Oito horas e cinquenta e nove minutos, de volta a nossa pauta aqui no Talk Show. Iniciamos agora uma entrevista ao vivo com a médica cardiologista Marta Cardoso, sobre as doenças de inverno. Pois é, Diogo, hoje a gente tem o prazer e a honra de receber aqui a doutora Marta Cardoso. Ela que é médica cardiologista e tem uma trajetória impressionante. Ela já foi secretária de saúde em Paraty.
Ela faz doutorado pela Universidade da Beira Interior em Portugal. E também já atuou como gerente médica nos Jogos Olímpicos do Brasil em 2016. Ou seja, ela tem bastante história para contar, para compartilhar com a gente. E a gente vai fazer uso disso aqui no programa hoje.
A gente vai falar nesse primeiro momento sobre as doenças de inverno, como hipertensão arterial, o infarto agudo do miocárdio, arritmias, insuficiência cardíaca. São exemplos de mazelas que se agravam. nas baixas temperaturas.
Muito bom dia, doutora Marta. Obrigado pelo seu sorriso presente aqui hoje no estúdio da Costa Azul, viu? Obrigada a vocês pela oportunidade de compartilhar experiências e principalmente conhecimento em saúde e salva-vida, né? É verdade, é verdade.
Bom, então, mais uma vez, obrigado pela oportunidade. Doutora Marta, por que as baixas temperaturas do inverno podem agravar doenças cardíacas, como hipertensão e o infarto agudo do miocárdio, mas não só essas doenças? Por quê? Muito bem, sempre que a gente pensa em temperaturas frias, todo mundo já correlaciona com doenças respiratórias, né? E acabam esquecendo um pouquinho do coração.
As doenças cardiovasculares são as doenças mais prevalentes e aquelas que mais causam internação e morte no mundo. E não é no período do inverno que elas vão querer perder o pódium, né? De jeito nenhum. Com as baixas temperaturas, nós temos um mecanismo de termorregulação, para que a gente não perca calor. Isso é um mecanismo natural do corpo.
Esse mecanismo de termorregulação, ele envolve vasoconstricção, que é as artérias ficarem com seu diâmetro reduzido. Quando a gente bota a mão numa água fria, a nossa mão é vermelhinha. Quando bota na água fria, ela não fica bem branca. Isso significa que ali houve uma vasoconstricção nos vasinhos para a mão. Então, ali passa menos sangue.
É como se elas reduzissem seu diâmetro, o caminho de passagem. Para aqueles pacientes que já têm doenças de entupimento das artérias, no caso aqui a gente está falando das coronárias, que são as artérias do coração, para esses pacientes, se a redução do sangue que passa por conta da placa de gordura dentro das artérias já é reduzido, imagina se essas artérias ainda assim diminuem o seu diâmetro. E aí Então passa quase nada. Então a incidência de infarto acaba aumentando no período do inverno por conta dessa condição.
E aumenta bastante, tá? Em torno de 30%, mais ou menos. Isso dados do Sistema Único de Saúde. Mais ou menos avaliados a partir do ano de 2021. É realmente um índice super elevado. Agora, para quem é leigo, doutora, eu estou falando aqui com a doutora Marta Cardoso.
Ela é médica cardiologista, a gente discute aqui as doenças de inverno que afetam o coração. Pela sua explicação, e aí me corrija, é o leigo falando, a gente pode entender que o corpo reduz o diâmetro da veia para aumentar a pressão de passagem do sangue e com isso conseguir algum aquecimento. Seria essa a mecânica? Exatamente isso.
Nossa, estudou direitinho. Estou tentando entender. Adorei, é exatamente isso.
Assim a gente perderia menos calor. Esse é o mecanismo compensatório. Só preciso corrigir uma coisinha.
Não são as veias que reduzem o seu diâmetro. São as artérias que levam o sangue rico em oxigênio. Daí o maior problema, tá?
Vale a pena dizer também que a gente não tem aumento só do infarto. Mas eleva a pressão arterial pelo mesmo motivo. E assim também doenças cerebrovasculares, por exemplo, o AVC também tem seu aumento nesse período do inverno.
E na verdade, nós sabemos que as doenças cardiovasculares estão muito associadas às mudanças de temperatura. Para cima ou para baixo. E quanto maior a temperatura, também aumenta a incidência de doença. Assim quanto menor.
A gente estima que uma temperatura... em torno de 15 graus, já faça uma influência considerável, principalmente nos pacientes que já têm doença estabelecida, quer dizer, elas têm o seu agravo. Especialmente numa região, essa que a gente vive, da Costa Verde, Litoral Sul Fluminense, que no verão a gente tem temperaturas que chegam fácil a casa dos 39. 40 graus, né? Sim.
