a preocupação em qualificar o sensor um técnico policial limitado que se via como intelectual vigilante tornou-se ainda mais obsessiva por parte do governo quando descobriu-se que Antonio Romero Lago o todo-poderoso chefe do serviço de censura que velava pela ordem e pelos costumes Erenildo Ramirez de Godoi para complicar além de falsificar o currículo ele era um falsário assassino fugitivo da Justiça havia mais de 20 anos pois mandara matar dois homens no Rio Grande do Sul as trapalhadas da censura incluíam a proibição do livro cubismo supostamente uma propaganda de Cuba ao mesmo tempo que liberava a música apesar de você de Chico Buarque à primeira vista uma inocente canção contra uma namorada meeira a censura era uma das partes mais notórias do febeapá o festival de besteira que aola o país a crítica bem humorada escrita por stanislau Ponte Preta que sintetizava o clima de ignorância e obscurantismo que parecia tomar conta das autoridades mas para Além Deste caráter cômico e farco a censura foi eficaz como parte do tripé repressivo limitando o alcance da criação artística e a circulação de opinião e de informações de interesse geral em grande parte a censura complementava o trabalho dos setores de 179 informação e repressão influenciada pela comunidade de informações a censura durante o regime militar tinha um modus operand plenamente reconhecível agia muito à vontade na proibição de programas de de rádio era essa sua função mais antiga e plenamente estabelecida pela legislação anterior ao regime outra função antiga era o controle sensório de testos e montagens teatrais Mas esta ficou um tanto completa após 1964 considerando-se a importância e o reconhecimento intelectual que o teatro ganhou como espaço da resistência e da afirmação de uma liberdade pública a censura ao cinema ficou mais complexa ainda pelo mesmo motivo acrescido do fato que o cinema brasileiro era uma indústria frágil e um campo de expressão com muito reconhecimento no exterior à época ou seja qualquer erro de medida out trapalhada em relação ao cinema e ao teatro poderia repercutir negativamente nos extratos Os mais altos da sociedade desgastar ainda mais um governo cada vez mais pressionado Esse foi o quadro até 1968 depois sob o ai5 e a institucionalização da censura prévia essas sutilezas políticas ficaram em segundo plano mas a luta por qualificar a censura e dar-lhe uniformidade e alguma previsibilidade continuou até porque sabiam os militares a censura era um fator complicador para a indústria da cultura e da diversão que movimentava muito dinheiro e era parte da modernização Industrial Sonhada pelo regime 180 ironicamente a censura musical tornou-se mais voraz depois de 1979 quando se respiravam os ventos da abertura política mais delicada ainda era a censura à imprensa não faltaram momentos de censura prévia rígida sobre órgãos da grande imprensa como a que recaiu sobre suspeito Jornal Estado de São Paulo 1972 a 1975 ou sobre a revista Veja 1974 a 1976 mas a preferência do governo era censura indireta sugestiva ou melhor ainda autocensura dos órgãos de imprensa a dificuldade em normatizar E assumir a censura prévia à grande imprensa comercial sócia da Conspiração que derrubara Gular em 1964 se devia autoimagem do regime que se via como a antítese do getulismo que durante o estado novo abusar do controle dos jornais os militares sobretudo de linhagem castelista ficavam incomodados com este tipo de censura os quais preferiam processar até jornalistas mas evitar a censura sistematicamente aos jornais na lógica do regime a grande imprensa deveria ser uma interlocutora confiável do governo Elo com a opinião pública os livros e revistas sofreram censura prévia entre 1970 e 1979 com efetividade variada em relação aos livros a censura nunca conseguiu ser eficaz como atesta a publicação de obras altamente críticas ao regime bem antes da fase de abrandamento da censura política como zero Ignácio de loola Brandão 1970 bardon Joan Antonio calado 1970 festa Ivan Angelo 1976 em câmara lenta Renato Tapajó 1977 via de regra o próprio gabinete do Ministro da Justiça cuidava deste diálogo com os grandes jornais já para a imprensa Alternativa de esquerda não havia maiores preocupações com vetos to parciais ou mesmo a prisão de jornalistas além da censura a vigilância era um aspecto estratégico para o regime sua função Central era produzir informações sobre pessoas movimentos sociais instituições e grupos políticos legais ou Ilegais evitando surpresas para o governo informações que poderiam no futuro produzir a culpabilidade dos vigiados o eixo do sistema de informações era o ser serviço Nacional de informações criado em junho de 1964 o sne tinha um único cliente conforme palavras do General Fiúza de Castro o presidente da república o serviço tinha ramificações na máquina burocrática as divisões de segurança e informação de si e também a Assessoria de Segurança e informação Azi instalada em cada órgão importante da administração pública era uma estrutura informativa mas não Operativa no sentido de combater diretamente a subversão os Ministérios militares tinham seu próprio sistema de informações composto pelos diversos serviços de inteligência das três forças e pelas segundas sessões dos diversos comandos e armas os serviços de inteligência militar ao contrário dos civis eram informativos e operativos bem como as delegacias e os departamentos da política estaduais os dops a a matriz da vigilância eram os informes que compreendiam todas as informações recebidas de Agentes informantes AOC cujo teor não tinha sido processado nem confirmado pelos serviços de inteligência 184 eles eram classificados conforme o grau de plausibilidade de até F relativos à qualidade das fontes de um até seis relativos a plausibilidade e a veracidade da informação a um era a classificação dos informes mais idôneos combinando-se até f6 reservados para aqueles vindos de fontes menos idôneas e com pouca chance de serem verdadeiros os analistas repassavam os informes aos chefes com indicação de operações de verificação ou repressão a preocupação do sistema de informação era vigiar Funcionários Públicos civis movimentações das lideranças políticas atividades legais ou clandestinas dos movimentos sociais trajetórias intelectuais e artísticas o sni dava aval para nomeações nos altos escalões do governo acompanhando casos de corrupção envolvendo civis na lógica do regime militar o governo precisava saber desses casos antes da Imprensa até para melhor abafos se fosse o caso a repressão entendida como conjunto de operações de combate direto às ações civis e armadas da oposição ao regime com completava o tripé repressivo até o final dos anos 1960 as polícias estaduais os DPS eram as responsáveis pelas operações policiais de repressão política não havia portanto um sistema nacional militarizado e Integrado de repressão policial o crescimento da Guerrilha em 1968 gerou outra estrutura para este lado do tripé consagrando a sigla mais a terror an do período doodi destacamentos de operações e informações centro de operações de defesa interna antes do surgimento do sistema doodi cada força militar tinha seu serviço de informação e combate à Guerrilha sob responsabilidade do respectivo Ministro militar o cimar centro de informações da Marinha era o mais antigo criado em 1955 e eficaz na caça opositores o Sisa centro de informações de segurança da Aeronáutica foi criado em 1968 com outro nome o c centro de informações do exército criado em 1967 tornou-se um dos mais importantes e letais serviços de segurança do regime a superposição de agências e comandos no combate à Guerrilha a ausência de uma polícia federal estruturada nacionalmente e o limite dos does estaduais tornaram o combate as guerrilhas nos primeiros anos do regime uma atividade um tanto quanto errática com vários procedimentos e metodologias diferentes sem uma efetiva troca de informações que permitisse uma ação de âmbito nacional integrada isso Começou a Mudar em Julho de 1969 com a criação da auban a operação Bandeirante prenúncio da metodologia repressiva dos doodi os novos Bandeirantes também agindo em São Paulo na qual a Guerrilha de esquerda era particularmente ativa já não caçava índios suas vítimas eram os chamados subversivos conceito amplo que englobava tanto os combatentes da luta armada a rede de apoio direto e indireto às organizações clandestinas bem como qualquer militante de partidos de esquerda ou movimentos sociais inclusive aqueles que não tinham aderido à luta armada o foco da repressão entre 1969 em 1973 eram os guerrilheiros de suas organizações alban tinha uma estrutura flexível composta por um mix de militares policiais civis e policiais militares cuja vantagem era ter Ampla liberdade de ação para além das sutilezas jurídicas ou de constrangimentos burocráticos mas tinha a desvantagem de não poder contar com verbas públicas para seus gastos e adicionais por insalubridade mas isso podia ser contornado pela caixinha que muitos empresários ciosos do seu dever Cívico e de suas propriedades como executivo do grupo Ultra ning boilesen organizaram para combater o comunismo o dinheiro privado alimentou a Oban dando-lhe mais liberdade de ação a inexperiência dos militares na atividade propriamente policial fez com que logo se destacasse o delegado da Polícia Civil de São Paulo sergil Paranhos fleu o modelo da era o Esquadrão da Morte que atuava na cidade desde o início dos anos 1960 achac e estur quindo criminosos comuns o método tortura e execuções extrajudiciais com requintes de crueldade flor policial experiente de São Paulo daria a fórmula entretanto auban em que peso e sua eficácia comprovada na dizimação de guerrilheiros não agradava a cúpula Militar ciosa dos seus comandos e da hierarquia a utilização de policiais sabidamente assassinos e corruptos no combate à Guerrilha poderia ter um preço no futuro era preciso trazer para âmbito militar o esforço polial de combate à Guerrilha e repressão política em para ISO em 1970 foi criado sistem doodi inspirado no modelo flexível daan a nova sigla da repressão estava so controle direto dos Comandos de cada exército região militar de natureza militar podia se intercomunicar com os serviços de inteligência de cada força que continuavam existentes e atuantes diz a crônica que oar não gostou da criação de uma nova sigla passando a municiar o delegado Flori que também continuou muito atuante diretamente com informações para capturas de opositores flor ganhou todos os pontos com os mandatários do regime ao emboscar e matar com sua equipe Carlos guela em novembro de 1969 conforme as palavras do General Fiúza de Castro criador do c o doi era o braço armado do codi os codi estavam subordinados ao chefe do estado maior do Escalão correspondente visavam articular todos os quadros e agências encarregados da repressão em uma determinada área os doi eram destacamentos de combate captura interrogatório militar a repressão à base de tortura superou qualquer limite jurídico ou humanitário ferindo mesmo a ética militar que prega o tratamento Digno dos prisioneiros para driblar o precário controle dos comandantes o mesmo agir sem prestar contas ainda que formalmente ao sistema oficial de repressão muitas equipes de tortura tinham centros clandestinos se num primeiro momento o regime fazia prisioneiros entre aqueles envolvidos na luta armada ou forjava incidente e fugas para justificar as mortes sob tortura a partir de 1971 incrementou-se outra solução o desaparecimento para o sistema repressivo essa solução tinha a vantagem de desobrigar o governo e as autoridades como um todo de qualquer informação oficial sobre o militante desaparecido oficialmente nem preso nem morto logo o sistema repressivo parte estrutural do regime elaborou uma sofisticada técnica de desaparecimento cujo primeiro momento era o desaparecimento físico do corpo seja por incineração esquartejamento sepultamento como anônimo ou com nomes trocados mas para além desta atrocidade organizava-se um aparato de contrainformação para despistar familiares alimentando-os com pistas falsas e fazendo-os perder-se nos labirintos burocráticos do sistema como se não bastasse o aparato ilegal clandestino de repressão o regime instaurou novas leis através sobretudo dos atos institucionais 1 e banimento e 14 pena de morte estes atos mais do que o ai5 foram respostas diretas à Guerrilha em reação ao sequestro do embaixador americano a emenda constitucional número 1 em 1969 incorporou o princípio de defesa do Estado com base na doutrina de segurança nacional a reformulação da Lei de Segurança Nacional em setembro de 1969 tipificou novos crimes e criou penas mais duras em 1970 havia cerca de 500 presos políticos 56% estudantes paralelamente esta institucionalização da repressão policial como princípio de estado o sistema operativo de repressão tornava-se mais autônomo realizando prisões e mortes clandestinas o o fato de ter mais autonomia Não significava propriamente um descontrole do sistema repressivo em nenhum momento do regime a repressão esteve completamente sem controle da Cúpula militar o sistema do codi em grande parte permitiu Esse controle militar e burocrático da repressão mas sem dúvida para um regime que nunca Abriu Mão de controlar sua transição ao governo civil era preciso retomar as redas de um sistema que estava no limite da Autonomia em 1972 o governo teve que enfrentar a crise dos desaparecidos quando o desaparecimento de militantes passou a ser amplamente divulgado no exterior e passou a mobilizar de maneira mais sistemática as famílias envolvidas com a esquerda armada desarticulada a comunidade de segurança logo buscaria outros inimigos iniciava-se assim a ofensiva contra o PCB preparada em junho de 1907 74 e aprofundada a partir de Janeiro 1975 quando o partidão foi considerado culpado pela surpreendente derrota Eleitoral do partido do governo nas eleições legislativas de Novembro mas os tempos eram outros e a repressão à base de tortura teria um custo maior antes disso a morte de Alexandre vanu chilem estudante da USP e a reação do movimento estudantil da sociedade civil e da igreja católica mostravam que a tampa da panela de pressão estava sendo forçada em determinado momento do filme batalha de Argel gilo ponte Corvo 1965 clássico do cinema político de esquerda o Coronel francês encarregado de combater os nacionalistas argelinos que queriam sua independência questionada em uma entrevista coletiva sobre o uso de torturas inadmissíveis para um país que se considerava berço da civilização Europeia o Coronel responde aos jornalistas se todos aqui querem que a Argélia continue francesa aceitem as consequências Morais esta resposta nos faz pensar sobre o uso da Tortura em operações de contrainsurgência aliás sistematizada exatamente pelos militares franceses que combateram sem sucesso diga-se a