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Análise da Guerra do Paraguai

A guerra do Paraguai é uma guerra tola, sórdida e desnecessária como a maioria delas. Uma guerra primeira vítima é a verdade. Porque a historiografia brasileira a respeito da guerra do Paraguai era muito vagabunda, praticamente não existia. Isso é a guerra mais devastadora da história da história da América do Sul.

Aquilo foi um genocídio. Nós não tivemos o genocídio como intenção, mas nós tivemos o genocídio como efeito. Depois de 40 anos independente de Portugal, o Brasil é um gigante. Rural, pobre, analfabeto e escravo. Um país escravocrata, um país selvagem, analfabeto, de hábitos toscos.

Um país de escravos, de muita aristocracia. Um país com uma dependência, uma pobreza muito forte, com condições de saúde pública inexistentes e sem escola. É que tem aquela tese de que o Brasil tem uma história mansa e pacífica, né? Que o Brasil é a terra do homem cordial.

Em 1864, o Brasil é uma monarquia controlada por um homem de 38 anos, que está no trono desde os 14. Dom Pedro II. Apresenta-se Dom Pedro como um homem muito culto, mas ele é um homem muito despreparado. Quer dizer, você vê que é um homem a quem falta polimento, né?

A quem falta todas as normas de civilidade. É um caipirão brasileiro. Pedro é um homem... que tinha ideais e projetos, mas de fato não tinha vocação de governo. O Brasil enfrenta uma grave crise econômica e o sul do país começa a trazer notícias preocupantes.

O sul do Império Brasileiro faz fronteira... A Argentina e o Paraguai. O Uruguai está em guerra civil.

O Brasil e a Argentina se unem para colocar o Uruguai e o Venâncio Flores no poder. Beneficiando os comerciantes de Buenos Aires e os fazendeiros gaúchos. Só que bloqueando a saída do Paraguai para o mar. Receber aprovisionamento, que simplesmente estrague nossos exportes.

Com esse novo cenário, o Paraguai, para usar a bacia do prata, precisa negociar com as duas maiores potências da região. O Paraguai ou estava com a Argentina contra o Brasil, ou com o Brasil contra a Argentina. Mas nunca ao mesmo tempo com as duas potências maiores da região. O Paraguai é governado por um também jovem de 32 anos.

Sem dúvida ele era um sujeito inteligente, perspicaz, ambicioso. Era um homem muito controverso. E dentre os mitos da guerra, um deles é de que o Solano Lopes era um estadista com uma visão extraordinária de um grande paraguaio. Uma pessoa muito, muito, muito educada. Evidentemente que ele teve alguns méritos, mas acima de tudo ele era um ditador.

E era um ditador eventualmente obcecado. López era uma pessoa que não sabia nada de economia. Como Luís XIV era, letra de moi.

Havia conhecido a corte de Inglaterra, a corte de Napoleão III. O Solano López era um grande louco da América do Sul. Ele tinha sonhos de ser um Napoleão. Este era um líder que tinha uma certa visão de Paraguai.

Ele tinha uma certa visão de sua própria sabedoria e sua própria força, que era bastante divorciada da realidade. Mas tu quer me dizer que o cara ia criar um paraíso na Terra, o Solano Lopes? É uma piada, né? A guerra tinha um comandante. Desde o começo até o fim, no lado paraguaio.

O Sr. Lando Lopes havia regimentado as suas forças, dando-lhes a certeza de que lutavam pela liberdade, por uma causa justa e pela pátria. Então isso fazia com que eles fossem endômitos. Ele conduziu a aventura como uma aventura militar. Nos últimos dez anos, o Paraguai fez seu exército crescer de 10 mil homens para quase 100 mil combatentes.

construiu uma linha férrea, a primeira da América do Sul, para ligar a capital a um campo militar. E também a primeira linha de telégrafo para se comunicar com a sua principal proteção no Rio Paraguai, o Forte de Humaitá. E não mediu exatamente suas limitações.

Antes de atacar, Solano Lopes tenta conversar com o Brasil. Ele envia uma carta para Dom Pedro e pede a Dom Pedro para honrar seu acordo. Mas Dom Pedro II não responde a carta que Solano Lopes envia. É quando Paraguai é forçado a tomar ação.

