Olá, boa noite. Já iniciamos a transmissão. Boa tarde a todos e todas. Meu nome é Ronaldo Rodrigues, eu sou coordenador de marketing aqui da Contexto.
Tenho o prazer de fazer a abertura da live de hoje. Vamos conversar sobre a independência do Brasil e a proximidade do evento de bicentenário. no dia 7 de setembro. O nosso encontro de hoje marca também o lançamento do livro Várias Faces da Independência do Brasil, organizado pelos dois historiadores que vamos receber. São eles, Bruno Leal, que é professor da UNB...
doutor pela UFRJ e editor do Portal Café História, e José Hinaldo Chaves, também professor da UNP, mas focado em História do Brasil Colonial, e doutor pela Universidade Federal Fluminense, AUF. Antes de dar a palavra para os participantes, dois avisos. Nos comentários da live divulgaremos um cupom de desconto de 30% para compra do livro no site da Contexto, e também... vamos botar link para quem quiser se inscrever na nossa newsletter, a gente está sempre enviando conteúdo exclusivo por lá, avisos sobre lives e também divulgações diversas dos nossos lançamentos e eventos.
Agradeço a participação de todos, um ótimo live para vocês e professor Bruno, vou deixar a palavra para o senhor, muito obrigado, boa tarde. Super obrigado, Ronaldo, pelas apresentações. Olá, olá, pessoal.
Boa noite a todos e todas. Nós começamos agora a live de lançamento do livro Várias Faces da Independência, publicado recentemente pela Editora Contexto, esse livro bonito aí que o professor Reinaldo está exibindo. Essa transmissão, eu lembro, ela está sendo feita conjuntamente pelo perfil do Café História e pelo perfil... da Editora Contexto no YouTube. Meu nome é Bruno Leal, eu sou um dos organizadores desse livro e o meu amigo José Hinaldo Chaves, que está aqui com a gente, é o outro organizador.
Boa noite, Hinaldo. Tudo bem contigo, cara? Oi, Bruno. Boa noite.
Boa noite a todos e todas que nos acompanham nessa live de lançamento. Estava mostrando aqui, muito orgulhoso, várias faces da independência. do Brasil, organizado por nós dois, mas com uma colaboração muito generosa de muita gente competente, bacana.
Foi muito legal esse trabalho. Sejam todos bem-vindos e bem-vindas. Como dizem os meus alunos, sextou, né? Sextou.
Com o lançamento da Contexto. A gente encerra essa semana, então, com um debate sobre... o processo político, cultural, as ideias que gravitavam em torno da dependência, né? E vamos falar um pouquinho sobre o bicentenário, sobre o que a gente espera, responder as perguntas também dos nossos colegas que já estão aqui no chat. Enfim, estou bastante animado para a gente começar esse papo.
E o bicentenário, lembrando que ele ocorre no mês que vem, mas que já desde o início do ano, pelo menos... É um evento que vem mobilizando autoridades, historiadores e grupos da sociedade civil. E aí eu e você, Reinaldo, vamos conversar sobre esse evento, que é um evento super importante da história do nosso país. Mas é isso, eu queria deixar muito claro desde já que a gente conta com a participação de todos que estão nos vendo agora para fazer perguntas, comentários. Basta colocar aqui no chat do YouTube que a gente vai pegar a sua pergunta.
e a gente vai colocar aqui na tela. Aliás, eu já queria dar aqui boa noite para o Daniel, para o Bruno Souza, para o professor Vitor Marcelo Vieira, Paulo Paru, que é o grande Paulo, abraço, meu camarada sempre presente, sempre prestigiando, um prazer contar com você aqui também, o Fabián, o Rafael, e aí, Rafael, tudo bem? Hugo Nascimento, Daniel Pins, só gente bacana aqui acompanhando a nossa... conversa. Falar um pouquinho sobre o livro, várias fases da independência do Brasil, ele tem uma introdução e oito capítulos escritos por oito historiadores e historiadoras que são absolutamente referências no assunto.
Eu estou falando aqui de Andréia Zulemian, da Unifesp, Luiz Carlos Vilalta, da UFMG. Hélio Frantini, do Ministério das Relações Exteriores, Keila Grimberg, da Unirio, Vânia Moreira, da Federal Rural do Rio de Janeiro, a nossa colega aqui da UNB, professora Neuma Brilhante, Janaína Martins Ribeiro, da UF, e o próprio José Hinaldo é um dos autores também desse livro. E, Hinaldo, por falar em você, vou começar te provocando, pode ser? Vamos lá.
Vamos lá, então. Rinaldo, os nossos vizinhos sul-americanos... Eles conquistaram a sua independência, se tornaram uma república e se mantiveram mais ou menos afastados da sua antiga metrópole, no caso a Espanha. O Brasil, por outro lado, ele ainda continuou, mesmo depois da independência, ainda muito atrelado a Portugal e manteve um regime monarquista de governo. Por que você acha que isso aconteceu?
Como é que você consegue explicar isso pra gente? O difícil é explicar essa história toda sem dar spoiler do livro, mas eu vou tentar, porque tem muita coisa realmente dentro desse cenário de independências das Américas, há muita coisa que de fato faz com que o processo de independência do Brasil seja um processo de independência bastante singular, bastante singular do ponto de vista... das experiências históricas, das metodologias políticas que foram adotadas ao longo do processo. Mas, ao mesmo tempo, embora seja singular a independência do Brasil, pelas escolhas que foram feitas, a manutenção de um regime monárquico, enquanto vizinhos latino-americanos escolhiam o regime republicano, embora essa singularidade... É preciso também considerar, eu penso, Bruno, que a independência do Brasil ela terminou por se constituir como um evento posterior à independência de muitos lugares da América Hispânica.
É um evento ali já dos anos 1820, já no início da segunda década do século XX e acabou meio que se alimentando de todo esse contexto. de revoluções e de independências que aconteciam em outras partes do mundo. Então, de certo modo, eu penso, e claro, essa leitura não é propriamente minha, eu estou aqui me valendo das leituras de outros colegas, inclusive de um colega que está lançando um livro sobre a independência, aqui pela editora Contexto também, que faz, eu acho, uma casadinha excelente com o nosso Várias Faces da Independência, que é o professor...
João Paulo Garrido Pimenta, a independência do Brasil terminou que ela foi constituída dentro de um cenário em que outras independências no mundo já vinham acontecendo, em que antigas colônias vinham se tornando países independentes. Então, é como se o caso brasileiro tivesse se aproveitado. desse know-how sobre o que fazer e o que não fazer em um processo de independência, ou em processos de independência, ou, melhor dizendo, como fazer uma independência que atendesse a determinados interesses e a determinados objetivos.
