Transcript for:
Explorando a Literatura Brasileira Contemporânea

Salve, galera, tudo bem? Olha só, aqui no nosso canal a gente já falou de todos os momentos da literatura brasileira. Você tá acompanhando aqui comigo, né? Desde o quientismo até a última fase do modernismo. E agora, se você quiser aprofundar, quiser entender ainda mais sobre escolas literárias, fazer exercícios, revisar, sei lá, contexto histórico, cara, tem tudo no meu e-book, vai ficar a descrição aqui, tá? No vídeo você pode adquirir o e-book e... pode com certeza entender ainda mais esses assuntos todos que a gente tem visto aqui. E agora chegou a hora de a gente falar do quê? Da contemporaneidade. O contemporâneo que vai aí dos anos 50, 60, até os dias atuais, a gente vive na contemporaneidade. E como definir isso? Eu fico lembrando aqui do Zygmunt Bauman, que tá super na moda, o pessoal comenta bastante, a sociedade líquida. É muito difícil de segurar, é muito difícil de rotular, e por isso acaba sendo muito interessante. E assim que começa o contemporâneo, nos anos 50, 60, 70, a gente vai ter alguns movimentos contemporâneos muito legais, como por exemplo, a poesia concreta, que foi uma revolução na nossa literatura, na nossa arte, de uma forma geral. Vamos falar sobre isso. Bora lá, porque literatura é qualencar. Vou começar com algumas informações técnicas. Na verdade, o início do concretismo é 1952, com a revista Moigrandes, que significa Antídoto contra o Tédio. É uma palavra de origem provençal. E combater o tédio combina muito bem com o concretismo, que deu uma chacoalhada na nossa poesia. A princípio, os nomes envolvidos são os irmãos Campos, Augusto e Haroldo, e o Décio e o Pinhatário. Depois, outros se juntaram, você pode citar aí o Pedro Xisto, Ronaldo Azeredo, o próprio Ferreira Goulart, que a gente já comentou algumas vezes aqui no canal, só que logo ele rompeu com o movimento. Pra gente começar a entender um pouquinho melhor a poesia concreta, vou começar fazendo uma pergunta. Qual a diferença entre o substantivo concreto e o substantivo abstrato. Lembra que a gente aprende isso lá no quinto, sexto ano, com a professora de português, a tia Lourdes, explica pra gente. Ah, o concreto é aquilo que dá pra pegar e o abstrato não dá. Aí você fica pensando, o leão é concreto, mas dá pra pegar? Não dá, né? É melhor a gente pensar assim, ó, que o concreto seria aquilo que tem uma forma. É bacana pensar, hein? Então, cadeira concreto, amor abstrato. O concreto tem forma. E isso, galera, é fundamental pra gente começar a entender melhor a coisa. Bom, então, tá bastante ligado ao visual. Inclusive, as artes visuais, as artes plásticas, eu preciso ver, não adianta só ler. Quer um exemplo? A gente vai pegar um poema aqui, bastante conhecido, Epitalâmio 2, e a partir dele a gente vai destrinchando, vai compreendendo, vai aprofundando o concretismo, beleza? Teria como eu ler sem mostrar? Tenta imaginar. S, H... Outra coisa, em que ordem eu leio um poema desse? Se você, por exemplo, pega lá um poema do Drummond, do Vinicius de Moraes, de qualquer poeta, em que ordem você lê um texto? Da esquerda pra direita, de cima pra baixo. É assim que eu faço? Não. Não é um poema tradicional. A gente, na verdade, agora vai abolir... O verso convencional. É porque a gente tá falando de imagem. Como é que você lê uma imagem? Vamos supor assim, você vai lá no Museu do Louvre, Louvre, em Paris, e você vai ver a Mona Lisa. Todo mundo só quer ver a Mona Lisa quando chega lá. Você chega tropeçando numa sécula... Chega tropeçando numa estátua de século I a.C., mas dane-se, você quer ver a Mona Lisa. Parou na frente da Mona Lisa. Como é que você vai ler? Da esquerda pra direita, de cima pra baixo, igual você lê um poema? Não. É pra onde o teu olhar te mandar. Lógico, todo artista tem lá as suas estratégias pra direcionar o teu olhar, normal. Só que acaba sendo algo muito amplo. Nós temos aí, portanto, múltiplas possibilidades de leitura. Mas por onde começar... a interpretar Epitalâmio 2. Vamos lá. É que explorar o som da palavra, o conteúdo visual, acaba sendo até mais importante do que o próprio significado, sacou? Ah, outra coisa. A disposição das palavras no espaço, o aproveitamento do espaço, da folha, também interessa. Tá, pessoal, mas eu tô querendo aí um sentido pra esse poema. A gente busca um sentido. Inclusive, já foi um poema que caiu no Enem. Então acaba