Primeira vez em sua história independente, o Brasil tem seu território invadido. Através do rio Paraguai, os soldados invadem Corumbá, no Mato Grosso. Os paraguaios cometeram abusos no território brasileiro e argentino. O exército paraguaio avança, deixando um rastro de destruição por onde passa. Os generais levam junto as suas esposas, que aproveitam para saquear as casas no caminho.

Os invasores paraguais de Mato Grosso saquearam, levaram a população civil forçada para Assunção, porque o Mato Grosso estava em defesa, você não tinha força do exército Mato Grosso. Outra frente do exército chega ao Rio Grande do Sul e toda a cidade de Uruguaiana foge. O Paraguai invade o Brasil, mas é só o começo. A partir de agora, metade de um continente vai entrar em guerra. Impressionado pelas tensões políticas do Rio da Prata, Solano Lopes está em guerra com o Brasil.

Em 12 de novembro, ele sequestrou o governador do Mato Grosso que passava pelo Rio Paraguai. E no final de dezembro, invadiu, saqueou e dominou cidades do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul. Há uma série de especulações e teorias de quais seriam os reais motivos por trás do conflito.

A história econômica em toda a América Latina. Na realidade, o Brasil já é o poder. Em termos de população, em termos de economia, em termos de recursos, o Brasil é o poder.

Não havia balanço de poder. Para mim, Paraguai era um mau exemplo. Era um lugar onde não entrava. Há histórias... A história mais maluca de todas da Guerra do Paraguai é esse mito de que o Paraguai era uma potência em crescimento.

Eu me pergunto como a gente acreditou por tanto tempo nisso. Porque a historiografia brasileira a respeito da Guerra do Paraguai era muito vagabunda. praticamente não existia.

O Paraguai não era o modelo de desenvolvimento para a região. Tinha uma população que era o dobro da do Uruguai, só que o comércio exterior dele era seis vezes menor. Há uma teoria muito divulgada pela esquerda no governo militar brasileiro de que a Inglaterra tinha medo do crescimento paraguaio e por isso financiou a guerra. Inglaterra está construindo um império mundial e não há lugar no planeta... que lhe seja indiferente.

Paraguai, como eu disse, é dependente da tecnologia britânica, é dependente do dinheiro britânico. Paraguai não tinha fechado a Grã-Bretanha. Porque Paraguai desenvolveu uma autonomia que ele... O grande Império Britânico não pode aceitar.

Tinha rasgos de protocolo comunismo, porque, por exemplo, distribuíram terras a todos os habitantes, quase o estalinismo do século XIX, digamos. Ali é onde há a possibilidade. de criar um mercado para as mercaderias que fabricam a revolução industrial. O mercado consumidor paraguaio não existia. A população não tinha poder aquisitivo, não existia um mercado consumidor.

Segundo, mesmo que existisse, qual a lógica de você fazer uma guerra para abrir um mercado consumidor e destruir esse mercado? Não tem lógica. Isso é ridículo porque o Paraguai não estava se industrializando, não tinha indústria pesada, não tinha nem indústria leve, quer dizer, não tinha indústria. A arrecadação anual do Paraguai era de menos de um milhão de libras esterlinas.

Brasil, Argentina e Uruguai juntos arrecadavam mais de 50 milhões. O Império Brasileiro era esclavista, a República Paraguai também era esclavista. Só que havia menos esclavos no Paraguai, um porcentagem menor da população. Há também outra versão que coloca Solano Lopes como louco, o Napoleão das Américas.

O Solano Lopes tinha delírios megalomaníacos. Ele queria fazer um grande Paraguai, pegando parte do Brasil, parte da Argentina e Uruguai. Todas as decisões que se fizeram no Paraguai foram centradas em si mesmo. Os únicos papéis, documentos que a gente tem da época.

mostram que a Inglaterra tentou conter as maluquices do ditador Solano Lopes. Tem um Solano Lopes que é o ditador, mas tem um Solano Lopes que é um ditador e que age com uma racionalidade. A Inglaterra não financiou a guerra, tampouco o ditador paraguaio era louco.