Além disso, eu acho que a independência do Brasil, ela também, dentro desse espectro de singularidade que ela tem, ela... também é afetada por processos históricos, por dinâmicas históricas do Império Português que não aconteceram no mundo hispânico. Por exemplo, em 1808, a vinda da corte dos Bragança para o Rio de Janeiro e a transferência do aparelho metropolitano português para o Rio de Janeiro, isso foi uma... primeiro um acontecimento extremamente inusual para a época. E, além da inusualidade, ele também foi um acontecimento com grande impacto sobre esse Brasil do pós-1888, ou essa América portuguesa do pós-1888.
Então, eu acho que a independência do Brasil, de fato, ao passo que é singular, ela também combina... esses diferentes aspectos internos do Império Português no início do século XIX e também essa capacidade de observar o que vinha acontecendo no mundo. Inclusive eu tenho até, de certo modo, revisto leituras que eu tinha há um tempo atrás sobre um suposto ilhamento ou isolamento desse mundo luso-brasileiro, sabe? Ali no século XVIII e no século XIX. Eu acho que, à luz do que tenho lido, de trabalhos magníficos, esse eu acho que é um ponto alto desse livro que a gente organiza juntos, Bruno.
É que é um livro que, de fato, estabelece um diálogo com a historiografia contemporânea sobre a independência, um diálogo muito profícuo. A gente chama os nossos colegas para uma interação, a partir dos artigos que são aqui expostos, ao mesmo tempo que fazemos essa conexão com o público mais amplo. Então, pensando nisso tudo, eu acho que essa América portuguesa do início do século XIX, às vésperas da independência, Ela fazia parte de um contexto mais amplo de transformações no mundo, de mudanças, de revoluções, de processos de independência, e ela não estava ilhada, ela não era um espaço isolado, pelo contrário, estava ali conectado com o que estava acontecendo no mundo hispano-americano, o que estava acontecendo na Europa, mesmo na América do Norte, na América Central, acontecimentos muito emblemáticos. do fim do século XVIII vão fazer parte desse caudal, desse cenário, desse contexto histórico da independência, como, por exemplo, a Revolução Americana, a independência das antigas 13 colônias, a Revolução do Haiti.
Tudo isso vai compor ali esse grande contexto histórico do qual o Atlântico... provavelmente, se não global, do qual o Brasil e a América Portuguesa estavam inseridos de maneira muito curiosa por ser a maior colônia da América, como se dizia à época, a principal joia da coroa portuguesa. A principal joia da coroa portuguesa. E aproveito, Bruno, também para cumprimentar todos os colegas que estão acompanhando, os amigos. Sejam todos muito bem-vindos a esse lançamento.
É isso aí. E eu vou fazer uma tréplica para você, mas antes disso, eu queria dar uma boa notícia aqui para quem está nos escutando. A gente tem um cupom de desconto para ser utilizado na compra do livro, do nosso livro Várias Faces da Independência do Brasil. E é um cupom de desconto de 30%, então é muito bacana. E para você utilizar, você tem que acessar o site da Editora Contexto e fazer a compra utilizando esse cupom, tá bom?
O cupom é VARIASFACES30. Tudo junto, o VARIAS tem o V maiúsculo e o FACES tem o F maiúsculo. VARIASFACES30. Então, é só jogar esse cupom que vocês vão conseguir 30%.
Voltando ao nosso papo, Hinaldo. Você utilizou uma palavra que eu acho que é muito interessante, muito substantiva, que é a excepcionalidade. Essa ideia da excepcionalidade do Brasil no seu imediato independência, do seu modelo de governo, do seu regime político.
E isso me lembrou o caso norte-americano. As 13 colônias sempre nutriram muito essa ideia de uma excepcionalidade. E essa excepcionalidade, ela foi ainda mais marcada quando as 13 colônias se tornaram independentes e formaram, então, os Estados Unidos.
E o que seria essa excepcionalidade? Olha, aqui nós gozamos de uma ampla liberdade religiosa, os nossos estados mantêm uma grande autonomia política, não temos um Estado centralizado, um governo federal forte, temos um amplo... território com diversas riquezas naturais, um povo afável, meritocracia.
Então, os americanos criaram esse imaginário de excepcionalidade. E aí, eu não tenho certeza, você conhece muito mais o Brasil do século XIX do que eu, eu trabalho mais com a questão da memória, dos usos políticos do passado, mas eu não me lembro, na literatura especializada, de ver... essa ideia de excepcionalidade do Brasil ser trabalhada no século XIX. O que eu tenho visto até então é que essa ideia de excepcionalidade é trabalhada muito a posteriori, no século XX principalmente.
O que você acha? Você concorda? Olha, eu acho que talvez essa singularidade, essa excepcionalidade do Brasil no contexto da independência, ela tem uma relação objetiva com aquilo que vinha acontecendo aqui no espaço. Luso-brasileiro nesse espaço português do ultramar.
Quer dizer, desde pelo menos o século XVIII, e isso não é propriamente uma singularidade, o mundo luso-brasileiro, o mundo americano português vinha ultrapassando por uma série de reformas. Vinha passando um cenário de reformas, de reformas governativas, de reformas... das próprias culturas políticas aqui, a emergência de uma nova maneira de governar possessões ultramarinas, de governar colônias. Ao mesmo tempo, já mais para o fim do século, há uma verdadeira intenção e, de certo modo, isso se transforma em um projeto, especialmente durante o reinado de Dona Maria I e durante a atuação do secretário de Estado, uma espécie de ministro, o Conde de Linhares, o Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, em se aproximar das elites locais.
Essa aproximação vai ser melhor sucedida em alguns lugares, vai ter menos sucesso em outros, mas eu tenho a impressão que no palco das reformas ilustradas, dessas reformas ali... que o Império Português vivenciou no final do século XVIII, é possível perceber a intenção da coroa portuguesa, ou pelo menos de parte dela, de parte do establishment político da coroa portuguesa, de superar uma dicotomia econômica, político-institucional entre a sua metrópole, Lisboa, e as partes ultramarinas. Havia, inclusive, quem defendesse, era o caso, por exemplo, de Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, que as possessões ultramarinas, as colônias, deveriam ter o mesmo status político que a metrópole, que as províncias do reino.
Pois bem, isso cria um conjunto de lealdades, de afinidades. Isso não significa que todo mundo na metrópole estivesse de acordo com essa equidade, com esse ambiente político-institucional que aproximava perigosamente a metrópole de suas colônias ou as províncias do reino das capitanias do mundo ultramarino, da América. Mas havia quem defendesse isso ao menos de um ponto de vista político-institucional.
Do ponto de vista econômico, aí você tem... Outras leituras possíveis, tinha gente que falava, por exemplo, na especialização agroexportadora, agrária da América Portuguesa. A América Portuguesa, nesse contexto, deveria manter como lugar do monocultivo agroexportador e etc.
