é eleito presidente da República. Sua vitória é contestada por civis e militares, inconformados com a ditadura dos barões do café. Enquanto os desafetos da política do café com leite pedem novas eleições, um pequeno grupo de comunistas e antigos militantes anarco-sindicalistas fundam o Partido Comunista do Brasil. Em julho de 1922, foi a vez dos militares se rebelarem.
Um motim sacudiu a escola militar e o forte de Copacabana se sublevou. Jovens oficiais de modesto calibre, os tenentes, protestavam contra os soldos baixos, o fechamento do clube militar, a prisão e a desigualdade. A decisão do Marechal Hermes da Fonseca e, sobretudo, a eleição de Arthur Bernardes.
Entregue à própria sorte por outras unidades do Exército, o forte de Copacabana foi bombardeado pelas forças leais ao governo. Recusando a rendição, um pequeno grupo de praças e tenentes saíram pela Avenida Atlântica ao encontro das poderosas forças do governo. Apenas dois tenentes sobreviveram à fuzilaria. Então nesse sentido a revolta de 22 foi uma revolta de sentido muito corporativo, quer dizer, uma revolta muito ligada à questão dos chamados brios do exército que teriam sido ofendidos.
Mas é claro que de um ponto de vista mais amplo, ela está refletida... uma insatisfação geral de certas camadas, de camadas urbanas da sociedade, e sobretudo está refletindo uma insatisfação da posição do exército no interior do sistema político da Primeira República. Depois da revolta do forte de Copacabana, o Brasil sucumbiu a um longo estado de sítio que Epitácio Pessoa deixou de herança para seu sucessor. Empoçado em novembro de 1922, Arthur Bernardi jogou duro com a oposição.
Assinou leis repressivas, amordaçou a imprensa, alterou a Constituição para reforçar a autoridade do poder central e desmontou os governos estaduais não afinados com o manda-chuva do catete. Numa noite em que as obrigações do poder lhe deram folga, Arthur Bernardes assistiu em Palácio a projeção deste filme, No País das Amazonas, do mesmo pioneiro Silvino Santos, que filmou a exposição de Independência. Imagens em movimento de um Brasil desconhecido puderam ser vistas pela primeira vez. Imagens de um país sem café nem leite. O Brasil dos primeiros brasileiros.
Nos anos 20, havia mais de 500 mil índios no Brasil. Hoje, não chegam a 200 mil. O país das Amazonas foi uma revelação para os cariocas e ganhou uma medalha de ouro na exposição da independência. Fora do círculo do poder, as elites civis tinham como símbolo máximo da sua insatisfação a figura de Rui Barbosa. Candidato três vezes derrotado à presidência da República, Rui Barbosa havia sido o grande líder da República.
campanha civilista, o primeiro movimento significativo de opinião pública a agitar a República Velha. Em 1923, a grandiosidade destas homenagens póstumas atestam que os ideais da campanha civilista continuavam de pé. Votos secreto, maior autonomia para os estados, menos poder para os militares eram bandeiras que já mobilizavam multidões. Civis contra militares, tenentes contra o governo federal e, em alguns estados, conflitos entre facções locais. A política do Rio Grande do Sul estava dividida desde a proclamação da República.
Em janeiro de 1923, explode a Guerra Civil. De um lado, Borges de Medeiros, eleito pela quinta vez presidente do estado que governou durante 25 anos. Do outro lado estão os federalistas, que contestam os resultados das eleições com denúncias de fraudes. Eles apelam para uma intervenção federal e acabam se levantando em armas contra o governo estadual.
A guerra civil dura nove meses, com confrontos militares em todo o estado. Boa parte dos pampas caem na mão dos rebeldes, mas eles não conseguem conquistar as cidades mais importantes. Nomeado Tenente-Coronel das Tropas Leais ao Governo Estadual, Getúlio Vargas assume o comando do 7º Corpo Provisório, uma tropa irregular de civis recrutados. Getúlio não chega a participar dos combates.
Ele já estava no Rio como deputado federal, quando o Tratado de Pedras Altas encerrou a guerra civil que havia durado quase um ano. O governador eleito, Borges de Medeiros, manteve seu mandato, mas sem poder se reeleger. Borges de Medeiros...
