Está na hora de viajar pelos cinco continentes, neste que é o programa da Rádio Observador, em que todas as semanas analisamos a geopolítica internacional. Isto não se faz, André Maia, sem a ajuda do historiador Bruno Cardoso Reis. Bruno, muito bem-vindo. Como é que estás? Olá, Bruno.
Olá, obrigado. Bom dia, tudo bem? Vamos a isto.
Mais uma semana, muitos assuntos para analisar. E vamos começar o episódio desta semana no Médio Oriente. No Líbano temos um cessar-fogo cada vez mais em crise. Já tínhamos falado disto também na semana passada.
Enquanto que na Síria a semana fica marcada pelos avanços dos rebeldes. Já conquistaram Ammá, a quarta maior cidade do país, e estão a 200 quilómetros de Damasco. E Bruno, a pergunta aqui é até onde é que pode ir?
este avanço rebelde e se era expectável? Bem, aqui é importante dizer aos nossos ouvintes que estamos a gravar isto com alguma antecedência até pela diferença horária entre os Estados Unidos e a Europa, não é? No fundo estamos a fazer o programa em dois continentes Sim.
Para falar de todos os outros. De dois a cinco. Devemos fazer em cinco.
E realmente tu estavas-me a perguntar como é que eu estou. Eu estou bem mas o mundo, enfim, não está assim tão bem. Há muitos países que parecem estar numa situação bastante complicada e em particular é que o regime também O regime sírio é da família Assad, que já tem muitas décadas, que parecia ter, se não vencido completamente, pelo menos ter sido, digamos, o principal vencedor ou o vencedor parcial da guerra civil que se iniciou em 2011. Portanto, aqui para dar um pouco de contexto, a Síria torna-se independente em 1945 da França.
Antes disso tinha sido parte... do Império Otomano até à Primeira Guerra Mundial, até 1918, quando a Turquia Otomana, o Império Otomano faz aqui uma opção, uma aposta que se revelou errada nos impérios centrais, que o vencedor da guerra seria o Kaiser, enfim, até uma inversão de alianças, os aliados tradicionais da Turquia Otomana tinham sido até exatamente a França e a Grã-Bretanha, inclusive no século XIX, sobretudo contra a Rússia, que era a grande ameaça mais próxima do Império Otomano e quando primeiro a França e depois a Grã-Bretanha se aproximam da Rússia, precisamente para conter a Alemanha, no fundo a Turquia Otomana acaba por optar por esta mudança de alianças, mas vai perder a Primeira Guerra Mundial e, portanto, vai perder o seu império, o seu vasto império no Médio Oriente, inclusive a província da Síria, que incluía, aliás, partes do Líbano. que é hoje o Líbano, da Palestina, de Israel, da Jordânia. Mas, portanto, a Síria independente, a partir de 1945, vai, como aconteceu em muitos outros países árabes, vai ser dominada por correntes de nacionalismo árabe, mais do que propriamente por correntes religiosas, digamos, muçulmanas. E, muito rapidamente, esse nacionalismo árabe vai justificar uma série de golpes de Estado.
No fundo, as forças armadas, o exército, até também por conta do conflito com Israel. A Síria também está envolvida logo. na guerra contra a independência de Israel em 1948, e vai perder essa, como várias outras, isso realmente vai levar a um protagonismo enorme dos militares, e portanto há-se uma sucessão de golpes de Estado em 1963, em 1966. A partir de 66 o Hafez al-Assad, o pai do atual presidente sírio, começa a ganhar protagonismo e toma o poder num golpe, uma espécie de autogolpe, a partir de 1970, 71. E portanto desde 1961 que a Síria tem sido governada, ou pelo pai ou pelo filho, ou seja, por Afiz Al-Assad até 2000, quando ele morre, ou desde 2000 por Bachar Al-Assad. Nessa altura, em 2000, houve alguma expectativa de que houvesse aqui uma espécie de primavera de Damasco, uma abertura, afinal ele tinha estado na Grã-Bretanha, era um optometrista, portanto não era ele aliás supostamente o herdeiro, digamos, da...
da fortuna política da família, o irmão mais velho morreu num acidente e, portanto, ele depois assume esse papel, mas realmente é também esta perversão, no fundo, do nacionalismo árabe, que abre muito espaço depois a estes movimentos fundamentalistas e hadistas, que dizem que o Islão é a solução, porque realmente temos uma república em que o governo, o regime está completamente controlado por uma família, por um grupo minoritário, a lauita, que é uma das várias etnias, grupos étnico-religiosos, em que está dividida a Síria, apenas à volta de 60% dos sírios é que são árabes sunitas, provavelmente, depois há muçulmanos, mas por exemplo, curtos, são uma minoria. É muito importante, há à volta de 10% de cristãos, são das mais antigas comunidades cristãs, aliás, que remontam ao tempo de Cristo, basicamente, São Paulo, etc., São Paulo na estrada de Damasco, mas, e portanto, o regime realmente que domina a Síria desde 1961 é esta coisa de uma república dinástica, não é? Portanto, tem que, a seguir à morte do presidente Afizel Assad, suceder-lhe o fim.