Invadir o Brasil é a opção que Solano Lopes encontra para negociar com o gigante vizinho. Na época você atacava um país e a vitória era conquistar a capital inimiga. Obviamente era inviável ao Paraguai conquistar...

o Rio de Janeiro. Solano Lopes manda seu exército tomar o sul do Mato Grosso, região que quer anexar ao território paraguaio e o Rio Grande do Sul, para chegar até o Uruguai. Assim, ele tem mais força para negociar com Dom Pedro II e restabelecer a sua saída para o mar. Se ele não invadesse o Brasil... Solano Lopes tem duas opções, negociar uma trégua e recuar sem derramamento de sangue ou atacar os navios brasileiros que bloqueiam a sua saída para o mar. 11 de junho de 1865, Corrientes, Argentina.

Começa a maior batalha naval da história da América do Sul. A formação dos estados na região da Bacia do Prata é a grande causa da Guerra do Paraguai. A Bacia do Prata é constituída pelas águas dos rios Paraguai, do gigante rio Paraná, que vem do Brasil, e do rio Uruguai. O grande problema de Solano Lopes, nesse momento, é que os navios brasileiros comandados pelo almirante Barroso bloqueiam sua saída para o mar, o que causará a morte econômica do Paraguai. Então o Paraguai vai ser um prisioneiro geopolítico do porto de Buenos Aires, aliás, até avançar no século XX.

A esquadra brasileira protege o Rio Paraná com nove navios de guerra, totalizando 58 canhões e 2 mil homens. O Paraguai só tem um navio de guerra, mas improvisa e adapta outros oito navios mercantes com bocas de fogo. Lopes conta ainda com seis balsas chamadas de chatas.

O formato dessas embarcações é uma vantagem, pois os canhões ficam no mesmo nível do rio e fora do alcance da artilharia brasileira. Foi mesmo um jogo de xadrez aquático ali, que o Paraguai fez a aposta errada e foi uma guinada nos rumos da guerra, né? Nove navios brasileiros na margem do Riachuelo.

Nove navios paraguaios se preparam para a emboscada. O Paraguai prepara canhões na margem do rio e a ordem de Solano Lopes é que seus soldados invadam os navios e capturem a esquadra brasileira para o Paraguai. O Paraguai tinha que acertar 100% e o Brasil errar 100%. Então os navios estavam imobilizados, não tinha como se mover e boa parte da tripulação estava dormindo.

Música Um ataque surpresa, o Paraguai leva vantagem no início da batalha, mas uma decisão do almirante Barroso vira o jogo para o Brasil. Inspirado pelo Ariete, uma antiga máquina de guerra usada para romper muralhas e fortalezas, Barroso aproveita as embarcações brasileiras revestidas de aço para estraçalhar a esquadra inimiga. Ele parte para cima dos vapores paraguaios e muda o rumo da batalha.

O Brasil vence e mantém o controle da Bacia do Prata. Anos depois, Dom Pedro II manda produzir um quadro épico sobre a batalha. Embora o quadro seja maravilhoso, ele cheira a mofo historiograficamente falando. Não foi assim que as coisas se passaram ali.

Toda história é fabricada. O Dom Pedro espertamente tentou fabricar a história brasileira, a sua versão oficial, que a gente continua acreditando até hoje. Saldo da Batalha do Riachuelo.

O Paraguai tem quatro navios e seis chatas afundadas e cerca de 300 mortos em combate. O Brasil tem um navio afundado e perde 100 homens. Os aliados mantêm o controle na Bacia do Prata e Solano está acuado em seu território. Solano começa a perder o controle da situação. A Tríplice Aliança se fortalece.

O Paraguai invadiu e saqueou cidades brasileiras. Dom Pedro II vai pessoalmente à Uruguaiana. Ninguém, e muito menos Pedro II, admitia que a paz se fazia sem uma humilhação afrentosa contra López. Solano López, que agiu traiçoeiramente, ainda vai ser premiado, ficando no poder depois de ter... Não há mais volta.

Dom Pedro II quer vingança. Quem vai invadir o Paraguai agora é o Brasil. Para completar o exército brasileiro, Dom Pedro II cria a campanha Voluntários da Pátria, homens que se alistam para lutar no Paraguai.

