Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música Música O Brasil não existiu, o Brasil é uma invenção. E a invenção do Brasil, ela nasce exatamente da invasão, inicialmente feita pelos portugueses, depois continuada... continuada pelos holandeses e depois continuada pelos franceses, num moto sem parar, onde as invasões nunca tiveram fim. Nós estamos sendo invadidos agora. Tinha gente aqui com história, alguns desses povos com história de 2 mil anos.
Os Guarani hoje se atesta que tinham 4 mil anos, digamos assim, de... compreensão de si como povos e que se relacionava com os povos andinos e que reivindicavam diante dos andinos uma territorialidade e um respeito pelos povos andinos desse território que é uma parábola dessa parte que vem lá, do que seria o Pantanal, passando por parte do que é Mato Grosso, o Noroeste Paulista, atravessando o Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. do sul, pegando uma parábola desses territórios que formam uma cosmogonia onde os guaranis circulam, caminhando em busca dessa tal de terra sem males. Uma cosmovisão guarani que busca um lugar que é um espelho da terra, mas que não tem todos os defeitos daqui da terra, um lugar melhor do que a terra, que é a terra sem males. Hoje, a gente, por exemplo, vai olhar em áreas que são de terra firme, quer dizer, longe dos grandes rios, e você encontra também um monte de evidências de populações lá ocupando.
Quer dizer, qualquer lugar na Amazônia que você cave um buraco... Você encontra evidências de populações indígenas do passado. Ao longo do Rio Amazonas existiram sociedades complexas, sociedades que eram estratificadas, tinham exércitos, tinha camada de sacerdotes, etc. O que a gente pode dizer é que essa população não era de uma maneira homogênea, ela era bastante diferenciada.
Você tinha gente com, digamos assim, com elaboração de processos construtivos de uma identidade, de uma cultura, de dois mil anos, de três mil anos, mas você tinha povos também que circulavam e que podiam ter vindo... dos Andes nos últimos 200, 300 anos. Eles iam fazer uma adaptação ecológica à nova paisagem que eles iam encontrar, que era do Cerrado, da Mata Atlântica.
Essa é a formação que a Mata Atlântica... quando os europeus chegaram aqui, que os viajantes, os naturalistas piraram com essa Mata Atlântica, essa Mata Atlântica era o produto, o resultado de alguns milhares de anos de interação com os seres humanos que fizeram esse jardim. Era um sistema em rede, era um sistema bastante movimentado, né? E é uma coisa, seria uma espécie de mundo, assim, um mundo que poderia parecer, assim, com o mundo europeu, sem a sua. a Roma, no sentido que você não tinha uma capital, um lugar que centralizava, em que todas as estradas vão dar em Roma.
Você tinha, mas elas estavam conectadas, o que a gente encontra de estradas, o que a gente encontra hoje de geoglifos... o que a gente conta de canais, esse pessoal estava ocupando esse espaço, esse pessoal estava circulando, esse pessoal estava em contato. Eles se relacionavam com os Quechua, com os Aymara, com os povos andinos, com o império do Taiwan de Suyu, que tinha toda essa espinha que é os Andes.
Quando os brancos chegaram, eles foram admitidos como mais um na diferença. E se os brancos tivessem educação, eles podiam ter continuado vivendo aqui no meio daqueles povos e produzido outro tipo de experiência. Mas eles chegaram aqui com a má intenção de assaltar essa terra e escravizar o povo que vivia aqui.
E foi o que deu errado. Então eu digo isso, qualquer uma pessoa que estiver me ouvindo falar, e se você se sente parte dessa continuidade colonialista que chegou aqui, você é um ladrão. O seu avô foi, o seu bisavô foi.
Quando Humberto Mauro filmou a descoberta do Brasil, aquilo lá era o que os brancos filhos dos portugueses pensam que foi a descoberta do Brasil. O mito de origem do Brasil é aquela descoberta. com as caravelas, aquela missa em Monte Pascual. É um mito de origem, gente.
Nós somos adultos, a gente não precisa ficar embalado com essa história. A gente pode buscar entender a nossa história com a... as diferentes, digamos, matizes que ela tem, e ser capaz de entender que não teve um evento fundador do Brasil.
