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Justiça e Racismo no Brasil

Justiça! Justiça! Justiça! Estou buscando justiça pelo Eduardo, espero que vocês leiam e eu vou provar... A luta de uma mãe para provar a inocência do filho. Um menino de apenas 16 anos que foi preso, acusado de um crime que não cometeu. Por ser preso, usar bermuda e pintar o cabelo. Justiça! Justiça! Na delegacia, Eduardo foi reconhecido pelas duas vítimas. Que mediante a cor da pele e o cabelo, sem sombra de dúvida, era um menino. Ele é negro sim, mas não é o criminoso. Ele não é o criminoso. No Profissão Repórter de hoje, as vítimas do racismo... cometido por policiais e agentes de segurança privada. A senhora aqui foi dito que ela roubou. Eles me levaram à força, para a salinha de revista, e lá eles me deixaram sem minua, na frente das minhas filhas e na frente dos funcionários. E por que você acha que fizeram isso com você? Na verdade, isso fizeram comigo simplesmente por falta de minha cor. Porque foi passado de rádio, essa negra que furtou. E como é que você lida com isso tudo tão novinha? Eu tenho força para lutar. Para a gente ter paz. Os bastidores da notícia, os desafios da reportagem, agora do Profissão Repórter. Opa, tudo bom? Tudo bem amigo, a gente tá indo conversar com a Liomésia Entra aí por favor Ah valeu, obrigado Olá Tudo bem? Fique na vontade. E aí, como é que você está hoje? Hoje eu acho que eu estou bem nervosa hoje, eu estou bem apreensiva hoje. Confiando em Deus que há de dar tudo certo, mas hoje eu estou com o coração na boca. Leomésia vai participar da audiência que vai definir se o filho Eduardo, de 16 anos, ganhará a liberdade ou continuará internado na Fundação Casa. O jovem é acusado de ter cometido dois roubos à mão armada, mas diz que é inocente. Agora eu vou entrar no quarto e vou orar, porque eu tenho orado muito, mas como está próximo do horário da audiência, não custa eu orar mais um pouquinho. Eu sei que Deus não se esquece do que a gente pede, do que a gente fala, mas eu tenho que fazer uma oração antes de sair. É rapidinho. Jesus, que ela venha enxergar, meu Pai, a verdade que eu estou vendo. Que a promotora venha ver, Senhor Jesus Cristo, que apenas a verdade que uma mãe anseia por justiça. Senhor, guarda a vida do meu filho, guarda o coração dele. Pronto, vai me chamar. Falta 10 minutinhos. Tomara que dê certo. A audiência pode ser o fim da angústia de Liomézia, que luta há três semanas para provar a inocência do filho. A inocência do meu filho! Eu tenho provas! O Eduardo é inocente! Olá, moço, boa tarde. Deixa eu te pedir informação, sua câmera tem gravação? Aquela lá vai ter pego meu filho saindo do portão. É a câmera que vai salvar. Leomésia tem quatro filhos. Os três agora estão dormindo na cama dela. Dobre as roupas, não deixa bagunça, não. Pode levantar, vai escovar os dentes, hein? Aqui é o quarto dos meus filhos. Tem dois quartos. Esse é o quarto das crianças. É. Aqui, ó, pra você ver. Do menino que eu tô te falando. Não é eu que arrumo, tá? Ah, ele que arruma? Isso aqui é o guarda-roupa. É as coisas do Eduardo. Isso aqui é ela. Olha, bem organizado. É ele. O Eduardo tava perto desse carro. Tem alguma notícia? Nossa primeira entrevista aconteceu quatro dias depois da apreensão de Eduardo. Eduardo é acusado de cometer dois assaltos no dia 15 de janeiro, na zona sul de São Paulo. Os crimes foram a quatro quilômetros de distância um do outro e aconteceram no intervalo de 20 minutos. Segundo o boletim de ocorrência, por volta do meio dia e meia, três criminosos abordaram uma mulher que havia parado... o carro para atender uma ligação. Um deles estava armado. Eles levaram dois anéis de ouro e o celular. da vítima. 