A população tem um hábito de estar num ambiente em que a temperatura é a maior parte do tempo alta e de repente enfrenta temperaturas baixas, o corpo há de padecer, né? Sim. Eu fico imaginando, então, que dormir de meia, correr com agasalho, é sempre procurar aquecer pra facilitar a vida dessas artérias, pode ser interessante, né?
Perfeito, exatamente isso. Se agasalhar para ajudar o seu corpo a controlar a temperatura. Assim como lembrar de beber água.
Porque nesse período, com conta do frio, a gente tende a sentir menos sede. Então acaba naturalmente reduzindo a ingesta de líquidos. E isso também contribui para agravo em todo o sistema cardiovascular e renal.
Certo. É, em certa medida, a doutora Marta já adiantou isso, mas mesmo assim eu vou pedir pra ela voltar essa tecla, que é do grupo de pessoas que fica mais vulnerável aos efeitos dessas, do frio, né, nessas doenças cardíacas. Nossa, os nossos velhinhos...
Os idosos, né? Os idosos, eles são os que sofrem mais, né, a partir de sete... 70 anos, 75 anos, e os octogenários, né? São os que costumam sofrer mais. Até porque há uma mudança da característica da pele, né?
Que é o órgão principal de controle da temperatura. A pele dos idosos é mais fina. Então, essa termorregulação, ela é um pouco mais difícil do que com uma paciente mais jovem, tá? Mas, na verdade, basta já...
ter doença, pra ter o seu agravo, independente da idade. Ok. Hoje, por exemplo, inclusive acho que vale a pena comentar isso, eu coordeno uma unidade de saúde aqui no nosso município, no Parque Mambucaba.
E hoje, por exemplo, seis e pouca da manhã, já recebemos um paciente jovem com dor torácica, quer dizer, seis e pouca, além de ser o horário do coração, a temperatura é mais fria. E com dor torácica, e infartando. Então, só pra ilustrar que realmente isso começa a se tornar mais frequente em um paciente jovem.
Aliás, é oportuno que a gente faça algumas perguntas para que a população, para que os ouvintes do programa, quem esteja te ouvindo, doutora Marta Cardoso, possa identificar minimamente quais são esses sintomas, por exemplo, de um infarto de miocárdio. Como é que a gente identifica uma pessoa passando por um percalço? cardíaco num dado momento e além de conseguir identificar quais são as medidas que o leigo pode fazer pra facilitar a manutenção da vida dessa pessoa.
Perfeito vamos lá, os principais sintomas e os mais característicos são a dor no peito a principal delas a dor no peito, só que não é uma dor no peito, tipo uma pontada, uma fisgada algo que você consiga localizar com a ponta dos seus dedos, dói aqui dói aqui, não e Ela é uma dor generalizada no peito, como se os dois hemitórax, eles se comprimissem em direção ao centro. Como se eu tivesse uma pessoa atrás de mim, me dando um abraço muito apertado, comprimindo os hemitórax. E daqui do centro, segue em direção ao pescoço, à mandíbula, ao braço, principalmente esquerdo. Mas pela face interna do braço, como se saísse debaixo da axila. em direção aos dedos.
A pessoa consegue levantar o braço? Dói muito. A dificuldade de levantar o braço, por exemplo, então, seria uma... Não, não é o movimento do braço.
É por dentro do braço, no trajeto das veias. Quando a gente vê aqui na parte de dentro do braço. Agora, uma coisa importante. Essa dor, ela começa sempre aos esforços.
Então, por exemplo, eu saio daqui e vou caminhando até o Agamar, por exemplo. E aí, sempre fiz esse trajeto e nunca senti nada. Hoje, eu acordei cedo, resolvi caminhar.
E ao caminhar, fazendo o mesmo trajeto, eu começo a sentir essa dor no peito toda vez que eu caminho. Aí eu paro, a dor melhora. Aí eu volto a caminhar, a dor retorna. Isso é uma característica típica do coração, chamada dor anginosa.
É a famosa angina de peito. É a dor torácica, tipo aperto. Peso, sufocamento, que acontece iniciada pelo esforço e melhora quando repousa. E isso começa a se tornar cada vez mais progressivo, ao ponto de que a pessoa praticamente não consegue mais fazer esforço nenhum sem que sinta dor.
Critérios de gravidade. Olha, a insuficiência cardíaca, mas a gente sabe que é uma condição crônica, né? Agora, o inverno influencia bastante. Bastante o manejo da doença, né?