Então, além de tudo, é uma guerra lutada por ex-escravos, escravos libertos, indígenas e voluntários da pátria, né? Porque voluntários da pátria é uma piada sensacional, né? O próprio imperador se nomeia voluntário da pátria número...

Mas todos esperavam que fosse uma guerra como tinha sido sempre, né? Durava alguns meses e aí acabava. Quando a guerra se estendeu, as condições difíceis, não tinha perspectiva de fim.

Então aí realmente a resistência da guerra foi muito grande. E esses soldados iam sem nenhuma preparação. Iam para a guerra assim como bucha de canhão, porque eram muitos que podiam morrer.

Quem queria uma guerra que não significa nada, que nunca escutou falar de algo que se chama Paraguai? Tem que se colocar na mentalidade do povo daquela época. É o que se chamava, em castelhano, carne de canhão.

Muitos desses voluntários da pátria não eram exatamente voluntários, vinham agriloados, vinham presos, e aí eram apresentados como voluntários da pátria. Muitos dos cativos eram vendidos. para substituir o branco que não queria ir lutar.

Quer dizer, do momento que você pudesse comprar um escravo que fosse lutar no seu lugar, estava bem representado. Se você manda um escravo para a guerra, não é preciso dizer como é que o escravo era tratado. Na Argentina, um problema ainda mais grave.

Os governantes de Buenos Aires ordenam a toda a população pobre que entre na guerra. Na resistência do povo argentino a ir à guerra do Paraguai, morreu mais gente aqui dentro do que na frente de batalha. A população das províncias mais afastadas se nega a ir lutar em nome do povo argentino.

Nesse momento histórico, não se pode falar de povo argentino. Se pode falar de diferentes identidades regionais, sanjuaninos, mendocinos, entrerrianos, etc. Porque não existe a consciência nacional.

De fato, muitos filhos de homens notáveis e de laboresia se enrolaram. O filho de Sarmiento, que era o vice-presidente, se enrolou aos 21 anos, morreu em Curupaiti. Sarmiento odiava os paraguaios.

e teve expressões terríveis, como exterminar esse povo. Eu acho que a guerra da Triple Aliança não fez nenhum bem à Argentina, mais bem a carregou de vergonha. 16 de abril de 1866, com uma grande maioria de brasileiros, o exército aliado pisa em território paraguaio.

O Brasil, sem sofrer resistência, monta seu acampamento militar. Comerciantes e mulheres acompanham a tropa oferecendo todo tipo de serviço. Mas o Paraguai não se rende e quer expulsar os invasores. É fundamental em qualquer operação militar, seja no século XIX ou hoje, você conhecer o terreno que você vai agir. E não se conhecer o terreno.

O acampamento militar fica na entrada do país, a 300 quilômetros da capital Assunção, com uma imensidão desconhecida e pantanosa. pela frente. Mas não se tinha um mapa do interior do Paraguai devido ao isolamento do Paraguai. Ninguém conhecia o que era o interior do Paraguai.

Só se conhecia a Assunção. E é nesse momento que o Paraguai começa a montar sua emboscada. Está almoçando ali com os chefes o general Osório. A tropa que está mais na frente começa a debandar. Começa a correr para trás para conseguir algum apoio e aí tem a matança.

24 de maio de 1866, os paraguaios invadem o acampamento brasileiro. E tem início a maior batalha da guerra do Paraguai, a Batalha de Tuiuti. Com o ataque surpresa, o Paraguai leva vantagem no início do confronto. Solano Lopes manda três tropas atacarem simultaneamente, uma frontal e duas pelos flancos.

E o Osório, que tinha essa capacidade de liderança, era muito admirado pela tropa, ele está sobre um cavalo em meio a nuvens e fumaça, em meio a barulho de explosões, a gritos, a gente morrendo, ele consegue mobilizar, mandar um batalhão pra cá, outro batalhão pra lá, com a visão militar, ou seja, esse batalhão vai e vai ser sacrificado, ou seja, quase todos vão morrer. Agora, por que esse batalhão vai? Porque confia nele, confia na liderança militar.