Há sempre alguém, não é? Há sempre alguém e, portanto, esse completo fechamento deu muito a ASU uma enorme insatisfação, que explode em 2011, no contexto daquelas primaveras árabes. O problema é que realmente o regime sírio, ao contrário, por exemplo, do regime do Colonel Gaddafi, sempre teve um apoio externo muito mais importante, precisamente desde 1971, que há uma base naval, a única base naval soviética e depois russa no Mediterrâneo, um velho sonho da Rússia. É precisamente em Tartos, na costa síria. Depois há também esta aproximação com o Irão, com a República Islâmica do Irão, que apoia muitas vezes estes regimes minoritários.
Portanto, o Irão, é preciso recordar, é um regime xiita. Os xiitas são uma minoria, no contexto do Islão sunita, que é o dominante nesta região. Agora, aqui a grande questão neste momento é, para terminar...
até onde é que eles vão, acho que podem ir provavelmente até Damasco ou seja, acho que o Rímos está realmente em risco de cair. É uma questão de tempo é possível a não ser que haja aqui algum fator novo que até agora não apareceu porque por um lado a Rússia está muito distraída com a Ucrânia, portanto não tem duas mil tropas especiais de repente para enviar assim, pelos vistos o Irã e o Hezbollah que tinham uma presença no terreno muito importante estão extremamente enfraquecidos por causa dos ataques israelitas e portanto Portanto, o regime só pode contar com o próprio regime e aí há um enorme cansaço, uma enorme insatisfação nas próprias fileiras. Agora estava a ouvir um padre cristão em Latáquia, que é nesta zona costeira, onde há muitas destas minorias que tradicionalmente apoiavam o regime assado, a dizer que nós estamos cansados, não queremos saber democracia, não queremos saber quem é que vai governar, só queremos é paz e sossego, porque nada foi reconstruído, nada funciona.
O regime realmente venceu, vamos dizer assim, parecia ter vencido, pelo menos em parte, desde 2020, mas o país estava completamente destruído, o regime continuava a ser extremamente corrupto e, portanto, parece que mesmo entre os seus apoiantes tradicionais deixou de haver quem esteja disposto a combater pelo regime. Portanto, vamos ver se isso muda quando estas forças se aproximarem da máscara ou da costa, mas para já parece-me que realmente o regime está seriamente em risco de cair. Bruno, vamos à guerra na Ucrânia.
Esta semana tivemos declarações do secretário norte-americano António Blinken que diz que para a Ucrânia ganhar a guerra não bastam só armas, mas que também são necessárias tropas ucranianas. Pergunto-se, será realmente assim? É realmente assim, ou seja, aqui obviamente a resposta dos ucranianos é dizer, bem, nós teríamos mais tropas se, por exemplo, não tivéssemos estado meses e meses sem armas americanas.
Portanto, teríamos mais tropas. Teríamos tido muito menos baixas se desde o início nos tivesse sido fornecido algum deste equipamento avançado, em vez de ter havido toda aquela, enfim, aquela novela à que nos fomos habituando de não é possível fornecer, é muito perigoso, podia levar à terceira guerra mundial, podíamos fornecer mas os ucranianos não sabem usar, é muito complicado, pois afinal vamos fornecer, mas entretanto já se passou muitos meses, depois vamos fornecer e realmente chegar o armamento, muitos mais meses passam. E muitas vezes quando o oramento chega ainda há limitações ao seu emprego pleno, com plena eficácia, as famosas linhas vermelhas, mais uma vez por causa deste receio constante de escalada e, portanto, aqui o secretário de Estado, o chefe da diplomacia americana tem razão, mas percebe-se aqui a enorme frustração dos ucranianos.
Agora, o problema neste momento é muito este que é, independentemente... dos ucranianos terem todas as razões de queixa, independentemente de isso ser verdade. A verdade também é que, num conflito muito prolongado, num conflito que se transformou numa guerra de erosão, de desgaste, à partida a Ucrânia tem este problema, tem esta desvantagem, ou seja, mesmo com o armamento ocidental melhor, até porque ele não existe em quantidade suficiente, não foi fornecido em quantidade suficiente, ou até mesmo...
Não é só uma questão de falta de vontade política, é que, por exemplo, sobretudo no caso da Europa, não existe assim em tão grande quantidade. A verdade é que esse equipamento não é suficiente para fazer, no fundo, para derrotar a Rússia, ou aparentemente até para travar completamente a Rússia. A Rússia tem continuado a avançar, este mês foi o pior mês para a Ucrânia desde o início, enfim, desde aqueles meses iniciais da guerra, não é?
em que os russos avançaram sobre Kiev, etc. Mas, portanto, e realmente aí a questão é, parece haver realmente um problema de falta de tropa ucraniana, por conta destas enormes baixas, deste enorme desgaste, e, portanto, há aqui uma pressão, no fundo, dos aliados ocidentais, no sentido de dizer, nós, no caso da atual administração americana, vamos gastar todo o dinheiro que temos até chegar a Donald Trump, vamos fornecer o máximo de armas. e vamos levantar até uma série de limites, mas isso não é suficiente.