A doutora Marta ainda há pouco falou que hoje teve um jovem em situação aflitiva, do ponto de vista cardíaco. Parece que as unidades recebem um volume muito maior nessa época do ano, então. Aumenta bastante a incidência.
aumenta bastante, e uma coisa que você me perguntou tem alguma coisa que a gente possa fazer eu tô em casa, tô sentindo essa dor o que que eu faço? A primeira coisa que você tem que fazer é buscar um AS se você tem uma dor torácica tipo aperto, peso sufocamento, como se alguém tivesse sentado em cima do seu peito e essa dor pode vir associada a falta de ar ou não busca um AS e toma porque a medicação de uso domiciliar que reduz a mortalidade efetivamente. O AS, aquele comprimidinho...
É isso. AS infantil, aquele que derrete na boca, aquele docinho, ele salva a vida. Interessante. E aí pede ajuda imediatamente, ligar pro SAMU, pedir ajuda pro vizinho mais próximo. Eu não recomendo que você vá dirigindo sozinho.
É, não é possível. Mas se não houver ou... outra possibilidade, sai o mais rápido possível para buscar atendimento médico.
Especialmente você homem, viu? A gente tem na comunidade entre os homens uma dificuldade imensa de falar sobre os percalços de saúde por que passa. Masculinidade tóxica mata a gente.
Então você mulher, você que desde muito cedo é educada a procurar os médicos para falar sobre suas necessidades, enfim. Os homens têm mais dificuldade quanto a isso em função desse fenômeno da masculinidade tóxica. Então, se você passa por alguma dificuldade, como disse aqui a doutora Marta Cardoso, é importante que você se pronuncie buscando ajuda, sobretudo porque dentro desses percalços não é recomendável que você tome medidas sozinho, como por exemplo dirigir, né?
Está próximo de acontecer se a circunstância é ruim. Gente, a doutora Marta... Marta Cardoso, que conversa com a gente, cardiologista, tem, como eu disse no início aqui da nossa entrevista, um histórico alucinante, né? Por exemplo, nos Jogos Olímpicos de 2016, ela atuou como gerente da equipe médica que cuidava de todo o evento, as Olimpíadas do Rio de Janeiro.
Que experiência, hein, doutora? Que experiência, incrível. Pensar que os atletas mais brilhantes do mundo, né, que tem uma dedicação de...
anos de treinamento intenso vão gastar segundos para serem provados perante o mundo e eu tava lá sem câmera lenta Michael Phelps não tem câmera lenta ela assistiu o pulo na piscina que foi a natação que antecedeu a aposentadoria de um dos maiores fenômenos da natação do mundo, Michael Phelps. É, impressionante. E qual era o desafio de ser a médica responsável pela equipe médica ou de saúde que cuidou dos atletas de diferentes origens do mundo num evento que concentrava a elite do esporte?
Como é que foi isso? Poxa, eu tenho algumas experiências bem legais para trazer em relação a isso. Um desafio incrível, né? Um desafio incrível por diversos motivos, né? Primeiro deles, por ser mulher, tá?
Todo mundo acha que isso não faz diferença, mas faz muita diferença. Geralmente, aliás, tirando eu, só tinha mais uma médica responsável por gerenciar as equipes. Nós éramos distribuídos em Vênus, né?
Que são os estádios. E ali eu era responsável por 60 mil vidas de dia, 60 mil vidas de noite, né? E a gente ali era o que eu falava pra equipe.
Quem brilha são os atletas. Nós entramos e saímos e ninguém tem que nos ver. A gente faz o que ninguém vê, mas a importância é pra que tudo aquilo aconteça.
Então, nessa época, em Tinha uma situação bem ruim com a Rússia. Eu não sei se vocês lembram, mas elas foram excluídas de quase todos os esportes por doping. Então, tava uma tensão muito grande em relação a isso.
E o fato de você ser brasileira, latino-americana. Só pra vocês terem uma ideia. Quando a equipe de natação americana chegou ao estádio, o médico... responsável pela equipe, a primeira coisa, ele não deixou nenhum atleta entrar no estádio. Primeiro entrou ele e pediu para buscar o gerente médico responsável pela equipe.
E se pronunciando pelo masculino, traga o gerente. Exatamente. Le conduziram ele até o meu encontro.
Quando ele olhou, ele falou, desculpa, eu acho que houve algum engano. Eu tô buscando o responsável pelo estádio. O responsável geral, aquele que manda. Quero falar com Deus aqui.
Quero falar com Deus. Aí eu falei pra ele, sou eu. E é. Sou eu. Aí tinha um voluntário meu, que era um médico.
Muito qualificado, responsável pela equipe de trauma do Hospital de Nova York. Ele era médico do NFL, da equipe de Nova York. E ele já havia sido também médico da equipe olímpica de natação. E eu sempre fazia treinamentos sistemáticos.