Guerrilha argelina é fácil explicar a tortura pelo descontrole do aparato policial militar da repressão ou pela autonomia do Porão em regimes autoritários costuma-se explicar a tortura até pelo emprego de indivíduos sadicos e psicopatas na repressão que cometeriam excessos sobretudo nos casos mais atrozes de violência mas Nenhuma destas explicações dá conta do fato de que a tortura é um sistema como sistema não é o torturador que faz a tortura mas exatamente o contrário sem o sistema de tortura organizado burr izado e abrigado no aparelho civil e Militar do Estado o indivíduo torturador é apenas um sadico errante à procura de vítimas dentro do sistema ele é um funcionário público e padrão obviamente a Tortura Nunca foi assumida pelo alto Escalão 186 militar que comandava o regime como uma política de estado aqui não se trata apenas de um parti pris ideológico qualquer estado quando atacado pela insurgência tende a reagir Inclusive a aplicando meios militares tampouco trata-se de confundir a Tortura com excessos da energia policial como gostam de dizer às autoridades ou mesmo com matança de combatentes em situação de conflito portanto nem os argumentos da Guerra suja em se muito frágeis justificam a tortura a tortura é um sistema integrado ao sistema Geral de repressão montado pelo regime militar brasileiro que combinou suas facetas e e Leais os procedimentos da repressão brasileira se pautavam pela combinação de repressão militar interrogatórios à base de tortura ou execuções dentro da lógica de não fazer prisioneiros e rituais jurídicos para imputar culpa dentro dos Marcos da Lei de Segurança Nacional quando um militante caía preso em operações policiais ele não era colocado imediatamente sob tutela da autoridade judicial via de regra estas operações eram insidiosas emboscadas que pareciam mais sequestros à luz do dia não havia mandado de busca ou de prisão tratava-se de uma operação militar travestida de operação policial normalmente a equipe que capturava o militante não era a mesma que o interrogava tratava-se de equipes diferentes porém coordenadas os chefes dos interrogadores eram oficiais superiores majores por exemplo enquanto os chefes dos captores poderiam ser um Capitão ou um tenente os interrogatórios eram monitorados e gravados as regras de cessão do regime permitiam a prisão temporária por 30 dias sendo que por 10 dias o preso ficava incomunicável mas na prática a repressão tinha grande autonomia e liberdade de ação era nesse período que o sistema do ecod atuava na forma de interrogatórios para extrair informação havia até uma senha para que agentes infiltrados não fossem torturados por engano se sobrevivesse o preso era entregue à autoridade policial para abertura de inquérito Ao que se seguia a abertura de processo pela justiça militar posto que os crimes de subversão estavam so sua alçada e não da Justiça civil mas nem sempre este ritual se cumpria houve em algum momento a inflexão na direção do exterminio e desaparecimento que na prática implica maior onomia das equipes de captura interrogatório ou mesmo a mescla entre as duas Em que momento isso teria acontecido seria uma chancela ou mesmo uma ordem superior vinda dos Comandos e da Cúpula política do regime ponto de interrogação 191 seria a tentativa de maior controle burocrático da repressão por parte do comando como se Alega ser o caso do exército sob o comando de Silvio Frota que ensejaram ainda mais a montagem de um mat duro clandestino de opositores como a casa da morte em Petrópolis ponto de interrogação 192 seria uma contra estratégia para desestimular o sequestro de diplomatas libertados em troca de prisioneiros ou a ida de expresos políticos para o exterior onde faziam verdadeiros estragos para a imagem do governo brasileiro seria a autonomia do porão como até agora muito pouco se sabe sobre o funcionamento e a cadeia efetiva de comando deste sistema repressivo cujo epicentro era a tortura e o desaparecimento não podemos ir além das perguntas os saudosos do regime militar gostam de dizer que a repressão no Brasil foi Branda e restrita perto de outros regimes similares em outras palavras matou e prendeu pouco o que para alguns nostálgicos pode ser até motivo de arrependimento Mas além de o argumento quantitativo não diminuir o caráter da violência e das tragédias humanas produzidas sob o signo da Tortura o fato é que o martelo de pilão estava ativo e poderia ter feito quantas vítimas fossem necessárias os homens estavam bem dispostos para continuar seu trabalho com a testa onda repressiva pós Guerrilha mas o sistema foi enquadrado politicamente quando foi preciso sem obviamente nenhum tipo de punição aos excessos no máximo troca compulsória de comandos militares a cúpula mais consequente do regime militar sabia que este sistema era insustentável a longo prazo qualquer regime mesmo autoritário para ter eficácia política não poderia se ancorar em um sistema meramente policial a doutrina não Expressa de um autoritarismo institucional que parece ter vigorado durante o regime militar brasileiro pressupunha a tutela do sistema político e da sociedade civil Por meios institucionais utilizando a repressão política diretamente feita pelo serviços de segurança de maneira seletiva combinando legislação autoritária e repressão policial clássica no controle de distúrbios sociais a opção policial em moldes semic clandestinos Ilegais atingiu seu ápice no combate à Guerrilha mas começou a ser desmontado a partir de 1976 pois seu custo político era grande para o projeto de normalização política e a institucionalização do modelo político a utilização de quadros policiais civis a começar pelo delegado feri envolvido com o Esquadrão da Morte na mira da Justiça Paulista da época era outro problema o regime até poderia protegê-lo por um tempo como demonstra a alteração do Código de Processo Penal para impedir sua prisão em novembro de 1973 mas ele era um quadro vulnerável até pelo seu envolvimento com o Esquadrão da Morte mesmo os grupos civis liberais que apla udam a dureza em relação à luta armada não podiam mais fazer vistas grossas ao funcionamento do Martelo de pilão da repressão que aliás poderia atingir qualquer cidadão Poderíamos dizer tal como o Coronel francês do filme vírgula é preciso aceitar as consequências Morais ao fim e ao cabo fica uma pergunta para que se torturava 196 a resposta à primeira vista parece óbvia e Ática porque é a maneira mais rápida e eficaz para extrair informações do inimigo e vencer a guerra outros sugerem que o inimigo no caso a Guerrilha era invisível e só poderia ser desarticulado com procedimentos de investigação policial o que no Brasil e em boa parte do mundo sabemos o que significa para além dessas respostas dadas pelos que torturaram ou pelos que os apoiaram podemos pensar em outras possibilidades a tortura não não é apenas uma técnica de extrair informações mas também uma forma de destruir a subjetividade do inimigo reduzir sua moral humilhá-lo no caso do guerrilheiro de esquerda a moral era tudo combatia se por uma crença ideológica combatia por um ideal de sociedade Quando uma pessoa se torna um guerrilheiro não há nem Vitória nem compensações materiais no curto e Médio prazo ela rompe os laços familiares em nome da luta rompe com as possibilidades de um trabalho de um futuro confortável Ainda mais quando se é estudante vindo de uma elete a prisão o exílio a derrota pontual não eram suficientes para abalar a moral quando muito para provocar uma autocrítica e mudança de estratégia de luta a morte heróica era uma perspectiva que não assustava a flor da juventude que foi a luta a tortura invade esta subjetividade tão plena de certezas e de superioridade moral para instaurar a dor física Extrema e a partir dela a desagregação mental o colapso do sujeito o trauma do indis é claro muitos militantes passaram pela tortura e em princípio não submergiram como sujeitos nem como militantes isso aponta para uma certa ineficácia da Tortura expliquemos melhor históricamente falando a tortura em se nunca ganhou guerras ou derrotou guerrilhas os exércitos Os Invasores torturaram muito na Argélia e no Vietnã e perderam a guerra a polícia cubana de Fulgêncio Batista torturou muito e o ditador foi derrubado os exércitos colonialistas torturaram os nacionalistas insurgentes na Ásia e na África e suas colônias se tornaram Independentes o nazismo torturou se existentes e foi derrotado em todas as frentes de ocupação no caso das ditaduras sul-americanas o relativo Triunfo dos regimens militares talvez se Deva mais à sua rede de apoio Civil do que ao recurso da Tortura para calar a oposição pacífica ou armada no Chile a tortura não impediu o surgimento de ações Armadas durante a ditadura nem a rearticulação do protesto de massa A Argentina é um caso um pouco diferente pois a prática de tortura foi combinada com uma política de extermínio e massa dos quadros de esquerda sob os olhos de uma parte da sociedade cúmplice no Brasil não foi a tortura que derrotou a Guerrilha mas sua reduzida base social limitada aos quadros intelectualizados e radicalizados da Juventude de classe média com algumas adesões de camponeses e Operários fossem estes efetiva base social da Guerrilha talvez a tortura apenas alimentasse uma espiral de violência e Vingança Sem Fim entretanto havia um ponto em que a tortura se mostrou eficaz a construção do c círculo do medo que tende a estancar novas adesões a base de entusiasmo a causa revolucionária ao longo dos anos 1970 isto parece ter acontecido com parcelas importantes da Juventude da sociedade brasileira como um todo o recado dos torturadores era para quem estava no campo de influência ou sentia alguma simpatia pela Guerrilha seu destino será o mesmo prisão tortura morte e desaparecimento este fator combinado a momento em que a juventude Universitária tinha uma ampla Gama de oportunidades profissionais pode ter desestimulado adesões massivas à oposição entretanto mesmo esse argumento é duvidoso pois o movimento estudantil foi um dos atores políticos da oposição mais ativos Mesmo durante os anos de chumbo a invenção do desaparecido político alimentava ainda mais o trauma coletivo criado pela tortura sem corpo não há Superação do luto e do trauma familiar Ou social sem Sepultura o ciclo da memória fica incompleto a eterna ausência a presença do desaparecido foi uma das invenções mais perversas do sistema de repressão mas ao mesmo tempo politizou as famílias que lutam por informação sobre seus parentes o argumento da Guerra suja para justificar o desaparecimento forçado não satisfaz pois mesmo ao fim das Guerras os prisioneiros e os que tombaram são devolvidos às suas famílias nos últimos anos como parte do revisionismo geral sobre o período Tem surgido a tese de que a violência ilegal do regime do sistema de tortura era contraface da violência guerrilheira é a nossa versão local da teoria dos dois demônios que explica a violência política como uma espiral na qual os dois lados se equivalem nas suas opções ilegítimas de ação constrangendo a sociedade inocente por todos os lados ideológicos de Matriz Liberal conservadora essa teoria pode até acertar ao exigir uma reflexão sobre o lugar da violência na política Mas erra ao permitir a justificativa do terror de estado como política de contenção da oposição armada ou desarmada no limite é semelhante ao argumento de que a tortura é um mal menor diante do Mal maior a revolução socialista como gosta de brandir a Extrema direita civil e militar o argumento se baseia no número de Agentes e civis mortos durante operações da Guerrilha que era crescente até a adoção dos novos métodos de repressão o mecanismo de violência política criado pelo estado não acabaria com a derrota da Guerrilha se com a abertura A política deixou de ser um crime punível com a morte quando muito com a prisão a militarização da polícia e da Segurança Pública teria graves consequências para a sociedade como um todo até hoje muitos analistas defendem a tese de que a repressão política atingiu apenas alguns estratos intelectualizados da classe média simpática as ideias de esquerda ou envolvidas com a luta armada a diminuta participação Operária na Guerrilha seria prova de que a sociedade faltou ao encontro convocado pelas esquerda para fazer derrubar o regime e fazer a revolução 200 ou seja em termos quantitativos a repressão teria sido insignificante inclusive se comparada a regimes similares da América do Sul com pouco impacto na memória social mas o aparato repressivo vai muito além dos números ou dos estreitos círculos engajados se a violência policial que incluí a tortura Informou os métodos de combate do regime a militarização da Segurança Pública socializou a lógica e a estrutura da repressão política para todo o tecido social a tradicional violência policial utilizada como forma de controle social dos mais pobres foi potencializada o ciclo de repressão política nos anos 1960 enjou um movimento circular já percebido por especialistas que solidificou a tradição de violência policial pré golpes as novas práticas repressivas pós a 5.201 para combater a Guerrilha e suas organizações invisíveis e inas o sistema repressivo incorporou métodos policiais dentro das teorias da Guerra revolucionária 202 e não foram métodos civilizados de investigação sherlockiana os quadros recrutados a começar pelo delegado fleri fizeram escola nos esquadrões da Morte bandos tão imorais e violentos que a própria Cúpula do regime permitiu que a justiça os combatesse apesar de uma parte da sociedade considerá-los Justiceiros o Esquadrão da Morte entretanto estava mais preocupado em vingar policiais mortos e vender proteção a bandidos que pudessem pagar sem falar na participação nos lucros do tráfico de drogas Apesar dessa evidência a Extrema direita soube capitalizar a ação dos esquadrões da morte para justificar os seus valores era o primeiro capítulo da bem-sucedida luta da Extrema direita contra os direitos humanos no Brasil antes mesmo de essa expressão se disseminar Além disso ocorreu outro processo paralelo a militarização da Segurança Pública organizada para o combate à Guerrilha a subordinação das polícias militares estaduais ao Comando do Exército sob a tutela da inspetoria Geral das polícias militares faz parte deste processo a dicotomia entre a polícia civil que até 1964 era coordenadora do policiamento Urbano ano e a recém-criada polícia militar aumentaria a disfuncionalidade da segurança pública em um momento de amplo crescimento das metrópoles com grande migração interna e constituição de núcleos de povoamento informais sem estrutura ou equipamentos públicos a velha estrutura de Segurança Pública se revelava cada vez mais ineficaz para coibir a violência entre os cidadãos sobretudo entre os mais pobres em outras palavras mergulhada em várias atribuições que iam da investigação de homicídios