Mas do ponto de vista institucional e político, há... já ali no fim do século XVIII uma amarração pelo menos como possibilidade para um eventual rompimento da condição colonial do Brasil, a menos de um ponto de vista institucional. Isso vai se consolidar cerca de 15, 20 anos depois com a elevação do Brasil à condição de Reino Unido em 1815. Então, essa elevação Ela, na verdade, a meu ver, não foi um ato.
A elevação do Brasil à condição de Reino Unido, quando efetivamente o Brasil deixa de ser, ao menos de um ponto de vista político, uma colônia como era até então, não vai ser uma ação acidental, não vai ser um ato acidental. Vai ser o resultado, a meu ver, de um processo histórico que data ali, pelo menos do fim do século... do fim do século XVIII.
E, no contexto das cortes, a partir da chamada Revolução do Porto e dos constitucionalismos luso-brasileiros, isso vai vir em 1820 com a própria elevação das antigas capitanias da América Portuguesa à condição de... de províncias, províncias equiparadas às províncias do reino. No reino, isso, nesse contexto, dá muito debate, dá muita divergência.
Deputados, por exemplo, no contexto da Revolução do Porto e da convocatória para as Cortes Lisboetas, já em 1820, muitos deputados lisboetas vão achar isso um verdadeiro despaltério e vão questionar... essa equiparação político-institucional das agora províncias do Reino do Brasil, unido a Portugal e ao Gávez desde 1815. Por que eu estou te dizendo isso? Porque eu tenho a impressão que, desde o fim do século XVIII, no contexto desse reformismo ilustrado, avançando para o cenário da chegada da corte em 1808, quando...
uma máquina político-administrativa é instalada no Rio de Janeiro e isso agrada as elites do Centro-Sul, isso agrada as elites senhoriais de capitanias consolidadas, estabelecidas economicamente, muito significativas do ponto de vista geopolítico para o Império, como era a capitania do Rio de Janeiro, a própria cidade do Rio de Janeiro, sede do Brasil naquele momento, como era a capitania do Rio de Janeiro, capitania de Minas Gerais, a famosa capitania de Minas Gerais, que vivia ali desde o fim do século 18 um processo de diversificação agrícola, de mudança do seu próprio perfil agrário, que deixava de ser concentrado apenas na mineração e passava também a se tornar importante no abastecimento interno, nas rotas econômicas e agrárias desse Brasil central. Todo esse cenário gera um clima de expectativa, de expectativa perante as elites coloniais, que não se viam mais propriamente como elites coloniais desde pelo menos 1808. Essa expectativa, no contexto da convocatória das cortes lisboetas, depois vai virar um grande balde d'água, de certo modo. E aí, talvez o processo de independência passe e o separatismo... passe a fazer parte das linguagens políticas dessas elites senhoriais da América portuguesa.
Mas, até então, não estou dizendo apenas isso, que havia um clima de conformismo e de conformidade com a coroa portuguesa e com a colonização. A coisa não era tão simples assim. Mas havia muita gente interessada na manutenção das relações com Portugal. E eu acho que talvez a singularidade do Brasil nesse sentido e da escolha feita em 1822, ela parte um pouco desse cenário, sabe?
De acomodação de forças a partir especialmente de 1808. 1808 cria um clima... propício para acomodação de necessidades, de projetos econômicos, políticos, institucionais, que eram caros às elites senhoriais, às elites especialmente do Centro-Sul. Mas não apenas, não apenas. Mesmo elites mais, via de regra, taxadas como separatistas, atletistas, federalistas, como as elites senhoriais pernambucanas, elas próprias, pernambucanas e das antigas capitanias do norte, elas próprias tinham muito o que refletir sobre esse cenário no qual se pisava em ovos. O que eu quero dizer é que a ruptura com Portugal não foi um caminho que...
imaginado, pensado de maneira intempestiva por todo mundo que vivia nesse espaço. Havia lealdades, havia afinidades, havia proximidades de interesses que uniam as duas pontas desse Atlântico português. Que uniam.
Então, a divergência existia também, mas ela vai ser objeto de negociações. E quando a gente... desnegociação não necessariamente está falando de um papinho no café. Essas negociações puderam e em algumas ocasiões ocasionaram verdadeiros confrontos bélicos.
Verdadeiros acontecimentos militares, processos de acirramento político, de acirramento militar mesmo, e se chegou às vias de fato e às guerras em vários desses locais. Não sei se lhe respondi. Então, pensando a coisa...
Claro, no século XIX, Bruno e meus interlocutores, nossos colegas aqui... e amigos que estão conosco nessa live, no século XIX, eu acho que o Brasil vai constituir, sim, a sua ideia, a sua própria ideia de singularidade como invenção da nação. A sua própria... Em outro sentido, num sentido mais memorial e voltado para a invenção de uma nacionalidade, de uma nação e de uma nacionalidade que não existia na América portuguesa, que não existia... mesmo ali no contexto do 1822. Para isso, vai-se fazer o uso de um conjunto vasto de culturas históricas que circulavam nesse Brasil oitocentista, nesse Brasil independente, que era um Estado, mas que ainda não era uma nação.
As elites intelectuais, as elites políticas, as elites jurídicas do país vão... fazer uso de uma série de instrumentos ligados, tem muita gente que trabalha com isso, me vem aqui a cabeça, pelo menos, se eu for citar, é capaz de eu ser injusto, mas me vem aqui, pelo menos, obras magníficas, extraordinárias, como o trabalho do professor José Augusto Pádua sobre as relações entre natureza e nação, quer dizer, as singularidades estadunidenses, tinham outras bases. As nossas vinculavam-se a um indianismo, como diz uma das nossas autoras, a professora Vânia, minha amiga, muito querida, que fala como as elites intelectuais do século XIX se apropriam, e políticas também, e jurídicas, se apropriam de uma certa ideia de índio e de indígena para dizer o que nós somos. Nesse momento, Mas esse é um momento posterior a 1922. Nesse momento, singularizar-se, afastar-se de uma identidade portuguesa torna-se algo importante, algo fundamental à invenção daquilo que nós somos. Mas, antes de 1922, esse assunto não era propriamente um assunto da ordem do guia, embora houvesse, sim, conflitos antilusitanos, especialmente ali, no contexto das cortes e dos constitucionalismos luso-brasileiros entre 1820 e 1822, já pipoca em vários lugares.
Pipoca, não é coisa... Sim. E você colocou essa questão da...
A gente está falando de singularidade, da excepcionalidade desse Brasil recém-formado no século XIX. E esse Brasil a gente vai ter, então, um Estado nacional. que vai estar se formando, que vai estar formando as suas instituições. A professora Neuma Brilhante, que está com a gente aqui, que é uma das autoras, o capítulo dela vai falar um pouco disso, de como que a gente vai preservar determinadas instituições portuguesas, mas que a gente vai também dar alguma originalidade na construção desse Estado.