Ele consegue distribuir e consegue reverter a guerra. O centro da resistência aliada vai ser os canhões da artilharia que estão colocados um pouco à frente do quartel-general. Lembrar que a guerra é uma coisa selvagem, o sujeito vai matar o outro, ele não está filosofando, ele está com ódio.

Mas ali morrendo no charco, morrendo no... ...pântano, chafurdando, literalmente chafurdando, estavam povos de etnias que não tinham nada que ver com aquilo diretamente. O resultado da batalha do Tuiuti, o Paraguai perde 13 mil homens, o melhor de seu exército.

Os aliados, juntos, perderam 4 mil homens. Mas não há motivos para comemorar. Setembro de 1866, o Brasil continua acampado em Tuiuti, e o Paraguai se protegendo no quadrilátero em volta da fortaleza de Humaitá. O Brasil teve que lutar contra uma fortaleza que ele próprio tinha construído para os paraguais, né?

E que se sabia inexpugnável. A fortaleza... Fortaleza de Humaitá é a grande proteção do Rio Paraguai.

Para chegar em Assunção, é preciso passar por ela. Construída anos antes com a ajuda de militares brasileiros, a fortaleza é um complexo defensivo composto do forte, da igreja, e o rio era cercado com grossa e forte terra. essas correntes de ferro para impedir a passagem de navios brasileiros.

Mas a fortaleza de Humaitá não é o maior obstáculo que o exército brasileiro tem pela frente. Em todos os casos, a maior parte das mortes foi causada não em combate, mas foi causada por cólera, por doenças, fome e frio. As condições dos hospitais militares são péssimas, desumanas, sem nenhuma estrutura.

E brigas e indisciplina no acampamento são frequentes. Não há liderança. Dom Pedro II já está de volta ao Rio de Janeiro. Eu lembro um aspecto importante que as pessoas costumam esquecer.

É o início da fotorreportagem. Os jornais todos vão publicar fotografias. Tem fotografias que sofrem, entre aspas, Photoshop. Quer dizer, parece que o Dom Pedro está no campo de batalha, mas não está.

A fotografia foi tirada no estúdio. Aí botam ele lá no campo de batalha. A guerra parece ter chegado a um impasse, mas Dom Pedro II guarda uma surpresa.

Um novo aliado que irá redesenhar os rumos da guerra. Dois anos de guerra. O Brasil continua preso em seu acampamento e o Paraguai se fortalecendo em Humaitá.

As condições do exército estão lastimáveis. Vai entrar em cena o maior militar brasileiro da história. É um homem que se transformou no único duque que o segundo reinado produziu.

Duque de Caxias. E aí ele chega para pôr ordem na casa. E a primeira coisa que ele tem que fazer é reestabelecer a disciplina. Por exemplo, os hospitais estão lotados, mas todos estão feridos.

Aí descobre que um terço que está lá está simulando doenças. O Duque de Caxias dizia para quem quisesse ouvir que o exército brasileiro não tinha armas, estava despreparado e ia enfrentar um clima totalmente hostil. Os que foram para a guerra eram civis e contra a vontade em grande parte.

E não tinha esperança militar, então Caxias teve que treinar civis para a guerra, em plena guerra, com o inimigo na frente. E ele vai remontar, vai disciplinar o exército, vai rearmar o exército, vai inovar. Para observar as posições paraguaias, Caxias manda trazer dos Estados Unidos balões de observação usados na recém-acabada Guerra Civil Americana.

E o projeto mais ousado de todos, usando prisioneiros paraguaios, ele improvisa uma locomotiva e um trilho de 25 quilômetros de extensão para auxiliar na logística da guerra. Vai começar a série de batalhas conhecida no Brasil como Desembrada e no Paraguai como Dezembro Negro. Caxias precisa tomar a assunção e pra isso conta com 20 mil brasileiros e 5 mil argentinos.

O Paraguai protege a capital com 5 mil homens. A esquadra brasileira derruba a fortaleza de Humaitá. Foi uma batalha... É terrível por uma fortificação que a engenharia militar brasileira cedeu ao Paraguai anos antes, já naquele barril de pólvora que era aquela bacia do prata inteira ali, né? As margens do rio Itororó, a primeira batalha que o Paraguai resiste...