Eu chegava de manhã, treinava a equipe inteira assim que eu chegava, com reanimação e resgate. No período da tarde eu treinava novamente. No período da noite eu treinava novamente. Porque a gente tinha que ser perfeito.
Então eu fazia esse treinamento muito com ele. Lógico, eu buscava ele pra me auxiliar ali. E colocá-lo também dentro da equipe. Isso faz parte da integração, né?
E aí quando esse gerente falou assim comigo. Ele virou pra ele e falou assim. Opa, pera lá. Você não sabe.
Ela é cardiologista. Aí o médico da seleção americana olhou pra minha cara e falou, cardiologista? Eu falei, sim, cardiologista. Ele, me desculpe, tipo, o maior medo de todas as pessoas é a morte súbita, principalmente no esporte. Perfeito, o coração vai a níveis altíssimos, né?
Exatamente, e ali então ele me respeitou pela função que eu executo dentro da medicina, sabe? E isso eu achei pelo menos interessante. É. interessante, porque depois ele acabou ficando amigo e tudo bem, ficou tudo bem a gente circulou pelo estádio com ele e eu levei ele a todos os postos de atendimento nós tínhamos alguns, um voltado só pro público outro só pra equipe que trabalhava outro só pra equipe olímpica e passamos na prova e ele permitiu a entrada da equipe e nós podemos assistir um espetáculo pois é, esse seu exemplo, essa sua passagem Demonstra bem como a gente, culturalmente, e não é um privilégio de um técnico de uma seleção de natação americana. O mundo todo passa por essa mazela de não enxergar na mulher a capacidade de estar em qualquer ponto social que estaria um homem.
É uma tristeza que a gente ainda esteja vivendo cenários assim. Eu realmente espero, e com a sua fala de que vocês se tornaram amigos, espero que ele tenha aprendido com esse mico que pagou. É, isso aí.
Agora, eu fico imaginando o seguinte. A gente está falando aqui sobre, originalmente, nós começamos falando sobre doenças que se agravam com a chegada do inverno. Olimpíadas reúne pessoas de diferentes origens, lugares do mundo que não tem nem verão.
Mas mesmo assim, num período olímpico, pelo menos com atletas brasileiros, especialmente aqueles do norte do país, Pode ser visto algum tipo de mazela em relação ao estado de saúde desses atletas em função de estarmos num momento mais frio aqui no sudeste naquela época? Ó, que antecedesse o período da competição efetivamente, né, porque nós tivemos as Olimpíadas na parte da natação, né, que foi onde eu fui responsável, e durante a... Aproximadamente 10 dias. Mas nós temos 10 dias que são anteriores a esse período de competição que a gente chama de warm-up, que é a fase de aquecimento. E nesse período de aquecimento, ninguém adoeceu, tá?
Nenhum atleta adoeceu, porque temos uma característica na natação. A temperatura da água. Ah, sim. Ali ela é mantida.
Ela é mantida e tem que ser mantida justamente para que aconteça o mecanismo de termorregulação. Perfeito. Então, eles já chegavam ao estádio todos, e é bem no período frio, né, julho e agosto.
Eles já chegavam ao estádio preparados e nadavam. E depois, né, engraçado que agora eu vou comentar isso, porque a gente... pensa que a gente está falando sobre doenças e aumento da sua incidência durante o período do inverno. Mas vale a pena dizer também que tem muitos estudos falando sobre temperaturas frias e aumento de imunidade. Então assim, você que já vive em países frios, não há essa mudança brusca de temperatura.
Esse é que é o principal. Porque para aqueles que moram nos países frios, eles já sabem como se comportar perante o frio, se aquecer, as casas são previamente aquecidas e tudo mais, né? E pra gente, isso é muito mais evidente, porque são mudanças muito, como você mesmo disse, temperaturas de 40 graus e depois temperaturas de 15, né?
Então pra gente é muito pior. Então a gente tinha ali alguns parâmetros de segurança dentro dos... dentro dos estádios, a temperatura ela era diferenciada, a temperatura da água era medida o tempo todo e mantida em 26 graus, tá? Então isso era uma exigência do Comitê Olímpico Internacional e depois de treinar exaustivamente porque, por exemplo, o Michael Phelps e a Kate Ledeck, que levou tudo, também uma máquina, uma menina jovem americana e Eles, depois de saírem da natação, depois de nadar, sei lá, seis horas consecutivas.
Impressionante. Impressionante. Eles saíam pra piscina de gelo, né?