Mas o interessante é que você tem um Estado, mas você não tem ainda a nação. O sentido do que é ser brasileiro... Isso vai demorar mais tempo para ser formado. E isso vai ao encontro do que você chama dessa cultura histórica, que vai circular socialmente nesse Brasil do século XIX. Isso vai se dar para o exterior.
Então, assim, eu acho que tem um ano que é chave, que é 1838, quando é fundado o IHGB. Para quem não é do histórico, é o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Então, a definição...
das fronteiras físicas do Brasil, pensar os rios, as montanhas, os acidentes geográficos, do ponto de vista de uma fronteira palpável, material, e um outro tipo de fronteira, que é a fronteira do passado, a fronteira simbólica, que é justamente a história. E aí dentro, no âmbito do IHGB, diversos intelectuais, historiadores, vão escrever histórias do Brasil na tentativa de uma produção, de um passado, na produção de um passado nacional, de uma identidade nacional, uma espécie de didática ou pedagogia do que é ser brasileiro. E eu lembro muito bem dos meus estudos de HGB que talvez uma das formas de se pensar a excepcionalidade e a singularidade do Brasil no século XIX, pelo menos aquela que foi encontrada de forma mais rápida, era pensar esse mito do Brasil das três raças. Então isso talvez conferisse, segundo os intelectuais e os historiadores da época, uma excepcionalidade para o Brasil.
Então, era uma época de muitos trabalhos históricos sobre essa ideia, inclusive projetos de concursos de história do Brasil. Então, essa foi uma narrativa muito encorpada durante o século XIX. Mas esse processo de independência é isso. Talvez a gente precise olhar para ele para além de 1822. É um processo...
bastante gradual e que vai envolver ainda instâncias que sequer existiam em 1822, como é o caso justamente do IHGB, que surge em 1838. Exatamente. E eu penso também, Bruno, concordando inteiramente com o que tu colocas, que a gestação desse Estado e posteriormente... Sérgio Buarque, essa frase de Sérgio Buarque é muito famosa, muito conhecida, grande historiador Sérgio Buarque de Holanda.
Ele já dizia, em um estudo de muitos anos atrás, que no Brasil o Estado nasce dissociado da nação. Então, essa é uma leitura já consolidada no âmbito da historiografia, embora em muitos espaços onde a história é discutida e construída também, porque, infelizmente, nós não somos monopolizadores da... da história, não são apenas historiadores e historiadoras que contam a história, e é por isso que ela é tão dinâmica, mas havia um clima de muita expectativa em torno da construção depois da...
dessa nação, dessa identidade. Qual seria a marca? Qual seria o caminho a ser adotado na hora de construir um Estado agora sob o princípio de uma unidade territorial e de uma comunidade política que estava ali, que vivia sobre esse sobre essa unidade. essa pretensa unidade territorial e os desafios eram muitos eram muitos, o Brasil posterior a 1822 em 1822 e posterior a esse ano, era um país permaneceu sendo um país escravista então nós tínhamos uma parcela significativa da população que por aqui vivia que estava no no cativeiro, que vivia no cativeiro, não apenas uma população de origem africana, havia também, a partir de outras modalidades, mas havia a escravidão indígena.
Então você tinha uma questão aí muito sensível em torno dos espaços políticos a serem conferidos a essa população cativa ou serem a ela negados, mas também você tinha uma população de cor gigantesca, não necessariamente cativa, que também caminhava nas fronteiras entre a liberdade e o cativeiro, entre a liberdade e a escravidão, e que vai enxergar a independência e o processo de construção do Estado como também uma oportunidade de aumentar seus ganhos em uma ordem que era tendencialmente hostil a elas. O mesmo a gente pode estender para o caso das populações indígenas. Havia...
ao mesmo tempo que a identidade nacional ao longo do século XIX era sendo construída no sentido de conformar uma certa concepção indígena, desde pelo menos, a professora Vânia explora isso no artigo dela, um artigo sobre a história indígena no processo da independência, desde pelo menos o reinado de Dom João VI, inicialmente príncipe regente, depois Dom João, rei Dom João VI, Ainda durante a permanência da corte no Rio de Janeiro, se travava uma guerra absolutamente genocida contra os povos indígenas. Então, ao contrário do que muita gente pensa, em 1822, tinha povos indígenas no Brasil para tudo quanto era lado. Os indígenas desapareceram nas primeiras décadas, né? Exatamente.
Os indígenas não existiam. A hecatombe demográfica acabou com os indígenas no século XVI. Então não tinha mais indígenas. Se você consulta as atas do parlamento brasileiro, se você consulta os documentos do arquivo histórico ultramarino e tantas outras documentações do período colonial e desse início do século XIX, aparece indígena para tudo quanto é lado.
Inclusive em locais que eram... vinculados à colonização portuguesa há séculos, como era o caso da Paraíba. Tem documentação do Arquivo Histórico Tramarinho falando de indígena o tempo todo, no início do século XIX.
Ainda que as linguagens e as maneiras de definir esses povos indígenas que ali viviam fossem linguagens e modos e metodologias políticas eurocêntricas, etnocêntricas, que diziam que... Ah! Eram povos degenerados, eram mestiços, não eram mais indígenas, mas, curiosamente, as agregações políticas e etnopolíticas indígenas estão ali, estão dentro do processo da independência. Então, eu acho que quando você propõe, Bruno, e essa é uma marca, eu acho, desse livro, essa é uma marca do livro, quando você propõe pensar o processo da independência, Não como uma simples data, não como o grito do Ipiranga apenas, não como uma data do nosso calendário cívico, ou como um evento encerrado em si mesmo.
O 7 de setembro de 1822 não é um evento encerrado em si mesmo. Você está chamando, e o livro faz esse exercício, chamando as questões, os problemas que fizeram parte daquele momento histórico. ler a independência do Brasil apenas de uma perspectiva ufânica, elogiosa do ego nacional, essa é uma leitura insuficiente do processo e que, ao longo do XIX, e para não dizer ao longo de toda a nossa história como país independente, serviu a propósitos muito prejudiciais. Eu penso que propósitos que, apagaram histórias indígenas, por exemplo, como se os indígenas não existissem mais, ou que apagaram histórias da luta de libertos e escravizados durante o processo da independência.
Tem um artigo fabuloso, extraordinário, da professora Keila Grimberg nesse livro, em que ela explora exatamente esse mundo dos escravizados e dos libertos, quer dizer, daquela população de cor que... embora vivesse uma condição jurídica de livres, mas não eram livres como o segmento branco, colonial e senhorial dessa sociedade. Eram livres perodomúntio. E esse capítulo que você citou do nosso livro, da professora Keila Grimberg, da Unirio, ele se chama Escravizados e Libertos. Então...