...seria sucedido no governo estadual pelo próprio Getúlio Vargas. Para os revolucionários, para aqueles que a gente ficou conhecendo como tenentes, a questão democrática era uma questão de segunda ordem. 1924. São Paulo depois de ter sido bombardeada pelo exército.
Chegar a vez dos tenentes paulistas se rebelarem, ocupando a capital do estado. A data do levante não podia ter sido mais bem escolhida. 5 de julho, segundo aniversário da revolta do forte de Copacabana.
A permanente insatisfação nos quartéis atingir o seu ponto de ebulição com a recente condenação de tenentes acusados de pretenderem, pela violência, mudar a forma de governo e a constituição do país. Em Sergipe, no Amazonas, o Levante fora logo dominado. Mas em São Paulo, os rebeldes ocuparam a capital graças à colaboração da Força Pública Paulista. Com o país sob estado de sítio, São Paulo fora escolhida para a sede do Levante pela distância do Rio de Janeiro, onde o presidente Arthur Bernardes mantinha rigorosa vigilância policial. Bernardes não estava exagerando quando disse que, como presidente, havia sido apenas um chefe de polícia.
O tenentismo é um movimento que mais faz do que fala. O tenentismo age, o tenentismo explode, articula conspirações, o tenentismo não escreve muito, o tenentismo não é retórico. O tenentismo reunia elementos militares e elementos civis em todos os movimentos. em torno de algumas ideias muito gerais.
Que ideias seriam essas? A ideia da renovação dos costumes políticos do Brasil, a ideia da contenção dos interesses estrangeiros, uma tendência a resolver os problemas do país por uma via mais centralizada, necessariamente mais autoritária. Cercados pelo exército após três semanas de ocupação, os tenentes abandonam São Paulo para evitar que a cidade seja ainda mais sacrificada pelo bombardeio. As tropas do governo entram então em São Paulo para tomar conta da situação, enquanto os tenentes batem em retirada para a região de Foz do Iguaçu, no Paraná.
Em apoio aos tenentes de São Paulo, outro grupo de militares se levantou em armas no Rio Grande do Sul. E da união dos rebeldes paulistas e gaúchos nasceria no ano seguinte a Coluna Prestes. A nossa posição ainda era de conspiradores.
Nós queríamos lutar apenas para botar o Bernardes abaixo. Essa que era a verdade. Então nós esperávamos que mantendo a luta armada no interior do país, o governo seria obrigado a jogar tropa contra nós, aliviando...
lá no Rio de Janeiro, em São Paulo, onde os nossos conspiradores, os nossos companheiros botassem o Bernardo abaixo. Essa era a nossa estratégia. A coluna Prestes atravessou o país numa marcha de 25 mil quilômetros e chegou a...
a contar com 1.500 combatentes. Em confronto permanente com as tropas do governo, a coluna não perdeu nenhum combate. Uma das conclusões que a gente tira da marcha da coluna é que o brasileiro, quando confia na liderança, é capaz de toda abnegação, é capaz de morrer, mas cumprir o seu dever. Nós tivemos diversos casos de companheiros ficarem numa situação que, para cumprir o dever dele, que era dar um tiro, às vezes, só para assinar lá que o inimigo estava estava presente, ele sabia que ia morrer, porque o inimigo ia matá-lo, mas ele dava o tiro. Após dois anos e meio, os remanescentes da coluna buscaram exílio na Bolívia e no Paraguai.
Duas de suas reivindicações seriam atendidas pelo novo governo. A suspensão do estado de sítio e a restauração da liberdade de imprensa. Uma vez mais a história se repetiu.
No Palácio do Catete, o mineiro passou o bastão ao representante de São Paulo. Arthur Bernardes entrega a presidência ao Washington Luiz, em novembro de 1926. No dia da posse, quando os clarins anunciaram a chegada do novo chefe do governo, a multidão deu vivas ao libertador. Os jornais, por sua vez, saudaram o fim de quatro anos de perseguições, violências e crimes. Apesar de amaldiçoado por jornais da oposição, Arthur Bernardes despediu-se da presidência de forma bem mais tranquila do que Washington Luiz faria quatro anos depois. Ao tomar posse, Washington Luiz distribuiu os ministérios entre políticos de vários estados.