20 minutos depois, outro roubo. Três assaltantes pararam o carro de um homem. Armado, um dos criminosos mandou que ele abaixasse o vidro. Eles levaram à aliança da vítima um relógio, um celular, a carteira e o notebook. Às 13 horas e 12 minutos, Eduardo foi preso caminhando sozinho, próximo ao local do segundo assalto. Os policiais militares disseram que o jovem tinha as mesmas características de um dos assaltantes. Negro, alto e mechas loiras no cabelo. Na delegacia, Eduardo foi reconhecido pelas duas vítimas. Ela disse que a primeira vítima e a segunda, que mediante a cor da pele e o cabelo, sem sombra de dúvida, era um menino. Eu tento proteger meus filhos do que é o racismo o máximo. Tanto tento proteger e às vezes até tento enquadrar o padrão dele na sociedade. Não façam tatuagem, não andam de bermuda e chinelo, a blusa tem que ser por dentro da calça. Eu tento enquadrar porque eu queria proteger ele de ser isso. Ele é negro sim, mas não é o criminoso. Ele não é o criminoso. Liomésia começou uma busca por imagens de câmeras de segurança que comprovassem a inocência dele. Eu vou provar que o Eduardo é inocente. Eu quero a inocência do Eduardo. Eu quero o nome do Eduardo limpo. As imagens do portão aqui você também conseguiu? Também tem, a gente tem também. No total aqui acho que deu cinco câmeras, que é essa daqui, ó. Essa aqui mostrou quando ele sai. E aqui a câmera do estacionamento também pegou ele passando. Mostra o Eduardo andando, olha. Ele tá ajeitando o fone de ouvido, de bermuda preta com uma listra branca, um moletom cinza e chinelo. Chinelo. A câmera de segurança do estacionamento... que fica ao lado do prédio de Eduardo, registra a passagem dele às 12 horas e 13 minutos. O primeiro roubo do qual ele é acusado aconteceu 17 minutos depois, às 12h30, a mais de 4 quilômetros de distância. Um absurdo, um absurdo. Nós, cada dia a mais, ficamos indignados. Qualquer cidadão, qualquer indivíduo, qualquer pai de família, precisa se sentir agredido, tanto quanto os familiares, tanto quanto o próprio João. Estou revoltado. José Vicente, uma das principais referências na luta contra o racismo no Brasil, tinha acabado de receber a notícia da morte de João Alberto. Brutalmente espancado e asfixiado por seguranças numa unidade do Carrefour, em Porto Alegre. Foi começar o dia hoje, o dia da consciência negra, com uma notícia tão triste. Aterrador, afastador, destruiu todos nós. Isso daí nos devolveu a compreensão de... e que não tem o que se comemorar. José Vicente é fundador e reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, a primeira e única instituição de ensino superior da América Latina voltada para a inclusão do negro. A morte de João Alberto aconteceu horas antes do lançamento do curso Segurança Sem Preconceito, criado justamente para evitar o racismo e a violência nas abordagens dos agentes de segurança privada. E a bem da verdade, nós já estávamos com esse processo em andamento. Há três meses que nós estávamos preparando esse trabalho. E agora fomos apropelados pelos fatos. E como poderemos saber o caminho? Disse Jesus, eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai se não por mim. É muito triste para quem viveu com ele, assim, morrendo na loja da vida, né, para um homem, né? Cancelaram a vida dele. Para quem é negro, para quem é pobre, ir no supermercado sempre é um motivo de tensão. Eu já tive que intervir sobre outros casos de violência racial dentro de estabelecimentos como esse. Hoje isso veio ao mundo e a gente quer tentar que, a partir dessa tragédia, nós tenhamos também políticas efetivas para transformar essa realidade. São muito ricas em falirem pra te valerem e te comovem perdendo a calma. Nunca mais