sendo importante mesmo a gente tentar recuperar e trazer um pouquinho de sentido. Se você olhar com atenção para o poema, você pode de repente fazer uma associação com a Bíblia. Temos uma alusão bíblica aí. Nós temos a serpente, a Eva. Você pode tratar da questão da sedução feminina, dos tempos bíblicos até agora, até a contemporaneidade. Perceba que o Xi acaba sendo mais... evidente até do que o ri. O S do X envolve envolve o homem, né? Envolve o ri. Então nós temos ele, ela, homem, mulher. Inclusive epitalâmion significa canto nupcial. Aí você tem epitalâmion 2. Tem dois ali que inclusive parecem um casalzinho. Ah, eu acho interessante como a partir de um texto só você já consegue perceber aí todas as principais características, os principais aspectos concretistas. Então você tem aí múltiplas possibilidades de leitura, por exemplo. Pra onde você vai olhar num texto desse? Ah, eu tô fazendo aula de inglês, então vou olhar primeiro pro ri e pro xi. Ah, minha tia chama Eva, vou olhar primeiro então ali embaixo, né, no nome. Quer dizer, a disposição, né, temos aí uma disposição das palavras. Veja que o xi e o ri estão bem no meio, quer dizer, estão no centro, é o mais importante, é o que conta mais no texto. Cara, incrível, né? Tá curioso pra ver mais algum? Dá uma olhadinha nesse que eu acho que é mais famoso ainda. O Grande Lixo, do Augusto de Campos. É outro texto impressionante, porque veja que ele usa apenas duas palavras. E através dessas duas você pode fazer muitas inferências. Tem uma questão aí ambiental, o luxo provoca muito lixo. Você tem uma questão social também, as classes diferentes. E é interessante que a palavra luxo, veja, está escrita numa fonte bem luxuosa, bem rebuscada, quase barroco, quase barroca. Dá pra inferir, dá pra deduzir, dá pra pensar tanta coisa. Eu tô dando umas travadas aqui hoje. Dá pra deduzir, dá pra pensar muita coisa a partir de pouco. Eu acho isso uma grande qualidade, tá? Cá pra nós, eu acho um barato quando o artista consegue dizer muito com pouco. Deixa muito espaço para o espectador, para o leitor pensar. Mais um aqui da velocidade. Dá uma olhadinha. Você pode ler na horizontal, na vertical, que vai dar exatamente na mesma. Aí você fica lá, né? Vai imitando, na verdade, o som de um carro. Para a poesia concreta, o som também importa. Se a gente está falando de palavra, a gente está falando também de sonoridade. E é interessante pensar em velocidade porque... É, com certeza, galera, um tipo de poesia veloz. O que te capta mais rapidamente, a palavra ou a imagem? Se eu coloco um desenho de um lado e um texto de cinco parágrafos do outro, pra onde vai o teu olhar primeiro? Já aconteceu você pegar uma revista e não ler nada? Só olhar a figura? Você faz isso também com o material da escola? Olha, tem que ler, hein? E sabe que quando surgiu o concretismo, nos anos 50, 60... Eu já falei sobre esse contexto histórico no vídeo lá na terceira fase do modernismo. O Brasil vivia grandes mudanças, muito profundas. Você teve lá o JK, né? 50 anos em 5, vem a construção de Brasília, aquela capital concreta. Então, dentro dessa loucura, dessa rapidez financeira, econômica, cultural, política, era preciso um tipo de arte que acompanhasse a rapidez das coisas. E surge... Aí, essa poesia que a gente está falando, que é muito rápida porque é visual. Para finalizar, para fazer aquela conexão que você sabe que eu gosto com outras áreas, daria para comparar, daria para aproximar o concretismo, o que, galera? A propaganda e a publicidade. Você diria que a publicidade hoje é mais verbal ou mais visual? Ela passou por um processo evolutivo, com certeza. Então, hoje em dia, você tem pouca palavra e muita imagem. Você tem lá muita música, você tem slogan, logomarca, mas você não tem no outdoor, por exemplo, um texto de três parágrafos tentando persuadir você a consumir algum produto. Você não tem. Então a imagem está ali, é o que predomina e te chama mais rapidamente, consegue trazer muita coisa num curto espaço de tempo. Então você está vendo que as mudanças são profundas. Eu até compararia... O concretismo, a semana de 22. Aliás, houve aí três situações culturais que não queriam prosseguir, que queriam quebrar, queriam romper. As vanguardas europeias, a semana de 22 e o concretismo. Todos eles, então, trouxeram muitas novidades. Muito obrigado pela atenção, foi um prazer como sempre. Até a próxima.