No fundo, e se dá-nos autoridade para dizer isso não é suficiente, vocês têm de realmente pensar em alterar, no fundo, as regras de alistamento obrigatório, serviço militar obrigatório, para começarem não aos 25 anos, mas aos 18 anos. Eu acho que realmente é terrível de se pedir. A Ucrânia tem feito este esforço, no fundo, para preservar um pouco a sua juventude, dar-lhe a possibilidade, inclusive, de se educar, de fazer um... o curso superior, etc., de se preparar para o futuro. Mas, ao mesmo tempo, isto é a única reserva estratégica que a Ucrânia ainda vai tendo e, portanto, em última análise tem de ser a Ucrânia a fazer essa avaliação, a verdade é essa, ninguém mais tem legitimidade para o fazer, mas realmente a Ucrânia pode correr o risco, mesmo com o armamento ocidental, de começar a ter não só um número de tropas insuficientes, mas até por causa disso, estas tropas que estão a sofrer um esforço, pressão enorme há muitos anos, há vários anos, acabarem por começar também a perder eficácia e, portanto, isso ter aqui consequências potencialmente dramáticas para a Ucrânia.
E, Bruno, tivemos novamente o apresentador Tucker Carlson em Moscou, depois de entrevistar Putin, agora entrevistou Sergei Lavrov, que repetiu a ameaça russa da Terceira Guerra Mundial, de que já falámos muitas vezes. Desta vez, até disse que a situação atual é mais grave do que na crise dos mísseis de Cuba de 1962. Bruno, essa comparação tem sido feita várias vezes, entre Cuba e a Ucrânia, até para criticar os Estados Unidos, mas faz sentido compararmos estas duas crises? Não faz.
Aliás, há um historiador que estudou, há vários, mas um até de origem russa, o Sergei Raduchenko, que até usou as redes sociais para dizer, para fazer, digamos, uma thread, um fio a dizer, não faz, basicamente, em síntese, não faz sentido essa comparação, mas realmente achei que era interessante pegar nesse ponto, porque a comparação muitas vezes é feita neste sentido até a dizer, bem, os Estados Unidos falam muito da Ucrânia e da Rússia na Ucrânia, mas também houve a questão de Cuba em 1962 também. Mas é que o exemplo não serve para criticar os Estados Unidos, serve para criticar a Rússia. Aquilo que aconteceu em Cuba em 1962, nessa crise que foi o mais próximo que se esteve provavelmente na Guerra Fria, de um choque direto entre os Estados Unidos e a União Soviética, embora, como disse o Sergei Radchenko, e é verdade, não houve nunca em momento nenhum que nós saibamos das fontes.
A intenção nem da parte da liderança americana nem da parte da liderança soviética de desencadear uma guerra nuclear, uma guerra total, portanto nunca houve esta ideia de vamos ameaçar com uma guerra nuclear com a ideia de possivelmente vamos avançar para ela, portanto sempre se tentou evitar isso dos dois lados. Mas além disso, a questão em Cuba, que é realmente um país muito próximo, enfim, tem uma fronteira marítima de 200 quilómetros por mar, digamos assim, da... do sul da Flórida. Portanto, é nesse sentido comparável com a Ucrânia, portanto um país vizinho também da Rússia.
Mas a questão em Cuba foi, a crise surgiu porque os soviéticos colocaram lá secretamente armas nucleares cujo único objetivo era atacar os Estados Unidos. A crise na Ucrânia surge porque os Estados Unidos pagaram, pressionaram, fizeram pressões diplomáticas sobre a Ucrânia para a Ucrânia entregar as suas armas nucleares que tinha. a terceira potência nuclear que tinha herdado a União Soviética quando se tornou independente em 1991, para as entregar à Rússia em troca de uma garantia de segurança, em troca de uma garantia de segurança das suas fronteiras.
O famoso Moran de Budapeste de 1994. Portanto, a origem da crise é... As situações são bem diferentes, não é? É completamente oposta.
Quer dizer, foram os Estados Unidos que tiraram as armas nucleares que poderiam ameaçar a Rússia da Ucrânia e as entregaram à Rússia. E foi isso que criou a possibilidade... depois a Rússia, no fundo, mostrando que está de má fé, que os compromissos que assina não valem nada, no fundo permitiu depois a Rússia invadir a Ucrânia, começando em 2014 com a Crimea, quando Putin disse, mais uma vez mostrando que a sua palavra, os compromissos, os acordos com a Rússia de Putin não valem nada, disse, fiquem descansados, que é só a Crimea, mentiram o que dizem no Ocidente, que isto é só o início, não senhor, a Crimea é uma situação... É um procedimento excepcional, nós não queremos mais um pedaço de território da Ucrânia, como depois disso, como sabemos até, literalmente, à véspera, horas antes da invasão de fevereiro de 2022, que não ia haver invasão nenhuma da Ucrânia.
Portanto, aqui o que é realmente grave, o que torna a situação perigosa, é não se poder confiar de todo naquilo que a Rússia diz, não haver nenhuma razão para acreditar que qualquer compromisso com a Rússia é um compromisso para levar a sério e que está a ser assumido de boa fé. O que é grave aqui é a Rússia estar sistematicamente a usar uma chantagem nuclear, a ameaçar com usar armas nucleares num contexto em que elas nunca foram usadas, isso nunca foi visto como legítimo desde 1945, com várias guerras, inclusive indiretas, ou seja, em que um dos lados está a ser armado, apoiado pelo outro, entre a União Soviética e os Estados Unidos, por exemplo no Vietnã ou no Afeganistão. em que a União Soviética perdeu essa guerra ou em que os Estados Unidos perderam essa guerra e nunca houve ameaças ou nunca houve o uso de armas nucleares. E, portanto, isso aí é que é grave, é que não tem precedentes a existir essa escalada.