vou poder ver meu filho. É ruim. É uma sensação que eu não quero que ninguém passe. Eu não tenho inspiração. Zero. Eu não tenho. Eu precisava te matar. O que é isso? A violência tá demais, principalmente com as minhas. Eu tento proteger os filhos do que é o racismo, o máximo. Tanto tento proteger, às vezes até tento enquadrar o padrão dele na sociedade. Não façam tatuagem, não andam de bermuda e chinelo. Liomézia está em busca de imagens de câmeras de segurança que provem que o filho Eduardo, de 16 anos, anos é inocente. O jovem é acusado de dois roubos à mão armada cometidos entre 12h30 e 12h50. Ela conta que o filho tinha saído de casa para comprar uma persiana e que nesse horário estava com a mãe. estava caminhando sozinho em direção à loja. Se por um acaso eu necessitasse de uma gravação da sexta-feira, entre 1h e 1h15 da tarde, necessitaria de ordem judicial? Aquela câmera, ele falou para mim que não pega a calçada. Você acredita nisso? Que aquela câmera não pega essa calçada? Nossa, essa aqui mostraria bem a passagem dele aqui na rua, né? Exatamente. Vocês me perguntam na hora, você foi assaltada? Eu falo, não, meu filho foi acusado de um assalto. Aí ela já muda. Já fala logo, não. Não filma, não... grava, é só de interfone. Eduardo contou à mãe que no meio do caminho parou na casa de um tio, porque tinha começado a chover. Uma das pessoas que estava aqui naquele dia é o Alain. Como é que foi? O que vocês estavam fazendo aqui, Alain? Então, cara, eu trabalho aqui perto, na mesma rua aqui mesmo, só que lá na frente. Então, tem horário de almoço, que é da meia-dia a uma. Então, como eu moro perto, eu venho esquentar a minha amiga, porque eu moro perto. E eu venho esquentar e ele chegou. Ele chegou, eram as meia-dia e meia. falando que ia comprar uma poesia para a mãe dele. Por que você acha que essas duas vítimas desses roubos reconheceram o Eduardo? Por causa do cabelo. No final de ano, a maioria do pessoal pintou o cabelo de amarelo. Deve ter sido isso, né? Vê que o seu está assim também. Exatamente. Até o meu está também. E a gente cortou no mesmo dia. Sério? Exatamente. No mesmo dia a gente fez o corte. Como é que está a família de vocês agora? Não, mas está arrasado, porque ainda tem que pagar advogado, tem que tirar... tirar dinheiro de onde a gente não tem, você entendeu? Para tentar tirar ele de lá, que foi uma coisa que não tem lógica, não tem lógica. Aquela lá vai ter pego meu filho saindo do portão. Ela pegou meu filho entrando, que ela pega, é a câmera que vai salvar. Essa é a mais importante para você? É a mais importante. Eu vou tocar aqui. Eu estou tentando falar com a sua diretora já tem dois dias hoje. Eu estou precisando da câmera de segurança de trás para ela poder me ajudar a tirar meu filho da cadeia. Meu filho foi preso por um crime que ele não cometeu. E se a gente consegue provar que ele estava aqui, vai ter como tirar o processo dele. Ele não vai responder por uma coisa que ele não fez. Três dias depois, Miomésia recebe as imagens. Olha ele aqui. Deixa eu voltar. Olha, um rapaz... Ele tá aqui nesse cantinho? Isso, olha ele lá. Tá vendo? Ele aqui? Isso, ele aqui atrás. É isso mesmo, você tá com o dedo. Tá vendo? É ele vindo. Olha, ele vem. E ele entrou. Dá até pra ver, olha. As pessoas aqui na frente e ele entrando aqui, ó. Exatamente, ele entrou. Eduardo entrou na casa do tio meio-dia e 27 e ficou lá até meio-dia e 41. O primeiro crime aconteceu meio-dia e 30. A imagem também tira o jovem da cena do segundo roubo, que aconteceu a dois quilômetros de distância, meio-dia e 50. A pé, Eduardo demoraria 28 minutos para chegar lá. O que você sente quando você vê essas imagens? Eu só sinto a confirmação de que a gente