Quem ataca nessa guerra até um determinado momento leva desvantagem, porque o terreno não era favorável ao ataque, era favorável à defesa. Cinco dias depois, Caxias avança sobre o rio Havaí, numa batalha épica, retratada posteriormente por Pedro Américo. Música Por fim, em Lomas Valentinas, Caxias destrói o que resta do exército paraguaio. Depois de um tempo virou a guerra do Brasil contra o Paraguai. E o Brasil a manteve deliberadamente.

1º de janeiro de 1869. Caxias toma a capital Assunção. Mas a cada investida de Caxias, Solano foge, montando acampamento com seus filhos e sua esposa, Elisa Lente. A irlandesa Elisa Lente é a primeira dama do Paraguai.

Ela acompanha Solano Lopes em quase todos os momentos. Ajuda com suas habilidades de enfermagem, mas não abre mão do seu luxo, nem nos acampamentos militares. Solano a conheceu dez anos antes da guerra, na agitada Vida Noturna de Paris. Serrano Lopes era o jovem diplomático mais rico em Paris.

Era o grande momento das cortesanas e também das prostitutas. Os inimigos apontam ela como prostituta. E ela vivia do quê? Certo, então ela é acusada de prostituta.

Ela era um símbolo sexual para os exércitos inimigos. Possivelmente, ela teve algum contato muito breve com esse mundo. Parte de tudo isso era uma mulher rubia e bela. E isso é um pecado inadmissível para ela. Até onde a gente sabe, Solano Lopes não teve uma relação de fidelidade com ela, não foi uma relação de monogamia.

Num primeiro momento, talvez ela fique interessada por ele, pelo exotismo, mas no segundo momento, eu acho que realmente ela se apaixona por ele. E realmente é uma relação real, certo? Não é uma relação por interesses monetários, embora ela tenha saído rica dessa relação. Anos depois da guerra, Elisa escreve um manifesto onde se defende das acusações sobre o seu passado. Durante um longo tempo, fiquei em profundo silêncio, embora meu nome tenha sido explotado por certas pessoas que me tinham como um protótipo da prostituição e do escândalo.

Como se fosse uma besta humana que se complace e se deleita. com o extermínio de uma sociedade. No mesmo manifesto, ela faz uma lista e reivindica a posse das terras que comprou enquanto primeira-dama. Só não explica com que dinheiro conseguiu comprar quase todo o Paraguai. Era...

acabou. sendo, na nossa opinião, a proprietária da terra maior do planeta. Todo poder e terras de Elisa Lynch vêm das mãos de seu marido. A grande maioria delas é adquirida nesse período em que a guerra já está praticamente decidida. Que sentido teria seguir a guerra depois de 1868?

Depois de 1868 ele não vai ganhar, ele perdeu, ele podia negociar a derrota. Em 1868 a guerra estava perdida, absolutamente perdida. Solano Lopes dá ordens para que as cidades paraguaias sejam abandonadas, à medida em que o exército inimigo avança. Assim, ele pretende evitar a vingança brasileira e um massacre ainda maior.

Tem que sair forçada, sem meio de transporte, sem comida. Resultado, você tem uma mortandade da população civil que não tinha mais sentido militar. A destruição do Paraguai é feita pelos aliados? Evidentemente é feita pelos aliados, que estão avançando.

Mas por que estão avançando? Porque o outro lado, que sabe que não pode ganhar a guerra, não quer se render. O povo paraguaio apoiava Solano López.

O fato de que a família López não era tão terrível... Está na maneira como o povo paraguaio acompanhou López até o último momento. Claro que o conceito de patriotismo é muito relativo e cada sociedade constrói os seus padrões.

Mas, estritamente falando, não tinha mais sentido militar nenhum você manter essa população fugindo, se retirando, sendo vítima da guerra. Nenhum líder racional iria tomar quase o meio do continente em uma guerra. Solano López não podia ter um conceito bem delimitado, bem claro da realidade. Solano López estava bebendo demais e virou muito cruel.