Ela, em parte, seria culpa desta chantagem constante que faz com que não se perceba muito bem quando é que a Rússia poderá realmente usar armas nucleares e seria, em todo caso, completamente inaceitável. Só iria acrescentar à gravidade desta agressão russa contra... contra a Ucrânia.
Bruno, temos apenas dois minutos até o final desta primeira parte e ficamos pelos Estados Unidos. E agora sim estão terminadas as contas das eleições. Pergunto como é que estão as coisas e, ainda por cima, estando tu aí nos Estados Unidos da América, e o que é que vamos percebendo do novo governo Trump e das suas prioridades, até porque temos tido a formalização dos nomes da nova administração? Bem, em termos dos números definitivos, realmente, finalmente, portanto, esta eleição foi, é oficial, oficial, foi a mais renhida das últimas décadas, praticamente do último século. Portanto, com uma diferença menor, quer em termos presidenciais, quer em termos legislativos.
No caso do Congresso, isso significou que só agora, só esta semana, é que o último lugar que estava em disputa, o último congressista, foi realmente eleito. Portanto, sabemos que os republicanos terão uma maioria de apenas 5 congressistas na Câmara dos Representantes, 215 democratas e 220 republicanos. Em termos presidenciais, portanto, volto a recordar os números, a diferença é de 48.3%, 49.9%, portanto, mais ou menos 1,5% de diferença entre Donald Trump e Kamala Harris.
Agora, apesar disso, a verdade é que ele consegue controlar todos os principais, digamos, mecanismos de poder, legislativo, o Congresso. O Senado, a Câmara dos Representantes, consegue controlar a Presidência e consegue também controlar o Supremo Tribunal. Tem uma maioria de seis juízes, contra três juízes mais à esquerda.
E, portanto, isso significa que ele tem realmente grande capacidade. Se o Partido Republicano não se opuser a isso, pelo menos uma parte do Partido Republicano não se opuser a isso, para nomear quem entender. E ele está a usar essa margem de manobra para realmente nomear um gabinete que inclui alguns elementos mais moderados.
digamos, com mais experiência nas pastas que vão assumir, o Marco Rubio, o Mike Waltz, por exemplo, no caso da diplomacia ou o Conselho de Segurança Nacional, ou mesmo as pastas mais económicas, mas ao mesmo tempo está a nomear realmente pessoas sem qualquer experiência relevante nas pastas e em que o único critério parece ser a completa lealdade a Trump. terem declarado publicamente que estavam dispostos a perseguir judicialmente os seus inimigos, por exemplo, o Sr. Patel, que está nomeado como diretor do FBI, sendo que, a partir do diretor do FBI, tem um mandato de 10 anos que ainda não terminou, e foi, aliás, nomeado por Donald Trump. O Joe Biden manteve o diretor do FBI conhecido, nomeado por Donald Trump, precisamente para este princípio, digamos, de isolar o FBI de pressões políticas.
E portanto, agora vamos ver, vamos ver se alguns desses nomes caem, já que eu pelo menos um, o Procurador-Geral, como sabemos, também já sabemos os nomes de alguns embaixadores, por exemplo, um dos últimos nomes é o embaixador Nanato, que mais uma vez é alguém sem nenhuma experiência nestas áreas, não tem qualquer experiência em termos de defesa, qualquer relação anterior com a NATO, foi Procurador-Geral. digamos, em funções no final do mandato de Donald Trump, e aí mostrou alguma lealdade a Trump, e aparentemente foi recompensado com este cargo. Mas, portanto, este terá um teste também, no fundo, ao funcionamento do sistema, e até que ponto é que ainda há algum contrapeso a Donald Trump, inclusive dentro do Partido Republicano, como sabemos, é cada vez mais um partido trumpista. Bruno, ficamos por aqui. Na primeira parte, regressamos já a seguir com os 5 continentes na Rádio Observador.
É logo a seguir às notícias. Até já. Até já.
Estamos de volta. Bem-vindo à segunda parte do 5 Continentes na Rádio Observador com o historiador Bruno Cardoso Reis. Todas as semanas viajamos com ele pela geopolítica internacional e, Bruno, vamos até à Europa. Aliás, vens tu até à Europa. Para falarmos sobre a crise política em França, falamos de Michel Barnier que, depois de ter liderado vários ministérios nos últimos anos, não conseguiu superar a primeira prova de fogo do Executivo, a aprovação do orçamento para 2025. O governo caiu com uma moção de censura, apenas um dia de completar três meses no cargo.
Falamos aqui de Michel Barnier. Bruno, o que eu te pergunto é que se estará a Quinta República Francesa em questão? E quais são as implicações que isto tem e pode ter para o resto do mundo?
Bem, realmente nós temos a primeira conclusão evidente é que a Europa está em crise. Há regimes, há governos em países absolutamente centrais muito frágeis. A questão da Alemanha também, por exemplo, que já temos de falar.
Exatamente. Temos a Roménia, que é um país, apesar de tudo, são quase 20 milhões, é um dos maiores países do leste, é um vizinho, é o grande vizinho a sul da Ucrânia. que, enfim, o Supremo Tribunal acabou de anunciar que vai anular as eleições presenciais, que falámos aqui na semana passada por conta da questão do TikTok, enfim, uma decisão eventualmente que me parece um bocadinho questionável, embora pareça cada vez mais inquestionável, que houve uma forte tentativa de interferência russa, de desinformação através do TikTok, etc., para favorecer um candidato, digamos, nacionalista, populista, hostil à NATO, à União Europeia, à Ucrânia, etc., mas, como eu disse nesse contexto... Parece-me que, apesar de tudo, as pessoas sobretudo compram a desinformação que querem.