Ficavam ali mergulhados aqueles 20 minutinhos, né? Exatamente. Pra piscina de gelo. Aí você vai falar, mas doutora, e aí? Não aconteceu nada?
O agravo da doença cardiovascular é agravo. Se você não tem doença prévia, você vai passar bem. Certo. Tá?
Agora, se você já tem doença estabelecida, se você já é hipertenso, se você já fez um cateterismo, se você sente dor no peito, se você sente falta de ar quando você caminha, quando suas pernas incham, sua perna costuma inchar, a barriga inchar, e você pra dormir precisa dormir com três travesseiros, que é o que acontece na insuficiência cardíaca, pra esses pacientes, aí sim a situação fica mais grave. Estamos falando aqui com a doutora Marta Cardoso, médica cardiologista. A gente está trocando ideias com ela sobre as doenças que no inverno potencializa as mazelas do coração.
E a gente vai continuar esse papo com ela. Vamos dar uma parada rapidinha. Eu vou aproveitar para você que está ouvindo, participando, quem sabe até assistindo pelo YouTube, que você mande aí a sua curiosidade.
É muito comum que as pessoas tenham curiosidade e queiram tirar essas dúvidas também. Então aproveite. Você pode tirar dúvida aqui com uma médica...
poderosíssima, que mandou nos médicos durante os Jogos Olímpicos do Brasil, já foi secretária de saúde em Paraty também. Ela tem uma história, viu? Tá fazendo um doutorado agora. Vamos trocar mais ideias com ela na sequência e você pode participar, né, Diogo?
A gente volta já. Talk Show Costa Azul, a sua revista matinal com informação e música. Costa Azul Costa Azul 924. Sem fake news. Talk Show.
Você ouve, você sabe. Estamos de volta então aqui no Talk Show. O papo está acontecendo aqui. É uma entrevista com a doutora Marta Cardoso.
médica, cardiologista, doutoranda na área e que recentemente também recebeu uma nova missão, ela está coordenando, ela está à frente da unidade de saúde, é a UPA do Parque Mambucaba e ainda pouco aqui, enquanto rolava o break, ela falou muito entusiasmada dessa experiência. Verdade. Está implantando lá também a participação de alunos da academia.
Da escola de medicina. Conta pra gente, doutora, porque particularmente eu acho muito legal quando tanto o público da academia tem a oportunidade, em medicina, de fazer essa experiência em loco com as pessoas, enfim, na comunidade, e a comunidade tem mais olhos de saúde sobre si. Conta um pouco mais pra gente sobre isso.
Claro, vai ser um prazer, porque agora a minha nova paixão é a unidade de pronto atendimento, a UPA, do Parque Mambucaba, onde eu tive a honra de receber uma unidade novinha e estou fazendo com o maior carinho essa unidade. Então, por ela ser uma unidade nova... E eu ser docente, que eu sou professora na Faculdade de Medicina, na Estância de Sá.
Ainda faltou isso aqui no currículo dela. E eu estou preparando a unidade diariamente com capacitação médica. Por que capacitação médica?
Os médicos que estão lá não estão preparados? Não, porque a medicina faz com que a gente estude o tempo todo. Sem parar, né? O tempo todo temos mudanças em protocolo. protocolos, medicações, então a gente tem que estar sempre atualizado.
E então a gente faz cursos de capacitação, a gente está montando protocolo de atendimento conforme as diretrizes mundiais de atendimento para as doenças mais relevantes dentro da emergência médica, né? E é claro que as minhas doenças são as... primeiras do ranking. E a essas doenças, eu diria, as doenças cardíacas, cardiovasculares, qual o termo correto para se usar nessa...
qual é a nomenclatura? São doenças cardiovasculares. Ok, então é o coração e todo o sistema pelo qual ele envia e recebe para fazer o tratamento sanguíneo, é isso?
Exatamente. Não é só o coração, né? Exatamente, porque do coração, na verdade, vou falar para você que...
Os vasos nascem ali. O principal... Quilômetro zero.
Quilômetro zero, exatamente. O marco é o coração. É do coração que sai a principal artéria do corpo, que é a horta.
E a partir dela, temos os ramos para as artérias do corpo inteiro. Cérebro, olhos, o próprio coração, rins, estômago, intestino, pernas, braços. Tudo sai dela e ela parte do coração.
Perfeito, Diogo, você tem participação aí, meu caro? Sim, tem duas, na verdade Edna Gonçalves, ela está sempre participando aqui com a gente Ela mandou uma mensagem aqui no WhatsApp Bom dia, doutora Marta Quando tenho esse aperto no peito, costumo tomar goles d'água e alivia Mas já faço tratamento para hipertensão Beber água e hipertensão Muito, que pergunta ótima! Adorei, obrigada! Vamos lá, se você tem esse aperto no peito e ele costuma melhorar em repouso, em repouso, você não fez nenhum esforço em repouso, e costuma beber água e ela melhorar, provavelmente não é o coração. Dentro do tórax, nós temos vários outros órgãos.
