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Relação entre Senso Comum, Ciência e Filosofia

Fala aí, pessoal, beleza? Nessa videoaula a gente vai falar sobre o senso comum e sua relação com a ciência e com a própria filosofia. É muito normal a gente achar que são coisas completamente diferentes. A gente geralmente toma uma postura radical, onde a gente considera que o senso comum nada tem a acrescentar para o pensamento filosófico e científico, e eu vou tentar demonstrar para você que não é bem assim.

Olha só, você concorda comigo que o senso comum... Ele representa um acúmulo de saber de uma determinada cultura, de uma determinada sociedade. Se a gente pegar certas comunidades indígenas, por exemplo, a gente vai perceber que existe um saber medicinal, um domínio da medicina botânica dessas comunidades, enorme, gigantesco.

E como é que a gente pode dizer simplesmente que o senso comum construído por essas sociedades, por essas comunidades, não tem nada a contribuir para a ciência? E a gente precisa nem ir para casos mais isolados. Se a gente pegar conhecimentos, saberes relacionados à nossa vida urbana, a gente percebe que também existe um acúmulo de saber muito grande dessas culturas e dessas sociedades urbanas.

Então, é muito complicado a gente dizer que a ciência deve dar as costas a tudo que o senso comum diz. Quando, na verdade, historicamente... Essas sociedades possuem consigo saberes riquíssimos que podem contribuir para o desenvolvimento da ciência. Outra coisa importante também é que o senso comum demonstra a nossa capacidade de teorizar. Não importa se a explicação que você dá sobre o mundo é uma explicação falsa, uma explicação baseada em preconceitos.

O que importa nesse caso é o seguinte, você tentou explicar a realidade e você já está criando teoria sobre o mundo. Criar teoria é você usar a sua capacidade de abstração para racionalizar as coisas que você está observando. Ou seja, é a capacidade de dar sentido ao mundo que você vive.

E isso é algo que somente os seres humanos têm. E, além disso, isso é um pré-requisito para qualquer tipo de conhecimento. A filosofia, para acontecer, para se desenvolver, ela precisa dessa capacidade de teorizar o mundo, de racionalizar o mundo. A ciência é a mesma coisa.

Por exemplo, você, quando você está comendo um ovo frito, cara, você não simplesmente sente o gosto daquele ovo frito, etc., como também você é capaz de teorizar um método de reproduzir aquele ovo frito novamente, caso você queira comer. Então, essa capacidade de sentir o mundo e teorizar sobre o mundo é um pré-requisito da ciência, que não necessariamente... é...

está somente no pensamento filosófico e científico, mas também está no senso comum. E o senso comum, ele contribui com essa capacidade de teorizar sobre o mundo. É meio que o primeiro passo para você fazer filosofia e fazer ciência é o senso comum, que é essa teorização, essa explicação que você dá para a realidade, beleza?

A diferença da ciência em relação ao senso comum é justamente o vericacionismo e também a característica exploratória. A ciência, por natureza, por conta de uma característica intrínseca, ela vai tentar sempre verificar aquelas explicações que o senso comum dá. que o senso comum nos traz. Então o senso comum primeiro teoriza, ele dá uma explicação sobre a realidade, o que a ciência vai fazer é verificar se essa explicação é verdadeira ou não.

E como ela faz essa verificação? A partir da exploração, a partir da busca de outros fatos que venham reforçar a teoria do senso comum ou até mesmo fatos que venham desqualificar a teoria do senso comum. Então a ciência dá um passo a mais, que é a verificação dos fatos e a exploração. também dos fatos da realidade para verificar se existem outros elementos que corroboram ou desqualificam a teoria levantada pelo senso comum.

No que diz respeito à filosofia, nós temos também uma característica bem peculiar. A gente percebe que o senso comum tem uma postura muito mais indutiva. Lembrando, indução é você partir de experiências particulares para construir ideias gerais. Por exemplo, se eu... Eu estou gravando aqui de camisa preta.

Aí você assiste o vídeo de um outro professor que também está com camisa preta. De um terceiro professor que também está de camisa preta. Ou seja, a partir dessa experiência particular que você está tendo com cada professor, você pode chegar a uma seguinte conclusão. Todo professor de camisa preta, todo professor do AZ grava vídeo aula de camisa preta.

Da rede AZ grava de camisa preta. E aí você... Essa informação, essa conclusão que você tira, pode ser uma informação falsa. Por quê? A partir do momento que aparece um professor que grave com uma camisa de outra cor, isso vai invalidar a sua afirmação.

Porém, não deixa de ser um tipo de raciocínio, esse tipo de raciocínio indutivo. Você parte de experiências particulares para chegar a uma conclusão geral, universal, mesmo que essa conclusão possa ser invalidada por uma outra teoria ou por uma outra investigação. A grande questão é, nesse momento, eu quero que você perceba que o senso comum, ele utiliza esse método indutivo para construir suas teorias, porque ele parte justamente da experiência particular dos sujeitos, da experiência subjetiva de cada um.

Já a filosofia, não. A filosofia, ela busca não somente partir das experiências particulares, mas como ela busca criticar essas... criticar, questionar... essas conclusões geradas pelo senso comum, ok?

Então a gente percebe uma espécie de casamento entre essas duas visões, entre essas duas posturas. Por um lado, o senso comum, através da indução, cria teorias. No momento seguinte, posteriormente, a filosofia lança questões em cima das teorias construídas pelo senso comum, beleza?

Então a filosofia tem essa capacidade de superar as teses do senso comum por conta... da sua racionalidade, então a filosofia usa a razão, o aspecto racional do discurso, do pensamento para poder criticar o senso comum e superar esse senso comum. Utiliza também o questionamento, ou seja, a crítica, a capacidade de encontrar problemas sobre as percepções do senso comum.

E um dos pontos mais importantes é a capacidade de objetificação. O que significa isso? Desculpa, a capacidade de objetivar.

O que significa isso? Objetivar é você construir conceitos que possam ser compreendidos por qualquer pessoa, e não conceitos que vão variar de acordo com a percepção de cada sujeito. A filosofia tem a preocupação de deixar o conhecimento claro e tornar o conhecimento mais universal possível.

Essa é a pretensão da filosofia. Como nós podemos construir conceitos que possam ser compreendidos por... todos de forma igual.

Então, objetivar é isso. É o oposto de subjetivar. A diferença entre aquilo que é subjetivo e aquilo que é objetivo é justamente a capacidade que aquele conceito ou aquela coisa tem de ser compreendida por um número grande de pessoas. Se algo é objetivo, é capaz de ser visto por um número grande de pessoas e compreendido da mesma maneira por um número grande de pessoas.

Se é algo subjetivo, ele varia. A interpretação, o entendimento sobre aquele conceito varia de acordo com cada pessoa. Beleza?

Então a filosofia tem uma objetividade, ela busca dar objetividade para o conhecimento e para os conceitos. Beleza? Já o senso comum não tem essa preocupação. Então, pessoal, é isso aí. Aquele abraço e até a próxima.

Valeu!