Por mais de meio milênio, os gladiadores foram parte importante da sociedade romana, tanto na república quanto no império. Até hoje, os gladiadores são um dos mais conhecidos símbolos de Roma. Presentes na cultura pop, a palavra gladiador tornou-se um termo presente em muitos esportes. Mas qual foi a história desses combates?
Sejam bem-vindos ao Nerdologia de História. Meu nome é Felipe Guirendo, formado em História, Colunista, Podcast, Artúbio e Professor. E nós do Nerdologia saudamos você ao ver esse vídeo sobre a história dos gladiadores em Roma.
Quando você pensa em um combate entre gladiadores, provavelmente pensa em dois homens lutando até a morte numa grande arena como Coliseu, em Roma. Na verdade, os combates entre gladiadores eram muito mais diversos, em tipos de combatentes, em locais e em modos de luta. E os combates eram bem mais antigos que o Coliseu também. Durante muito tempo, se acreditou que a origem dos combates entre gladiadores era Etrusca, uma civilização que dominou a Península Itálica, incluindo Roma. Hoje sabemos, entretanto, que a origem dos combates entre gladiadores está na região da Campânia, na Itália, numa prática da população local, com os campanianos, um povo itálico.
itálico que falava uma língua osca. Eles eram contemporâneos dos romanos e de outros povos, como sanitas, e foram assimilados pela expansão romana. As primeiras escolas de gladiadores conhecidas ficavam na Campânia e túmulos da região do século IV a.C. contém afrescos que retratam lutadores armados pareados similares aos gladiadores. O historiador e cronista romano Lívio, escrevendo no século I a.C., registra que os campanianos realizaram os primeiros jogos para celebrar uma vitória contra os senitas, no ano de 310 a.C., e que os combates eram realizados em meio a banquetes.
O mesmo Lívio registra que os primeiros combates entre gladiadores em Roma ocorreram em 264 a.C., início da Primeira Guerra Púnica, quando um homem ordenou que três pares de gladiadores lutassem até a morte em um dos fóruns romanos em honra à memória de seu pai. Parte do costume romano de uma pessoa oferecer atos ou comemorações para o espírito de um ancestral. Cerca de 50 anos depois, durante o funeral de um cônsul, ocorreram os primeiros combates em larga escala, com duração de três dias, envolvendo 22 pares de gladiadores.
Agora, essa homenagem póstuma envolvendo gladiadores tinha até nome próprio, Gladiatora Munera. Para os romanos, era muito importante honrar a memória de seus ancestrais com atos e ofertas materiais. Quanto maior e mais pomposa a homenagem, mais prestígio para a memória dos ancestrais e também mais prestígio para aquela pessoa que fez a homenagem. Progressivamente, as homenagens com combates entre gladiadores deixaram de ser relativamente pequenas e tornaram-se cada vez maiores.
O funeral de um cônsul envolveu três dias de combates em sua memória, com 120 gladiadores e distribuição de... carne para o público. Progressivamente, os funerais passaram a ser quase uma desculpa marginal para grandes festas públicas realizadas por homens ricos que queriam prestígio, especialmente em períodos de eleição na República Romana.
Em 65 a.C., um recém-eleito Júlio César realizou combates que ele justificou como uma oferta para a memória de seu pai. O detalhe é que seu pai já estava morto há 20 anos. Ou seja, transformou o que era um rito funerário em uma mistura de memorial e exibicionismo público, com dias de combate envolvendo 320 pares de gladiadores, o maior número autorizado naquele momento pelo Senado após a Revolta de Espartacus, um gladiador que liderou pessoas escravizadas em uma grande revolta.
Júlio César já estava endividado e contraiu ainda mais dívidas, o que parcialmente explica sua posterior conquista da Galha em busca de riquezas e de saque. Algumas décadas antes, os combates entre gladiadores foram incluídos nos jogos tradicionais, os ludi, organizados pelo poder da república, que tinham tanto caráter religioso, marcados por oferendas às divindades, como um caráter de culto ao próprio estado romano. Até esse momento, os ludi tinham como principal atração as corridas, com cavalos e carruagens, mas também incluíam espetáculos circenses e teatrais. E esse nerdologia é um oferecimento do filme Gladiador 2. Todos vocês conhecem e amam o premiado filme Gladiador, e agora o diretor Ridley Scott retorna com uma sequência grandiosa, que conta com Paul Maskell como protagonista Lúcius, junto de estrelas como Pedro Pascal e Denzel Washington. Anos depois de testemunhar a morte do venerado herói Maximus às mãos de seu tio, Lúcius é forçado a entrar no Coliseu.
