Música Música O ser humano luta desde que é ser humano. O ser humano luta desde que percebeu a necessidade de sobrevivência. A luta foi que formou a humanidade. Os grupos lutavam para conquistar novas terras, impondo aí os seus costumes.
Desde quando nós lutamos? Não. Estamos no Parque Nacional Serra Capivara, onde foram encontrados vestígios mais antigos da migração e da presença do homem nas Américas, datados de 48 mil anos. O maior enclave arqueológico do mundo, com mais de mil sítios arqueológicos encontrados, sendo desses mais de 900 sítios arqueológicos com pinturas rupestres. Especificamente aqui, houve uma pressão demográfica, muitas pessoas foram ao mesmo local e começaram as resoluções por meio de lutas para distinção social, ou seja, poder.
Esse sistema de comunicação é uma pré-escrita humana. Eles queriam materializar aspectos do cotidiano ou do simbólico imaginário, do que eles imaginavam sobre isso. Olha lá, foi o último sítio que eu tinha de visitar, sem querer, quando eu olhei, reconheci pela minha expertise em lutas, que isso não era uma coisa comum, não se comunicava com outros sítios arqueológicos. Soco, soco, condomínio de uma mão, no final acaba o condomínio, tá vendo? A gente pode dizer que está integrando técnicas, porque não tinha como, naquela época não tinha regras, regulamentos como hoje, olha, vocês aí, os primeiros, só podem fazer soco, a gente aqui de baixo vai só fazer domínio.
Não, está aí a diferença desse painel de todos os outros, de todos. Não tem outra cena, ou pelo menos não foi encontrada ainda, em que no mesmo momento, na mesma temática, há percussão, ou seja, socos, com agarre, com domínio. Esses registros de lutas integradas, como existem hoje no MMA, mal falando, são muito mais antigos do que se pensa.
Nesse caso aqui, possivelmente com mais de 6 mil anos. Não se sabe quando e nem em que época essas práticas de luta se disseminaram pelo território brasileiro. A luta se desenvolve possivelmente quando os seres humanos mais primitivos começaram a acreditar na força de Deus. da lua, na força do sol e começaram a observar os ciclos divinos da natureza.
Surgiram aí os ritos religiosos. A luta em si era muito. Quando você fala em judô, você fala o quê?
Japão. Você fala em capoeira, você fala Bahia. Esse nome capoeira é uma palavra tupi-guarani. K-A-P-U-A-N-E-R-A.
Quer dizer, mata que deixou de existir. Aquele capizinho ralo que ficava ali era ideal para se jogar capoeira. Algumas pessoas afirmam que a capoeira veio da África com os escravos e se desenvolveu aqui. E outras pessoas dizem que não, que é uma criação do negro escravo, dos descendentes dos escravos no Brasil. Eu acredito que ela foi desenvolvida aqui no Brasil porque...
Todas as pesquisas que se fez na África até hoje, não se encontrou capoeira dessa maneira como a gente pratica aqui no Brasil. Todas as tentativas de definir o que é capoeira, na minha cabeça, fracassaram. Toda vez que alguém tenta, fala, não, agora capoeira vai ser esporte, não sei de que lado das contas. Não adianta, porque aí vai aparecer também a força da capoeira como cultura.
Ela é tão cheia de negaça, ela é tão cheia de rolês, que todas as vezes que tentam prisionar ela, ela se capola de alguma forma. Não tem um pacote pronto, né? A árvore do caprê, isso é o corpo dele, ele já é armado. É a única arte marcial que tem esse envolvimento com a parte da dança. Então nós temos a musicalidade própria, nós temos os instrumentos próprios.
Isso tudo de uma mesma raiz, que é a raiz africana. E aí Capoeira é dança, é luta, é guerra. Eu estou sempre preparado, sou do amor. Mas se estiver preparado para a guerra, também está preparado.
O capoeira está desse jeito. E aí, cuca! E aí, brother! Essa aqui é a comunidade. comunidade em Cosme de Farias, lugar onde eu vivo.