E isso não cabe dúvida, ele fez coisas que eram horríveis. Então ele mandou, por exemplo, prender a mãe, as irmãs, matou um irmão sob tortura, o outro morreu por exaustão física, devido à perseguição dele, matou dezenas de pessoas. É a onipotência, a arrogância e o desprezo pela vida das pessoas que estão subordinadas a eles.

E eu acho que nesse sentido, Solano Lopes é igual a Stalin, que é igual a Hitler. Janeiro de 1869. Com a capital tomada, o Paraguai não representa mais perigo aos aliados da região do Prata. E para Caxias, é o fim da guerra. Tem uma frase do Caxias que diz que ele não era coveiro.

Para vencer a guerra do Paraguai como se pretendia, teria que matar o último paraguaio no ventre da sua mãe. Ele se recusou a fazer esse papel. Mas Dom Pedro II está obcecado atrás de Solano Lopes.

Desde aquele ponto em que ele estava, foi uma guerra de vingança contra Omar Escar Lopes. Sem Caxias, o comando vai para o seu gerro, o francês Comte de Dê. Nesse conflito ficou claro o quão violento e eventualmente sanguinário até o Brasil pode ser.

Enquanto continua sua fuga, Solano Lopes usa o que sobrou da população para retardar o avanço brasileiro. Cumprindo ordens de Solano, o general cabaleiro comanda crianças para lutar com o exército inimigo. Teve um grau de crueldade e violência do exército brasileiro desmedido.

E porque era a última reserva, não tinha mais homens. Paraguai não tinha homens. O fanatismo de resistência paraguaio manda crianças para lutar contra o exército e de como esse exército aceita a luta e mata essas crianças.

Dizem que esses meninos de Acostañu foram o escudo para proteger a Solano López. Isso demorou o avanço do exército aliado. E sim, foi isso. Cabaleiro prestava contas diretamente a Solano López. As crianças, 12, 13, 14 anos, no meio do mato, estavam com barbas postiças.

Para parecer adultos, para amedrontar a tropa que vinha, que era uma tropa basicamente brasileira. É uma situação de loucura generalizada, só atribuível a este tipo de guerra. Os filhos de antes, de 150 anos, e nessas circunstâncias, são diferentes.

Certamente, aos 14 anos, muitos filhos se alistavam. Os filhos se alistavam sexualmente quando se desenvolveu, e era natural, digamos. 16 de agosto de 1869. A última grande batalha da Guerra do Paraguai, a Batalha de Acosta New. 4 mil homens do exército brasileiro massacraram cerca de 200 mulheres e crianças.

Então quando a tropa chega em cima, é uma tropa que está lutando há 4 anos e meio. Chega sobre essas pessoas, não dá tempo de saber se era criança ou não. E quando sabe que é criança, já está envolvido e aí é a matança. Em guerra se aplicou uma crueldade inútil para os filhos indefesos e além de indefesos, absolutamente desnutridos, quase em estado de inanição. Quem envia crianças para uma guerra contra soldados profissionais?

O que pode ocorrer? Agora, no momento em que ele está ali, ou a tropa de infantaria chega e olha e vê uma criança que não tem condições de erguer um rifle, também não deveria atirar. O Solano colocou crianças na linha de frente para retardar o avanço brasileiro.

O Conde D avançou sobre crianças e matou crianças, matou mulheres, matou velhos. Na realidade, os filhos não foram à guerra. A guerra veio até os filhos. Só há culpados, não há inocentes nessa história aí, né?

O Brasil queria garantir a sua navegação nos rios do Prata. E o Paraguai também. Essa região sempre foi uma região conflagrada.

O Solano Lopes desempenhou o papel do fósforo aceso no barril de pólvora. Solano Lopes invadiu e saqueou cidades brasileiras. Dom Pedro II quis se vingar. Dom Pedro, como se dizia na época, era uma luva de veludo escondendo uma mão de ferro.

Batalhas nos rios. contra todo tipo de adversário. E agora, o Paraguai está devastado.

