Fala, galera! Bom dia, boa tarde, boa noite. Professor Rafael aqui. E na aula de hoje a gente vai começar a falar de um tema que é fundamental para pensar o século XIX, que são as chamadas Revoluções Liberais.
Para isso, a gente vai dividir esse tema em três partes distintas. A primeira delas, que é essa vídeo de hoje, a gente vai falar um pouco do Congresso de Viena e dos seus desdobramentos, ou seja, as reações da população europeia ao Congresso de Viena, sobretudo pautados em duas ideias, que são o nacionalismo, que a gente vai ver no vídeo de hoje, e a ideia do liberalismo, beleza? Na outra aula, a gente vai falar um pouco das revoluções de 1830 e de 1848, conhecida como a Primavera dos Povos. A gente vai estudar o caso específico da França e depois a gente vai se concentrar nos desdobramentos dessas revoluções. pontualmente em cada um dos lugares da Europa e, obviamente, do mundo.
Por último, e não menos importante, a gente vai ter uma aula menor em que a gente vai falar um pouco do desdobramento da Primavera dos Povos na França, que é o governo, obviamente, do Napoleão III, bem como os seus impactos na Europa da segunda metade do século XIX. E aí, basicamente, quando a gente está falando de revoluções liberais, a gente tem que pensar que a principal causa delas é o chamado Congresso de Viena. A gente estudou lá atrás que quando Napoleão Bonaparte assume o poder para resolver a bagunça que tinha ficado ali na Revolução Francesa, o Napoleão vai alterar profundamente o mapa político da Europa. E não apenas o mapa político da Europa, ele vai alterar também as famílias, a dinâmica de poder das famílias reais que estavam no trono antes da sua chegada ao poder.
Vimos então, basicamente... que quando Napoleão é derrotado, fica um longo trabalho para que o absolutismo seja reintroduzido na Europa. Para fazer esse trabalho de restauração do absolutismo, para dar origem ao período que vai ficar conhecido como o período da restauração, nós temos a convocação do chamado Congresso de Viena. As potências que haviam derrotado Napoleão, a saber, Áustria, Prússia, Rússia... Inglaterra e a própria França vão convocar uma reunião para decidir os rumos da Europa, agora sem a figura de Napoleão Bonaparte.
Nessa reunião, eles vão marcar, basicamente, três princípios do que deveria acontecer com essa nova Europa. Esses três princípios são os seguintes. O primeiro deles, elaborado pelo Metternich, representante austríaco nesse congresso, é o princípio do equilíbrio. O que dizia isso?
Basicamente, o princípio do equilíbrio dizia que, como a França se tornou muito mais poderosa do que todos os outros países da Europa, ela pôde dominar muitos territórios, para além dos territórios que a pertenciam, e ela desequilibrou a balança de forças. europeia. Esse desequilíbrio da balança de forças europeia representava uma ameaça para o absolutismo. Então, o Metternich vai propor que isso não aconteça mais. Para isso, então, o que o princípio do equilíbrio vai determinar?
Que aquele congresso não daria nenhum território a nenhum país que ele já não tivesse possuído anteriormente, ou seja, antes da Revolução Francesa. Então, o princípio do equilíbrio era a ideia de que a Europa deveria constituir um equilíbrio de forças. E para isso, eles vão pensar em outros dois princípios.
Para manter esse equilíbrio, que vai ficar conhecido como o equilíbrio de Viena, eles vão pensar, o Metternich vai pensar em outros dois princípios. O primeiro deles é o princípio da restauração. Basicamente, o princípio da restauração dizia o seguinte, ele dizia que caso algum desses países ou um outro território da Europa experimentasse uma revolução com características liberais, O Congresso de Viena poderia intervir.
Obviamente que não seriam os diplomatas de cada um dos países que iriam lá para debelar a Revolução. Para isso, eles vão firmar um acordo militar. Esse acordo militar vai ficar conhecido como a Santa Aliança.
A Santa Aliança vai ser composta pelos exércitos da Rússia, da Prússia e da Áustria, liderada, sobretudo, pela Áustria. Nesse sentido, então, a Santa Aliança deveria esmagar novas tentativas de revoluções liberais. que ocorressem na Europa. O problema disso tudo é que, junto com o princípio da restauração, o Metternich propõe um terceiro princípio, que vai desagradar enormemente a...