ao controle da vadiagem a polícia pouco comparecia nas periferias 203 o quadro mudaria nos anos 1970 a partir de meados da década já com o criminoso comum ativo ou potencial transformado em novo inimigo das forças de segurança a lógica do Patrulhamento militar entrará no cotidiano das periferias na forma de expedições preventivas ou punitivas 204 esse método de policiamento combinado à disseminação da violência entre vizinhos aumento das práticas criminais roubo tráfico e ausência de Justiça institucional como forma de mediação dos conflitos será o coquetel que fará explodir o círculo vicioso da violência na prática a repressão às guerrilhas de esquerda criou uma nova cultura policial baseada na autonomia e na impunidade dos agentes deante de flagrantes violações das leis como extermínio a tortura já era uma prática policial antiga mas foi aperfeiçoada no contexto da repressão política nem a justiça por displicência ou lentidão nem a sociedade por impotência ou conivência controlaram o monstro em sua infância a isso somou-se o preconceito social e racial explícito latente que tolerava violência no controle social dos pobres e marginais o desmantelamento do núcleo inicial do Esquadrão da Morte Paulista no começo dos anos 1970 não significou o fim da prática de homicídio como controle social do crime potencial ou como Vingança policial direta a tecnologia já havia se disseminado potencializada agora pela lógica Militar de combate ao Crime personificada nas PM e suas Tropas de Elite o bandido é inimigo atua em um território que deve ser identificado ocupado tático ou estrategicamente para permitir o cero e o aniquilamento do indivíduo criminoso ou de potenciais criminosos identificados como suspeitos a simulação de tiroteios seguidos de morte amplamente utilizada como justificativa para O Extermínio de guerrilheiros seria utilizada no caso do crime comum O que seria um recurso Extremo e pontual de combate ao Crime se tornou a regra em um contexto em que não havia direitos civis e no qual a explosão demográfica das cidades cria vastos territórios de atuação do crime essa política é trágica além de não resolver o problema da criminalidade como os números de décadas o provam 207 a moral do exterminio tende no longo prazo a desgastar a imagem da polícia que deixa de ser temida ou respeitada para ser odiada pelas suas vítimas potenciais ou seja As populações pobres e periféricas com a Renovada capacidade de armamento e organização do crime em parte apreendida no contato com militantes das organizações Armadas nas prisões O Confronto sem mediações entre policiais e bandidos se transformou na guerra particular cujo apse foi o confronto entre apem e organização criminosa Primeiro Comando da Capital PCC em 2006 que paralisou a maior cidade do país o momento seminal dessas práticas se localiza entre o final dos anos 1900 60 e meados dos anos 1970 não por acaso foi alimentado pela sensação de onipotência e autonomia do agente policial apoiado no discurso das autoridades que disseminou a ideia de que bandido bom é bandido morto 208 a população tomada pelo sentimento de medo e revolta diante da violência real ou simbólica dos criminosos e da lentidão da justiça brasileira sentia-se vingada quando um bandido era morto de Vingança em Vingança a segurança pública se deteriorou inclusive so aguarda do regime democrático posterior a 1988 ano da Constituição cidadã a Batalha Contra os direitos humanos encampada por Radialistas ligados ao mundo policial entre os anos 1970 e 1980 alimentou-se dos valores da Extrema direita acuada em todas as outras frentes políticas ao criticar os direitos voluntária ou involuntariamente legitima-se O Extermínio dos marginais desde que pobres por desinformação preconceito ou desespero do cidadão comum a cultura antid Direitos Humanos conseguiu o apoio entre as classes médias baixas das periferias e entre pequenos Comerciantes os setores mais expostos às ações do crime o GAP entre os valores das elites informadas pela cultura dos direitos e a ade do eleitor padrão pouco sensível a este tema pode estar na Rais da timidez das políticas públicas que tentam construir uma política de segurança conciliada com uma política de direitos O isolamento da cultura de direitos nos setores de Elite da classe média de Formação superior ao lado de outros arranjos político institucionais que marcaram a transição negociada com os militares como a Lei de anistia de 1979 ajudou a construir uir uma cultura de impunidade O resultado é que os torturadores e seus superiores escaparam da Justiça de transição processo fundamental para estabelecer bases vigorosas as novas democracias políticas que se seguem ao fim dos regimes autoritários o trauma e a herança da repressão portanto ainda que restrito quantitativamente foi mais amplo e determinante do que se pensa para a história recente do Brasil nunca fomos tão felizes o milagre econômico seus limites nunca fomos tão felizes exclamava slogan oficial difundido pela TV nos anos 1970 em pleno milag econômico que pode ter uma leitura ambígua como exclamação truz uma sensação fadea inédita por out lado se dita em tom irônico coloca em dúvid o próprio seno ambiguidade truz involuntariamente as contradições da economia brasileira esfera em que o regime bradou seus maiores feitos apesar do desenvolvimento inegável e da expansão capitalista a maior parte da sociedade brasileira não pode desfrutar os resultados materiais deste processo de maneira sustentável e equânime o fato é que a economia ainda é um tema sobre o qual tanto os Defensores quanto os críticos do regime gostam de medir seus argumentos para os nostálgicos da ditadura o grande serviço dos militares ao Brasil foi o desenvolvimento econômico era comum ouvir discursos laudatórios das autoridades dizendo que em 1964 o Brasil tinha o 64º PIB mundial e em menos de 10 anos já era a décima economia do Planeta os críticos de primeira hora da política econômica do regime 210 denunciavam que este salto impressionante na verdade tinha sido feito à custa de arroxo salarial reforço dos laços de dependência estrutural do Capital Internacional e brutal concentração de renda até para os padrões capitalistas O problema é que nos 10 anos que se seguiram ao fim do regime militar os governos civis não apenas não reverteram Este quadro como aprofundar um caos econômico gerando uma sensação de nostalgia do milagre econômico que até hoje é um argumento utilizado para defender as realizações da ditadura há um consenso neste debate o regime militar Foi um momento de afirmação do grande capital no Brasil incrementando um processo estrutural desencadeado antes do golpe mediante políticas econômicas específicas e facilitadas pela ausência de democracia o que dava uma grande autonomia burocrática para os tecnocratas que ocupavam o poder mesmo não sendo muito rigoroso dividir a história Econômica de um país pela mesma periodização do seu regime político é inegável que as políticas econômicas do regime impactaram a economia e por derivação a sociedade brasileira para o bem e para o mal quando vistas em uma perspectiva histórica mais longa as realizações econômicas do regime em parte se diluem entre 1948 e 1963 o crescimento médio do PIB foi de 6.3% entre 1964 e 1985 foi de 6.7% 211 exuberância de crescimento do Milagre dos governos Costa e silv mic 1968 a 1973 e do crescimento induzido pela política do governo gaisero 1974 a 1979 foi em grande parte anulada pela política recessiva do primeiro governo militar e pela profunda crise econômica após 1980 portanto no jogo dos índices de crescimento entre a democracia e a ditadura quase dá empate Mas entre a democracia de 1946 e a ditadura de 1964 há também muitas conexões no plano econômico os governos militares só permitiram que o modelo de desenvolvimento implantado ainda no governo juselino Kubichek em 1956 com seu famoso plano de metas 212 fluísse sem maiores constrangimentos institucionais ou questionamentos dos grupos sociais pouco beneficiados Em ambos os momentos históricos antes e depois de 1964 o principal beneficiário do desenvolvimento foi o grande capital nacional e sobretudo internacional A diferença é que a política econômica implementada após o golpe veio provar que entre os dois ramos do grande tal havia mais complementaridades do que conflitos ao contrário do que a esquerda nacionalista pensava Jocelino kubek apesar de ser um Liberal Democrata driblava habilmente a lentidão das discussões políticas do congresso nacional gerindo seu plano desenvolvimentista através dos grupos executivos movidos pela lógica da tecnocracia de resultados esses grupos eram conselhos que reuniam governo técnicos e empresários na implementação de medidas técnicas e políticas de estímulo à industrialização em países subdesenvolvidos quase nunca o tempo da política coincidia com o tempo da economia a primeira ao menos em sua faceta democrática sempre saía perdendo os imperativos econômicos acabavam fazendo com que as classes produtoras como os empresários gostavam de se chamar acen assem para soluções golpistas e autoritárias a fim de controlar as demandas distributivas e acelerar o desenvolvimento capitalista o Brasil viveu esse processo entre os anos 1950 e 19960 p213 nenum Historiador sério mesmo mais à direita questiona que o desenvolvimentismo sem democracia imposto pela ditadura militar teve um alto custo social o salário mínimo teve uma perda real de 25% entre 1964 e 196 6 e 15% entre 1967 e 1973 a mortalidade infantil não caiu no ritmo esperado para uma potência Econômica em ascensão 131 100.000 em 1965 120 100.000 em 1970 e 113 100.000 em 1975 já foi dito que não se faz omelete sem quebrar os ovos neste caso os ovos eram os trabalhadores mais pobres e desqualificados que garantiam a mão deobra barata no campo e na cidade entretanto até o final dos anos 1970 a Ampla oferta de emprego e a inflação alta mas relativamente controlada atenuavam os efeitos da concentração de renda se a política econômica do regime militar se inscreve no quadro geral da consolidação do capitalismo no Brasil qual seria sua especificidade quais seriam suas efetivas virtudes e defeitos posto que o capitalismo como sabemos tem seu próprio movimento histórico Estrutural para além da vontade de governos sobretudo periféricos no sistema por outro lado se o regime foi tão amigo dos capitalistas brasileiros e estrangeiros Porque a partir da segunda metade dos 1970 as políticas econômicas do regime começaram a c questionadas por grandes empresários o regime militar brasileiro passou ao menos por três fases distintas na política econômica em um primeiro momento uma política dura de ajuste fiscal e monetário tão a goosto da ortodoxia Liberal menos dinheiro menos crédito controle salarial menos gastos e mais impostos tudo isso junto e temos a política econômica do governo Castelo Branco 1964 a 67 a este momento recessivo seguiu-se a exuberância do milagre econômico o milagre brasileiro amplamente capitalizado pelo governo Mice dourando os anos de chumbo do regime entre 1969 e 1973 o Brasil cresceu a uma taxa média de 11% ao ano chegando a quase 14% em 1973 mas a conjuntura de crise interna Nacional após o aumento de preços do petróleo quase no final deste ano fez o governo mais do que a sociedade despertar da Ilha de fantasia capitalista propiciada pelo milagre a crise revelava a fragilidade financeira e a dependência brasileira dos insumos básicos da economia Como o petróleo a reversão de expectativas inibindo a onda Consumista da classe média e restringindo o crédito farto que se incrementa com o milagre veio com o governo gazu na forma de uma planificação normativa da economia reforço das estatais produtivas ligadas à siderurgia energia e petroquímica e investimento em bens de Capital a era gazio acabou se desviando de algumas diretrizes do Milagre como foco na indústria de bens e consumo duráveis na verdade a política econômica proposta por gel visava evitar gargalos energéticos e de bens intermediários fundamentais para se manter a produção de bens de consumo por outro lado o governo tentava reforçar o mercado interno o protecionismo setorial e autossuficiência energética da economia a base de ampla captação de recursos no exterior sob a forma de endividamento estatal a bolha da dívida externa brasileira explodiria com segundo choque do petróleo em 1979 e a crise financeira internacional de 1900 de 82 215 assim os anos finais do regime foram marcados pela recessão pelo desemprego e pela inflação altíssima os efeitos destes processos econômicos foram atenuados no plano social por mecanismos como a indexação de preços gatilhos de reajuste salarial alta rotatividade no mercado financeiro que permitia aos poupadores e investidores evitarem perdas que se por um lado evitavam colapso total da economia e anomia social que se lhe seguiria por outro impedi a efetiva superação da crise à primeira vista esses quatro momentos econômicos do regime não tem nada a ver um com o outro parecem expressões de políticas econômicas errantes e desencontradas revelando dissensos no campo econômico entre os próprios militares mas um exame mais detalhado do processo econômico patrocinado nos 20 anos da ditadura revela as conexões dos vários momentos econômicos do regime em suma todas as políticas econômicas do regime convergiram para o reforço dos laços do Brasil com o sistema capitalista mundial a luta pela industrialização a qualquer preço e o reforço do capitalismo monopolista isso não implica que a eventual conexão orgânica das várias políticas o liberalismo recessivo de castelo a expansão do consumo privado no Milagre o nacionalismo estatizante de gás tenha sido percebida como tal pela sociedade civil para empresários consumidores de classe média Trabalhadores em geral a maior ou menor adesão política ao regime militar esteve sempre ligada à percepção dos efeitos da política econômica sobre o cotidiano dos negócios do consumo e da Sobrevivência a sociedade navegou ao sabor dos Ventos econômicos ou civil refém do desenvolvimento capitalista que ampliou as estruturas de oportunidades profissionais para os segmentos de Formação superior concentrados na classe média mesmo para aqueles que não simpatizavam com o regime no caso das ditaduras outra questão poderia ser pensada será que as crises econômicas fazem aflorar crises de consciência o primeiro governo militar comandado pelo General Castelo Branco foi marcado por uma política de controle da inflação e reorganização institucional do ambiente macroeconômico no Bras Brasil a inflação que ajudara a derrubar o governo jular foi vencida pelo controle salarial e pela inibição da atividade econômica que se refletiu nos preços mas Aumentou a decepção e a impopularidade do governo junto à classe média e a frações da burguesia para ambos o golpe de estado afastaria não apenas o fantasma do comunismo