Eu lembro que logo no início do capítulo, ela tenta desmistificar essa ideia de que os escravizados, os libertos, eles assistiram completamente à independência de forma passiva. Um outro capítulo muito interessante também, que você já acabou citando, é sobre os povos indígenas. Então, a gente tenta situar o nosso leitor a partir de outros grupos, porque... Há muitas narrativas sobre o processo de dependência que, claro, vão centralizar as suas análises em um determinado evento ou em um determinado ano, geralmente em 1822, mas também em uma determinada classe social, geralmente as elites.
E o que a gente está tentando fazer nesse livro aqui é uma expansão, uma expansão de horizontes, olhar para outros espaços geográficos desse Brasil. como é o caso do seu próprio capítulo, intitulado As Províncias do Norte, pensar como essa região norte do Brasil vai pensar e se envolver com esses projetos de independência, outro vai discutir a questão dos conflitos. Então, eu acho que isso passa muito por essa nossa proposta.
Aliás, tem gente perguntando aqui, é o caso do Neyriberto Borges. Ele está dando boa noite e pergunta se existe algum livro. que trate de maneira ampla sobre a guerra de independência.
Isso é tratado no livro que vocês estão lançando? Neriberto, sim. Existe um capítulo, deixa eu botar aqui, que se chama justamente A Guerra de Independência.
É um dos maiores capítulos do nosso livro e o autor dele é um historiador chamado Eli Frantin. Ele trabalha no Departamento das Relações Exteriores aqui no Brasil e ele fez uma... tese de doutorado sobre a guerra de dependência.
Essa tese foi orientada pelo professor Francisco Doratiotto, nosso colega aqui de Departamento de História da Universidade de Brasília, e esse capítulo do Hélio, no Várias Faces da Independência, é uma síntese justamente da guerra de dependência. Então, com certeza, você vai gostar de ler esse capítulo. E o nosso livro é o seguinte, você não precisa começar lendo o primeiro capítulo. depois partir para o segundo, você pode escolher qualquer capítulo e começar o livro por ele. Então, isso também é uma marca da nossa organização aqui.
A Gabriela Oliveira está dando boa noite. Boa noite, Gabriela. José Márcio Guimarães, ele está dando boa noite, ele fala, as revoltas ocorridas no período imperial estão elencadas e as suas motivações?
José Márcio, a gente... falando basicamente desse processo de dependência. Então, a gente não avança tanto no século XIX, porém, existe um capítulo, que é o capítulo da professora Neuma Brilhante, que eu já citei aqui, que se chama Depois da Independência. Então, ela fala sobre determinadas permanências, ela fala de rupturas.
Então, talvez isso te ajude a pensar o próprio Brasil imperial, que está em plena construção. já a partir dessa independência. Deixa eu ver quem mais é aqui. O Wilton Sena também está aqui escutando a gente.
A Vânia, uma das autoras, está aqui. Uma das autoras, exatamente. O Alessandro, a Vânia Borges.
A Cecília, nossa aluna aqui da UNB, Bruno. O Vinícius também é meu aluno. O Lucas Santos. Olha, tem uma outra pergunta aqui. que é da Mayara, e a Mayara fala o seguinte, os desafios de manter essa unidade também aparecem nas várias revoltas que ocorreram durante o período imperial, que demonstram bem os outros projetos existentes em conflito com o projeto vencedor.
Exatamente isso, Mayara. Essa tensão dos projetos para o Brasil, que Brasil queremos, ela não se encerra, essa fatura não é paga em 1822. Exatamente. Bruno, se você me permite uma breve conversa com a Mayara, com a Mayra, não é? Mayra, desculpa.
Mayra, isso. A própria unidade desse território, desse imenso território continental da América Portuguesa, não era um ponto pacífico. A unidade vai ser negociada.
Ela vai ser negociada e, em alguns casos, o capítulo do Hélio explora muito isso, ela vai ser imposta também. Há uma historiografia sólida, pelo menos 30 anos, que vem se dedicando a estudar a construção dessa unidade, dessa unidade territorial, que... vai ser negociado em algumas ocasiões, vai ser imposta em outras com muita violência, mas eu acho que um dos grandes potenciais dessa leitura da unidade como não um destino manifesto da América Portuguesa, que se tornaria Brasil, incorporando o antigo estado do Grão-Pará e Maranhão e resolvendo os problemas fronteiriços com o mundo hispano-americano que havia no período, mas eu acho que a grande... potência dessa interpretação, dessa leitura historiográfica presente e que deve, a meu ver, ser comunicada para o grande público, é que a independência não foi um processo pacífico.
Ela não foi um acordo de gabinete em que meia dúzia de homens brancos ilustrados decidiram o que fazer com todos nós, com todos nós, aqueles que viviam aquele momento. Não foi. embora tivesse gente interessada em fazer com que fosse. Quando eu digo que a unidade não foi o nosso destino manifesto, mas foi o resultado de lutas, de imposições, não quero com isso dizer que estava todo mundo ali brigando com as mesmas armas, lutando uma guerra em termos equitativos e negociando os espaços, não. Houve, tinha muita gente interessada em fazer com que esse processo fosse o mais restritivo do ponto de vista político, do ponto de vista do exercício da cidadania e também do ponto de vista econômico e mesmo cultural, o mais restrito possível.
Então, a invenção aqui da nação, ela é um processo também de conformação desse Brasil. é esperado por diferentes grupos e claro a vitoriosos nesse processo a vitoriosos é que muitas vezes impuseram a sua vitória por meio da força e da violência né eu digo vitoriosos gente que conseguiu ocupar os espaços institucionais intelectuais de produção do saber e que é ao longo do século 19 do século 20 acabaram interferindo, influenciando na imagem que nós temos do Brasil e na imagem da independência. A independência como um acordão das elites, a independência apenas como isso, ou como um processo pacífico, ou como um processo já com um destino dado.
A nação já havia desde a Guerra dos Guararapes. Nós éramos brasileiros ali no coração. no sentimento, desde pelo menos ali no século XVII, quando fomos invadidos pelo herege holandês e coisas do tipo.
Há uma série de narrativas nacionalistas que informam essa ideia de Brasil como uma coisa, como uma entidade ali, meio que paira no ar. É o nosso Obelix, né? Exatamente.
Exatamente. Muito boas as perguntas, muito legais. Muito legal a interação do pessoal.
Muito boa a sua pergunta. A Vânia também está deixando aqui, está parabenizando a gente. Obrigado você, Vânia, por contribuir com esse projeto. Temos a Rebeca Miller, o Luan Lima, que é meu aluno em contemporânea. Tudo bem, Luan?
Maria da Conceição. Está cheio de gente aqui acompanhando a gente. Essa Maria da Conceição aí, ela é minha mãe.
Olha! E a Rebeca me orientando, a Gabriela, enfim, tem muita gente generosa. O pessoal vai se agregando. Espero que vocês gostem do livro.