falou o tempo todo a verdade. E que meu filho está há uma semana por uma mentira. e que a gente está tendo que mostrar que não foi ele. Doutora, já deve ter chegado aí no e-mail da senhora, dá uma olhadinha, por favor. Eu acabei de ver, eu estou entrando mesmo. Exatamente, é ele. Tá bom, muito obrigada. Eu vou deixar a senhora trabalhar agora. As imagens que mostram Eduardo entrando na casa do tio no mesmo horário em que o primeiro crime foi cometido foram encaminhadas para a justiça. Uma audiência está marcada para o dia seguinte e o jovem pode ganhar a liberdade. E você acredita que eles vão libertá-lo depois de ver essas imagens? Eu acredito. A gente está vendo. Está tudo aí. Se meu filho não for liberto... Com isso, eu vou ficar com ele. Uma hora depois do início da audiência, a Liomézia, mãe de Eduardo, me mandou uma mensagem. Ela não tem boas notícias. Olha o que ela escreveu. Perdemos a primeira audiência. Ela, a juíza, negou o pedido de liberdade dele. Vou ligar pra ela agora pra ter mais detalhes do que aconteceu nessa audiência. Não foi fácil. Não foi porque, infelizmente, ela negou. Ela não vê as provas antes dessa primeira audiência. Ela só vê as provas depois. E aí ela não viu ainda, né? Então, infelizmente, ela negou. A juíza manteve a prisão de Eduardo até a próxima audiência. Revoltada, Liomésia decide convocar amigos e parentes para um protesto. O policial agora parou. A gente chegou na frente da casa do Eduardo e da Liomésia. Uma policial parou e tá tirando fotos. A gente não consegue saber muito bem o que tá acontecendo. Tá tirando fotos da fachada do prédio onde o Eduardo mora. Ele veio devagar, mas agora acelerou. Tudo bem, amigo? Vou fazer uma pergunta pra vocês. Tudo bem? Nós somos do Profissão Repórter, a gente viu que tinha uma viatura tirando fotos ali. Teve alguma ocorrência? Não, tá previsto uma manifestação aqui, né, no local. Mas até o momento... Ah, entendi. Por isso que ela tava tirando fotos. Provavelmente. Obrigado. Agora chegando mais perto a gente consegue ver que a Leomésia, mãe do Eduardo, tá ali naquela roda que foi fotografada pelos policiais militares. Os policiais falaram alguma coisa pra vocês? Não, só nos fotografaram. O protesto foi organizado pela Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio, que denuncia violações de direitos humanos da polícia contra a população negra. Eu acho que eles sabem, né? Eles sabem o que significa isso, né? Na segunda-feira a gente acompanhou oito casos na ouvidoria das polícias com a mesma lógica. Existe alguma coisa, existe um assalto, alguma coisa, a gente não sabe qualquer coisa. vem um menino jovem, pega na rua e sem nenhuma justificativa, simplesmente prende. Porque são negras e estão andando pela comunidade. Olha, a Força Tática é uma força especial para situações de conflito, vem com armamento mais pesado, então agora a viatura passa aqui. Quatro pessoas para o protesto, três viaturas paradas de prontidão aqui fora, as outras que continuam circulando perto, na frente da casa do Eduardo. Esse é um número impressionante, é uma viatura para cada pessoa que chegou. nesse protesto pela liberdade do Eduardo. Se eles estão preocupados, infelizmente, eles vão ter que continuar. O incômodo deles, para mim, não vai mudar em nada a minha opinião. A gente está fazendo um ato pela liberdade do meu filho. A gente vai descer, a gente vai mobilizar, a gente vai entregar os conflitos. e mais pessoas vão saber da injustiça que eles estão fazendo. Enquanto amigos, familiares e ativistas seguram as faixas aqui, vidas negras importam e contra o genocídio, a Leomésia conta a história de Eduardo. Eu me chamo Leomésia e estou há 23 dias tentando provar a inocência do meu