mas também seria uma porta de acesso imediato à felicidade Prometida pelo capitalismo o tempo passava e o governo Castelo não reverti o quadro recessivo as prioridades eram estruturais e para remover os entraves do desenvolvimento capitalista o primeiro governo do regime militar não poupou medidas os responsáveis pela política econômica Mário Henrique Simon c e Roberto Campos justificaram as reformas implementadas no período 1964 a 1967 que tinham como objetivo remover cinco falhas institucionais 216 a a ficção da moeda estável na legislação Econômica b a desordem tributária C A propensão ao déficit orçamentário d As lacunas do sistema financeiro e os focos de atrito criados pela legislação trabalhista nessa linha de ação o novo governo tomou várias medidas as prioridades eram a renegociação da dívida externa de 3.8 Bilhões de Dólares basicamente nas mãos de credores privados e com vencimentos a curto prazo atendendo aos padrões dos credores o Brasil conseguiu novos recursos do FMI no começo de 1965 aliviando a situação das contas externas a lei de remessa de lucros de 1962 uma das Pedras de toque da esquerda foi reformada tornando-se menos onerosa ao capital estrangeiro a negociação da dívida externa comal dos Estados Unidos deu novo fôlego às tomadas de dinheiro estrangeiro essas medidas tornaram o ambiente calmo para os negócios chanceladas pelo liberalismo do Ministro Roberto Campos conhecido pela esquerda como Bob Fields pelas suas relações atávicas com os interesses norte-americanos a abertura comercial para o exterior só veio incrementar ainda mais esta calmaria com várias medidas que visavam estimular a exportação via mecanismo de renúncia e isenção fiscal os mecanismos que normatizavam o crédito direto ao consumidor foram simplificados e o Mercado de Ações foi estimulado com a criação de bancos de investimento para controlar a inflação a taxa de juros foi aumentada para 36% ao ano diminuindo somente em 1967 e foi criada uma nova moeda o Cruzeiro Novo no plano trabalhista o governo Castelo foi particularmente intervencionista desenvolveu-se uma nova fómula para reajustes salariais baseados na incorporação parcial da inflação passada o que na prática significa uma arroxo salarial ainda no campo trabalhista a Previdência Social foi unificada com os vários institutos setoriais reunidos no INPS Instituto Nacional de Previdência Social uma nova lei de greve promulgada em junho de 1964 reconhecia o direito de greve limitado a questões salariais desde que fosse objeto de votação em assembleia geral organizada pelo sindicato oficialmente reconhecido obedecesse a um complicado processo decisório altamente burocratizado e esgotasse as possibilidades de conciliação estavam proibidas greves de servidores da União greve por motivos de ordem ideológica preocupações de locais de trabalho pelos grevistas o paeg plano de ação econômica do governo lançado em agosto de 1964 não tinha propriamente um caráter de planejamento estratégico da economia mas um conjunto de medidas de intervenção executadas por diversos órgãos colegiados do Governo na forma de políticas setoriais um dos pilares do paeg era a reestruturação do sistema fiscal a primeira medida foi cortar gastos incluindo no próprio ato institucional posteriormente na Constituição artigo que proibiu Poder Legislativo de aumentar as despesas na votação do orçamento da União Aliás diga-se não havia propriamente um sistema fiscal no Brasil até meados dos anos 1960 vários impostos como o IPI e cms e o fi estiveram seus ancestrais na emenda constitucional número 18 de dezembro de 1965 a emenda foi a base para um verdadeiro integrado Código Tributário nacional que até então não existia mas demonstra que o regime tinha um bom apetite fiscal cujos tributos continuavam a incidir de maneira desigual e regressiva aliás durante a democracia de 1946 derrubada pelo golpe a carga tributária oscilava de 13% a 17% apresentando uma média menor do que nos tempos da ditadura embora o sistema fosse caótico com impostos pouco funcionais ou que incidiam diretamente sobre as empresas e não sobre a circulação da riqueza a carga tributária em relação ao PIB aumentou para 21% do PIB em 1967 218 os impostos devidos foram reajustados conforme o índice de inflação passada o que aumentou o caixa do governo e reduziu o déficit fiscal para cerca de 1% do PIB a reforma estrutural do sistema financeiro também foi uma das prioridades do paeg sem financiamento nenhuma economia cresce sobretudo economias periféricas do sistema capitalista sem grande poupança interna privada e com muitas pressões de gasto público ainda em 1964 foi criado o banco central que deveria ser autoridade monetária do Brasil retir Esta função da sumoc Superintendência de moeda e crédito organizando a política de emissão de moeda e as regras cambiais para captar recursos privados para os cofres públicos criaram-se asot obrigações reajustáveis do Tesouro Nacional as zort foram um recurso engenhoso e perverso ao mesmo tempo na captação de recursos para financiar o déficit público por um lado evitavam emissão de moeda o que aumenta a inflação o governo vendia aot títulos resgatáveis E reajustados conforme a inflação por outro criaram um mecanismo de indexação geral dos preços da economia uma das bases dos gatilhos de reajuste que alimentariam a estagflação 219 inflação alta constante de longa duração e que só seria desmontado com o plano real em 1994 naquele contexto em 64 deram resultado permitindo o financiamento de mais de 80% do Déficit fiscal da União sem necessidade de fabricar mais dinheiro para resolver o problema crônico da moradia que assombrava classe média e era particularmente trágico para a classe operária criou-se o sistema financeiro da Habitação integrando o Banco Nacional da Habitação BNH a Caixa Econômica Federal e caixas estaduais para gerar recursos ao sistema Habitacional ofts foi criado em 1966 funcionando como uma poupança compulsória que incidia sobre o salário dos trabalhadores Nativa se por um lado honera folha de pagamentos por outro flexibiliza a relação entre empregadores e empregados facilitando a demissão em caso de ajustes e sazonalidades da economia demanda fundamental do Patronato na ausência de um seguro desemprego o FGTS desempenhava um papel parecido embora o mecanismo da demissão por justa causa impedisse o acesso do Trabalhador aos recursos a amplitude e abrangência das reformas econômicas do primeiro governo militar entram em choque com seu pretenso caráter de governo tampão a partir dele o estado brasileiro se reforçava como uma grande agência reguladora e normativa das relações socioeconômicas no plano fiscal monetário e trabalhista visando otimizar a expansão capitalista mas estas reformas estruturais pouco impactavam o cotidiano da população a não ser no que tinham de negativas e repressivas a condução da política econômica é um campo de reflexão privilegiado para pensar a relação entre militares e civis durante a ditadura posto que nos últimos anos vem crescendo entre historiadores a tese da ditadura civil-militar 220 os quadros civis tinham predominância no preenchimento de cargos de primeiro Escalão na área econômica do governo nos Ministérios órgãos colegiados 221 e agências executivas apesar de comandar estatais importantes ou preencher cargos de comando em muitos órgãos o papel dos militares era mais de veto e de indução das estratégias políticas Gerais incluindo a econômica do que de gestão direta e intervencionista na forma de ocupação de cargos de comando e coordenação se tomarmos como sinônimo de militarização a presença direta de militares nos postos burocráticos de Alto Escalão à primeira vista parece que o regime militar foi pouco militarizado no que tanja a política econômica se compararmos com outras áreas do governo no setor de comunicações Transportes e energia o grau de militarização do aparelho de estado era bem maior na área de segurança era total na política industrial ou energética era decisiva subordinando-os ao projeto estratégico de Brasil grande potência o que sugere que o conceito de militarização de estado não pode ser tomado em seu aspecto meramente burocrático E quantitativo isso não se contradiz com o reconhecimento que ao longo do regime no interior de um governo específico não houvesse diversos grupos os quais em muitos casos entravam em conflito sobre a melhor maneira de conduzir as políticas de estado nem mesmo o exército com sua propalada unidade e coesão como gostavam de dezer os comandantes escapava dos conflitos políticos e disputas pessoais de poder portanto militarização não quer dizer nem ocupação Total ou majoritária dos postos burocráticos nem ausência de conflitos e debates políticos em nome de uma pretensa unidade da caserna militarização no contexto do regime brasileiro deve ser entendido como tutela militar dentro de alguns princípios definidos pela doutrina de segurança nacional do sistema político controle repressivo do corpo social em diversos graus e tipos ocupação dos cargos de poder formal a começar pela presidência da república e capacidade de indução e enquadramento dos mecanismos de poder real o que inclui a burocracia Civil de estado a ausência de uma ideologia rígida no interior da doutrina de segurança nacional ou das próprias Forças Armadas Brasileiras deu ainda mais capacidade ao regime Para incorporar setores civis dialogar com as elites empresariais e lidar com as contradições que a política enseja cotidianamente este arranjo distributivo entre os civis e militares na condução do governo com Ampla predominância dos civis na burocracia de estado de Alto Escalão não deve ser tomado como prova de um regime civil militar no qual ambos os setores tivessem o mesmo grau de importância no sistema decisório de estado o poder de veto dos generais que comandavam o país o papel do sni em avalizar a nomeação de funcionários e assessores de estado conforme critérios ideológicos a vigilância militarizada em todos os Ministérios e o lugar central do conceito de desenvolvimento na doutrina de segurança nacional são indicadores qualitativos de um regime efetivamente militar ainda que organizado em benefício da plutocracia Civil nacional e multinacional o papel Tutelar da cúpula das Forças Armadas a começar pelos presidentes Generais não deve ser subestimado mesmo que não se confunda com a operação administrativa rotineira das políticas públicas do regime Entretanto é inegável que na área econômica a presença burocrática e corporativa dos civis nos órgãos e cargos de planejamento e decisão é Marcante entre estes podemos incluir a tecnoburocracia de carreira intelectuais recrutados no mundo acadêmico para ocupar cargos comissionados ou de assessoramento aou membros orgânicos do setor Empresarial que ocupavam cargos nos diversos conselhos de estado o Conselho monetário Nacional era o órgão que na prática gerenciava o conjunto das políticas econômicas do governo até 1974 evitando entretanto se confundir com uma burocracia planificadora centralizada com isso o governo militar tão duro com os movimentos sociais e com o sistema político não queria ser confundido com uma ditadura para valer no plano econômico Afinal o golpe fora dado em nome da livre iniciativa o Conselho monetário Nacional era o espaço de debates trocas de informações tomadas de decisão mesclando gestão política e intermediação de interesses a partir de seu influxos atuavam os Ministérios e as agências executivas como o banco central a Superintendência Nacional de abastecimento sunab o Banco do Brasil entre outros por volta de 1967 o Brasil estaria preparado para crescer do ponto de vista capitalista devidamente integrado ao sistema capitalista Mundial Liberal que considerava qualquer defesa do mercado interno como protecionismo e e qualquer medida de nacionalismo econômico uma mera distorção populista como se nunca tivessem pautado as políticas dos países centrais do sistema mas o governo Castelo não capitalizou politicamente falando a Ampla reforma estrutural terminou seu mandato como um presidente que Patrocinar o baixo crescimento e não tivera ousadia para superar a crise percebendo que a política recessiva do governo castelo-branco minava a relação do Regime com suas principais bases sociais de apoio a classe média e a burguesia Nacional Costa e Silva mudou os rumos da política econômica para agradar os setores nacionalistas inclusive do exército não referendo o acordo com o FMI o que virtualmente significaria manter a política recessiva e Ortodoxa de controle da inflação e das contas públicas uma das primeiras medidas foi abaixar a taxa de juros para 22% uma queda repentina de 14 pontos percentuais tornando o crédito mais barato é certo que parte dos objetivos do paeng já tinham sido atingidos o controle da inflação a recuperação fiscal e o controle dos aumentos salariais tidos como principais responsáveis pela inflação na lógica dos economistas ortodoxos que estavam por trás do plano quanto menos dinheiro no bolso menos demanda por produtos resultado os preços individuais cairiam com o rebaixamento da demanda quanto menos emissões monetárias por parte do governo menos dinheiro em circulação na economia resultado a massa monetária reduzida se compatibilizar com a baixa oferta de produtos da aa tímida indústria Nacional em meados de 1967 reconhecendo que esta política recessiva estava causando mais problemas que soluções Costa Silva nomeu um jovem professor de economia da Universidade de São Paulo Antonio Delfim Neto para ser o principal gestor da economia brasileira mesmo não sendo propriamente um economista keniano dfim era flexível na incorporação da ortodoxia monetarista assim entrou em choque com o diagnóstico e com os remédios propostos pelo paeg como a rígida disciplina fiscal o controle do crédito e da emissão de moeda deu fim ao contrário dos mais ortodoxos entendia que a inflação no contexto da segunda metade dos anos 1960 era causada mais pelo custo da reprodução da mão-deobra do que pela alta demanda de consumo um dos principais componentes do custo de produção o preço da mão de obra notadamente os salários dos trabalhadores do setor industrial estava depreciado pelo rígido controle dos reajustes que sempre perdiam para a inflação a boa safra Agrícola de 1967 aliada à vigilância do governo junto aos preços oligopolistas materializada na criação do Conselho interministerial de preços cip em 1968 permitiu controlar a inflação entretanto o custo de reprodução de mão deobra ainda era alto pela baixa oferta de alimentos serviços de transporte e moradia sobretudo era notória a ineficácia da agricultura brasileira em produzir gêneros de primeira necessidade para o mercado interno constituindo-se Um dos fatores históricos da pressão inflacionária particularmente grave para as populações de baixa renda o lançamento do programa estratégico de