E, principalmente, Bruno, que as pessoas que não fazem um curso de história ou que não estão inseridas propriamente nesse mundo da universidade, que também se interessem pelo livro. Exatamente. Ele é construído para vocês. Essa é a alma do projeto, né, Reinaldo? A gente pensou um livro que pudesse ser lido, desfrutado, porque não tivesse formação em história, pessoas que não são formadas, mas que têm interesse na história do Brasil.
Principalmente nesse ano, que é um ano de bicentenário, que a gente vê muitos usos políticos do passado. Então, Bruno, Reinaldo, eu quero entender esse momento da história do Brasil. O livro vai corresponder às suas expectativas.
A gente fala sobre eventos políticos, econômicos, culturais, sobre ideias, sobre o que é a Constituição, como é que ela vai ter um impacto aqui nessas elites que vão pensar processos de separação. E, além disso tudo, que é o conteúdo, que é o grande rei desse projeto, o projeto gráfico é um capítulo à parte do livro. Além da capa, vocês podem ver...
que a folha do nosso livro é aquela folha amarela. Então, você vai poder ler, não vai refletir luz, é uma folha pesada, não é aquela que você vai fazer anotações e vai aparecer no verso. Então, assim, o projeto gráfico está muito...
A letra não é pequena e o espaçamento não é simples. O livro é cheio de boxes. Então, assim, olha, a gente está falando sobre a Revolução do Porto, de 1820. Tem um box explicando o que é a Revolução do Porto.
Então, você não vai ficar perdido na leitura desse material. E aproveito o momento também para agradecer a todo mundo da Editora Contexto, principalmente o professor Jaime Pinschke, que foi o grande idealizador, ele pensou nessa ideia, me ligou um dia e falou Bruno, você topa coordenar esse projeto? E eu falei, Jaime...
Convite seu, eu não nego de forma alguma. E aqui estamos, cerca de um ano depois, falando sobre esse livro, sobre essa organização. E, mais uma vez, nós estamos hoje com uma promoção do Várias Faces da Independência do Brasil, 30% de desconto no site da Editora Contexto.
Então, acessa aqui o nosso chat e aí você vai ver lá o cupom promocional e todas as instruções de como utilizá-lo. A gente está chegando já aqui no final do nosso papo, e para encerrar, Reinaldo, eu quero fazer uma brincadeira, mas é muito instrutiva, que eu já fiz em outros lançamentos, inclusive da editora Contexto. A última vez que eu fiz isso foi há cerca de um mês e meio com o lançamento de um livro chamado Revolução Francesa, também lançamento da editora Contexto, do nosso amigo Daniel Carvalho, que é do Departamento de História da UNB.
E é o seguinte, eu coloco... Eu fui ao Google e eu coloquei o seguinte, a independência do Brasil, lá no campo de buscas. E aí a gente sabe que o Google, a partir da sua inteligência artificial e a partir de milhões de pesquisas sobre determinadas palavras-chave, ele já me sugere determinadas pesquisas.
E essas sugestões são baseadas naquilo que o público diz sobre a independência do Brasil. Baseado naquilo que o público pesquisa. sobre a independência do Brasil.
Então, o que eu vou fazer aqui? Eu vou compartilhar na nossa tela alguns desses resultados e aí a gente vai comentando. O que você acha? Vamos lá, vamos ver o que vem por aí.
Vamos lá, deixa eu ver se eu consigo jogar isso aqui na tela. Deixa eu escolher aqui. Pronto.
Consegue ver? Sim, estou vendo. Vamos lá, então. Então, a primeira tela é a seguinte. A independência do Brasil era algo planejado.
Vamos lá, Inálio. O que você acha disso, cara? O grande desafio agora é o seguinte.
Você precisa comentar isso em um minuto. Era algo planejado mesmo? Eu acho que era algo...
Planejado por vários atores diferentes. As pessoas planejavam, tinham expectativas e tinham projetos divergentes sobre que independência era essa. Não havia um plano único sobre a independência.
Havia vários projetos. Agora, se foi algo planejado como um destino único e um projeto rascunhado no gabinete... Vamos fazer assim? Vai ser assim? De fato, acho que a coisa não caminhou bem por esse lado.
Mas, muito provavelmente, havia muitas expectativas e muitos projetos sobre como fazer essa independência e se fazer. E também a questão não era somente de separar. Muita gente nem queria isso. Exatamente. Vamos lá para o segundo.
São cinco telas. A segunda diz assim, a independência do Brasil beneficiou igualmente todas as camadas da sociedade brasileira. Essa daí, se fosse na prova, assinale a alternativa correta, não marque essa. Não marque essa. Não marque essa, porque é claro que um processo desse, a independência, eu tenho pensado muito nisso nos últimos tempos.
a partir das leituras que faço dos trabalhos dos meus colegas. A independência não foi somente um acontecimento político, ela foi um verdadeiro acontecimento social, foi um processo social. A independência era um processo social.
E nenhum processo social na história afeta todo mundo da mesma maneira. Então, a independência, é por isso que ela não pode ser lida com uma perspectiva... excessivamente ufânica, como o nosso desligamento de Portugal.
A coisa não era colocada bem dessa maneira naquele momento. E uma vez feita a independência, quer dizer, uma vez tomada o caminho da separação, os impactos dessa separação atingiram as pessoas que viviam aquele 1822, 1823, 1824, de maneira muito diferente. Indígenas tiveram uma experiência distinta.
da independência, os libertos de cor também, a população livre, os pobres livres. As elites viveram a independência de forma distinta. Então, nem mesmo as elites, que segundo uma visão tradicional da independência, fizeram o processo, nem mesmo elas concordavam sobre que destino tomar. O caso da Revolução de 1824 é muito emblemático, mas também...
A adesão tardia do estado do Grão-Pará e Maranhão, que acontece apenas em 1823, em agosto de 1823, também é um exemplo disso. Então, não. Pode marcar errada na prova.
Então, vamos esperar que quem faça essa pesquisa no Google acabe topando no resultado de pesquisa com o nosso livro. Aí vai acertar a prova. Vai acertar a alternativa, com certeza. Terceira tela, a independência do Brasil foi marcada por permanências e rupturas.
Aí, aí essa pessoa foi na mosca. Vai fazer o professor feliz. Vai, vai, exatamente.
E esse assunto das permanências e das rupturas também é um tema alto dessa coletânea organizada. Pelo menos aí os trabalhos do professor Luiz Carlos Vila Alta, da UFMG... o capítulo de Luiz Carlos Vilalta, magnífico sobre o processo político, que abre o livro, inclusive, e o capítulo da professora Neuma, que fecha o livro. Ambos trabalham com essas categorias, que são categorias muito importantes para a história.