E um deles é o esôfago. O esôfago é o órgão que liga a boca ao estômago. Vamos falar assim, tá?
Sim, perfeito. E esse esôfago, ele passa bem aqui no centro do peito, atrás desse osso que se chama externo, que fica aqui no centro. E ele... Sabe aquela plantinha dormideira? Que você encosta e ela se fecha?
Sim. Muito bem. Ele... na presença de ácido, se o estômago produz muito ácido, há um refluxo. Refluxo significa contra o fluxo, porque o fluxo natural de tudo que entra pela boca é sair pelo ânus.
Então é descer pelo sistema, tá? O ácido do estômago sai do estômago e pinga no esôfago. Na hora que encosta no esôfago, ele se fecha completamente, fazendo um espasmo. A gente chama isso de espasmo. esofagiano.
E a dor torácica é idêntica à dor do coração. Então, pra que você efetivamente defina se é coração ou uma esofagite, uma doença do refluxo gastroesofágico, você... deve procurar o seu cardiologista, ainda mais que tem um fator de risco pra entupir as artérias, que é a hipertensão.
Olha isso, é muita informação pra que estejamos todos atentos pra saber lidar, pelo menos minimamente, com essas circunstâncias, né? Tem mais, Diogo? Tem sim, tem mais duas, na verdade, vamos botar aqui na fila.
Bom dia, meu nome é G. Nilsson, eu sou hipertenso, tomo meus remédios e pratico corrida de rua. Minha dúvida é a seguinte... A corrida é contraindicada para hipertenso? Adoro!
Estou adorando! Porque eu adoro medicina do esporte, como gerenciei a equipe médica lá. Sim, nas Olimpíadas. A gente tem um departamento de esporte dentro da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o departamento de reabilitação cardiovascular. Então a gente acompanha muito bem o esporte e as doenças cardiovasculares.
Vamos lá. Respondendo a pergunta que foi feita, a corrida é contraindicada para hipertensos? De forma nenhuma. A corrida faz parte do tratamento da doença hipertensão.
Na verdade, como que funciona? Todas aquelas pessoas que têm pressão maior que 13 por 8 são consideradas hipertensas. Então, a partir de 14 por 9 são consideradas hipertensas. Mas nem todas terão indicação de remédio.
Só quando fazem pressão maior que 16 por 10. Aí todas vão receber remédio. Se você tiver entre 14 e 159, que é 15,9 por 99, você ainda não tem indicação formal de medicamentos. Qual é a contraindicação da atividade física e a doença cardiovascular quando você está descompensado?
Por quê? Porque o esforço, o corpo é uma maravilha. É uma maravilha. Ele vai te dar, o coração vai te dar aquilo que você precisa. Se você tá sentado, a sua necessidade é uma.
Se você tá em pé, é outra. Se você tá correndo, é outra. Então, se você parte de uma pressão arterial basal alta, quer dizer, você é hipertenso, e ou o remédio não tá adequado, ou você ainda não tem tratamento, no momento em que você correr, é fisiológico, quer dizer, é natural que o corpo eleve a pressão arterial pra que você possa executar.
Aumentar aquele movimento, aquela ação. Só que se você tá partindo de uma pressão basal alta, ela vai ficar mais alta. E aí você vai incorrer em sérios riscos em órgãos-alvo da hipertensão. E os órgãos-alvo da hipertensão são o cérebro, olhos, coração, rins e todas as artérias.
Então, toda vez que a pressão está maior que 16 por estes órgãos estão sofrendo simultaneamente. Daí o risco. Agora, se você está compensado, sua pressão está ok, seu remédio está certinho, corra, mas de acordo com seu condicionamento físico. Ideal, faça um teste de esforço, o teste na esteira, para que você veja a sua capacidade cardiovascular, para que você veja se você tem fator de risco, para desencadear uma doença cardiovascular, uma arritmia maligna, que leva à morte súbita, à parada cardíaca.
Ou um infarto agudo. Então, só pra fechar e deixar amarradinho. Esporte é contraindicado no paciente hipertenso? De forma alguma.
Inclusive, nós indicamos como tratamento uma atividade aeróbica seguida de musculação. Porque o ganho de massa muscular, músculo é vida. Coração é músculo, tá? E o ganho de músculo nos membros inferiores, principalmente, quer dizer, nas...
pernas, quando você ganha músculo nas pernas, você tá ganhando diretamente músculo do coração. Cultive sua panturrilha. Sabe o que acontece?