desenvolvimento PED em meados de 1968 tentou dar coerência de longo prazo às novas posturas na política econômica assim era possível crescer apostando no consumo de de bens duráveis dos segmentos mais endinheirados da classe média que perfaziam um mercado de cerca de 20 milhões de pessoas pouco mais de 20% da população o estado cujo caixa estava reforçado por novos impostos e pelos empréstimos internacionais continuaria investindo em grandes obras estimulando o mercado da construção civil que passaria a crescer cerca de 15% ao ano até 1973 a partir de meados de 1968 os efeitos do crescimento econômico começam a aparecer a forte expansão da moeda e do crédito foi canalizada para o setor privado 226 o comércio exterior aumentou significativamente com forte crescimento de exportações de manufaturados 39% média anual compensando igual aumento das importações de petróleo e máquinas Entretanto a percepção do Milagre Ou seja a percepção pelos agentes econômicos e pelo governo de que o crescimento era inexorável autoalimentado e sustentável por longos anos só ocorreria por volta de 1970 a prova disso é que em 1969 como se assustado pela retomada da produção e da demanda o governo pisou no freio da expansão do Déficit da moeda voltando a se concentrar no combate da inflação como no tempos do paeg por outro lado deim procurou estimular a capacidade de geração de recursos próprios na iniciativa privada seja pela renúncia fiscal seja pelo estímulo ao mercado de capitais estas duas ações reduziriam a demanda por crédito bancário consequentemente reduzindo a pressão sobre os juros e por emissão de moeda fatores que poderiam realimentar a inflação os empresários aplaudiram mas nem todos no governo gostaram a saída do General Albuquerque Lima do governo Ministro do interior que defendia uma Economia mais autárquica estatal e Nacional foi a maior expressão deste descontentamento dos setores nacionalistas mas havia uma diferença entre a ortodoxia Econômica radical que havia gerenciado o paeg e a postura flexível de Delfim Neto no caso da primeira o controle da inflação é meto estratégica para o segundo era tática o estratégico era o desenvolvimento contínuo no longo prazo entendido como dinamização da iniciativa privada e expansão Industrial à base de expansão do consumo de bens duráveis esta opção acabou sendo a base material do fism que tomaria conta do governo e de parte da sociedade em 1970 e que revelou-se importante no isolamento social da luta armada de esquerda as derrotas impostas às guerrilhas a retomada de Altos índices de desenvolvimento econômico permitiram ao regime contornar a crise política que ameaçava sair do controle em 1968 1969 a censura o sistema repressivo e a propaganda oficial é claro também ajudaram a criar um clima de calmaria e paz social mais próxima de uma paz de cemitério ao menos no plano político é inegável que para a imensa maioria da ulação pouco Envolvida com a ideologia revolucionária da esquerda e sem uma opinião política muito clara e coerente o Brasil vivia tempos gloriosos no começo dos anos 1970 plano emprego consumo farto com créditos a perder de vista Frenesi na Bolsa de Valores tricampeão do mundo de futebol grandes obras faraônicas eram veiculadas pela mídia e pela propaganda oficial como exemplos de que o gigante havia despertado como a ponte ria Niterói ausina de Itaipu e a Rodovia Transamazônica para os mais pobres a Fartura ainda que concentrada fazia sobrar algumas migalhas era a materialização do projeto Brasil grande potência o auge da Utopia autoritária da ditadura que não deixou de seduzir grande parte da população e da mídia médio se Manteve um modelo administrativo herdado ainda de Costa e Silva nesses dois governos houve um aparelhamento do estado para gerir o desenvolvimento com a criação do Conselho monetário Nacional presidido por Delfim Neto o Conselho monetário Nacional até 1973 foi o Locus privilegiado da barganha e negociação com diversas frações do Capital 229 nele sentavam e tinham voz vários representantes do empresariado a outra ponta do modelo administrativo consagrado na virada dos anos 1960 para os anos 1970 que examinaremos em outro Capítulo era a segurança nacional que inclui os temas políticos em geral este Campo da política de governo era gerido pelo sni e pelo conselho de segurança nacional CSN instituições totalmente militarizadas cabeia a Casa Civil fazer a mediação entre as duas instâncias e entre elas e o pessoal político do governo Arena e governadores o sucesso deste modelo administrativo tinha como base material o impressionante crescimento econômico obtido entre 1968 e 1973 conhecido como milagre brasileiro A bem da verdade esse milagre não era o resultado da ação dos Santos de casa o ambiente internacional excepcionalmente favorável no final dos anos 1960 aliado às políticas internas repressivas que estavam mais para o inferno do que para o céu é que lhe sustentavam em relação aos fatores externos Vale lembrar que o capitalismo Mundial Vivi o auge dos seus 30 anos gloriosos Como ficou conhecida a época que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial e terminou com a crise do petróleo em 1973 p230 sobrava dinheiro entre os banqueiros e investidores dólares a custo baixo ávidos por investir em mercados Seguros o Brasil precisava de grandes e caras obras estruturais tais como hidroelétricas portos e estradas para desafogar seus gargalos produtivos mas não tinha poupança interna suficiente para financias cabe reiterar que a expansão Econômica a partir de 1967 foi preparada pelas medidas impopulares e amargas contidas no pairi de Castelo Branco ancoradas em um pensamento econômico ortodoxo e ultraliberal de combate à inflação controle do reajuste salarial e disciplina fiscal a ditadura brasileira ao afastar o fantasma do reformismo distributivista e da revolução socialista tinha deixado o ambiente de negócios calmo como os analistas gostam de dizer até hoje o Brasil era um mercado seguro para o capitalismo financeiro ainda mais com a inflação sob controle a partir de 1900 66 até 1973 a economia brasileira combinou altíssimas taxas de crescimento Com inflação declinante Ainda que os índices destas sofressem certa manipulação sobretudo após o primeiro choque do petróleo para dourar ainda mais o paraíso econômico desenhado pela ditadura o saldo da balança de pagamento era positivo a bolsa de valores entrava em Frenesi com seus índices eidos continuamente na televisão todas as manhãs entre desenhos animados e programas para donas de casa deu fim Neto mantido como quisar da economia à frente do todo poderoso Ministério da Fazenda sentiu que o momento político permitia maior ousadia nas ações econômicas rompendo com o espírito contábil tão caro aos economistas e tecnocratas mais preocupados em fechar as contas do governo para atingir os níveis de crescimento projetados cerca de 99% ao ano passou a estimular a agricultura e a exportação aprofundando medidas já esboçadas no governo Costa e Silva as dúvidas esboçadas pelo Ministério do planejamento mais ortodoxas e talvez mais consequentes não foram suficientes para atrapalhar esta Utopia com o realismo chato dos planejadores de longo prazo em teoria o desenvolvimento combinado da agricultura e da exportação de manufaturados sobretudo estimulariam o mercado interno e a indústria de bens duráveis como eletrodomésticos e bens intermediários como as Siderúrgicas eixo do Milagre os índices de crescimento explodiram em 1970 e 1971 ano em que foi lançado o rip Plano Nacional de Desenvolvimento em que Pese o nome pomposo Delfim Neto era mais afinado a políticas de estímulo pontual e com cominado evitando metas pré-estabelecidas e ações rígidas de longo prazo mesmo as incertezas dos empresários quanto a falta de matérias primas insumos e o aumento dos custos entre 1972 e 1976 não se traduziram em baixo crescimento econômico ao contrário mas ao mesmo tempo a inflação problema estrutural na economia brasileira voltava a pressionar a política econômica e causar inquietação no governo os operadores políticos econômicos do regime sabiam que inflação alta seria um caminho para a insatisfação Popular sobretudo em um país de graves desigualdades para perda de apoio na classe média e se isso acontecesse o regime como um todo seria questionado não apenas este Ou aquele governo não por acaso os índices oficiais de inflação de 1973 de definição na sucessão presidencial foram manipulados para baixo a expansão do crédito para assalariados médios permitiu que a classe média como um todo consumisse bens duráveis pagando a perder de vista o Fusca modelo popular da Volkswagen tornou-se o símbolo da expansão do consumo no Brasil mesmo para setores da classe média baixa composta por pequenos funcionários Comerciários escriturários o o primeiro Fusca e o sonho da casa própria podiam se tornar realidade com a expansão dos conjuntos residenciais do Banco Nacional da Habitação BNH a preços acessíveis pagáveis em prazos longuíssimos era comum na primeira metade dos anos 1970 crianças pequenas ganharem uma caderneta de poupança em seus aniversários S nunca fomos tão felizes o projeto do Brasil grande potência Parecia ter uma base material inédita o sucesso econômico do regime também se transformava em Sucesso político com a derrota da luta armada de esquerda que na Ótica do regime era apenas uma desagradável serpente a perturbar a armonia do Paraíso capitalista finalmente atingido no entanto como foi dito no começo deste Capítulo a frase é ambígua o milagre tinha um lado beo superavit na balança de pagamentos garantido pela farta entrada de dinheiro estrangeiro na forma de empréstimos e investimentos diretos convivia com regulares déficits comerciais o saldo em conta corrente era crescentemente deficitário revelando a fragilidade financeira da economia e sua dependência de dinheiro externo as exportações aumentaram efetivamente mas estavam concentradas em setores com baixo valor agregado ou seja produzidos por uma cadeia produtiva restrita iní de baixa tecnologia os setores mais dinâmicos da indústria nas mãos das multinacionais estavam voltados para o consumo interno a concentração de renda e o arrocho salarial parte do processo de desenvolvimento capitalista periférico mas aprofundado pelas políticas do regime também eram notórios em 1970 comparando seos números com 10 Anos Antes os 5% mais ricos da população aumentaram sua participação na renda Nacional em 99% e detinham 36.3 por da renda Nacional os 80% mais pobres diminuíram sua participação em 8.7% ficando com 36.8 da renda Nacional 234 quando a inflação voltou a subir com força a partir de 1974 e sobretudo a partir de 19 89 os efeitos dessa perda de renda relativa e do Arrocho salarial ficaria mais patentes gerando Ampla ins satisfação nas classes populares que ao contrário da classe média não tinham gorduras para cortar era a própria subsistência que se via ameaçada a concentração de renda foi uma opção freia irracional dos gestores do Milagre Em primeiro lugar estava ligada ao princípio do controle dos salários como principal componente do custo de mão deobra o salário mínimo utilizado como indexador para muitas políticas de remuneração foi particularmente atingido como vimos por outro lado os tecnocratas sabia muito bem que a indústria brasileira da era do milagre não conseguiria atender a um aumento de demanda sobretudo de produtos duráveis e moradias isso só seria possível mediante uma política de redistribuição de renda o que geraria a perda do controle dos preços por fim o governo apostava na capacidade de poupar dos segmentos mais bem remunerados da classe média elemento fundamental para superar a crônica Falta de poupança interna da economia brasileira fundamental para o desenvolvimento em outras palavras os mais pobres com mais dinheiro gastaria mais e no limite se endividaram pressionando o crédito e os juros durante o milagre e mesmo ao longo dos anos 970 o mercado da construção era estratégico para absorver o grande contingente de mão-deobra desqualificada que migrava do campo para a cidade expulsos pela tradicional miséria social e falta de oportunidades de trabalho no meio Rural brasileiro sobretudo no nordeste dominado por latifundiários que entendiam a terra como fonte de renda prestígio e especulação os Camponeses chegavam à cidade dispostos a trabalhar em qualquer lugar sob as condições mais insalubres recebendo baixos salários o primeiro grau de absorção desta mão deobra migrante era a construção civil e os serviços domésticos alguns dos Migrantes mais capazes e com escolaridade mínima conseguia o emprego como Operários desqualificados nas grandes e médias indústrias onde teriam alguma chance de se tornarem Operários especializados apesar das dificuldades da ausência de direitos sociais e trabal balistas e da Super exploração no trabalho Os migrantes experimentavam eventualmente uma vaga sensação de melhoria de vida ao menos havia expectativa de ter acesso à água comida saúde e escolas para os filhos luxos impossíveis para o camponés brasileiro dos anos 1970 mesmo com os equipamentos de saúde educação e Transportes sempre deficitários em relação às demandas provocadas pelo inchaço Urbano se o regime militar não tinha inventado este processo de êxodo rural desencadeado desde os anos 1950 ele o incrementou sem as devidas políticas sociais atenuantes mas o plano emprego dos tempos do milagre o controle da inflação sobretudo nos itens básicos de subsistência atenuavam os efeitos da Super exploração dos baixos salários e das dificuldades vividas pelo migrante e sua família no meio urbano ano em pouco tempo a distribuição da população brasileira entre campo e cidade se inverteria expressando um dos mais dramáticos e súbitos casos de êxodo rural de toda a história até hoje as cidades brasileiras pagam o preço deste déficit social que se traduz na precariedade de moradias para os mais pobres na violência entre vizinhos de bairros populares na explosão da criminalidade na carência de equipamentos transporte s básico a democracia foi incompetente para reverter o quadro social de desigualdade incrementado pela ditadura até porque os interesses econômicos por trás desta catastrófica espoliação Urbana 236 pouco foram atingidos na transição entre ambas o próprio Presidente médio se reconhecia em uma de suas frases mais famosas cunhadas no auge do milagre o Brasil vai bem mas o povo vai mal o incômodo com a miséria Urbana e Rural não era apenas retórica a miséria e o subdesenvolvimento nos quadros da doutrina de segurança nacional eram vistos como problemas sempre aproveitados pela esquerda ou pela subversão como queriam os militares para desestabilizar a ordem Além disso não é exagerado afirmar que os militares pelo seu histórico e formação tinham uma real preocupação com a pobreza das classes populares elemento que dificult estava a ampliação das