Tomado pelo sentimento de revolta e com o futuro do Império em jogo, Lúcius terá de olhar para o seu passado como forma de encontrar força para devolver a honra e a glória. de Roma ao seu povo. Um filme épico, cuja produção e grandiosidade ao retratar o Império Romano fazem com que ele precise ser visto na tela grande. Com estreia exclusivamente nos cinemas, esse filmaço chega no dia 14 de novembro de 2024 e você não pode perder.
Com a expansão dos combates entre gladiadores, tornando-se maiores, mais comuns e parte dos jogos organizados pelo Estado, a atividade também passou por um processo de profissionalização, por assim dizer. O número de escolas para gladiadores aumentou, incluindo a enorme escola construída em Roma no século I. Os donos de escolas eram normalmente pessoas bem conectadas politicamente e que podiam enriquecer rapidamente.
Foram construídos anfiteatros para os jogos, muitos deles com características pensadas especificamente para o combate entre gladiadores, como o Amfiteatro Flaviano, popularmente chamado de Coliseu, com público de 65 mil pessoas. No auge do Império, no século II, existiam 400 arenas distribuídas pelo território romano e os melhores gladiadores das províncias conquistavam espaço nos espetáculos em Roma. Um fenômeno bastante romano e que provavelmente já te irritou. no século XXI era o dos cambistas, que revendiam ingressos ou seguravam os melhores lugares.
Instrutores de gladiadores habitualmente eram gladiadores aposentados e eram bem remunerados, além de serem bem vistos pelas autoridades militares. Surgiram os editores, profissionais que produziam e organizavam os combates, recebendo altas comissões por isso. A maioria dos gladiadores eram homens que foram condenados à escravidão, como prisioneiros capturados, ou condenados especificamente a serem gladiadores.
Existiam, entretanto, gladiadores voluntários, que eram originalmente homens livres pobres que viam na atividade uma forma de trabalho e de ganhar dinheiro. Muitos gladiadores, inclusive, ficaram muito ricos e eram celebrados pela população de maneira parecida com o que atletas profissionais são admirados hoje em dia. E essa, digamos, profissionalização dos jogos levou a um processo que contraria muito do senso comum sobre o assunto. No auge dos combates entre gladiadores, a morte de um gladiador era algo incomum. Treinar e manter um gladiador era um investimento caro.
Muitos deles eram populares com o público, sendo importantes para patrocinadores dos jogos e para lideranças políticas. Os combates envolviam um árbitro e normalmente eram até uma rendição ou situação óbvia de vitória. Combates até a morte eram exceção, mas todo gladiador era treinado para aceitar esse destino de forma graciosa e honrada, sem súplicas ou fugas. Um dos aspectos mais famosos dos combates entre gladiadores é o do julgamento pelo movimento do dedo polegar.
Caso um combate tivesse um vencedor claro, mas o outro gladiador estivesse vivo, o movimento do polegar mostraria se ele lutou bem o suficiente para ser mantido vivo. Quem determinava isso normalmente era uma dessas três pessoas. O imperador, o patrocinador daqueles jogos ou o editor.
A maior parte das mortes nas arenas eram de outras categorias de condenados, muitos que podiam até estar armados, mas não eram gladiadores profissionais. Todo ano, em média, nas arenas do Império Romano morriam cerca de 8 mil pessoas. E os combates contra animais também eram outra categoria de combates. Um combate de gladiadores era formalmente um combate entre pessoas treinadas da mesma categoria social, embora a posição social dos gladiadores seja tema para outra nerdologia.
Os grandes jogos começaram a decair a partir da crise do século III. Representavam custos financeiros e humanos que o império não podia mais esbanjar. A ascensão do cristianismo também colaborou para o fim dos jogos, especialmente dos combates entre gladiadores classificados como culto pagão e como uma forma de sacrifício humano.
A proibição dos combates começou com Constantino, em 315, mas pelos próximos dois séculos ainda ocorreram esporadicamente. Lembro que esse vídeo é um recorte, que temos um Nerdologia sobre o filme Gladiador, e claro que, infelizmente, muita coisa interessante ficou de fora, e fontes sugestões estão aqui na descrição. Nos comentários do Nerdologia sobre Vito Genovese, um verdadeiro chefão da máfia, corrigiram algo importante.
Lucky Luciano não fugiu para a Itália. Na verdade, ele foi deportado em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, como consequência de condenações criminais. Peço desculpas pelo erro.
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