filho, Eduardo, um menino de apenas 16 anos que foi preso, acusado de um crime. que não cometeu. Tenho provas que o meu filho não estava no local do assalto. O judiciário olhou as provas, não olhou as provas. Por que está preso, Leomé? Por ser preso? Usar bermuda e pintar o cabelo. Estou buscando justiça pelo Eduardo. Espero que vocês leiam. Leomé, o que você está sentindo dos motoristas? quando você conta a história do Eduardo para eles? Eu vejo que eles recebem e há um interesse na leitura. Eles sabem o que ocorreu, porque o tempo é pouco de falar toda a história, mas enquanto eu tiver voz eu vou continuar gritando para que as pessoas escutem. Juntos já! é uma coisa muito séria e a gente tem que reagir contra isso. A gente está aqui porque é inadmissível a gente continuar em casa agindo naturalmente enquanto estão matando os nossos irmãos, digamos assim. A partir do momento que uma pessoa negra acaba sendo violentada, todos nós acabamos sendo violentados, porque a gente se coloca no lugar semelhante, porque podia ser, gente. O Brasil tem que parar! O negro, o preto, nós vamos se vingar! Quero justiça, eu quero justiça! Já passaram na vida de vocês por algo? Alguma situação dentro de mercado ou lojas? Ah, sim. Sempre? Sempre. O jeito de tu se vestir, muitas vezes, meu pai sempre fala, Antônia, não vai de chinelo. no shopping, tudo assim, não vai com essa blusa, pelo fato de acharem que tu vai roubar ou fazer alguma coisa. Há dois anos atrás, eu estava fazendo compras com a minha filha à noite no Carrefour, e o segurança me abordou dizendo que eu tinha furtado dentro do Carrefour. Eu estava no estacionamento, eles me levaram à força para a salinha de revistas, e lá eles me deixaram sem minua na frente das minhas filhas e na frente dos funcionários. A senhora aqui foi dito que ela roubou. Mostra aqui a nota. Essa gravação foi feita por um cliente que testemunhou a ação dos seguranças. E por que você acha que fizeram isso com você? Na verdade, isso fizeram comigo simplesmente por falta da minha cor. Porque foi passado via rádio. Foi passado via rádio e era eu que tinha portado dentro do carregouro. Por falta da minha cor. Essa negra. aqui por perto. Deixaram minha mãe de calcinha, sutiã e meia. Tiraram, jogaram todas as coisas dela no chão, pegaram a bolsa dela e jogaram tudo no chão. E como é que você lida com isso tudo tão novinha? Eu tendo força pra lutar. Pra gente ter paz. A gente só quer respirar. Eu vou conversar agora com Eliseu Lucena, que é diretor de riscos do Carrefour. Eliseu, tem um episódio envolvendo uma senhora de nome Regina Ritzel. Ela mostra um vídeo que ela fez tendo que tirar a roupa. Só tem conhecimento disso? Olha, Caco, esse caso, no momento que chegou ao nosso conhecimento, nós fizemos uma profunda investigação, uma profunda e detalhada investigação, responsabilizamos duramentos envolvidos e esse caso está... sendo discutido judicialmente. Passados meses do episódio do senhor João Alberto, qual avaliação que o senhor faz, que reflexão foram feitas? Esse episódio, sem sombra de dúvida, foi o episódio mais triste da história do Carrefour. Nós lamentamos profundamente tudo o que aconteceu e desde então nós temos trabalhado arduamente para trazer ações concretas. Então, afastamos a empresa envolvida, internalizamos a parte de segurança interna da União Europeia. unidade, revisitamos os treinamentos, revisamos esses treinamentos. Nós temos um comitê externo independente, com especialistas na causa racial, em diversidade, além de um fundo de 40 milhões de reais para combates a causas raciais e também causas de violência e diversidade. A morte de João Alberto completou quatro meses. Seis pessoas foram acusadas de homicídio