bases de recrutamento das três armas sempre no limite em razão das doenças crônicas da subnutrição e da ignorância incrementadas pela pobreza além disso esse quadro social se refletia na imagem do Brasil no exterior sempre objeto de preocupação por parte das elites militares a miséria e a desigualdade foram o tema preferido do nacionalismo militar reformador que ameaçava crescer no exército brasileiro novamente depois do espurgo à esquerda feito no pós-golpe mas a estreiteza ideológica do regime de natureza conservadora associada às bases econômicas do crescimento brasileiro e de seus grupos de pressão privados inviabilizaria qualquer ousadia em políticas de distribuição de renda assim a política social esboçada pelo regime era apenas compensatória como diziam os especialistas revelando-se insuficiente para reverter o quadro de miséria e concentração de renda 237 mesmo assim teve algum Impacto sobretudo na população rural neste setor da sociedade o governo MD se apontou para um plano de previdência assistência e reforma agrária com objetivos relativamente tímidos 3.000 famílias em 3 anos em Maio de 1971 o governo lançou o programa de assistência ao trabalhador Rural prural que parecia finalmente construir a Previdência Social no campo em Julho de 1971 o governo mce criou o programa de redistribuição de terras e de estímulo agroindústria do Norte e Nordeste proterra esses programas propunham a desapropriação de Grandes propriedades improdutivas mediante indenização para posterior venda pequenos e médios agricultores além de concessão de créditos para aquisição de Bas e fixação de preços mínimos de produtos de exportação para os trabalhadores urbanos a criação do pispasep em 1970 parecia uma fonte de distribuição de renda para os trabalhadores mas na verdade serviu mais como poupança forçada para a indústria pois o recolhimento era feito seis meses depois da incidência permitindo a formação de um capital de giro sem recorrer a empréstimos bancários mas também serviu para injetar recursos para o consumo dos assalariados no campo das políticas habitacionais em 1973 o governo lançou o plano nacional de habitação Popular planap destinado a eliminar em 10 anos o déficit Habitacional para as famílias com renda entre um e três salários mínimos provendo-se a construção do equivalente a 2 milhões de moradias em 1974 a faixa de atendimento do planap seria ampliada para até cinco salários mínimos em decorrência da aplicação do plano previa-se a criação ou manutenção de 200.000 novos empregos diretos e cerca de 600.000 empregos indiretos mas os resultados obtidos ficaram muito a quem da projeção Inicial na educação além da reforma universitária de 1968 que efetivamente impactou a Organização das Universidades no início da década de 1970 o ensino básico foi reformado em 1971 integrando o primário ginásio e mudando a grade do ensino médio para erradicar o analfabetismo das populações adultas foi criado em 1970 o movimento brasileiro de alfabetização Mobral que serviu mais como propaganda do governo do que como efetiva arma para alfabetizar os adultos dada a metodologia tecnicista que o norteava nota-se que além da ênfase compensatória gerenciando pequenas transferências de renda e ampliando serviços públicos de assistência social e saúde para populações completamente desassistidas sobretudo no meio rural as políticas sociais do regime tiveram um caráter normatizador e regulador dos conflitos sociais procurando dar um tom técnico e racional à gestão dos programas e agências Mas isso não impediu que a crônica Falta de capilaridade do estado brasileiro no âmbito municipal tornasse nulos os efeitos dos programas vítimas da ma administração e da corrupção a busca de expansão dos serviços de educação e saúde sempre louváveis não teve a contrapartida suficiente em termos de investimento e gestão para evitar a perda de qualidade os programas de habitação Popular aderiram à lógica do mercado voltando-se paulatinamente aos extratos das classes médias o arrocho do salário mínimo comprometeu uma real política de renda previdenciária suficiente para reverter o quadro de concentração e miséria mesmo com a momentânea a sensação de melhoria de renda e de qualidade de vida logo os efeitos da migração desenfreada e do inchaço Urbano se fizeram patentes entre as populações mais pobres a desorganização familiar visto que não havia escolas ou creches públicas suficientes para cuidar dos filhos dos trabalhadores enquanto eles estavam fora de casa explodiu expressando-se na tragédia social dos menores abandonados que vagavam pelas ruas roubando ou pedindo esmolas a percepção da desigualdade menos sentida na primeira geração de imigrantes tornou-se mais dramática para seus filhos e netos sendo uma das causas ainda pouco estudadas da explosão da criminalidade a ausência de poder público a não ser pelo controle social violento das polícias transformou os bairros populares em territórios de violência banal entre vizinhos ligados diretamente à disputa por espaço ou por recursos materiais precários o velho alcoolismo e as drogas recém-chegadas como a cocaína a partir dos anos 1980 completariam Este quadro mas foi na periferia das grandes cidades brasileiras que também se gestaram novas formas de sociabilidade baseadas na solidariedade e na construção de Laços políticos inovadores isso fez surgir novos movimentos sociais e comunidades religiosas que não fugiam à reflexão Progressista e ação transformadora no mundo e que fizeram germinar uma nova cultura de política democrática no Brasil as fragilidades e dependências externas do milagre brasileiro ficaram patentes quando aconteceu a crise do petróleo em outubro de 1973 tudo começou quando a Aliança Militar de países árabes capitaneados pelo e pela Síria atacou Israel para recuperar Os territórios Perdidos na Guerra dos Seis Dias em 1967 inicialmente Israel pego de surpresa quando comemorava o dia do Perdão um importante feriado judaico viu os árabes ganharem terreno mas o ocidente não esqueceu seu fiel aliado sob a liderança dos Estados Unidos vários países passaram a ajudar Israel na forma de suprimentos e armas dando base para uma decisiva e bem-sucedida contra ofensiva israelense os árabes se uniram e fizeram valer sua maioria na PEP o Cartel que controlava a produção e o comércio de petróleo no mundo perdendo no terreno Militar utilizaram de maneira sábia a sua grande arma Econômica em alguns dias o preço do barril de petróleo triplicou saindo de os dólar 4 para os dólar 12 a economia europeia dependente do petróleo quase entrou em colapso ocasionando inclusive sérios racionamentos de energia a economia Americana mesmo sentindo um pouco menos os efeitos do choque também recuou a era do o flif tinha acabado o Brasil que importava mais de 90% do petróleo consumido no país principal matriz energética da economia brasileira sentiu profundamente os efeitos do choque do petróleo que era um componente de de preços importante em quase todos os produtos do mercado o efeito só não foi mais devastador porque o dinheiro do mundo agora nas mãos dos árabes os chamados petrodólares continuava nos Bancos ocidentais os quais por sua vez continuavam emprestando para o Brasil dessa maneira foi possível recém-empossado governo Gais é lançar um dos mais usados planos econômicos do regime mesmo com a crise do petróleo no final de 1973 e seu impacto na economia mundial o regime militar Não Abriu Mão da política desenvolvimentista entretanto ela seria reorientada do ponto de vista econômico e administrativo materializando-se no dois Plano Nacional de Desenvolvimento concebido para superar gargalos na indústria de base no fornecimento de energia e de insumos o lançamento do plano coincidiu com o primeiro ano de governo do Presidente Ernesto gaiser que tomou posse em 1974 o governo não poderia abrir mão do crescimento econômico posto que ele era uma das condições fundamentais para implementar a política de distensão delineada por volta de 1973.em da crise do petróleo do Qual a economia brasileira era dependente de importação a balança comercial brasileira a partir de 1974 apresentou enormes déficits ultrapassando os 4 bilhões de dólares ao ano por outro lado os dólares ainda fluíam para os países em desenvolvimento permitindo ao governo brasileiro manter ou aumentar o ritmo dos empréstimos para financiar dois plano o plano enfatizaria a indústria de bens de capital e a infraestrutura energética tentando no Médio prazo diminuir a dependência brasileira dos insumos Importados essa mudança de foco exigia o deslocamento do sistema decisório para outros órgãos mais propriamente burocráticos e centralistas Neste contexto surgiu o conselho de desenvolvimento econômico KD instituído em 1974 que também transformou o Ministério do planejamento e Coordenação Geral miniplan em Secretaria de planejamento da presidência da república ceplan os dois seriam a partir de então órgãos de assessoramento imediato do Presidente da República a função essencial do que diera coordenar os Ministérios e auxiliar o Presidente da República segundo a orientação macroeconômica definida pelo dois Plano Nacional de Desenvolvimento o conselho era presidido diretamente por gizu o esforço desenvolvimentista do dois plano Pode até ser considerado bem sucedido se descontamos seu custo social ao menos até 1900 76 quando o ímpeto da política econômica desacelerou a economia cresceu até o final da década de 1970 Mas o foco dos investimento a inflação e o retrocesso no consumo das classes médias fizeram com que o descontentamento social crescesse os assalariados começaram a sentir ainda mais os efeitos do Arrocho salarial implantado em 1964 agravado pela inflação crescente Vale lembrar que no final da década de 1970 a inflação chegou a 94.7 ao ano em 1980 já era de aproximadamente 110% e em 1983 alcançou o patamar de 200% o quadro econômico bem poderia ser ilustrado pela piada que corria durante os tempos do regime que invertia o sentido do eslogan oficial sem 1900 64 estávamos diante do abismo no final do regime tínhamos realmente dado um passo à frente os golpistas se aproveitaram da crise econômica para derrubar Gular mas em fins dos anos 1970 o apoio ao regime militar perdeu suas bases sociais também por conta da crise ao fim e ao cabo parece que James carville o estrategista Eleitoral de Bill Clinton tinha razão quando explicou porque Bill Clinton seria eleito em 1992 apesar de George Bush pai ser considerado Imbatível depois de ter ganhado a Guerra Fria e a Guerra do Golfo e a economia seu estúpido dados econômicos do Brasil 1960 a 1984 1960 inflação de 30% PIB de 9.4% 1961 inflação de 47% PIB de 8.6% 1962 inflação de 52% PIB de 6.6% 1963 inflação de 80% PIB de 0.6% 1964 inflação de 92% PIB de 3.4% 365 inflação de 34% PIB de 2.4% 1966 inflação de 39% PIB de 6.7% 1967 inflação de 25% PIB de 4.2% 1968 inflação de 25% PIB de 9.5% 1970 inflação de 19% PIB de 10.4 1971 inflação de 19% PIB de 11.3 1972 inflação de 15% PIB de 11.9 1973 inflação de 15% PIB de 14% 1974 inflação de 34% PIB de 8.2% 1975 inflação de 29 por. PIB de 5.2% 1976 inflação de 46% PIB de 10.37 PIB de 6.8% 1980 inflação de 110% PIB de 9.2 95% PIB de men 3.1% 1982 inflação de 16% PIB de - 2.9% 1984 inflação de 224 por. PIB de 5.4 por C FGV Bari pbg protagonizado pela esquerda viveu um momento paradoxal por um lado estava cerceadas as artes frendo com a repressão direta artistas engajados por outro passava por um momento criativo e prestigiado socialmente estimulado pelo crescimento do mercado e pelo papel político de valores cedentes com o crescimento econômico os bens culturais passaram a ser consumidos em escala Industrial telenovelas noticiários coleções de livros e facíl sobre tas de entretenimento sobretudo na música popular e na televisão os artistas mais prestigiados pela crítica e pela classe média intelectualizada estavam no exílio forçado ou voluntário como Gilberto Gil Caetano Veloso Chico Buarque Augusto Boal José Celso Martines depois de 1973 Geraldo vanon atingira todas as correntes Estéticas e ideológicas que haviam se deg gladiado 242 revolucionários ligados à luta armada a primavera cultural da segunda metade dos anos 1960 parecia subitamente encerrada literalmente por decreto a canção dos Secos e Molhados iria resumir o projeto Cultural de oposição nos anos de chumbo quem não vacila mesmo derrotado quem já perdido nunca desespera em volto em tempestade decepado entre os tentes segura a primavera 243 segurar a primavera cultural nos dentes significava manter a vida cultural dentro de sua vocação crítica partilhar de ouvintes que se viam como uma reserva de consciência libertar em tempos sombrios essa era a senha para a vida cultural partilhada sobretudo pela Juventude secundarista ou Universitária pelos setores da classe média intelectualizada e ativistas dos movimentos sociais enquanto o circuito Universitário de Cultura garantia aos artistas que ficaram no país uma alternativa de trabalho as comunidades contraculturais protagonizavam uma nova forma não comercial de viver a cultura baseada na prática do artesanato na diluição das Fronteiras entre vida e Arte e na busca de novos valores morais e de um novo comportamento sexual com base no chamado sexo livre fora dos padrões monogâmicos para este segundo grupo o uso das drogas sobretudo anó genas como ê faziam parte do individual e interior ajudando a expandir a mente muitas vezes levando os jovens a dependência e em alguns casos a morte para os jovens politicamente engajados na clandestinidade ou não o problema era outro não se tratava de buscar a libertação individual mas a reptação coletiva a resolução dos problemas políticos e sociais do país expandir a mente era informar-se intelectualizar se e encarar a Dura realidade do país para a grande maioria dos jovens brasileiros de classe média e mesmo alguns das classes populares o início dos anos 1970 representou a abertura de um grande mercado de trabalho com novas possibilidades de consumo por exemplo a compra do Automóvel um dos iones da Juventude alienada longe de alternativas radicais de recusar o sistema politizada ou desbundada o jovem brasileiro médio queria apenas comprar o seu Corsel 73 e Tentar aproveitar o milagre conforme a ironia de Raul Seixas eu devia estar contente porque eu tenho emprego sou o dito cidadão respeitando ganho 4000 cruzeiros por mês barra eu devia estar contente porque eu consegui comprar um Corsel 70 3 ví 245 mesmos circuitos de consumo Cultural de massa foram ocupados por um espírito crítico ainda que Sutil e convivendo com produtos culturais despolitizados engana-se quem pensa que os produtos culturais engajados criados por artistas de esquerda estivessem destinados a pequenos círculos e consumo artesanal uma das marcas da década de 1970 foi o convívio de de projetos culturais voltados para grupos sociais que se consideravam