Enfim, vamos ver. Pode ser que não seja assim e que com esta anulação e com novas eleições que haja outros fechos, mas acho que o risco é que se repita mais ou menos o mesmo resultado. Mas em todo caso, no caso da França, realmente a França não é aqui um país qualquer.
É a segunda maior economia da União Europeia. A par da Grã-Bretanha é a única potência europeia com armamento nuclear. É um membro permanente. Conselho de Segurança, membro do G20, do G7, etc. E, portanto, temos esta questão de, realmente, dos 10 governos mais curtos da 5ª República, portanto, o regime francês que existe desde 1958, 5 foram desde 2017, foram basicamente no mandato de Macron.
Portanto, há claramente um agravar da polarização, da incapacidade de compromisso, da dificuldade em fazer governo. Em França, não é? A aposta de Macron de fazer eleições antecipadas neste verão revelou-se uma aposta errada e, enfim, muito arriscada seria sempre, mas basicamente levou a um parlamento completamente ingovernável com três blocos muito equilibrados, mas que recusam qualquer compromisso, um bloco em que pesa mais a extrema-esquerda, embora a partida tenha até...
pessoas de centro-esquerda, mas que se deixam condicionar pela extrema-esquerda, depois temos a extrema-direita da senhora Le Pen, e depois continuamos a ter um bloco central, centrista, se quisermos, ligado a Macron. E, portanto, isso é realmente muito complicado. A Quinta República tem bastantes mecanismos para procurar lidar com isto. Isto não é propriamente uma surpresa, nem uma novidade completa na vida política francesa.
Os franceses... São piores ainda que os portugueses, são de longe a grande potência europeia que teve mais mudanças de regime nos últimos dois séculos. Desde a Revolução Francesa, os franceses tiveram dez regimes. Tiveram cinco repúblicas, como o nome indica à Quinta República, tiveram duas monarquias, dois impérios, ainda um regime quase fascista colaboracionista do PETA na Segunda Guerra Mundial.
Esta Quinta República surge precisamente de um impasse deste género. em 1958, que leva a uma espécie de pronunciamento militar, não a um pleno golpe militar, mas isso, no fundo, força os políticos a chamar o general de Goulo, que tinha liderado a resistência durante a Segunda Guerra Mundial, para reformar radicalmente a política francesa e criar uma nova Constituição, que depois é referendada em 1958. E, portanto, o presidente de Goulo, que conhecia muito bem a história da França, era um apaixonado pela história da França, sabia bem, vamos dizer assim, do que é que a casa gasta. Há várias citações famosas dele, uma dele...
Delas é como é que é possível governar um país com centenas de tipos de queijo, não é? Mas outra, talvez mais pertinente, é esta ideia de que os franceses são incapazes de fazer reformas, só conseguem fazer revoluções. E, portanto, ele tentou criar uma série de mecanismos que dão, por um lado, uma presença muito forte, eleita diretamente, e depois mecanismos que permitem ao presidente... governar quase por decreto.
Vamos ver agora, alguns destes mecanismos provavelmente serão usados nos próximos meses, porque outro mecanismo é não poder haver eleições no intervalo de um ano, portanto isso no fundo é, à partida devia forçar os partidos a entenderem-se, mas não está a funcionar, não é? Mas portanto este é um dos problemas, é que só pode haver eleições em julho, o que também não parece muito realista, porque há de tirar a segunda volta, porque o sistema também é em duas voltas. provavelmente para agosto, provavelmente terá de ser adiado para setembro, mas isto significa que podemos ter um país central na Europa sem um governo forte durante quase um ano. A Alemanha provavelmente também só tem eleições em fevereiro, hoje também demoram muitos meses a formar governo, pode também só ter um governo lá para abril ou maio, e portanto tudo isso no contexto atual é uma péssima notícia. Eu diria que para já o regime não está em questão, Mas é verdade que estamos a assistir a um fenómeno que tem paralelos com aquilo que aconteceu em 58, que aconteceu nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, que já aconteceu várias vezes no contexto francês, que é, por via eleitoral, os extremos a ganharem peso, ou seja, temos dois grandes blocos que são realmente declaradamente hostis ao atual regime francês, à atual Constituição francesa, quer o Rassemblement National da Sra.
Le Pen, quer este movimento da França Insubmissa de Mélenchon. E, portanto, isso complica, obviamente, muitas coisas em termos de se chegar a compromissos, se chegar a algum tipo de governo de coligação, que parece ser a única solução racional, mas não quer dizer que aconteça, não é? Como temos estado a ver.
Claro. Bruno, vamos pegar nas malas e vamos da Europa para a Ásia, e é inevitável falarmos da Coreia do Sul. O presidente Yun Suk-hyol declarou a lei marcial no país, uma medida extrema que não era implementada desde 1979. O Parlamento reagiu de imediato, anulou a medida. e também com vista a afastar o presidente. Pergunto-te, Bruno, até porque essa tem sido uma questão muito feita por quase toda a gente, nos meios de comunicação social, também nos analistas.