triplamente qualificado. Três vão responder ao processo em liberdade e uma está em prisão domiciliar. Já os dois seguranças do grupo Vector, que prestavam... serviço para o supermercado permanecem presos. Ainda não há data para a primeira audiência. Tanto no caso de Regina como no de João Alberto, os seguranças envolvidos eram da mesma empresa de segurança privada, o Grupo Vector. Vamos ver se a gente consegue falar com alguém aqui. Dá pra ver que tá funcionando. A gente tocou a campainha várias vezes. E realmente ninguém aqui saiu para abrir a porta para a gente, mas tem gente aí dentro. Tem bastante câmera, provavelmente eles não querem abrir mesmo. Quando já estávamos indo embora, vimos uma pessoa saindo da empresa. Trabalhava com segurança? Sim. É? Saiu da empresa? Faz tempo? Saiu faz um mês, acho. Você tem treinamento para entrar na empresa? Sim, eu sou vigilante formado. É curso meu, curso que tem que ter para poder trabalhar na segurança como profissional da segurança. Agora, a partir do momento que você entrou na empresa, você teve algum treinamento? Não tem treinamento. A empresa te pega, não tem treinamento nenhum. Se eles falarem que tem, é mentira. Não tem preparo nenhum. Eu vou te dizer uma situação que aconteceu. Peguei o rádio comunicador, que é o HT que eles chamam, botei aqui e tal, e estou copiando o que eles estão falando, as mensagens. Daí eu vi eles dizendo bem assim, ó, tem três Fox, Fox para quem não conhece, no plano do guarda-bilharde, três Fox e três Fox. três femininas, duas morenas e uma mais sarara, que era minha sogra. Daí eles deram toda a descrição de roupa, né? Pelo rádio mesmo diziam, opa, peraí gente, vocês estão se equivocando, essas moças que vocês estão falando é minha esposa, é minha sogra e minha cunhada. E a gente tem que cuidar isso aí, porque elas eram daquela cor ali, eu acho que eles acharam que elas iam roubar alguma coisa, mas elas estavam comprando bastante coisa no mercado, sempre fomos clientes, né? Sobre as declarações... ações do ex-funcionário, o grupo Vector disse em nota que nenhuma das alegações citadas mostram qualquer conexão com a verdade e que a capacitação dos colaboradores sempre foi fundamental para a empresa. Disse ainda que cabe às autoridades afirmarem se houve ocorrência de racismo no caso trágico de João Alberto e que a contribuição da empresa com as ações da Justiça tenha ocorrido integralmente. Hoje a prisão do Eduardo completa 24 dias e uma audiência vai decidir se ele continua preso ou se ganha a liberdade. Eduardo, o filho mais velho de Liomésia, foi acusado de participar de dois roubos à mão armada. Ela conseguiu imagens... de câmeras de segurança que mostram Eduardo na casa de um tio no mesmo horário em que os crimes aconteciam. Mesmo assim, o jovem continua apreendido porque foi reconhecido pelas duas vítimas. Consigo conversar com uma delas. Eu sei que você foi vítima de roubo há algum tempo, me solidarizo com a sua situação, imagino que você deve ter passado por maus momentos aí. Eu tô ligando pra você pra saber como é que aconteceu esse reconhecimento, se você tem certeza que foi ele mesmo. Eram três fins de vírus que me abordaram, um da cor branca e dois pardos. Quem tava armado era o de cor branca. Como que eu identifiquei o Eduardo? Pelas vestes, pelo reflexo no cabelo e pela máscara preta. E você reconheceu como? Você viu uma foto dele? Você viu ele pessoalmente? Eu vi uma foto e depois quando nós estávamos esperando tanto eu quanto a outra vítima, ele passou na nossa frente na bregateta. E você hoje, tem certeza que foi ele que te assaltou? Cara... Não tenho. Pelo relato da vítima, o reconhecimento não seguiu a lei. O artigo 226 do Código de Processo Penal