O que fica e o que sai. O que permanece e o que deve ser rompido. Agora, eu faria apenas uma contribuição a essa pesquisa no Google. É... O que significa permanência e o que significa ruptura muda muito de acordo com aquela pessoa que faz a busca e que vive aquele processo. Então, indígenas viveram permanências e rupturas de modo distinto, de modo distinto da população livre, também dos senhores que viviam naquele momento.
Então, é por isso que é um processo social com grande complexidade, de grande envergadura, porque ele afeta as pessoas de modo diferente, como eu disse, e também as permanências e rupturas são experimentadas de modo distinto por esses atores, por esses sujeitos históricos. Em verdade, seja dita, Reinaldo, nem tudo na história, sobretudo a partir de momentos como esse, que são momentos de mudança. mudança, nem tudo é ruptura e permanência.
Porque mesmo quando você pensa na ideia de ruptura, você só pode falar de ruptura a partir de uma comparação com o passado. Isso. Então, a gente deve olhar para a história do Brasil, do século XIX, e pensar, obviamente, rupturas, permanências, mas também você vai ter a criação de projetos, de instituições. conceitos completamente novos, que você não consegue caracterizar nem como ruptura e nem como permanência, mas é algo completamente novo.
Exatamente. Você sabe quem é que explora esse tema? Na minha percepção, na minha leitura privilegiada de organizador, dentro do nosso livro, é o capítulo da professora Andrea Islamiano, que fala do ambiente constitucionalista.
de 1823, de 1824, e como tudo isso é orientado por categorias, por visões de mundo completamente originais, eu digo completamente distintas do que se vivia anteriormente ou até então. Se você pega os documentos da administração portuguesa nesse momento, as cartas dos governadores, de capitania, você vê ali o trabalhar de uma série de conceitos que, para hoje, para os olhos dos homens e mulheres do tempo presente, podem ser conceitos até naturais ou naturalizados, mas que, para a época, representavam grandes inovações na maneira de conceber e de fazer a política. O próprio conceito de constituição, a própria categoria de constituição que se transforma entre 1820 e 1824 numa verdadeira metodologia de ação.
política. Constituição, e por meio dela impor limites ao exercício do poder político do Estado, se transforma numa inovação realmente muito significativa para aquele momento. E todo mundo operava isso de um modo distinto.
Por exemplo, tem um relato no Ceará, no sertão do Ceará, que quando as cortes mandaram jurar a Constituição lisboeta... a Constituição de Cádiz ainda, e depois as bases, o projeto, o anteprojeto de Constituição. Tinha gente lá no sertão do Ceará chamando a Constituição e o projeto de Constituição, as bases, de A Lei do Diabo.
A Lei do Diabo. Então, as pessoas estavam disputando as narrativas desse processo. E, ao mesmo tempo, constituindo práticas políticas e apropriações desse vocabulário revolucionário.
muito originais. Isso. Vamos lá para a penúltima pergunta.
A independência do Brasil atendia aos interesses de qual classe social? A gente já até falou bastante sobre isso, da pluralidade de elites. É difícil a gente citar uma classe.
O próprio conceito de classe é... ainda está em discussão a minha amiga, o meu amigo que fez essa pergunta no Google, eu vou sugerir modestamente algumas problematizações a essa pergunta, eu penso que a questão não é necessariamente em identificar a quem a independência serviu, é claro que ao fim, ao cabo, talvez tinha muita gente e tinha de fato, interessada em instrumentalizar a independência do Brasil, claro. Mas eu penso que a independência é um processo de disputa. Então, não existe aqui necessariamente, ainda, volta ali entre 1820, 1824, 1822, 1824, tudo está em aberto. O caminho está sendo tomado naquele momento.
E é por isso que a independência é um acontecimento disputado, naquele presente. E, curiosamente, Bruno, e se você me permitir fazer um gancho também com o capítulo da professora Janaína Cordeiro, ela continua sendo disputada. O capítulo de Janaína sobre as memórias da independência e os usos políticos do passado é isso.
Demonstra com uma leitura significativa, muito interessante, como a independência segue sendo um passado em disputa, um passado politicamente utilizado. E aí, no caso, ela vai para as comemorações de 1972, no auge da ditadura militar e durante o governo. de Garrastazu Médici, e trabalha tudo aquilo ali como uma história dos usos políticos da independência. Então, lá em 1822, a partir de um outro contexto, com outros sujeitos históricos, a independência também foi objeto de disputa, também foi objeto, pelo menos essa leitura que tem construído. Acompanho o voto do relator.
Vamos para a nossa última tela. A independência do Brasil foi realizada por revolucionários populares. Eu fui para o Ceará agora há pouco e agora vou para Paraíba. Tem algumas cartas da Câmara da cidade da Paraíba. e depois da junta provisória, da junta de governo, especialmente cartas da junta de governo instalada por volta de 1821, se não me engano, na antiga província da Paraíba, em que os supostos revolucionários da junta, o novo governo provisório instalado após a saída do governador...
Imposto pelo rei de Portugal, pelo Dom João VI, esse governador é deposto, ele sai da capitania dentro dos acontecimentos da Revolução do Porto de 1820 e assume uma junta provisória formada por... pela elite local, por membros da elite local. E esses membros tinham uma preocupação muito grande de afastar a pencha de revolucionários. Por quê? Porque lá na Paraíba, tal como em Pernambuco também, em outras províncias do Norte, havia toda uma memória de 1817, da Revolução de 1817, que tinha sido um evento muito marcante nas culturas políticas locais.
E... e uma tentativa de apaziguar os ânimos. Nós queremos constituição, queremos a regeneração da nação portuguesa, queremos participar desse momento de mudanças, de transformações institucionais do Império, mas não somos revolucionários. Isso em 1821, às vésperas da Independência.
Então, as elites ali, sobretudo aquelas elites ligadas a 1817... Estavam recusando essa pencha de revolucionários e também de separatistas, e se apropriando de uma outra leitura desse processo de transformação, e na verdade construindo a sua própria leitura. Nós, a gente está aqui para fazer independência, para fazer separatismo, mas queremos mudanças, queremos transformações, e a Constituição...
que estava sendo negociada, discutida, acordada em Lisboa desde 1820, no contexto da Revolução do Porto, ela era o caminho, poderia ser o caminho. Depois se viu que não era. E aí as frustrações é que põem o Brasil, de certo modo, e essas elites senhoriais em especial, no caminho da separação de Portugal. Pelo menos da parte da... É isso que eu exploro um pouco no meu capítulo sobre as províncias do Norte.
Essa frustração sobre a Constituição que deveria ser e terminou não sendo é o que põe parte das elites das províncias do Norte, das elites senhoriais, no colo do separatismo de Portugal. Enfim. Trocando em miúdos, eu não acho que foi um acontecimento que pode ser lido apenas como obra de revolucionários, muito menos de revolucionários populares. Populares.