alternativos à margem com a ocupação crescente do grande mercado pela arte de esquerda em muitos momentos as fronteiras entre estes dois projetos ficaram diluídas no teatro na música popular e na teledramaturgia a arte engajada de esquerda reestruturou o próprio mercado entrando no coração da indústria cultural este processo não seria vivido sem dilemas e impasses mas sem dúvida é uma das marcas mais singulares da Resistência cultural ao regime militar apesar de a repressão atingir a todas as correntes Estéticas e ideológicas de oposição sugerindo uma solidaridade em meio ao cataclismo as lutas culturais dentro do campo da Oposição não cessaram o objetivo de todas elas era chegar às massas populares mas as linguagens os caminhos e objetivos variavam no começo dos anos 1970 a vertente Nacional Popular ligada à tradição de engajamento comunista ampliou sua estratégia de ocupação dos circuitos culturais restritos ou massivos os artistas e intelectuais ligados a essa tradição denunciavam o vazio cultural 246 analisando como produto não apenas da censura e da repressão mas também pelos desvios estéticos e ideológicos produzidos pelas vanguardas que confundiam choque de valores com consciência crítica o alvo das acusações eram os tropicalistas os grupos de teatro de Vanguarda como oficina e os realizadores do cinema Marginal para Os Comunistas e simpatizantes não se tratava de chocar a burguesia agredindo seus valores mas de conquistar seus corações e mentes para uma grande aliança contra o regime militar a cultura e as artes deveriam ser o cimento dessa aliança e não uma artilharia contra tudo e contra todos Em contrapartida a Vanguarda contracultural Já sem o ímpeto do final da década de 1960 sobretudo no teatro e na música popular insistia que a crítica e ao autoritarismo passava pela crítica radical aos valores burgueses comportamentais e políticos Há um só tempo para os jovens adeptos da contracultura Os militantes Comunistas eram caretas para Os Comunistas e simpatizantes Do PCB os artistas de Vanguarda eram despond ados os primeiros queriam ampliar o público os segundos reinventá-lo o Nacional Popular almejava a construção de um novo gosto para as massas consequente crítico a partir de Valores preexistentes em áreas em que o mercado Já era forte como na música ou na televisão a corrente da hegemonia nome dado aos artistas filiados ao Nacional popular de esquerda impôs uma linguagem padrão para as suas obras que se confundiam com o gosto médio do público escolarizado o grande sucesso da MPB no mercado fonográfico e da teledramaturgia feita por autores comunistas empregados pela Rede Globo são os exemplos mais paradoxais de uma linguagem artística tributária do Nacional Popular Triunfante na indústria cultural ao mesmo tempo que vigiada pela censura estatal uma boa parte dos dramaturgos Lig ao Partido Comunista Brasileiro PSB como Dias Gomes oduvaldo Viana Filho e Paulo Pontes contribuiu para a revolução das novelas na telinha após 1970 estes e outros nomes foram contratados pela Rede Globo com razoável liberdade e de criação para diversificar o estilo a temática a linguagem das telenovelas aprofundando a tendência Realista e sociológica já anunciada por Beto Rockfeller em 1968 estrategicamente a televisão reservava um horário mais avançado às 10 horas da noite para estes produtos quando a maioria dos Trabalhadores já tinha desligado a TV nessa faixa de horário Dias Gomes filiado ao PCB veiculou novelas como o Bem Amado bandeira do e Sara mandaia Esta última muito próxima ao chamado Realismo Fantástico da literatura latino-americana não podemos nos esquecer duas experiências inovadoras na teledramaturgia dos anos 1970 levadas ao ar em formato diferente das novelas diárias os casos especiais e o serado semanal a grande família Uma Família de classe média cheia de dificuldades em pleno fism do milagre econômico escritos e dirigidos pelos grandes dramaturgos também comunistas odovaldo Viana Filho e Paulo Pontes por outro lado o sucesso estrondoso de escrav Isaura em 1976 consolidou o horário das 6 da tarde como a faixa das novelas com temas históricos mais ligadas à tradição do folhetim histórico com alguma pitada de crítica social no final dos anos 1970 sobre o impacto dos novos movimentos sociais o ímpeto participativo de artistas e intelectuais de esquerda renovava se e de uma fase de resistência para uma fase mais crítica e agressiva na medida em que as massas voltavam ao primeiro plano da Vida nacional e com isso Mudando completamente a correlação de forças entre a sociedade civil democrática e o estado dominado por um regime autoritário e coercitivo com a revogação oficial do ai5 em primeo de Janeiro de 1979 e o consequente fim da censura prévia abriu-se uma nova era para cultura brasileira músicas peças de teatro e sobretudo livros de ficção reportagem ensaios históricos puderam ser publicados nas artes cujo debate muitas vezes era acompanhado pela imprensa mais engajada o crescimento do interesse pela política gerou um Grande Debate público entre artistas de várias áreas que ficou conhecido como o caso das Patrulhas ideológicas 248 o termo foi cunhado por Kaká Diegues ao sentir-se policiado pela crítica cinematográfica de esquerda que reclamava um posicionamento político mais definido nas Produções do cineasta acusado de fazer filmes escapistas como Chica da Silva uma leitura carnavalis an da escravidão e chuvas de verão uma visão lírica da velice nos subúrbios cariocas o debate explodiu em 1978 e logo outros artistas como caet ano Veloso e Gilberto Gil se utilizaram da expressão para contraatacar os críticos e o público de esquerda Ortodoxa que exigia uma arte mais pedagógica Realista exortativa e comprometida com a luta contra o regime militar esses artistas reconheciam a necessidade de realizar obras críticas mas para eles o principal compromisso da arte deveria ser o de representar as diversas facetas da condição humana e da sociedade sem se prender uma linha político-partidária específica considerada mais justa e correta do que as outras a música popular brasileira entrava nos anos 1970 com seus compositores mais prestigiados e emblemáticos fora do país resultado dos efeitos do ai5 no campo artístico artistas que até então eram verdadeiros Ídolos como Geraldo Vandré Chico buara de Holanda Caetano Veloso foram do duramente perseguidos Este último juntamente com Gilberto Gil chegou a ser preso assim permanecendo por 3S meses em Julho de 1969 os dois baianos foram convidados a deixar o país exilando em Londres durante 3 anos Chico Buarque vivendo uma fase de grande popularidade foi poupado da prisão mas também foi convidado a deixar o país em 1969 indo para a Itália quanto ao destino de Vandré os primeiros boatos diziam que ele havia sido preso torturado e sofrer a lavagem cerebral passando a fazer músicas de apoio à ditadura em entrevista no ano de 1995 o próprio Vandré desmentiu essa versão 249 dizendo que a partir da decretação do ai5 ele ficou foragido e conseguiu sair do Brasil dando início a um verdadeiro périplo por vários países do mundo fixando-se em Paris até meados da década de 1970 quando voltou para o Brasil depois de uma breve Detenção Vandré declarou morto o seu personagem tornando-se apenas um discreto advogado a grande tendência do mercado com a crise dos festivais da canção ex cerceado pela censura era a música Jovem o pop e o rock que garantia um espaço maior na preferência de uma boa parte da Juventude a partir do tropicalismo diga-se o pop e o rock passaram a fazer parte inclusive dos vários idiomas musicais que caracterizavam a música brasileira a sigla MPB se tornava quase um conceito estético e sobretudo político traduzindo uma música engajada com letra sofisticada de bom nível e de preferência inspirada nos gêneros mais populares como samba constituindo assim uma trão que ligava esses gêneros à Bossa Nova às canções de festivais e ao tropicalismo o período que vai de 1969 a 1974 não foi dos melhores para a MPB mas em função dos problemas políticos do que por uma crise de criatividade ou de mercado o cerco da censura e o clima de repressão policial dificultavam a criação a gravação das músicas e a performance para grandes plateias sobretudo as teias estudantis ainda assim um considerável circuito de shows em campio universitários levava inúmeros artistas ao contato com o público mais aficionado da ampb alguns artistas já eram consagrados como Elis Regina outros nem tanto como Taiguara Gonzaguinha Ivan Lins membros do chamado movimento artístico Universitário mal que tentava renovar o time de compositores dentro do campo da MP sofisticada mas a música brasileira não era só a MPB Universitária como se dizia para suprir o mercado em crescimento as gravadoras apostaram na música Jovem internacional sobretudo a black Mica americana então em vulga e nas músicas compostas em inglês por brasileiros outro fenômeno de vendas foram as trilhas sonoras de novelas sobretudo as da Rede Globo que inventou até uma gravadora a Som Livre para comercializar este tipo de coletânia foi também a época do chamado sambão joia feito por nomes como Os Originais do Samba Luiz Airão Benito de Paula entre outros uma música considerada pasteurizada e Comercial mas que tinha uma grande aceitação do público parte da Grande Família da música de to Cafona que apesar do preconceito da classe média considerando alienada de mau gosto chegou a ser censurada pelo regime 252 entre 1970 e 1974 o território do Samba ainda consagraria nomes como Martinho da Vila Paulinho da Viola e Clara Nunes intérprete muito popular na época o artista mais popular do Brasil era indubitavelmente o cantor Roberto Carlos que entre 1969 e 1972 passava pela sua fase mais criativa reforçando seu estilo romântico para a opinião pública mais crítica de esquerda Roberto Carlos era sinônimo de alienação política contraponto de engajamento musical que dominava a ampeb mais valorizada com a volta dos ídolos da MPB que estavam no exterior como Chico Buarque em 1971 e Caetano Veloso em 1972 o cenário musical Se animou Chico gravou um álbum histórico considerado um Marco de qualidade poética na canção popular brasileira chamado construção o long plin teve grande aceitação de público e crítica e recoloca Chico no primeiro plano da mídia e da cultura brasileiras Caetano depois de lanar O Belo e melancólico London London cujas canções retratavam em inglês seu estado de espírito no exílio londrino gravou e o álbum experimental Araçá Azul cheios ruídos arranjos e entonações inusitadas este Aliás foi o maior encal da indústria fonográfica brasileira mas o exílio de Caetano havia resgatado para a juventude Universitária engajada depois dos embates entre estes e o compositor baiano ao longo de 1968 em 1972 os dois astros Chico e Caetano que até então representavam as duas grandes tendências estéticas e políticas da MPB gravaram um álbum ao vivo num histórico show em Salvador lançado e mlp com o título Chico e Caetano juntos e ao vivo O show foi um verdadeiro ato de resistência contra a ditadura e a sua censura sofrendo inúmeras sabotagens técnicas esse encontro altamente simbólico de dois grandes astros que dividiam as plateias dos anos 1960 foi complementado em 197 74 por outro encontro artístico entre eles Regina e Tom Jobin que também não eram lá muito amigos em meados dos anos 1960 em 1972 explodia outro fenômeno musical já conhecido como compositor há algum tempo Milton me Nascimento que trouxe junto consigo todo o Clube da Esquina um conjunto de compositores instrumentistas e intérpretes das minasgerais que fundiam gêneros e estilos locais com o rock o álbum Clube da Esquina um de miltom nascimento e Lou Borges era uma verdadeira coleção de clássicos da canção que apresentava uma visão mais Sutil porém não menos crítica do momento social e político O Trem Azul São Vicente Nada será como antes Paisagem na Janela entre outras retratavam a busca por liberdade individual e coletiva através de imagens poéticas sutis e músicas sofistic adas fora das fórmulas que se conheciam até então a grande novidade musical de 1973 foi a renovação do rock brasileiro que parecia encontrar um idioma próprio neste Campo destacaram-se Raul Seixas com sua crítica A da Milagres aos valores sociais Ouro de Tolo Sociedade Alternativa Mosca na Sopa metrol linha 743 e o meteórico conjuntos Secos e molh ados que revelou o cantor Ne Mato Grosso fundindo o melhor da poesia da MPB com ousadia cênica e o clima instrumental do rock anglo-americano Rita lei ex Mutantes iniciava uma trajetória própria sinal com letras criativas e críticas uma das experiências mais cais da música jovem brasileira de qualidade no início dos anos 1970 foi o conjunto Novos Baianos que ao mesmo tempo era uma comunidade Baby Consuelo vocal Pepeu Gomes guitarra Morais Moreira que seguiria uma carreira Sola de sucesso e Paulinho boca de cantor mesclavam samba chorinho frevo e rock criando um idioma musical próprio e bem aceito pelo público de rock empb a partir de 1972 a música brasileira parecia retomar certa ofensiva cultural e política contra o regime galvanizar as massas populares em em grandes eventos através de espetáculos ao vivo mas os tempos continuavam difíceis para quem se propunha a fazer uma arte que fosse algo mais do que lazer além de Chico e Caetano juntos e ao vivo o impactante poros 73 foi uma tentativa da gravadora ponogr Philips de retomar o clima dos festivais organizando três noites de música ao vivo com todo o seu elenco de estrelas da MPB e do rock brasileiro num de estes shows ocorreu o famoso episódio do desligamento do sistema de som por ordens da censura quando Chico e juberto Gil iriam cantar cálice um Claro Manifesto contra a censura e a repressão as palavras cálice e cálice se fundiam numa lusão direta à censura e o vinho tinto de sangue remetia aos porões da Tortura obviamente a censura não gostou Pai Afasta de Mim este Cálice Pai Afasta de Mim este Cálice pai deinho Tinto de sangue em 1972 a Rede Globo resolveu valorizar o seu criticado esvaziando o festival internacional da canção Fi contratou Solano Ribeiro produtor dos grandes festivais da Record deu certa Liberdade à comissão de seleção das músicas e colocou para presidir o jura prestigiada e oposicionista do regime cantora Nara Leão o cenário para mais um conflito com o regime estava armado e explodiu no Manifesto do juro contra a censura alegando um problema na condução dos trabalhos mas na verdade pressionada pelo governo a Rede Globo destituiu a presidência do Júri e quando dois jurados Roberto Freire e Rogério do Prat tentaram subir ao palco para ler um Manifesto contra a censura foram presos pelo dops a polícia política do regime e chegaram a ser agredidos a vedor foi fio maravilha de Jorge Benjor interpretada pela cantora Maria Alcina cuja letra falava de um ídolo do futebol e o ritmo dançante empolgava