Aqui tem tudo, aqui tem muita capoeira, aqui tem música, aqui tem rap, tem hip hop, tem malandro também, mas aí tem que ser capoeira pra poder montar no meio, tem que ter o gingado, né? Sempre tá na esquiva aí, tá esperto. Já de é isso, é andar pela comunidade, falar com a galera.
E aí ensino capoeira o dia todo, muito projeto social, ensino pra bacana também. Uma coisa mais coletiva é isso, é dar continuidade ao que eu aprendi com a capoeira e devolver de volta pra comunidade, entendeu? Fazer com que, de repente, eu tenha um trabalho social com 40, 50 crianças.
criança, de repente, salvasse cinco. Não tem envolvimento com droga, não tá misturado em coisa errada. Então, a ideia do capoeira no dia a dia é que cada dia a gente pense em coisa melhor pra todo mundo, né?
A gente tá sempre pensando junto, né? Nós estamos aqui no Forte da Capoeira, em Salvador, para fazer um torneio de capoeira. E como é que vai funcionar esse torneio?
Qual é a essência desse torneio? Vai pontuar o jogo, tá? A harmonia do jogo, a cadência do jogo.
Quem recebe a pontuação é a dupla. Depois, esses... pontos vão sendo individualizados pra cada competidor, competidor.
O vencedor ou a vencedora vão ser os capoeiristas que conseguirem passar por essas fases todas com harmonia nos jogos e no final mostra a sua melhor destreza. É fazer parte do seu corpo e fazer parte do seu mesmo. Com toda essa dimensão da capoeira, as vertentes de capoeira que tem hoje em dia, né?
A gente tá fazendo um torneio hoje, mas o fator mais importante hoje é a confraternização. Porque a gente tem que fazer uma distinção. entre o que é capoeira e o que é o capoeirista.
Capoeirista, rapaz, não é só você aplicar os movimentos. Eu entro num restaurante, eu tenho que sentar numa mesa que seja de coxa pra parede. Eu não dobro esquina. Às vezes eu vou com minha mulher...
mulher que eu abro assim, ela tá maluco, mais ou menos. Aí, pra poder ver quem é que vem na esquina, porque ele falava. Então, a sociedade reage diferente ao capoeirista. O capoeirista tem uma maneira especial de ser. É uma luta totalmente democrática.
Por exemplo, quando eu entro numa roda que eu baixo no pé do berimbau, eu não pergunto aquela pessoa que tá do lado, se ele é dentista, se ele é médico advogado, se ele é um marginal. Não pergunto. Não interessa isso. Qual é a religião dele? Não interessa.
Naquele momento ali, ele... ele é apenas um capoeirista como eu. Como aqui passa gente do mundo inteiro, fica muito claro que no momento que você está dentro de uma roda de capoeira, você esquece se você é branco, se você é preto, se você é pobre. E aqui nessa casa vem toda a capoeira do mundo inteiro, gente de todo canto, do Japão, da Alemanha, da Itália, da América do Norte, Central, e todo mundo aqui se sente como gente, se sente como capoeira. Isso é muito legal para nós.
Antes da roda dizer eu sou bom, eu sou... não. Não existe. O departamento do capoeirista é na roda. O mestre Bimba, eu tenho o maior orgulho de ser filho dele, tanto de sangue como de capoeira.
Meu pai teve milhares e milhares de alunos e se espalharam pelo mundo afora. Esse Bimba é uma das grandes figuras folclóricas, uma das grandes figuras da razão. O que ele dizia para mim era o que era certo, era o que era lei, era o que valia. O mestre me dizia lá, pule de cabeça na parede e a gente pulava, sem reclamar, sem nada.
Ele ensinava a gente não só a jogar, mas ele ensinava a gente a respeitar, ele ensinava a gente os nossos limites. O tempo não tem brilho, só tem marca de chicó. Eu vou jogar capoeira, só a Deus eu peço só. Eê, viva meu Deus. Eê, viva meu Deus, camarada.