Isto pode ser encarado como uma tentativa de golpe de Estado? E pergunto também se tem precedentes na história do país asiático. Sim, claramente é uma tentativa do que nós chamamos em português autogolpe, enfim, algo que tem até grandes tradições, sobretudo no Brasil.
O presidente Vargas, por exemplo, fez isso, ou seja, já estava no poder. tinha sido eleito até, enfim, no contexto de fraude, depois há uma revolta por causa disso, mas ele assumiu o poder, digamos, mais ou menos democraticamente, no contexto de uma constituição democrática, e depois, em 1937, usando o facto de estar na presidência, de comandar os militares, de ter aliados militares, dá um autogolpe, dissolve o parlamento, acaba com a constituição e cria o chamado Estado Novo Brasileiro. E, portanto, aqui na Coreia do Sul foi exatamente isso que assistimos, ou seja, o Presidente abusa, no fundo, dos... os seus poderes constitucionais para tentar acabar com o Parlamento, que lhe estava a fazer uma forte oposição.
A oposição controla-te a maioria no Parlamento, embora uma maioria muito curta, porque também na Coreia do Sul temos uma enorme polarização. O Presidente Sun também ganhou por uma margem muito curta. Mas, realmente, em certo sentido isto não é surpreendente, porque tem realmente muitos presidentes na história da Coreia do Sul, mas é muito surpreendente no contexto pós-1988, ou seja, a democratização.
Apesar de tudo, a Coreia do Sul só teve um presidente civil a partir de 1993, portanto é um processo relativamente recente, mas que parecia completamente consolidado. Por acaso aqui na universidade onde eu estou estive com um jovem colega coreano da Coreia do Sul, precisamente no dia em que se soube a notícia do golpe, que estava completamente em choque, portanto alguém que trabalha sobre estes temas, que ia viajar para o seu país no dia seguinte, portanto tinha marcado a viagem, obviamente não fazia. ninguém me fazia ideia que isto podia acontecer, sabíamos que havia aqui um impasse muito sério, e, portanto, agora, a boa notícia é que, apesar de tudo, apesar disso, claramente, também me pareceu corresponder aqui a uma certa vaga Trump, ou seja, a Coreia do Sul precisa da garantia de segurança dos Estados Unidos, era evidente com a Administração Biden, a Administração Biden seria muito crítica, e haveria aqui uma crise muito séria, se houvesse, digamos, uma crise da democracia na Coreia do Sul, com o Donald Trump isso não parece ser uma... uma grande questão, esta questão da democracia, direitos humanos, etc.
Portanto, isso pode ter afetado aqui o cálculo, digamos, do presidente Sun. Mas a verdade é que, apesar do contexto ser de uma espécie de recessão democrática a nível global, como diz a Frida Maus, que faz uma avaliação anual do estado das democracias no mundo, a verdade é que a população mobilizou-se, os deputados mobilizaram-se, mesmo deputados que, à partida, pertenciam, digamos, ao polo ideológico do... presidente e votaram contra essa medida e conseguiram travar no fundo essa tentativa de autogolpe.
Agora, como eu dizia, para terminar, realmente há uma longa tradição na Coreia de golpes e de autogolpes e de utilização da lei marcial. O primeiro é logo, a Coreia... Torna-se independente, portanto, é ocupada militarmente pelos Estados Unidos e pela União Soviética, dividida a meio no fim da Segunda Guerra Mundial, até aí era uma colónia, era uma dependência do Império Japonês.
A partir de agosto de 1948 é criada a República da Coreia, portanto, no Sul, na zona controlada pelos Estados Unidos. Logo em 1952, o Presidente Rei, que é o que domina a política coreana nas primeiras décadas, da Coreia do Sul, dá realmente um alto ao golpe. Exatamente este modelo, decreta a lei marcial, põe as tropas na rua, dissolve o parlamento, acusa a oposição de cumplicidade com a Coreia do Norte, exatamente o que disse o Presidente Sun desta vez, e realmente assume o poder, digamos, e depois vai governar ditatorialmente até 1960, e depois temos mais, no conjunto temos cinco copos, na breve história da Coreia, todos muito seguindo este precedente.
Agora, realmente o... A partir de 1988, no fundo, a Coreia integra-se na chamada terceira vaga de democratizações, em que, segundo o Samuel Huntington, começa em Portugal, com o 25 de abril, e em que, sobretudo, há muitos regimes, digamos, de direita anticomunistas alinhados com os Estados Unidos, que, no contexto do final da Guerra Fria, quando a ameaça comunista parece estar em queda ou em quebra, e também por pressão dos próprios Estados Unidos, que, por razões pragmáticas, tinham apoiado esses regimes como aliados no contexto da Guerra Fria. mas começam a ter aqui mais margem de manobra e começam a pressionar para processos de democratização.
Isso vai acontecer em múltiplos países, também na América Latina, e, portanto, aconteceu também na Coreia do Sul. Enfim, agora vamos ver o que é que se segue, se o Presidente é realmente afastado ou não, se consegue ultrapassar este impasse, esta extrema polarização, que é realmente uma receita muito perigosa em democracias. Em democracias é preciso haver alguma disponibilidade para o compromisso, para se chegar a acordos. Se realmente as partes adotam aqui uma postura completamente intransigente, em muitos casos o país torna-se ingovernável e isso dá margem a que apareçam figuras autoritárias a dizer isto é impossível de continuar e portanto tem de haver aqui um homem forte a resolver a quebrar este impasse.