A cada intervenção da doutora Marta Cardoso caem umas seis ou sete perguntas, porque ela ataca as perguntas no alvo, né? Isso é extremamente legal. Você tem mais uma pergunta, Diogo?
Tem, tem, aqui, ó. O Roberto Marinho, o Roberto Mariano, na verdade, lá no YouTube, perguntou aqui, ó. Bom dia.
Doutora, o soluço é um sintoma de problemas cardíacos? Uma pergunta bem frequente, uma pergunta bem frequente. Ó, o soluço é como se fosse um descompasso, vamos falar assim, acho que é a maneira mais fácil de tentar explicar, tá?
É um descompasso diafragmático, que é um músculo, né, que separa o tórax do abdômen, tá? O coração... Ele fica localizado, a localização anatômica dele, ele tá coladinho no esôfago e ele tá coladinho em cima do estômago.
E logo abaixo do estômago temos o diafragma. Então o soluço pode... Pode ser um sintoma de doença cardiovascular?
Sim, pode ser. Geralmente associado a pacientes que possuem coração grande, que é a insuficiência cardíaca, ou pacientes com arritmia. Então, sim.
Também vale dizer, vou aproveitar esse gancho para dar uma informação super importante. Dor de estômago pode ser sintoma de infarto? A resposta é sim.
Olha... Principalmente se essa dor de estômago é... precedida, quer dizer, antes de você sentir a dor, você está fazendo esforço. Então, se eu faço um esforço e toda vez que eu sinto esforço, eu sinto uma dor aqui na altura do estômago e essa dor também vem pro meu braço esquerdo, procuro o cardiologista.
Porque eu já recebi diversos pacientes que estavam tratando com clínicos gerais ou gastritis. tomando omeprazol, pantoprazol há um tempão e na verdade ele estava tendo uma dor que a gente chama de equivalente anginoso porque se equivale a dor no peito Interessantíssimo, é importante que a gente guarde essas informações aliás, se você não tem memória para tudo isso, não tem problema essa entrevista com a doutora Marta vai ficar disponível Lá na sala da Costa Azul, no espaço que é o YouTube, né, Diogo? Ela fica a salva no YouTube e também no nosso podcast do Talk Show.
Isso, que legal. Agora, doutora, no meio de tantas informações, a gente ainda quer mais algumas. As últimas pesquisas, os avanços na área de cardiologia. Estou falando aqui com uma doutoranda, provavelmente tem acesso a dados, ou alguns já foram ditos aqui, até números e índices, né? Mas assim, a gente quer avanços na área de cardiologia que poderiam ajudar ou minimizar os impactos...
dessa mazela, quando essa temperatura cai, agora, por exemplo, no inverno. Existem já estudos e avanços na medicina, especificamente para essa circunstância, de queda de temperatura e potencialização das mazelas do coração? Nossa, uma pergunta muito legal. Se a gente olhar em âmbito nacional, vamos focar aqui, né? Em âmbito nacional, o que a gente tem que pensar, efetivamente, o que eu posso fazer para me proteger?
O que a medicina disponibiliza para que você possa se proteger? Na verdade, o que a medicina disponibiliza para se proteger são exames cada vez mais precisos. Para avaliação da presença da placa de gordura dentro da artéria. O que cabe a você?
Procurar o médico, caso tenha um sintoma. Tomar as devidas medicações. E aí, eu volto a falar que a classe masculina é uma dificuldade. Tanto que a incidência das doenças cardiovasculares são maiores em homens. Primeiro porque eles têm uma dificuldade muito grande de buscar ajuda.
Segundo de manter o tratamento. Pois é, há uma evasão também, né? Tratamento começado não é tratamento terminado, quando o paciente é homem, né? Exatamente, lembrando que as doenças cardiovasculares são doenças crônicas.
Tem a sua fase aguda, mas depois elas evoluem, se você sobreviver. É, pra ganhar estabilidade. Pra fazer crônico. Uma brincadeira.
Mas oportuna, necessária e cirúrgica. Pra trazer, na verdade, a seriedade pra situação, tá? A gente, na verdade, brinca, mas eu preciso deixar isso muito claro.
Doença do coração é a doença grave. Uma hora você está... No momento seguinte você não está mais.
E o paciente cardiológico, ele não tem faces de doente. Não falta um membro visível, então você não consegue ver que aquela pessoa está doente. Então é muito comum eu ouvir de pacientes assim Mas eu conhecia um amigo que entrou na emergência falando Ele que foi por meios próprios e não saiu de lá nunca mais. O coração é assim. Então vamos dar atenção devido a ele.