O Rio Grande do Sul ficou com o Ministério da Fazenda, entregue ao deputado Getúlio Vargas. Getúlio seria ministro da Fazenda só por um ano, até ser eleito para o governo do Rio Grande do Sul. Para o Washington Luiz, governar era abrir estradas. Esportivo, bonitão, cheio de força e saúde, o Washington Luiz não fugia à regra da República Velha. Era um homem da oligarquia cafeíra.
Menos de um mês depois da posse, enviou ao Congresso um projeto de reforma monetária beneficiando as exportações. Com a suspensão do estado de sítio e da censura à imprensa, o país respirou aliviado e Washington Luiz se entregou à inauguração de grandes estradas como a Rio Petrópolis e a Rio São Paulo. Ao inaugurar a Rio São Paulo, Washington Luiz abraça Júlio Prestes, presidente de São Paulo e futuro candidato à presidência da República na sucessão de 1930. Ainda em 1928, o presidente eleito dos Estados Unidos, Herbert Hoover, visitou o Brasil.
Os norte-americanos eram os principais importadores de café do Brasil e 28% das importações brasileiras vinha... dos Estados Unidos. Quando ainda era secretário de comércio, Hoover dirigira pessoalmente uma campanha contra a política brasileira de proteção ao preço do café, base da economia da República Velha.
Foi nessa época que outros países aumentaram sua exportação cafeíra, passando a concorrer com o Brasil no mercado externo. Por esse revés, os barões do café não esperavam. Só a antropofagia nos une. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos, de todas as religiões.
To be or not to be. No Caldeirão, apenas as grandes conquistas do chamado mundo civilizado que valia a pena digerir. Oswald gostava de chamar o Brasil de Pindorama, a terra do pau-brasil, onde o carnaval é o acontecimento religioso da raça e a alegria é a prova dos nove.
Como se vê, 1928 foi um ano dedicado à especulação sobre o que nós somos, tínhamos e precisaríamos ter. Quando o ano terminou, já tínhamos em todas as bancas do país a revista O Cruzeiro. E nas livrarias, um clássico da literatura modernista. Macunaíma, de Mário de Andrade. Ai, que preguiça.
E eu? Isso é tripa! Pois é, e pra você tá muito bom!
No final dos anos 20, a terra do Pó Brasil não estava preparada para o futuro. para a revolução imaginada por Oswaldo de Andrade. Pindorama ainda tinha vergonha.
Uma outra revolução acabou vindo, mas precisou de uma ajuda de fora. Em 30 há alguma coisa que a história tradicional dizia. que me parece verdadeira. Há uma revolução de alguns estados contra outros estados. Há, de algum modo, uma revolução contra São Paulo.
29 de outubro de 1929. Uma terça-feira negra. Da noite para o dia, milhões de ações mudaram de mãos na Bolsa de Nova York. Aturdidos pela especulação, os investidores entram em pânico, perdem a confiança no mercado e o preço das ações despenca, gerando falência.
falências em cadeia. Milionários amanhecem sem nada. Pequenos poupadores perdem o pouco que tinham conseguido acumular a vida inteira. Por ter sua economia dependente de um único produto de exportação, o Brasil acabou sendo duramente afetado pela crise mundial.
O Estado O estoque de café acumulado, sem compradora à vista, chegou a 22 milhões de sacas. Desta vez, o governo não teria como bancar os prejuízos. Os empréstimos internacionais estavam suspensos e as nossas reservas foram tragadas pela fuga de capitais estrangeiros do país. No início dos anos 30, sob efeito da quebra da Bolsa de Nova York, as economias capitalistas do mundo inteiro perdem o rumo e mergulham na recessão e no desemprego. Com a queda das exportações, o Brasil se viu obrigado a substituir por produtos fabricados do país o que antes era importado.
Já acontecera durante a Primeira Guerra, o setor industrial tirou algumas vantagens da crise mundial. Foi ainda sob o impacto da crise do café que as eleições dobraram a esquina. Mudando as regras do jogo, Washington Luiz indica um paulista à sua sucessão. O presidente de São Paulo, Júlio Prestes.