determina que o suspeito deve ser colocado ao lado de outras pessoas com características parecidas com a dele para que as vítimas façam reconhecimento. Você vai encontrar ali o Messi, a mãe dele. Entra aí, por favor. Valeu, obrigado. Obrigado. Tomara que o rapaz saia hoje. Ah, pô, vocês estão na expectativa aí também? Eu falo com o Vitor porque ele é inocente. As provas estão na mão dela, os vídeos, tudo. Por que o senhor acha que mesmo assim, com essas provas, ele foi preso e continua preso? Racismo. Com certeza racismo. Oi. Oi. Tudo bem, Lele? Como é que você está? Tudo bem, obrigado. Tchau. Tchau, tchau. Por causa da pandemia... A audiência será virtual. Leomésia vai acompanhar da casa da advogada. Como o processo está sob segredo de justiça, não podemos mostrar as imagens nem o áudio da audiência. As vítimas que reconheceram o Eduardo na delegacia também vão participar. Como foi dito pelas próprias vítimas, colocaram ele sozinho para reconhecimento. É óbvio, né? Não tem tu vai tu mesmo. Eles reconheceram ele como sendo... Que impacto que isso tem. ... na hora de uma ação, você colocar sozinho uma pessoa suspeita para ser reconhecido. Eu acredito que isso induz a vítima a reconhecer a pessoa. A juíza pede que Leomésia saia da sala. Dessa vez, o reconhecimento vai acontecer como determina a lei. São apresentadas as imagens de Eduardo e de outros dois jovens parecidos com ele. A vítima do primeiro assalto reconhece novamente Eduardo. A outra, além de não reconhecer Eduardo, fica em dúvida entre os dois jovens que não são suspeitos de participar dos crimes. Depois de uma hora de audiência, a promotoria desiste da acusação e a juíza determina a volta de Eduardo para casa. Daqui a pouco ela está aí para te buscar. Eu estou aliviada, muito aliviada. Eu só pude agradecer, não ia deixar de lutar até hoje e buscar ele. Você vai ver daqui a pouco. O reencontro de Leomésia com o filho que ficou 24 dias na Fundação Casa. O Eduardo está internado e deve sair daqui a pouquinho. E o relato de cinco jovens presos em condições semelhantes a de Eduardo. E o Mésia conseguiu provar a inocência do filho. Eduardo teve o processo anulado e agora vai poder voltar para casa. Assim como Eduardo, esses cinco jovens também foram presos apenas com base no reconhecimento feito pelas vítimas. Eles conseguiram reunir provas de que não cometeram os crimes. Contam que são inocentes e que foram vítimas de racismo. 37 dias preso Fiquei 15 dias Fiquei preso 13 dias Fiquei 30 dias Meu nome é Lennon Seixas Vieira da Silva Sou Felipe Patrício Lennon Ferreira Meu nome é Igor Barcelos Ortega Douglas Ribeiro dos Santos João Igor Santos Silva E fui preso por um artigo 157 157, um assalto à mão armada Preso pelo artigo 157 Por uma tentativa de atrocínio 157 157 O que os policiais te falaram naquele primeiro momento? Ah, no momento do enquadro eles pediram pra gente levantar a mão, levantamos a mão. Aí eles já colocaram a gente de cara pra parede, vieram com algema, me enforcaram inclusive, me sufocaram. Não quiseram saber se a gente era inocente, se tinha provas pra prender a gente. Aí eles só chegaram e falaram que fui eu, que fui eu, falei que não fui eu, eles falaram que foi e tiraram a foto minha. Tirou a foto da gente. Ele tirou a foto nossa, aí levou pra vítima. E o que a vítima fez? A vítima me reconheceu por fotografia. A gente acha que a gente foi reconhecido pela cor da nossa pele. Pela cor da pele, pelo jeito do andar, pelo corte do cabelo. Porque a nossa cor já fala, né? É ladrão. Preconceito é muito. Quem foi a pessoa que mais investigou esse crime? Ah, quem mais investigou? Falar para você, foi minha mãe, foram os pessoal meu ali de baixo, minha família. Fotos, vídeos, testemunhas. A