Eê, vamos embora. Eê, vamos embora, camarada. Música Meu nome é Felipe Santiago, conhecido e tratado na capoeira como Mestre Felipe. Estou o mais velho da cidade, porque estou ainda na termosia. O filho, quando pediu ao pai, meu pai, bota na capoeira.
É o que, menino? Você está ficando doido? Capoeira é coisa de vagabundo, coisa de moleque, coisa de malandro.
Esse é o toque da cavalaria. Quando a polícia chegava, ele tocava para dar de abrigo. Então aí ele largava o berimbau, escondia o berimbau, bem escondido, pegava os tambores e começava fazendo samba.
Polícia quando chegava, via eles fazendo samba, corria, olhava, não via nada e ia embora. Ele tornava o guirimbau e começava a capoeira de novo. Você era preso jogando capoeira, você ia para Fernando Noronha, pegava de seis meses, só por estar jogando capoeira, não precisava estar brigando nem nada.
A lei dizia fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade corporal, conhecido como capoeiragem, aipena, papapá, dos adios e capoeiras, o nome do artigo. A capoeira foi proibida no Brasil por lei de 1890 a 1890. 1937. Os jornais do começo do século XX, porém, fizeram campanha com humor pra ela substituir o jiu-jitsu nas aulas de defesa pessoal na Marinha Brasileira. A capoeira resistiu.
Na década de 50, o mestre Bimba chegou a fazer uma apresentação para o presidente Getúlio Vargas, que teria dito que a capoeira é um esporte verdadeiramente nacional. Capoeira sempre será um símbolo de resistência porque sempre alguém está querendo controlar ela. Fala, Romário. Tem pessoas que pensam que capoeira é só brincadeira, mas não é só brincadeira. Capoeira é luta, é defesa e é ataque.
Porque dentro da capoeira tem o gingado, que é a dança da capoeira. É a base principal para um capoeira aprender a gingar. Do gingado nascem os golpes.
E esses golpes... Tem golpe até fatal, a pessoa até morre. Sempre foi luta de defesa pessoal.
Depois, com a folclorização da Bahia, por exemplo, a capoeira se folclorizou muito. Passou a se dar mais valor às pantomimas, quer dizer... aquela articulação toda do jogo, porque não havia mais necessidade de se utilizar ela como arma de defesa. Tinha estados como Brasília, os caras eram bombados e muita porrada. Hoje em dia, eles começaram a se respeitar dentro da roda.
Fora da roda também não existe mais porrada, que antigamente existia porrada fora da roda de grupos, de maltas, de gangues. As maltas eram grupos de capoeiristas que se davam nomes, né? O que hoje chamamos de grupo de capoeira, eles chamavam de maltas. Os gaiamuns e os nagos, eles dividiam a cidade em dois e ali eles mandavam e faziam o que eles queriam.
Em Pernambuco tinha os brabos, que saiam com os cacetes na mão, batendo em todo mundo na frente das bandas. E isso era um desordem total. A literatura brasileira está cheia desses episódios de desordem feitos por camponistas.
Quer dizer que ele tá andando, o cara quebra o outro, né? Pá, quebra a jereba, uau, aí vou bater, porque ele vai bater no carro, o carro cai, que negócio danado, né? Mas é assim, né?
O capoeira é coisa gostosa, mas também tem essas horas de perseguição É aquela coisa, capoeira pergunta e resposta Se a pergunta for tranquila, a gente responde com tranquilidade. Se a pergunta for tensa, provavelmente vai voltar a resposta com mais intensidade na coisa, né? A gente tá sempre preparado, então a gente come, a gente pede adeus, pede os orixás, pede tudo pra abençoar a gente. A gente vai lá, joga do jeito que a coisa tem que funcionar.
Uma roda de capoeira, ela é composta com três grimbal, dois pandeiros e um atabaque. A música... incentivo pra capoeira e uma harmonia gostosa. Eu já fazia berimbau no interior, mas eu fazia um berimbau com qualquer badeira ou qualquer cabaça.