...a Inglaterra, e é por isso que ela não vai fazer parte da Santa Aliança, que é o princípio da legitimidade. De acordo com o princípio da legitimidade... retornavam ao trono todas as famílias reais que estavam no poder antes de 1792, ou seja, antes das chamadas guerras descoligações, das guerras que tentaram frear a Revolução Francesa. Para além disso, todos os territórios, todo o mapa político europeu, ele retornava às fronteiras anteriores a 1792. Isso desagrada a Inglaterra, sobretudo, porque todas as colônias que nesse mesmo momento na América Espanhola lutavam pela sua independência voltam às mãos do rei Fernando VII, que é igualmente restaurado ao trono no lugar do irmão do Napoleão, José Bonaparte.
A mesma coisa vai acontecer, portanto, na França. O Napoleão sai, obviamente derrotado, e entra no seu lugar Luís XVIII, irmão do sem-cabeça Luís XVI, que foi guilhotinado pela Revolução Francesa. BAM!
Basicamente, portanto, o Congresso de Viena dá início ao período da restauração absolutista. Uma restauração que a gente vai ver que é fracassada desde o início. Sabe qual é a questão? A Revolução Francesa deixou um legado. E esse legado não foi na estrutura política, pelo menos não primeiro.
O legado que a Revolução Francesa deixou foi primeiro no plano da mentalidade. E isso o Congresso de Viena jamais conseguiria. irá combater. Para tentar combater a ideia da Revolução Francesa como uma revolução fundadora, como diz a filósofa Hannah Arendt num livro chamado Da Revolução, eles vão tentar restaurar ao trono a família Bourbon, como eu disse há pouco.
Eles vão tentar fazer parecer com que a Revolução Francesa tenha sido uma pequena revolta. Que por mais que a família real Bourbon tenha ficado longe do poder, no fim das contas, tudo voltou ao normal. Tudo voltou ao normal, os Bourbons estão de novo no poder, e nada vai alterar isso. Bacana? O problema disso tudo é que a Revolução Francesa havia mudado a mentalidade da população francesa.
E a gente vai ver também, no final desse vídeo, a mentalidade da população europeia. A Revolução Francesa havia criado duas ideias, que são duas ideias fundamentais. A primeira delas, que vai se espalhar pela Europa juntamente com o cavalo de Napoleão, é a ideia da cidadania.
Cidadão... é todo aquele que tem um conjunto de direitos e deveres prescritos por uma constituição. Essa é uma ideia profundamente liberal.
Entre esses direitos estão a liberdade de expressão, estão a liberdade de voto, estão a liberdade de propriedade privada. Vários desses direitos, como a igualdade jurídica, por exemplo, são direitos que o homem europeu, a partir da Revolução Francesa, vai aprender como direitos fundamentais. Então, quando o Congresso de Viena vier restaurar a Europa, essa restauração...
relação vai parecer absurda aos olhos do homem médio europeu. Há um romance, para quem gosta de ler, que é emblemático disso, que é um romance chamado Vermelho Negro, de um escritor cujo pseudônimo é Estedal. No Vermelho Negro, Estedal conta-se a história do Julian Sorrel.
O Julian Sorrel é um camarada que vai tentar enriquecer na Europa do século XIX, pós-Napoleônica, e o... o vermelho, perdão, preto da batina dos padres, ou o vermelho, que era a farda do exército. Então ele vai tentar se tornar rico das duas formas, ou entrando para a igreja ou sendo militar.
E aí é muito louco, porque durante todo o livro, o Julien Sorrel, que está vivendo nesse período da restauração na França, ele vai mostrar o quanto aquilo tudo não fazia sentido. Todos os rituais da nobreza que vocês aprenderam na aula de absolutismo, tudo aquilo para o Julien Sorrel era uma palhaçada. Ele tem um caso com a mulher do prefeito, que era um nobre da cidade em que ele... ele vivia, pra quem ele trabalhava.
E aí ele ficava zoando, né? Porque ele tava pegando a mulher do nobre. Então, basicamente, a postura do dinossauro era a postura do homem médio europeu, que vai entender isso tudo como uma palhaçada.