Como era a tradição na República Velha, o candidato da situação vai ao Rio apresentar sua plataforma de governo num grande banquete. Em nome da continuidade administrativa do seu governo, Washington Luiz impuserá... era como candidato um novo representante do café.
Os mineiros se sentiram traídos e romperam a velha aliança conservadora do café com leite para formar a Aliança Liberal. Como candidatos de oposição a Júlio Prestes, foram escolhidos Getúlio Vargas e João Pessoa, representantes do Rio Grande do Sul e da Paraíba. Anistia. Voto secreto.
Voto feminino, jornada de oito horas, foram bandeiras que mobilizaram multidões em torno dos candidatos de oposição. A aliança liberal incluía desde conservadores, como o presidente de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, até os tenentes, tidos como radicais pelos próprios aliancistas. Antônio Carlos se notabilizou por ter dito Façamos a revolução antes que o povo a faça. Todos queriam o poder, mas tinham o horror do povo. Os tenentes viam a questão operar da pior maneira possível.
Nas palavras deles próprios, eu estou pensando no Juarez Tavra, por exemplo, da ameaça do populacho, o perigo de bolchevização das reivindicações, eles tinham horror à classe operária. Para a maioria dos tenentes, eu arriscaria dizer quase, para a totalidade dos tenentes, o movimento operário era alguma coisa demoníaca e que deveria ser evitada e controlada. Os industriais paulistas não tinham dúvidas sobre quem deveriam apoiar.
O Centro das Indústrias de São Paulo lança manifesto apoiando o candidato do governo. Para os industriais, a vitória de Júlio Prestes seria a garantia da execução integral do programa financeiro do governo de Washington Luiz. Candidato do governo, apoiado pelos industriais, Júlio Prestes também foi capaz de imobilizar multidões.
Na campanha, além de grandes recursos financeiros, contou ainda com outro trunfo, o rádio. Sua candidatura modernizou a... campanhas políticas no Brasil, fazendo do rádio um eficaz veículo de propaganda.
Até um jingle, Júlio Prestes, esteve de graça. A marcha Seu Julinho Vem, gravada por Francisco Alves para o Carnaval de 1930. E seu Julinho veio mesmo. Em março de 1930, depois de uma campanha com comícios agitados e atos de violência, o candidato do governo derrotou a chapa Getúlio Vargas João Pessoa.
A eleição se realizou num domingo de carnaval. A primeira reação da oposição foi reconhecer a vitória de Júlio Prestes, apesar das suspeitas de que a fraude eleitoral fora generalizada. Alguns se limitaram a contestar os resultados, outros se lançaram na conspiração revolucionária. Os setores mais jovens da Aliança, gente como Oswaldo Aranha no Rio Grande do Sul, por exemplo, tinham uma perspectiva de alteração brusca do sistema que os velhos oligarcas tradicionais, como Borges de Medeiros e outros que estavam na Aliança, certamente não tinham. E o curioso é notar que um homem relativamente jovem, como Getúlio Vargas, que acabou sendo a figura de proa do movimento de 30, era um dos que mais hesitava na perspectiva de uma ruptura.
Os tenentes, por sua vez, contavam com a liderança de Luiz Carlos Prestes. Mas Prestes, refugiado em Buenos Aires, já estava em outra e lança um manifesto contra a Revolução. Esse manifesto, antes de eu lançar, eu chamei os tenentes a Buenos Aires para informar a eles.
Então veio João Alberto, veio Siqueira Campos, veio Djalma Dutra, Miguel Costa, o Isidoro e outros estiveram lá. E eu li, olha, eu vou publicar esse manifesto, porque já estou farto desses entendimentos com Getúlio, ele não quer saber de nada, ele está enganando a todos nós. Além disso, ele não vai fazer revolução alguma. O que ele quer é substituir a oligarquia paulista, que está em decadência com o preço do café que foi lá para baixo, pela oligarquia gaúcha.