gente levantou as provas, levantamos filmagens. Acharam a câmera aqui na rua, comprovando a minha inocência. Eles podiam muito bem ter visto a câmera, né? Antes de ter julgado nós, senti injustiçado, né? Ah, me sinto injustiçado, né, cara? Porque é muito difícil a gente ser preso por algo que a gente não cometeu. Você não sei se é tristeza, se é um pouco de rancor. Indignado até hoje, como isso? isso aconteceu. Você está preso por uma coisa que você não fez e acaba matando os sonhos, destruindo os sonhos. As provas apresentadas tiraram os jovens da prisão, mas os processos ainda estão correndo na justiça. O tenente-coronel Evanilson de Souza é um dos responsáveis por combater o racismo dentro da Polícia Militar de São Paulo. Em fevereiro desse ano, ele foi alvo de um ataque racista durante uma palestra virtual organizada pela Universidade de São Paulo. O senhor, como um homem negro, assumiu esse papel hoje de combater o racismo dentro da polícia militar, sabendo que o senhor ou que a sua família também são vítimas desse sistema e do racismo do Brasil. Como homem negro, não tenho dúvida que eu concordo com a necessidade de fazer uma revisão de tudo. Tanto é que a gente está fazendo essa revisão de manual de direitos humanos justamente para colocar no policial a ideia de que ele não deve... Ele tem que, primeiramente, enxergar... entregaram o indivíduo antes de fazer qualquer tipo de julgamento, de preconceito. Você acredita que esses reconhecimentos ilegais e reconhecimentos errados de pessoas inocentes, que eles também estão ligados ao racismo? Não, eu acho que eles podem estar ligados ao racismo, porque existem várias condições. A vítima, se ela estava nervosa ou não, se ela estava no ambiente ou não. Existem pessoas com traços muito parecidos, mas existe a possibilidade de erro? Existe a possibilidade de erro. No caso dos policiais... militares que agem hoje nas periferias de maneira racista e que agem diferenciando as pessoas pela cor da pele, discriminando pessoas que têm a pele escura. Quem age desse jeito, primeiro, precisa ser identificado agindo desse jeito. Se ele age desse jeito, ele já não serve para ser policial. Não adianta eu falar... alguma coisa pra ele. Ele tem que ser demitido, ele tem que ser exonerado do cargo. Eumésia chegou agora na porta da unidade da Fundação Casa, o Eduardo tá internado e deve sair daqui a pouquinho. Olá, boa noite, tudo bom? É a liberação, mãe? Isso, meu filho. Agora eu me sinto com o dever cumprido. O dever cumprido que agora eu vou levar ele pra casa. Tá ansiosa? Eu tô muito ansiosa pra ver ele, pra poder assinar os documentos e tô muito orgulhosa de poder dizer pras pessoas que ele... Foi provada a inocência. Vem, vem, vem, vem, Eduardo. Que lindo! Ai, amoradinho. 24 dias depois, Eduardo agora está livre. Muita emoção aqui abraçando a família, abraçando a Leomésia que fez a investigação e ele tá saindo hoje graças ao trabalho de investigação da própria mãe. Como é que você acha que essa experiência de ser preso injustamente vai te marcar? É, acho que lá dentro tem muitos pessoal também que foi forjado. Aí eu tava pensando que... Não bate isso. Eu estava pensando em fazer direito para ajudar isso, para ajudar quem está lá dentro precisar. Porque só quem está lá sabe. Foram 24 dias difíceis. Espero poder voltar à minha rotina. Eduardo recebido com festa, olha a alegria da Bianca Aqui a gente vive, tem bagunça, mas tem vida. Eu não queria que meus filhos conhecessem o racismo. Não queria mesmo. O que as pessoas amenizam que é mimimi, que é história. Não, não é. A gente vive e a gente sabe, a gente alerta os filhos da gente. Nós somos iguais, mas não somos tratados como iguais. Música