A restauração do absolutismo vai ser entendida do ponto de vista das mentalidades como uma verdadeira palhaçada. Por quê? Porque o homem europeu já tava habituado à ideia de cidadania, à ideia liberal da cidadania.
Então ele jamais vai aceitar o retorno à condição. de súdito. Por outro lado, uma outra ideia que vai afetar enormemente essa Europa dos anos 10 e dos anos 20 do século XIX, que vem junto, que é um legado também da Revolução Francesa, é a ideia de nacionalismo. Se você faz um experimento, pausa o vídeo e pega o mapa da Europa. Europa atual, né?
Essa Europa agora do coronavírus, né? É, agora, faz o seguinte, procura no Google, você vai achar mapa político da Europa 1815. Não vou botar na edição do vídeo não, que eu não sei editar vídeo. Mas, assim, faz isso.
Repara quantos países novos a Europa tem hoje que não tinha em 1815, que o Congresso de Viena não permitiu que se fizesse. Essa é a grande questão. Essas nações, essas nacionalidades...
todas já estavam lá. Todas elas já eram marcadas por um profundo sentimento nacionalista. Ou seja, um profundo sentimento de reconhecimento cultural, reconhecimento étnico, reconhecimento às vezes religioso, de que alguns povos, algumas pessoas, tinham laços de fraternidade, laços comuns.
Vocês lembram do Igualdade? liberdade, igualdade e fraternidade na Revolução Francesa, a fraternidade é exatamente isso. A ideia é de que eu, porque sou brasileiro, tenho laços comuns com vocês que estão me assistindo, que são brasileiros.
Esses laços podem ser a língua, esses laços podem ser a religião, esses laços podem ser o futebol, podem ser a cultura, podem ser absolutamente qualquer coisa. Desde que nos façam sentirmos parte de uma comunidade que pode ser imaginada, pode não ter um território, como seja. aprenderam em geografia.
Qual é o sentido central disso tudo? Por que eu estou falando isso tudo? Porque é essa Europa que vai ter que aceitar a restauração do absolutismo. E percebam, ela não vai aceitar essa restauração do absolutismo de maneira gratuita, de maneira incólume, de maneira passiva.
Pelo contrário, o legado da Revolução Francesa vai apresentar os seus bracinhos em primeiro lugar a partir dos anos 20. Muito. Em 1820, o Congresso de Viena vai apresentar, vai começar a sofrer uma série de contestações, sobretudo a Santa Aliança e a potência que representava os interesses do Congresso de Viena, que era a Áustria, o Império Austríaco dos Habsburgo. Essas contestações vêm em três lugares diferentes. E aí a gente vai entender como as duas ideias que eu falei para vocês vão atuar nesses três lugares. Que três lugares são esses?
na Grécia, em Portugal e na Espanha. Vou começar com um caso grego. Em 1821, a Grécia não existia. Se você pegou o mapa, fez o experimento que eu disse para vocês, você vai ver que a Grécia não existia.
A Grécia, desde 1453, quando os turco-otomanos invadiram Constantinopla e acabaram com o Império Bizantino, foi dominada, obviamente, pelos turcos. Pode reparar, se você conhece futebol, e vocês já repararam, repararam que eu gravo todos os vídeos aqui com camisa de futebol, vocês vão saber o que eu estou falando. Mas se não sabe, pesquisa no Google. Um dos únicos jogos que na Champions League é proibido, e na Europa League também é proibido, torcidas rivais estarem no estádio, são jogos de times turcos contra times gregos. Por que isso?
Turcos e gregos se odeiam, é uma rivalidade histórica na Europa. Essa rivalidade histórica na Europa é uma rivalidade alimentada pela... a forma a partir da qual se deu a ocupação da Grécia pela Turquia durante 400 anos, de 1453 a 1829, eu só peço de matemática, faz a conta, deve dar quase uns 400 anos. Essa ocupação se deu a partir da negação dos gregos da sua identidade grega.
Presta atenção em mim, os turcos, eles são turcos, né? Pensam em turco, procura como é um turco na internet, né? Eles têm uma religião, que é o islamismo, eles têm uma língua, que é a... que é a língua turca, não, turcos não falam árabe. Beleza?
Os gregos. Em sua maioria são católicos ortodoxos, em sua maioria são caucasianos, brancos, não são, obviamente, turcos, e falam uma outra língua, que é o grego. Eles não falam turco.