No Brasil, a conspiração é a mesma coisa. vai perdendo o gás. Enquanto o presidente eleito, Júlio Prestes, visita os Estados Unidos, retribuindo a visita que o presidente Hoover fizera a Washington Luiz em 1928. Chega a vez de Getúlio Vargas lançar um manifesto. Ele critica o processo eleitoral, mas propõe a aceitação do resultado e pede calma aos ânimos mais exaltados. Recebido com todas as honras de chefe de Estado, Júlio Prestes ficou ao todo nove dias nos Estados Unidos, visitando Washington e Nova York.
Nessa época, o Brasil já pertencia mais à esfera de influência norte-americana do que à inglesa, embora a dívida externa ainda fosse calculada em libras. Mas além da importação de matérias-primas brasileiras e financiamentos, os americanos já eram os principais investidores externos no Brasil. E quando, no Brasil, tudo dava a entender que o ímpeto revolucionário estava perdido e a conspiração suspensa, um tiro mudou o rumo da história. João Pessoa, sou João Dantas.
João Pessoa, candidato derrotado à vice-presidência na chapa de Getúlio Vargas, é assassinado. Por trás do crime, Richard Dantas é assassinado. e divergências ligadas à política local, sem vinculação com o projeto revolucionário.
João Pessoa era contrário à revolução. Ele tinha sido, no decurso de sua vida, um dos promotores da justiça militar. E como assassinato, ele passou a ser o líder da própria revolução que ele condenava.
Porque ele chegou a dizer a Batista Lusardo, num certo momento, que ele preferia 10 jureprestes a uma revolução. O assassinato de João Pessoa foi o pretexto que faltava para reagrupar todas as facções da oposição e reiniciar a conspiração. A Revolução de 30, ela abre para a construção de um período autoritário.
A Revolução de 30 é uma contribuição notável para o autoritarismo político no Brasil. No revolucionário ano de 1930, o Brasil recebeu a visita do Zé Pelim. A gaúcha Yolanda Pereira ganhou o concurso de Miss Universo.
A seleção brasileira perdeu a primeira Copa do Mundo e Mário Peixoto lançou o filme Limite, uma obra para lá de moderno. Após o assassinato de João Pessoa, em julho de 1930, os contatos são retomados com o Estado Maior Revolucionário e uma primeira data, 25 de agosto, é marcada e depois cancelada por falta de informação. de preparo. Falava-se tanto de revolução em 30 que já ninguém mais acreditava que ela iria acontecer. Mas dessa vez, as lideranças mais jovens da aliança liberal e os tenentes conseguem convencer os indecisos que chegará a hora de colocar a tropa na rua e a data definitiva do levante é marcada.
Tudo começou ao cair da tarde do dia 3 de outubro, com a prisão do comandante da 3ª Região Militar de Porto Alegre. Em dois dias, o Rio Grande do Sul estava nas mãos dos rebeldes. A resistência em Minas não durou mais de cinco dias. E em Pernambuco, o governador fugira do Estado quando os soldados ocuparam o Recife. Uma semana depois de iniciado o levante, o Estado maior civil e militar do movimento é recebido em festa no Paraná, onde o Exército já havia deposto o Presidente do Estado.
Depois de passar por Curitiba, Getúlio Vargas estabelece o seu quartel-general em Ponta Grossa, no norte do Paraná, assumindo o comando das tropas que se preparavam para enfrentar as forças legalistas. No Rio de Janeiro, o Getúlio Vargas, que foi o primeiro a ser o presidente, O presidente Washington Luiz ainda acredita na possibilidade de dominar a situação. As tropas do governo concentram-se em torno da cidade de Tararé, no sul do estado de São Paulo, à espera do que seria o maior confronto armado da América do Sul.
Com as principais regiões do país já controladas pelas tropas rebeldes, um novo fator desequilibra a balança do poder. Existe um desencontro entre forças econômicas de São Paulo e mesmo forças políticas de São Paulo. e Washington Luiz, assim como o futuro presidente Júlio Prestes.
Isso deriva da crise internacional, dos problemas do café, das respostas que o governo está encontrando para esse problema. Então, dentro... deste quadro de perda de sustentação dentro de São Paulo e de crescente avanço dessas forças, das forças rebeldes, surge a intervenção da chamada Junta Pacificadora no Rio de Janeiro, que acaba por anular as últimas chances do governo Washington Luiz. Na hora H, não houve nada em Itararé.