Bruno, andamos sempre a saltitar e desta vez vamos até a África, fazemos uma paragem em Angola para falar sobre a visita inédita de Joe Biden. Primeiro queremos perceber o histórico. de relações entre estes dois países, os Estados Unidos e também Angola, o que significa esta visita no final de mandato de Biden e será que podemos falar numa viragem na política externa angolana, tendo em conta esta aproximação entre os dois países, é algo que não deixa de ser inédito, não é?
Sim, é, no fundo, Angola é o primeiro país da África Subsaariana que... O Presidente Biden visita, o que também diz alguma coisa deste esforço dos Estados Unidos com a Administração Biden para fazer alguma recuperação de terreno, mas, apesar de tudo, um pouco tardiamente, um pouco hesitantemente, a China está a apostar muito em África nas últimas décadas, sobretudo desde 2013, com a chamada Nova Rota da Seda, tem uma cimeira, Biden realizou a primeira cimeira Estados Unidos-África em 2022, onde lá está o Presidente João Lourenço de Tanguá, lá teve um protagonismo importante. importante, foi recebido pelo presidente Biden, etc. Mas é relevante que seja, enfim, o único país da África subsaariana, o primeiro e único que Joe Biden acaba por visitar. Obviamente Donald Trump não visitou nenhum país em África durante o seu mandato, vamos ver agora o que é que acontece, mas todos os países da África lusófona seria talvez o menos provável de ser visitado e de ser, digamos, de se tornar o grande parceiro dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos não tinham relações diplomáticas com Angola. até 1993. Foi aqui um recuperar dessa relação, podemos dizer. É mesmo um grande recuperar, exatamente.
Angola, a partir da independência em 1965, torna-se palco de uma guerra civil entre os vários movimentos armados de libertação. Em Angola havia três e não apenas um, como em Moçambique ou na Guiné-Bissau. Torna-se também objeto de uma guerra indireta com a África do Sul, com a África do Sul do Apartheid, que estava controlada a Namíbia nessa altura. Mas torna-se um grande...
palco da última fase da Guerra Fria Global com a presença de cubanos, também de cooperantes soviéticos, a apoiar o governo do MPLA, portanto o partido que está no poder desde 1975 e que continua no poder atualmente e que era a partida na origem um partido também marxista e portanto os Estados Unidos vão apoiar a UNITA, vão apoiar os grupos que se opõem ao MPLA E, embora, obviamente, reconheçam a independência de Angola, aliás, até pressionaram Portugal a dar a independência a Angola muito mais cedo, logo a partir de 1961, do presidente Kennedy, sem grande efeito, mas a verdade é que não reconhecem o governo do MPLA até 1993. Depois de um processo negocial que já mostra algum pragmatismo crescente do MPLA e do José Eduardo dos Santos, O Partido 87, 88, é um acordo tripartido que, no fundo, em troca da retirada das tropas cubanas de Angola, os sul-africanos retiram da Namíbia, permitem eleições e reconhecem a independência da Namíbia, mas, portanto, esse processo de aproximação dá alguma aproximação pragmática, já começa nessa altura, aliás, com algum apoio de Portugal também, nesses contactos, como também de Moçambique, aliás. Mas no fundo o que vemos aqui é, com João Lourenço, sobretudo a partir de 2017, não há uma completa inversão da política externa, não há uma completa colagem aos Estados Unidos, mas há uma abordagem muito mais pragmática, muito mais de real não alinhamento, ou se quisermos, de equilibrismo, e portanto procurar muito pragmaticamente perceber onde é que há investimentos interessantes, cooperação qualificada, que possam interessar em Angola, e não apostar todas as fichas na China, que foi muito o que aconteceu na fase final do governo de Jair Eduardo dos Santos. Isso criou grandes problemas também de endivisamento com a China, tornou a China também mais remitente eventualmente a novos investimentos e, portanto, João Lourenço apostou muito na Alemanha, na França, nos Estados Unidos, portanto nos países ocidentais, para novos investimentos, investimentos de mais qualidade. Isso parece ter agora correspondido aqui a este esforço. Foi aproveitado, no fundo, houve uma convergência de interesses com este esforço por parte da administração Biden para recuperar algum terreno.
com este PGI, portanto o projeto para investimento global em infraestruturas, no quadro do G7, e um dos dois projetos prioritários e com mais volume de investimento, só os Estados Unidos são 600 milhões, é precisamente o corredor do Lubito, portanto no fundo revitalizar o caminho de ferro de Benguela, que liga Angola ao Zaire, à República Democrática do Congo agora e à Zâmbia também no futuro. E o outro é, muito significativamente, nas Filipinas, também o chamado Corredor do Luzono. Bruno, vamos à América Latina e falamos de Javier Millet.
Temos quatro minutos até ao final. Ainda queremos ir também depois à Nicarágua. Mas primeiro, Argentina.
Javier Millet foi visitar Donald Trump. Antes ainda recebeu elogios por telefone. E cito, o meu presidente favorito.
O certo é que os dois já se encontraram. Javier Millet foi mesmo o primeiro chefe de Estado a ser recebido por Trump, depois das eleições. Bruno, um ano depois de ter tomado posse, como é que está a Argentina?