Então percebam, nada mais diferente de um grego do que um turco. No entanto, a Grécia se encontrava dentro da Turquia. Era um domínio do Império Turco Otomano. Em 1821, inspirado... Agradecidos pelos ideais da Revolução Francesa, os gregos vão pegar em armas numa guerra civil sangrenta que dura de 1821 a 1829. Uma guerra civil que vai terminar com a vitória da Grécia, com a independência da Grécia.
Basicamente, essa independência vai gerar uma rivalidade que dura até hoje. Se você pesquisar na internet, talvez em português não tenha, mas em inglês vai ter. Pesquisa aí. Quando jogam Besiktas, que é um time turco, contra Panathinaikos, que é um time grego, os camaradas da Turquia atacam... um cadeira em cima da torcida grega.
A Grécia é a mesma coisa. Por quê? Porque essas rivalidades são rivalidades nacionalistas.
Ou seja, os turcos entendem que os gregos eram um domínio seu e que deveriam estar no seu império e os gregos, por sua vez, entendem que eles têm o direito a auto... Determinação do seu povo. O que é a autodeterminação do seu povo?
Muito simples. A autodeterminação do seu povo é o direito que um povo tem de, porque se considera de uma determinada nação, se organizar politicamente. e constituir um governo independente. Um governo que seja da forma que ele quiser, que essa maioria quiser. Pode ser um governo liberal, um governo monárquico.
A ideia de autodeterminação dos povos, então, ela está muito ligada à ideia de nacionalismo. Você faz parte dessa comunidade que é a imaginada, você tem que ter o direito, e isso é uma coisa que a Revolução Francesa vai trazer para a Europa, você tem que ter o direito de se organizar enquanto uma nação independente. Essas pessoas têm que ter o direito de escolher por quem elas vão ser governadas. Certamente os gregos não queriam que os turcos a governassem.
Então esse é o primeiro ponto de como o nacionalismo vai começar a criar uma série de abalos sísmicos na Europa. Europa que vão contestar a ordem absolutista. Se você pega o mapa em 1830, já existe lá a Grécia, uma nova nação. E a mesma coisa vai acontecer, pra gente encaminhar pra conclusão desse vídeo, em Portugal e na Espanha.
Vocês aprenderam na aula de Vinda da Família Real que a Família Real só decide voltar, né, portuguesa, só decide voltar a Portugal em função de um evento chamado Revolução do Porto. A Revolução do Porto, ela não só pede o retorno de Dom João de volta a Portugal, em 1820. Aí é que está a grande sacada que você não prestou atenção naquela aula lá. Eles pedem o retorno de Dom João VI desde que ele se comprometa a assinar uma Constituição. Que ele volte não mais como monarca absolutista que ele era quando partiu em 1808, mas que ele volte como, de fato, um monarca constitucional.
Como, por exemplo, o Luís XVIII na França vai ser restaurado. ser restaurado como monarca absolutista, ele vai ser restaurado como monarca constitucional. Era inconcebível pro Congresso de Viena, por exemplo, fazer um retorno tão brusco ao absolutismo.
Então percebam, o que tá em jogo na Europa é, de um lado, a ascensão do liberalismo como uma força política, pressionando monarcas absolutistas, como no caso da Espanha, em Cádiz, o próprio rei da Espanha, restaurado ao trono pelo Congresso de Viena, vai ser obrigado a jurar uma... constituição para se manter no poder. Então, de um lado, é o liberalismo ganhando força na Europa e restabelecendo as relações políticas. Juntamente a esse liberalismo, a gente tem povos inspirados pelo nacionalismo que querem o seu direito de se autodeterminar, de formar as suas nações. E, contra isso, a gente tem as potências absolutistas, que são esses grandes impérios, o Império Austríaco, que são esses grandes impérios...
império russo que tem dentro de si povos que não são da sua nacionalidade então basicamente qual é a questão da europa nesse momento muito simples a questão de fundo das revoluções liberais do século 19 é uma questão das forças liberais inspiradas pelo legado da revolução francesa que vão se contar contra as forças absolutistas que querem de toda maneira fazer com que essa restauração que parecia sem sentido aos olhos do homem médio europeu, se tornasse uma realidade. Beleza, galera? Galera, então é isso, essa é a primeira parte da nossa aula.
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