O maior confronto armado da América do Sul simplesmente não aconteceu. Na madrugada de 23 de outubro, tropas do exército ocupam a capital federal. O presidente Washington Lewis é intimado a renunciar pela junta militar, formada por dois generais e um almirante. Washington Lewis teima em não reconhecer a evidência dos fatos e acaba sendo levado preso para o forte de Copacabana.
O avanço das tropas revolucionárias em direção ao rio prossegue até que a junta militar concorda em reconhecer Getúlio como chefe de um governo provisório. A revolução vencera. A república velha chegar ao fim.
Tão logo se espalhou notícia, o povo sai às ruas para comemorar. Jornais governistas são empastelados e os paulistanos invadem uma delegacia onde os presos costumavam ser torturados. Por onde passa, Júlio Prestes é vaiado pela multidão.
Cercado pelas tropas revolucionárias no consulado da Inglaterra, onde estava refugiado, o ex-futuro presidente Júlio Prestes partiria para o exílio. É em clima de festa que São Paulo recebe de volta os tenentes derrotados em 1924. Eles que já eram heróis, agora são também vencedores. Não é menos calorosa a recepção que os cariocas dão a Juarez Távora, Oswaldo Aranha, Lindolfo Collor e outros líderes da Revolução. Segundo a crônica da época, quando eles chegaram à capital, o rio se transformou em um rio. se formou num mar de fardas e lenços vermelhos.
Getúlio Vargas, em menos de 30 dias, partira à paisana de Porto Alegre, vestir a farda para comandar as tropas revolucionárias e, já de volta aos trajes civis, tomar a posse como chefe do governo provisório. O governo de Getúlio não seria tão provisório. Só em 1945, os militares o forçaram a renunciar. Toda a batalha ideológica de 30, né, foi a batalha... do país único, do país uno, sob a bandeira de um Estado com maior força, em oposição àquilo que Juarez Távora, por exemplo, chamava de os 20 Estados que eram como...
20 feudos de um país descentralizado, etc. A República Nova já nasceu marcada pela cisão. As primeiras feridas foram abertas na hora de formar o Ministério e escolher os interventores estaduais.
De um lado estavam os tenentes, de outro a nova geração de oligarcas que chegava ao poder. Cada vez mais forte, o governo irá patrocinar modificações significativas no plano econômico e social. O Brasil terá mais indústrias, os trabalhadores mais direitos sociais, mas os sindicatos serão tutelados pelo Estado. Então, em vez do povo chegar à vida política no Brasil por iniciativa própria, ele chegou tutelado pelos organismos governamentais.
Mas, apesar de tudo, para um país que não tinha participação política de massa... foi uma transformação. Pela primeira vez, o discurso do poder incorpora a classe operária, os chamados humildes na terminologia de Getúlio, e mais do que isso, há uma política trabalhista em cima. instaurada. Apesar de suas propostas modernizantes, o novo regime foi ficando parecido com o regime anterior.
As oligarquias recuperam seu poder, menos em alguns estados, como São Paulo, que vai à guerra civil em 1932. Os tenentes, por sua vez, perdem influência. Os que não são disciplinados acabam seduzidos pelo Estado. Um Estado que distribui favores em troca de subordinação.
1920 é a modernidade do controle do Estado, é a modernidade... da democracia é a modernidade da cidadania. A modernidade do nosso CIS-30 é a modernidade do autoritarismo, é a modernidade da manipulação e a modernidade da ilusão.
Nós podemos escolher com qual modernidade nós queremos ficar. O Zé Pelim foi um dos símbolos da modernidade. Ele veio ao Brasil pela primeira vez em 1930 e voltou várias vezes até 1937. Foram anos em que o país ficou mais nacionalista, no pior sentido que as ditaduras costumam dar a palavra nacionalismo.
Implantada em 1937, a ditadura do Estado Novo será vista pelos seus mentores como a conclusão racionalista. da Revolução de 30, como o último ato de um processo que para muitos até hoje não terminou.