Quando os europeus chegaram aqui, eles podiam ter todos morridos de inanição, escorbuto ou qualquer outra pereba nesse litoral, se essa gente não tivesse recolhido eles, ensinado eles a andar aqui e dado comida para eles, porque os caras não sabiam nem pegar um caju. Eles não sabiam, aliás, que caju era uma comida. E eles chegaram aqui faméricos, doentes, e o Darcy Ribeiro diz que eles fediam.
Quer dizer, baixou uma turma na nossa praia que estava simplesmente podre. A gente podia ter matado eles afogado. Durante muito mais do que 100 anos, o que os índios fizeram foi socorrer brancos flagelados chegando na nossa praia. Querer configurar isso como uma conquista nos termos de uma guerra de conquista, do que aconteceu no México, no Peru e em algumas outras regiões, seria ignorar a extensão dessa costa atlântica.
Para ocupar, para chegar ao mesmo tempo em todas essas bacias que desembocam no Atlântico, você não tinha que ter uma canoa com 37 portugueses. Você tinha que ter 300 canoas com pelo menos uns 3 mil e tantos portugueses para chegar na nossa praia. Você tinha que fazer um desembarque aqui.
Não teve um desembarque. Os primeiros registros dos contatos, há um desejo de estabelecer trocas, há um desejo de encontrar mercadorias, metal, ouro, logo isso não se realiza, então, ah, é o pau-brasil, são papagaios, são macacos. Mas não só, já os portugueses também capturam escravos.
Então, são trocas, mas já são trocas também, eu acho, desde o início, marcadas por uma tensão de uma sociedade. que é a sociedade portuguesa, de comerciantes que estão nesses navios, da monarquia portuguesa, interessada já na conquista, na dominação, de impor o seu ponto de vista. Levi-Strauss mostrou isso muito bem nos estudos dele, essa grande diferença de mentalidade entre os europeus e os povos americanos, os indígenas americanos.
Ao contrário dos europeus, os indígenas muito abertos à alteridade, a incorporar o outro. a diversidade, como parte, sempre integrante da sua visão de mundo. Enquanto os europeus, não, eles não veem o outro, eles sempre, quando veem algo, eles projetam sobre o outro ou o que eles querem ou o que eles não querem.
No caso, por exemplo, o demônio, o pagão, o infiel. Enquanto os índios estavam querendo saber que tipo de corpo esse pessoal que chegou... Tem, né? Se eles são mortais, se eles apodrecem, se eles morrem, se eles cagam fedido, né?
Os espanhóis estavam discutindo, os espanhóis, os portugueses, estavam discutindo se esses caras tinham alma ou não, se podiam ou não ser escravizados, né? Nos enganaram de muitas formas, com agrados, com afagos, com presentes. Então, foi um roubo e foi também essa questão do roubo da própria consciência. também porque acho que a gente quando percebeu que não era talvez metade das coisas já tinha ido Portugal resolve ocupar o território claro que ainda de maneira muito tênue mas compartilhando com um particulares estabelece uma doação de vastos territórios é no O Brasil ao longo do litoral e promove, então, portanto, a ocupação desse território. A ocupação significa a fixação de portugueses, a fixação de colonizadores, tendo em vista a implantação de portugueses.
de um sistema produtivo. Produzir exige trabalhadores, esses trabalhadores serão escravos. Se trata de implantar um sistema de produção do açúcar, capitania de Pernambuco, São Vicente, que inicialmente tem algum sucesso. já escravizaram indígenas.
Quem vai trabalhar são escravos que vão ser capturados. Isso se dá também na manipulação das guerras indígenas entre os indígenas. Os portugueses logo percebem que o modo, a organização social tupinambá pressupõe a guerra.
São sociedades guerreiras, são tribos que lutam entre si. Mas há uma dimensão ritual, há uma dimensão construtiva, digamos assim, nessas guerras. Os portugueses manipulam isso para utilizar alguns indígenas contra outros, algumas tribos contra outros, com o objetivo de conquistar escravos, conquistar esses trabalhadores. O entendimento que os portugueses estavam tendo de que podiam escravizar os índios foi um dos principais motivos dos índios começarem a queimar os engenhos, queimar as novas sítios coloniais e entender que os brancos eram invasores.
Quer dizer, demorou para os índios interpretarem que os brancos estavam... Estavam aqui para ficar e para tomar a terra e se possível escravizar os donos da terra. Os indígenas vão reagir, eles vão reagir, e temos aí um início de um conflito que é essencial da colonização.