Populares. A coisa era muito mais complexa e nem todo mundo queria ser revolucionário. Teve muita gente lá no contexto pós-1817, isso foi muito comum.
Quem explora isso é um livro que eu adoro. da professora Sérioja Mariano, da UFPB. Ela disse que tinha muito revolucionário de ocasião. E teve muita gente que deixou de ser revolucionário. O cara era revolucionário ontem, estava pedindo a cabeça do rei, bem no espírito afrancesado da Revolução Francesa, e no outro dia ele vira um monarquista convicto.
Isso aconteceu também nesse cenário, nesse contexto de 1922 a 1924, pelo menos. Ninguém era tão ideologicamente hermético assim. Estava tudo muito no ar. Todo mundo estava meio que esperando para ver o que acontecia.
E as identificações políticas muitas vezes variavam exatamente por isso. Bom, meu amigo, são... temos quase uma hora e dez já de live.
Poxa! Quando o papo é bom... Passa rápido, né?
Uma raposa, né, o tempo. Impressionante. Então, olha, eu queria agradecer demais a todo mundo que está aí nos assistindo, que participou enviando perguntas, o Tegas, a nossa colega Vânia, o Alessandro, o Leitura Pop do Tiago.
a Maíra, a Cecília, Vinícius, o Lucas, quem mais que está aqui ainda com a gente? A sua mãe, Dona Maria da Conceição. Olha aí! Obrigado. Edna Pereira.
Obrigado, Edna. Depois conta o que você achou do livro. Paulo também, querido Paulo, obrigado. Obrigado, Paulo. Um grande abraço.
Rafael Nascimento, nosso colega aqui também, professor. Rafa, professor aqui em Brasília. básico, então, muita gente querida e é isso, gente esperamos que vocês tenham gostado desse papo muito provavelmente é o primeiro de vários aqui que a gente vai promover, porque afinal de contas, mês que vem já é setembro e foi divertido organizar esse livro nós nos esforçamos ao máximo em contemplar diversas perspectivas sobre o processo de dependência. Então, a gente espera que vocês gostem bastante, que troquem ideias com a gente.
Não precisa terminar aqui esse papo, a gente pode levar ele para outros espaços. E quem quiser assistir tudo de novo, não conseguiu pegar o início da nossa conversa ou o final, lembro que essa live está sendo gravada. Então você vai poder assisti-la na íntegra ou no canal do Café História no YouTube ou no canal da editora Contexto também no YouTube.
E aproveita lá, vai no site da editora Contexto, usa o nosso cupom promocional que você vai ter 30% de desconto. Aproveita o desconto. Aproveita o desconto. Quem é de Brasília, já aproveita também para fazer...
o convite para o dia 19 de agosto, uma sexta-feira, eu e o Hinaldo vamos fazer um lançamento presencial, uma noite de autógrafos, aqui em Brasília, na Asa Norte, na Livraria Circulares. Vai começar às 19h e vai até às 21h. Se você mora em Brasília ou tiver de passagem aqui pela capital, apareça lá, vai ser um super prazer te receber e conversar.
sobre esses temas tão importantes para a história do Brasil. E aí, Naldo, recado final para o pessoal aí? Só agradecer.
Agradecer demais ao Jaime, ao Ronaldo, que organizou essa live, à Editora Contexto, de um modo geral, à Lívia, que está nos auxiliando na organização do lançamento presencial, a toda a parte de diagramação. O livro ficou muito bonito. Eu estava até conversando aqui com o Bruno e com o Ronaldo antes do início da live, contando como a gente se surpreende quando vê o produto final. A gente passa dias e meses diante de um Word, um arquivo.doc, um PDF.
E a mágica acontece. E aí, de repente, aparece uma coisa linda dessa. Então, eu fico muito feliz, muito honrado, Bruno, de ter participado dessa organização junto com você, de ter tido...
O privilégio de ler em primeira mão capítulos produzidos por grandes historiadoras, por grandes historiadores brasileiros, por gente que nós admiramos muito e que aceitou, e isso é que é o mais interessante, gente que aceita. o desafio de escrever para fora da universidade. Nós escrevemos tanta coisa aqui, damos tantas aulas, fazemos tantas coisas no dia a dia, e muitas vezes deixamos de lado esse dever de comunicar com o fora. muros da universidade. Então, esse livro é um exercício nesse sentido e eu agradeço imensamente a todos os meus colegas que aceitaram esse desafio de escrever um livro para...
Como o Bruno me disse quando estava escrevendo meu artigo, aquele livro que a enfermeira que vai aplicar sua vacina contra o Covid, a Covid vai ler e vai entender. Era essa frase que o Bruno dizia. Isso aqui tem que melhorar, cara, porque é... A enfermeira não vai entender, o engenheiro não vai entender, as pessoas que não vivem nesse mundo do conhecimento histórico profissional vão ter alguma dificuldade. E o mais curioso, dentro de toda essa discussão sobre a história pública, Bruno, e sobre a divulgação científica da história, é perceber como o resultado final desse exercício de comunicação com o grande público não significa uma leitura estreita ou simplista de processos históricos.
E, pelo contrário, não é redução, não é um didatismo tosco. Não é. Nós escrevemos numa linguagem...
mais ampla, mais clara, mais direta, e, ao mesmo tempo, fazendo isso com o que há de melhor na historiografia brasileira atual, contemporânea. Então, eu fico muito contente, muito feliz com o resultado de tudo isso e só deixo o meu convite para que vocês leiam, comprem, divulguem a obra e que a obra alcance. esse objetivo dela, que é comunicar histórias da independência para além do grito do Ipiranga e de uma data ali perdida no nosso calendário. Eu tenho uma forte esperança e desejo que a gente alcance esse grande público. Mostrando aí as histórias de escravizados, de libertos, de indígenas, também os processos de constituição dos espaços de cidadania no Brasil, como a política foi e é um território em disputa e é bom que seja assim, porque é assim que nós nos tornamos o que somos.
Bom, era isso. Eu falo demais. Eu falo feito homem da cobra.
Olha, não poderia encerrar essa live de outra maneira. Palavras belíssimas, Hinaldo, é isso mesmo que a gente espera. E a pensar essa história efetivamente pública e uma história que de fato é feita a muitas mãos. Acho que esse é o espírito do livro. É um livro que pensa a partir de múltiplas perspectivas, de um viés progressista, um viés pluralista.
E que ele é feito a muitas mãos, não só no sentido de ser uma organização com muitas autoras e autores, mas é a muitas mãos no sentido de que nós pensamos muito também no nosso público, nas suas demandas, naquilo que esse público quer conhecer. Então, eu acho que isso vai ao encontro também do próprio espírito da editora Contexto. Então, Rinaldo.
Boa noite, bom descanso, até a próxima e um grande abraço para todo mundo. Muito obrigado pela audiência e boa leitura. Tchau, tchau, pessoal.