Em uma matança absolutamente inútil, que viesmou ao povo paraguaio absolutamente. Os números mais fiéis indicam que o Paraguai tinha uma população em torno de 500 mil pessoas antes da guerra. Os combates foram responsáveis por mais de 300 mil mortes, 60% da população. Do lado brasileiro, com uma população de 9 milhões de pessoas, morreram cerca de 75 mil brasileiros, menos de 1% da população. Toda a força dos países aliados destruiu o pouco que esse país agrário tinha.

O nosso exército cometeu aquilo que eu chamei de genocídio. Tecnicamente pode até não ser, mas na prática, no sentimento que a gente tem e nos números da mortandade provocada, aquilo foi um genocídio. Olha, genocídio é forte demais, né?

Embora se assemelhe a isso, né? Genocídio é uma coisa. Massacre é outra.

Foi realmente uma catástrofe demográfica. Estamos falando de 300 mil pessoas, 3 de cada 5 paraguaios morreram ao longo de 6 anos. Quer dizer, o Paraguai é o maior perdedor, sem dúvida nenhuma.

História é escolha. Chamar de genocídio... Dependerá do momento.

Usá-lo com propriedade, no meu entender, em relação à Guerra do Paraguai. De onde foi a intenção, jamais. Onde nós chegamos, sem dúvida.

Para a conquista ser completa, Dom Pedro II ainda precisa encontrar Solano Lopes. Mas sua busca está próxima do fim. 1º de março de 1870 acampamento de Serro Corá, norte do Paraguai. Porque a ordem que o imperador tinha dado e o objetivo da guerra não era matar o Sr. Lopes, era retirá-lo do poder.

Um cenário muito macabro na batalha de Serro Corá. É um caos ali, fogo, fumaça, gritos, é tudo muito rápido. Ele tenta fugir a cavalo e o Chico Diabo, o nosso cabo, lançou. O cabo Francisco Lacerda fere a virilha de Solano Lopes e um tiro brasileiro mata o seu filho, Pantito Lopes. Elisa Lynch se enrola em uma bandeira britânica e consegue sobreviver.

Foi fácil identificá-lo porque ele era o único gordo. São os últimos momentos de Solano Lopes. E aí, segundo a descrição do general Câmara, Solano Lopes está no riacho, ele dá ordem para que ele se renda. Solano Lopes pega a espada e diz que não se entrega e morre com a sua pátria.

E um soldado, quando viu Solano Lopes erguer a espada, deu um tiro. Ele já estava mortalmente ferido, mas o tiro vai levar à morte. Um verdadeiro patriota leva a sua pátria ao fim.

Faltava perguntar se a pátria queria morrer com ele. E chega ao fim, a Guerra do Paraguai. General Câmara leva a honra de capturar o ditador.

Também leva a irmã de Solano Lopes e tem com ela uma filha. General Bernardino Cabaleiro agora se alia aos brasileiros, passa um tempo morando no Rio de Janeiro e volta para ser presidente do Paraguai, fundador do Partido Colorado, o mesmo partido que em 2015 governa o Paraguai. Elisa Lynch é bem tratada pelo exército brasileiro, volta a Paris e morre anos depois, sem conseguir recuperar suas terras. Hoje, Elisa é Madame Lynch, heroína do povo paraguaio.

Apesar de ganhar a guerra, Dom Pedro II... não saiu vitorioso. Afundou o Brasil em dívidas com bancos europeus e ainda fortaleceu o exército brasileiro, que na década seguinte, liderado por ilustres participantes da Guerra do Paraguai, transformaria o país em uma república, tomando o poder do imperador. Francisco Solano Lopes, odiado pelos paraguaios nos anos pós-guerra, passa por um tratamento de imagem no século XX e hoje é o grande herói nacional, enterrado em um panteão dos heróis em Assunção. Todos perderam, todos calcularam mal.

É hora de ser honesto com o nosso passado e sincero com a nossa própria história. É um golpe muito sério para a monarquia brasileira, que revelou uma grande ineficácia no manejo militar. A responsabilidade resta com os governos brasileiros sucessivos.

É uma página sórdida da história do exército brasileiro. Não foi uma guerra em defesa da liberdade, não foi uma guerra para salvar a honra do Brasil. Os nossos soldados não foram heróis. Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai resolveram com ódio e sangue inocente suas questões econômicas. Será que o tempo foi capaz de apagar todas as marcas?