A história da colonização é a história da conquista contínua, da guerra contínua, para ocupar o território e dominar os povos. E isso tem um início lá nos anos de 1530. E vai percorrer toda a nossa história. Nós estamos em guerra. Eu não sei por que você está me olhando com essa cara tão simpática. Nós estamos em guerra.
O seu mundo e o meu mundo estão em guerra. Os nossos mundos estão todos em guerra. A falsificação ideológica que sugere que nós temos paz é pra gente continuar mantendo a coisa funcionando. Não tem paz em lugar nenhum. É guerra em todos os lugares o tempo todo.
Ao contrário do que muita gente diz, de que os empreendimentos portugueses tiveram que trazer negros da África para cá porque os índios não quiseram ser escravos, isso é uma tremenda mentira. Os índios foram escravizados à exaustão, foram mortos aos milhares, sendo explorados pelo trabalho escravo. Os escravos indígenas foram utilizados durante todo o período da colonização.
E legalmente, a legislação estabelecida pela monarquia, já em 1570, criava condições jurídicas para legitimar a escravização dos indígenas. E essa escravização se deu com o fundamento da guerra justa. Grosso modo, se os indígenas se recusam à fé, são contrários à fé, portanto, é justo guerreá-los.
Como é justo guerreá-los, então significa que é justo matá-los. É justo ocupar os seus territórios e é justo escravizá-los. Eu escravizo o indígena para salvar a alma dele.
A própria igreja católica mesmo tentou evangelizar e muitos que não aceitavam eram mortos, né? Muito de nós era proibido de falar a língua, era proibido de assumir um nome indígena, por exemplo, né? Tinha que negar para poder ser aceito. Então, muita gente negou a sua própria identidade, né? Para poder evitar o preconceito ou mesmo para evitar ser morto.
Foi só no início do século XVII, ou seja, por volta de 1620, 1630, que os escravos africanos começaram a ser a maioria nos engenhos de açúcar. Até então, a maioria dos trabalhadores escravos eram indígenas. Os portugueses para o sertão, no gado, com essas fazendas, estão encontrando indígenas. São os mesmos indígenas, alguns que recuaram do litoral, fugindo do contato e da guerra, ou indígenas que lá viviam há milhares de anos.
e que resistem. Começam a pôr gado, uma fazenda de gado, os indígenas comem o gado. E isso é interpretado pelos portugueses, os povos indígenas estão atacando as fazendas de gado, estão impedindo a expansão da nossa... economia, impedindo, portanto, o avanço do império cristão.
Tanto é que logo nos anos 60 começa a surgir uma imagem, que depois é reiterada, de que a expansão portuguesa no sertão está sendo parada por um muro que o demônio criou no sertão. Um muro de índios bárbaros, índios selvagens, que resistem à presença portuguesa. Essa guerra se define como total, efetivamente, numa reunião que ocorre na Bahia, em 1669, e nessa mesa grande, como eles chamam, uma grande reunião, se estabelece que, então, a partir de agora, as guerras contra todos os índios do sertão são todas guerras justas, porque os índios do sertão são bárbaros que resistem à expansão da fé.
Então, agora, como que se declara uma guerra total? Nesse processo, né, a uma certa altura, você não tem mais volta. E eu acho que o ponto de vista, assim... O momento que você não tem mais volta nisso é o momento em que, de um lado, as epidemias estão graçando de maneira...
Imagina o seguinte, o Anchieta fala de 30 mil mortos indígenas, mortos por varíola no recôncavo baiano. Não dá nem para enterrar todo mundo. Você tem que ter essa ideia de que, de repente, o mundo começa a acabar.
todo mundo começa a morrer. Uma série de surtos de doenças enfraqueceram enormemente essa humanidade indígena que não estava preparada para isso. Quer dizer, a ideia de utilizar essa fragilidade biológica, essa ausência de anticorpos e contaminar os indígenas...
e levar essas doenças a eles, isso está o tempo todo dado. Então, num certo sentido, há uma guerra biológica. O que se passou aqui durante o processo colonial é da... colocar a demografia, como alguns estudos sugerem, na ordem de 80 milhões para as Américas, isso em 1500, 1492, você verá que o que desapareceu é boa parte da humanidade em 100 anos.