Pra mim, em vergonha, era um berimbau. Mas quando eu cheguei aqui, fui me aperfeiçoando como se faz um berimbau bom, pra tocar ele é coisa fácil. Pode ser assim uma pedra ou uma moeda.
mas eu prefiro a pedra. Pega-se o cachixi por dentro da mão, uma vareta... Essa coisa da capoeira com a música, com o birimbau, com instrumentos, com canto, com brincadeira Ah, o que é isso aí? Uma luta? Não, isso aqui é uma avaliação dos angolas O nego sempre teve essa capacidade de disfarçar a luta em dança, em brincadeira, em avaliação Foi o que salvou a capoeira E aí cada um tem sua música, tem sua musicalidade própria, tem uma coisa legal que toca em um ritmo, ou se toca em outro E aí ajuda pro atleta, o atleta capoeira fica mais estimulado.
Eu tenho orgulho de dizer que eu sou capoeirista. Eu sou engenheiro civil, eu larguei tudo para viver de capoeira há muitos anos. Então eu tenho orgulho de dizer que eu sou capoeirista, eu trabalho com capoeira.
A capoeira também está influenciando o mundo de algumas formas. Todas as classes sociais, vários países que têm uma outra cultura totalmente diferente da nossa. E a capoeira está lá, invadindo esses espaços e ajudando as pessoas. O escravo sofria muito e a tendência natural era se defender sem armas, né?
A capoeira primitiva, por exemplo, era uma capoeira que tinha poucos movimentos, mas que tinha que ser movimento decisivo. Então o capitão... do mato, por exemplo, quando saia atrás de um escravo, ele ia no cavalo, ia armado.
Então o capoeirista tinha que ter movimentos que conseguisse derrubar o cara e vencer o cara numa desvantagem terrível. Um capoeirista que não tem uma ginga boa, ele não é um bom capoeirista. Todo bom capoeirista tem uma ginga legal.
Se ele não tem uma ginga boa, ele tá fazendo um cara até mal feito. Nós trabalhamos com três tipos de golpes, né? Os golpes de linha, os golpes frontais circulares e os golpes giratórios, tá? Nós vamos começar com um martelo, que é um golpe de linha, é um golpe frontal. É um golpe traumatizante.
Muito legal. Você vê que ele tem a trocada de braço. A mecânica de trocada de braço é importante.
Ele vai fazer agora um golpe frontal circular, que é a meia lua de frente. Ele vai fazer agora um golpe giratório, que é a armada. Pinaúna vai saindo, esquivando e já vai batendo uma chapa de frente. Abusado esquivou, cobriu e chutou. Entrou na queixada, eu fui esquivando e entrando em chapa giratória.
E a capoeira tem um fenômeno muito diferente de muitas outras lutas, que são as quedas. É chamado tesoura de cintura. Ele desponta um golpe, eu vou esquivando e já vou entrando no golpe dele, mas já despontando uma queda. Entrou, fez a projeção da tesoura de joelho. Eu entrei na cruz e fiz a banda em cima dele.
Entrou na ponteira, eu esquivei e entrei na banda traçada em cima dela. Ele entrou, eu fui, já puxei e já entrei direto com a vingativa com boca de calça. E agora pessoal, anunciar a grande final do torneio forte da capoeira Girasol do Geis e Lani do Guerreiro Eu sou Maria, sou da Culeira, eu sou da Culeira, eu sou da Culeira, eu sou da Culeira, eu sou da Culeira.
Agora, anunciar aqui, Girasol e Lani. E essa vencedora é Girasol galera! É Girasol!
Tu é Girasol! Tu é Girasol! Ganhinho do Engenho!
Juracido Guerreiro! ALELUIA! O vencedor da categoria masculina e esse vencedor foi Baianinho galera!
Antes de alguém apostar uma corrida ou jogar uma bola numa cesta, já existiam duas pessoas nesse planeta que lutavam e uma outra que assistia. Não importa sua cor, que língua você fale ou de onde você é, nós somos todos humanos e a luta está no nosso DNA.