Que balança é que fazes deste primeiro ano de Javier Millet? Bem, realmente Millet foi à Flórida, no fundo, que é quase um Estado latino-americano no interior dos Estados Unidos, tem enormes comunidades de todos os países da América Latina, Miami muitas vezes é chamada a capital da América Latina, mas foi realmente, como dizias, o primeiro presidente estrangeiro a ser recebido por Donald Trump depois de ser eleito. Milley nunca escondeu a sua preferência por Trump, a sua admiração por Trump.
Obviamente Trump aprecia muito esse tipo de declarações e isso tem algumas implicações. Milley é já um balanço que se pode fazer. Por exemplo, disse e cumpriu que ia recusar a adesão aos BRICS.
A Argentina tinha sido convidada, tinha aceitado com o governo anterior peronista. esse convite e recusou isso, a partir de um fórum com algum prestígio, com alguma visibilidade, e portanto ele diz muito claramente, voltou agora a reafirmar-me isso nestas entrevistas que deu do balanço do primeiro ano, que a prioridade para a Argentina é o Ocidente e em particular os Estados Unidos e Israel, o contexto ocidental, apesar de tudo para a Europa, isso também significa que o atual governo argentino apoiou fortemente estas negociações do Acordo de Livro Comércio entre o Mercosul e... a União Europeia, portanto este mercado dos países atlânticos da América do Sul, inclusive o Brasil, a Argentina, o Uruguai, o Paraguai, que à partida foi agora assinado, vamos ver se é ratificado, há uma forte oposição nomeadamente dos agricultores franceses, enfim, completamente inaceitável, ainda por cima há cotas que restringem até as exportações do agronegócio brasileiro ou argentino, mas seria estrategicamente extremamente relevante para a Europa. Estes países têm, por exemplo, enormes reservas de... de minérios de terras raras, do lítio, etc., que são fundamentais para esta transição energética e a China está muito ativamente a monopolizar minas por todo o lado, controlar minas por todo o lado desses minérios.
Mas, portanto, tem aí algum impacto global em termos internos. Enfim, ele parece ter construído aqui uma espécie de populismo alternativo ao peronismo, que é o grande populismo histórico argentino desde a Segunda Guerra Mundial, que tem dominado a vida política argentina com poucos intervalos. desde essa altura e, portanto, Milley parece ter conseguido criar aqui um populismo libertário que continua a ter grandes apoios a convencer muita gente de que é uma alternativa viável.
Ele certamente conseguiu pelo menos uma coisa que é controlar a hiperinflação. Com que custos isso pode ser discutido mas a verdade é que a Argentina enfrentava-o pela terceira vez nas últimas, desde o início do século uma crise de hiperinflação e ele conseguiu controlar isso com mão de ferro. Bruno, o meu copiloto disse-me que tinha...
disse, aliás, que tínhamos tempo de ir até Nicarágua, mas já não temos. Já não dá. Portanto, temos de passar diretamente para a tua recomendação da semana. Mas fica para a semana. Fica para a semana.
Exatamente. Sim, claro. O que é que trazes esta semana para os nossos ouvintes? Bem, é um livro do Kevin Rudd sobre o... que não existe para já, pensa em tradução portuguesa, On Xi Jinping.
Portanto, o Kevin Rudd é uma figura muito interessante. É um antigo primeiro-ministro da Austrália, mas é também um diplomata fluente em chinês. Eu assisti aqui à apresentação do livro na Universidade de Georgetown. Ele é realmente uma figura muito interessante.
Atualmente é o embaixador da Austrália aqui nos Estados Unidos, mas continua a ser também um académico, se quisermos assim. E, portanto, isto corresponde à sua tese de doutoramento um pouco tardia, mas é, no fundo, uma biografia não intelectual, mas uma biografia ideológica de Xi Jinping. Portanto, não é questão da vida...
De ele, da família, mas é as ideias de Xi Jinping e, portanto, ele faz um estudo a fundo desse percurso ideológico e, no fundo, do trabalho de revalorização da dimensão leninista, sobretudo, do partido, no contexto do Partido Estado Chinês, que Xi Jinping levou a cabo. E quais são as implicações disso em termos, nomeadamente, da ação externa, quer económica, quer militar. E aí as más notícias são que isso significa, sobretudo, uma grande aposta também no nacionalismo. E, portanto, uma China que está determinada a afirmar-se como uma grande potência, inclusive de uma forma muito mais assertiva, muito mais conflituosa, seja em guerras comerciais, seja eventualmente até em conflitos reais, mas é realmente uma obra que eu já vi na diagonal, parece extremamente relevante para se perceber melhor uma figura que tem realmente um protagonismo enorme na política global atual e provavelmente nas próximas décadas.
porque realmente também uma das coisas que ele fez foi acabar com a limitação de mandatos e, portanto, pode continuar a governar a China, basicamente até morrer. Fica aqui a sugestão, sempre muito bem-vinda, do Bruno Cardoso Reis. Obrigado mais uma vez por estares connosco mais uma semana a olhar para os cinco continentes.
Temos encontros marcado já no próximo sábado. Até lá, não se esqueça, pode enviar as suas perguntas sobre história ou geopolítica internacional para o Bruno através do e-mail ouvinte.observador.pt. Bruno, um grande abraço, até aos Estados Unidos.
e até para a semana. Boa semana. Obrigado.