Então, a gente normalmente não tem esse... Essa dimensão do fato talvez tenha sido, proporcionalmente na história da humanidade, um dos maiores holocaustos populacionais que a gente tem notícia. Os próprios portugueses vão ler essas guerras. promovidas na segunda metade do século XVII e vão lamentar o fato de que foram guerras de extermínio, dizendo, bem, no final nós conquistamos esses territórios, mas despovoamos esses territórios, porque o extermínio dos grupos indígenas também... nos deixou vastos territórios sem povos para ocupá-los.
Com essa articulação entre contágio, matando por doença e assalto aos lugares onde os índios viviam, a gente chegou ao século XX. com uma política do Estado brasileiro, já na República, que era de parar de matar aqueles índios. E é o que o Marechal Rondon fez, quando ele criou o Serviço de Proteção ao Índio, que precisava de ter um contingente de nativos vivos para constituir a nacionalidade.
Os senhores não poderão ficar omissos? Os senhores não terão como ficar alheios a mais essa agressão movida pelo poder econômico, pela ganância. Um povo que habita casas cobertas de palha, que dorme em esteiras no chão, não deve ser identificado de jeito nenhum como um povo que é o inimigo dos interesses do Brasil, inimigo como os interesses da nação e que coloca em risco qualquer desenvolvimento. O povo indígena tem regado com sangue cada hectare dos 8 milhões de quilômetros quadrados do Brasil.
Os senhores são testemunhas disso. Essa guerra é contínua, ela não foi um fato histórico, acabou no século... Ela fez parte de toda a expansão do Brasil por outras regiões, além da costa atlântica. Ela fez parte da entrada nos sertões, São Francisco. Ela fez parte da entrada na Amazônia.
Ela fez parte depois da própria ação do Brasil. O Brasil na região fronteira do Chaco faz parte da guerra com o Paraguai também, ela integra esse episódio. Ela faz parte da expansão cafeeira, da borracha, depois do cacau na Bahia.
Todos os grandes ciclos econômicos de desenvolvimento, os índios sempre foram atingidos pesadamente. Índios e anomames morreram em choque com garimpeiros. Nós estamos de fronte de um múltiplo homicídio que eu não posso deixar de caracterizar. como genocídio. Os índios alegam que essas são suas terras originárias, onde viveram seus antepassados e de onde eles teriam sido expulsos.
Já os produtores rurais dizem que eles são os verdadeiros donos. Essa proposta de emenda constitucional defendida pela bancada ruralista passa para o Congresso a decisão de demarcação de terras. O relatório também proíbe a ampliação de terras indígenas já demarcadas.
Quando o índio invade, há uma reação do produto. a esse impasse, a morte, mas a morte de um lado e morte do outro. A guerra que a gente vive para ter os direitos garantidos, a guerra que a gente enfrenta para manter a nossa cultura, a guerra que a gente enfrenta contra... os madeireiros, né? Então, a gente diz guerreiro porque é uma palavra que vem de guerra mesmo, e a gente vive numa guerra constante, né?
Todo dia, é um dia após o outro, né? Sem saber quem é que vai mais ser vivo, quem é que vai mais ser morto. A guerra é um estado permanente, né?
Da relação entre os povos originários daqui, que foram chamados de os índios. Sem nenhuma trégua até hoje, até agora, segunda-feira de manhã, quando nós estamos aqui conversando. Indígenas atearam fogo num caminhão e numa colheitadeira que custam mais de 500 mil reais.
Indígenas tomaram três armas dos militares e atearam fogo na viatura e ainda agrediram os policiais. Esse impasse sobre quem realmente... têm direito sobre a terra já dura décadas aqui no Mato Grosso do Sul. Os ruralistas também avançam para um outro objetivo, que é o de invadir e explorar as terras que estão na posse e sendo preservadas pelos povos. caiu a nós não temos mais esperança que o governo brasileiro vai resolver pra nós de 2012 mais de mil índios foram vítimas de violência no mato grosso do sul sendo 95 assassinatos e 13 casos de violência sexual garimpeiros fizeram uma emboscada para recuperar uma espingarda que os índios haviam roubar dois garimpeiros e 5 e anumames morreram líderes dizem que o problema não aparece nos jornais locais enquanto o poder público não toma uma decisão abre-se espaço Passo para a violência.
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