Ele é o nosso motor. A nossa bomba propulsora da vida. Quando o cérebro para, quando a gente tem uma morte encefálica, todos os aparelhos são desligados no momento que o coração para. Então, o coração é o órgão da vida.
Deem a atenção devida. Busquem mais o cardiologista, principalmente nesse momento de inverno. Isso.
Bom, estamos conversando aqui com ela, a doutora Marta Cardoso. Doutora Marta, que já trabalhou como... gerente de equipes médicas nos Jogos Olímpicos em 2016 no Brasil, ex-secretária de saúde de Paraty e está fazendo agora um doutorado. Eu acho que é oportuno que eu pergunte a ela.
Sobre essas experiências de gestões e os desafios do Sistema Único de Saúde. Quais os desafios que esse sistema tem enfrentado para atendimento à população? E aí da forma mais geral possível, desde equipamentos, a mão de obra, qualidade da formação da mão de obra.
Por favor, fique à vontade para falar sobre essa experiência. Muito bem, nós vivemos um período um pouco mais difícil em relação à saúde. Eu já enfrentei diversos desafios, inclusive, frente a duas gestões, né? A gestão da Secretaria de Saúde, a do Comitê Olímpico não pode contar, né? Porque, na verdade, ali era uma entidade privada, né?
Então, os recursos são muito maiores, é tudo muito mais fácil. No Sistema Único, nós temos que passar por controles e temos mesmo, tá correto, né? Porque é um dinheiro público, é um dinheiro do público.
povo, né? Então, existem controles e esses controles fazem com que o tempo, né? Pra que a gente possa conseguir comprar medicamentos, equipamentos, acabem ficando um pouco maior, tá? Mas eu sou suspeita pra falar, porque essa unidade do Parque Mambucaba... Tem tudo lá, doutor?
Tem mesmo. de desfibrilador. Tem, tem mesmo. Hoje, por exemplo, nós utilizamos. Nesse jovem que chegou lá.
Nesse jovem que chegou no infarto. Nós temos mesmo. Então, isso é uma coisa bem legal, porque a gente tá com uma estrutura bem novinha, onde a gente tá fazendo capacitação médica, a gente tem a presença dos acadêmicos, o que traz um crescimento pra gente muito grande, porque também faz com que todos os médicos tenham que se atualizar o tempo todo.
Nós temos os equipamentos de suporte. Para o atendimento do paciente grave. O que acontece às vezes é um pouco na demora do atendimento. Mas isso faz parte do volume também de atendimento que temos. A alta demanda.
Mas eu acredito assim. Enquanto tiverem médicos apaixonados pelo sistema único de saúde. Como eu.
Que fiz medicina para ajudar aquele que não pode. Aquele que precisa mais e tem menos. E é por isso que eu ainda estou, depois de 22 anos de formada, nem precisaria estar mais no Sistema Único, mas eu faço questão, porque lá atrás eu levantei a minha mão num juramento. Então eu faço isso valer de verdade.
Conversamos com ela, gente. Doutora Marta Cardoso, médica cardiologista, doutoranda na área de medicina, já atuou nos Jogos Olímpicos aqui no Brasil, foi secretária de saúde em Paraty, Ahm tem tanta coisa pra se dizer dessa mulher, eu agradeço, viu? O seu escasso tempo pra trocar essa ideia com a gente nessa manhã, eu tenho convicção de que ajudou muito as pessoas com as informações que foram colocadas aqui e de uma forma muito didática, muito eh sorridente, obrigado por isso também, eh e que não demore uma próxima oportunidade aqui no programa, viu doutora Marta? Obrigado mesmo.
Eu que estou profundamente honrada, feliz de estar aqui. Porque eu sei que a gestão, assim como esse momento, ele dá pra gente a possibilidade de alcançar um número muito maior de pessoas. Então você imagina que as pessoas que estão ouvindo a rádio agora vão saber que uma dor de estômago que começa quando eu faço esforço pode ser o coração.
E antes não sabia. Então quantas pessoas não podem ser salvas com essa informação? Então eu estou cumprindo o meu papel. como médica, como cidadã e agora angrense porque eu estou morando no Parque Mambucaba e feliz da vida de estar aqui com vocês foi uma manhã maravilhosa eu que agradeço vocês ouviram uma médica apaixonada pela função social da profissão de ser médico que essa paixão dela continue contagiando os alunos dela e que a sociedade, especialmente angrense lá da região do Parque Mambucaba se beneficie cada vez mais dessa paixão dela e dos alunos. Obrigado, doutora.
Muito obrigada a vocês. Sem fake news. Talk Show.
Você ouve, você sabe.