a plateia deixando em segundo plano para o grande público os incidentes e pressões políticas que marcaram o último Festival da canção daa dos festivais nessa edição do Fi na outra tentativa da Rede Globo de ritar o gênero festival abertura 1974 consolidou-se uma tendência bastante peculiar da MPB dos anos 1970 a dos chamados mauditos famosos por praticarem certas ousadias musicais Apeninos e declarações nada simpáticas ao gosto do público nomes como Jorge Mautner Jardes Macalé Luis melodia Walter Franco entre outros desafiavam as fórmulas do mercado fonográfico buscando linguagens e performances mais ousadas e provocativas o nome maldito se consagrou como uma espécie de estigma que persegui esses artistas eram respeitados pela crítica e pelos músicos mas não se enquadravam nas leis de mercado das gravadoras nem se submetiam às suas demandas comerciais Vendendo muito pouco e sendo quase esquecidos pelas emissoras de rádio mais populares por volta de 1976 a MPB consolidou sua vocação aosi de resistência ao regime militar e de eixo do mercado fonográfico Há um só tempo Além disso seus principais compositores foram muito beneficiados pelo abrandamento da censura podendo compor canções com letras críticas que tinham grande aceitação entre os ouvintes consolidava-se o fenômeno da rede de recados desempenhado pela Canção popular na época da ditadura que fazia circular mensagens de liberdade e justiça social ainda que se utilizando de uma linguagem Sutil e simbólica numa época marcada pela repressão e pela violência não é exagero dizer que a MPB foi uma espécie de trelha sonora da abertura estando no centro de várias manifestações e lutas da sociedade civil na segunda metade dos anos 1970 a MPB se transformou no Carro Chefe da indústria fonográfica brasileira passando a ser consumida por amplos segmentos da classe média e chegando em alguns casos a ter uma boa penetração nos setores populares sobretudo no final da década de 1970 do ponto de vista comercial a MPB era importante para a indústria fonográfica na medida em que seus ouvintes mais fiéis se concentravam nas faixas de consumo mais ricas e informadas da população Geralmente os artistas de MPB tinham maior liberdade de criação e podiam contar com maiores cursos das gravadoras para gravar seus LPS pois mesmo vendendo menos do que as ditas canções e os gêneros mais populares geravam muito lucro as gravadoras uma vez que eram produtos mais caros e sofisticados sendo vendidos a um preço maior além disso a MPB movimentava um importante mercado de shows ao vivo o interesse crescente pelos principais compositores e intérpretes da MPB que já vinha dos anos 160 garanti às rádios uma audiência mais sofisticada e com maior poder aquisitivo atraindo consequentemente anunciantes mais qualificados todos esses fatores faziam a máquina comercial funcionar em torno desse gênero para além das suas virtudes propriamente estéticas ou políticas podemos dizer que entre 1975 e 1980 a MPB viveu o seu auge de público e crítica com uma ampla penetração social e lugar destacada no mercado fonográfico o primeiro grande fenômeno de público desse Boom de música popular brasileira foi o show falso brilhante no recém inaugurado teatro Bandeirantes estrelado pela consagrada Elice Regina 256 a partir de setembro de 1975 ao longo de 14 meses com uma incrível média de 1500 pessoas por noite a cantora cava a plateia com músicas que fundiam o lírico e o político num conjunto harmônico de música teatro e poesia o El pôn imo foi um dos principais Marcos de vendagem da carreira de Elis que ao lado de Chico boara de Holanda conseguiu executar uma difícil missão na área da cultura conciliando qualidade e popularidade até sua morte precoce em 1982 Ele seguiu uma trajetória de consagração artística e sucesso Popular cujo auge pode ser considerado a música o Bêbado e Equilibrista João Bosco Air blanque considerado o hino da luta pela Anistia aos presos e exilados pelo regime conseguida em 1979 do ponto de vista pessoal a cantora se reconciliar com o público de esquerda depois do polêmico Episódio de sua participação na convocatória para o 257 encontro Cívico nacional um evento oficial do regime militar em 1972 outro nome fundamental para a MPB dos anos 1970 foi Chico Buarque de Holanda a unanimidade Nacional segundo a crítica o compositor passou por uma fase difícil entre 1973 e 1975 quando o seu projeto teatral e musical Calabar foi totalmente proibido e Chico teve que inventar um pseudônimo para conseguia driblar a censura o impagável Julinho da Adelaide um fictício sambista de Morro Mas a partir de meus caros migos lançado no final de 1976 Chico reencontra o sucesso popular e os aplausos da crítica Musical São desse disco algumas canções antológicas como meu caro amigo o que será mulheres de Atenas verdadeiros documentos poético musicais para entender aquele momento histórico Caetano Veloso e Gilberto Gil lançam discos antológicos como Fazenda 1975 e favela 1976 de Gil e joia 1975 qualquer coisa 1976 bicho 1977 e muito 1978 de Caetano Este último por sinal um grande sucesso Popular puxado pela faixa Sampa cuja letra propõe uma leitura totalmente nova da vida urbana e das contradições da modernidade brasileira Caetano e Gil consolidaram sua vocação de Ídolos da Juventude mais intelectualizada e libertária embora suas declarações políticas e comportamentais bem como o visual p e andrógeno provocassem algum desconforto na juventude de esquerda mais Ortodoxa em termos de ento por exemplo a música Odara do elip bicho provocou uma grande polêmica entre Caetano e a esquerda nacionalista mais uma aliás pois a música Era um apelo ao prazer e a dança utilizando-se inclusive de uma batida discoteque a grande moda pop da época quando a esquerda achava que a música popular deveria cantar as agruras dos trabalhadores sob a tutela do regime militar Milton Nascimento marcou época com osl Minas 1975 Gerais 1976 e Clube da Esquina 2 1978 a composição seu da terra feita em parceria com Chico Buarque foi um grande sucesso Popular nas vozes do Quarteto em si do MPB4 tornou-se um dos hinos da luta pela reforma agrária falando da vida camponesa e da busca pela dignidade humana de uma maneira Sutil e poética João al Bosco e a Blan também se consagraram a partir de 1975 sendo responsáveis por verdadeiros clssicos da MPB como uma trala dos mares que de cavaquinho plataform bêbado e Equilibrista suas músicas Bosco e Blan Falavam do povo brasileiro da Resistência à ditadura de uma maneira hora bem humorada reado há tiic cotidianas numa abordagem muito próxima à crônica jornalística Gonzaguinha e IV Lins fechavam o primeiro Escalão dos compositores engajados consagrados ao longo dos anos 1970 a eles juntavam-se novos nomes como Fagner que explodiu para o sucesso em 1976 e Belchior autor de dois grandes sucessos na voz de Elis Velha Roupa Colorida e Como Nossos Pais ampb o sambo rooc acabaram formando uma espécie de frente Ampla contra a ditadura cada qual desenvolvendo um tipo de crítica atitude e crônica social que forneciam referências diversas para ideia de resistência cultural a MPB com suas letras engajadas e elaboradas o samba com sua capacidade de expressar uma vertente da cultura popular Urbana ameaçada pela modernização conservadora capitalista e o rock com seu apelo a novos comportamentos e liberdades para o jovem das grandes cidades não foi por acaso que ocorreram muitas parcerias de shows e discos entre os artistas desses três gêneros entre 1969 e 1971 os três mais importantes grupos teatrais brasileiros o Arena o opinião e oficina desarticularam se ou foram extintos o oficina encenou ainda três peças importantes Galileu bebest na selva das cidades bebr e gracia senhor criação coletiva nessas três montagens evidenciou-se a desagregação interna do grupo os conflitos de personalidade os conflitos de gerações entre atores velhos e jovens as diferentes concepções de função social e estética teatral nesta última montagem o oficina absorvia de uma vez por todas a estética da contracultura a radicalizando as experiências de improvisação cênica e textual de diluição de fronteiras entre arte vida e público e obra em 1973 o último remanescente do Oficina sinal o diretor José Celso martinz Correa saiu do Brasil no anticlímax que sofreu a classe teatral a partir do A5 depois de 4 anos sendo um dos eixos do debate estético e ideológico na sociedade brasileira duas peças marcaram época cemitério de automóveis Fernando arrabal e o balcão Jean genette ambas dirigidas por Víctor Garcia e produzidas por rut Escobar esta se firmava como produtora independente personalidade crítica desafiando o cerceamento cultural imposto pelo regime militar e pela censura Além disso as duas peças apontavam para uma nova concepção de uso do espaço cênico do teatro Mas pela Concepção cênica e pela atuação dos atores do que pelo texto em si foram uma espécie de Manifesto contra a ditadura estilizando a violência e a crueldade das instituições oficiais e conservadoras contra o indivíduo como o exército a igreja a justiça e fazendo o público experimentar esteticamente a mesma violência que derrotar as revoluções populares e o direito de manifestar a crítica social e política no caso de balcão por exemplo os espectadores tinham que se movimentar para cima e para baixo dentro de estruturas cilíndricas de metal que lembravam um cárcere o teatro ao seu modo refletiu também a contracultura no Brasil manifestação de recusa global ao sistema e a sociedade estabelecida característica da geração ai 5.28 a estética da marginalidade a opção pela transgressão aos costumes Morais e sexuais a crítica radical às instituições tidas como base do sistema autoritário apareciam em diversas peças contra a culturais gracia Senhor hoje é dia de rock gente computada igual a você uma encenação irracionalista anti pedagógica anti emocional caracterizava essas peças além do uso do humor às vezes debochado e grotesco duas importantes peças que estrearam entre 1973 e 1974 procuravam fazer uma reflexão sobre o papel do teatro na nova conjuntura repressiva do país dentro de uma cultura de esquerda mais Ortodoxa sem as ons dias do desbunde da contra a cultura jovem perfazendo uma espécie de contra-ataque da corrente dramatúrgica ligada ao PCB um grito parado no ar ganeri e pano na boca faus e harap encenavam a história de grupos teatrais em busca de sua identidade de sua inserção na sociedade procurando diagnosticar problemas impasses e soluções para a vida teatral brasileira dentro de contradições sociais mais amplas ainda dentro dessa tendência Paulo Pontes se firmou como um autor cada vez mais reconhecido um edifício chamado 200 e gota d'água entre outros assim como o do Valdo Viana Filho corpo a corpo sucesso de 1971 e longa noite de cristal de 1972 corpo a corpo era um monólogo de um publicitário que à beira da Falência se vê na eminência de se transformar em povo caindo na hierarquia socioeconômica o recrudescimento da censura entre 1973 e 1975 prejudicou algumas peças com amplo potencial de público como Calabar de Chico Buarque Rui guerra e rasga coração de oduvaldo Viana Filho no caso de Calabar o consagrado compositor o Chico boar que investiu muito dinheiro na produção e a proibição da peça foi um duro golpe financeiro na sua carreira o texto propõe uma revisão da figura de Domingos Fernandes Calabar a partir da ótica da sua viúva Bárbara colocando uma questão crucial O que é ser um traidor da Pátria como a história oficial apresentava a figura de Calabar quando na verdade se vive numa colônia dominada por um governo antipopular e repressivo obviamente o foco da crítica de Chico e Ru guerra era a conjuntura repressiva e entreguista como eram qualificados aqueles que entregavam país às multinacionais do capitalismo em que o Brasil vivia após o golpe militar como resultado dessa ousadia crítica a peça foi totalmente proibida o mesmo acontecendo com o LP as letras das faixas e e a capa com o nome Calabar pichado num muro foram proibidas Chico ainda retornaria ao teatro em 1975 com gota d'água escrita com Paulo Pontes uma adaptação da tragédia Medeia de Eurípedes para o Subúrbio Carioca como a crítica social e política era inserida num contexto de vida privada a censura liberou a peça que acabou sendo um grande sucesso de público e crítica a partir de 1976 sob o clima da distensão a vertente Nacional popular do teatro iniciou uma espécie de reconciliação com o público mas por um caminho diferente gota d'água que estreou em dezembro de 1975 direção de genano e rato e o último carro 259 março de 1976 testo direção de João das Neves foram grandes fenômenos teatrais sinalizando O Triunfo da corrente Nacional Popular que se propunha a examinar as condições de vida do povo brasileiro sob a modernização conservadora a partir de linguagem e cação realistas último carro era ambientada em um vagão de trem de Subúrbio que parece estar em uma louca corrida sem motorneiro vários Operários e lumpens tentam tomar o controle da situação a partir deste morte surgem individualidades em choque na formação de uma coletividade capaz de controlar o trem e evitar a tragédia que se anuncia gota d'água também se debruçava sobre os efeitos da modernização com o canto de sereia da Ascensão social impactando a relação amorosa de Joan e jasão culminado no assassinato dos filhos do casal pela mãe suicida a ingenuidade da arte Nacional popular de esquerda nos anos 1960 que via o povo como ente orgânico e sem divisões internas era substituída em ambas as peças por uma visão mais crítica explorando o sentido dramático e político das divisões internas das classes populares e dos seus impasses diante da modernização capitalista na segunda metade dos anos 1970 surgiram novos grupos que marcaram a época os mais importantes foram Asdrubal trouxe o trombone Rio de Janeiro Pau Brasil embrião do centro de pesquisas teatrais com o apoio do Cesc de São Paulo mem São Paulo e teatro do An torinco São Paulo as Produções e as trajetórias dos membros desses grupos autores diretores e atores sinalizavam novas tendências na dramaturgia brasileira a fusão entre linguagens diversas mímica música Circo dança a incorporação do deboche da paródia e do humor corrosivo a renovação dos recursos cênicos linguagem cênica dispo ada poucos objetos de palco utilização dos espaços vazios cenário econômico e valorização dos efeitos de iluminação os grupos foram os responsáveis por grandes sucessos de público e crítica no final da década de 1980 Asdrubal protagonizou o impagável trat mil Leão 1978 inaugurando o teatro do besteirol no qual piadas non sense situações surrealistas imitação de tipos sociais e crítica de costumes se fundiam num espetáculo leve e bem humorado sem cair na banalidade o teatro do ornitorinco deslanchou para o sucesso propondo outra leitura do dramaturgo alemão bertolt brest ornitorinco canta bresto 1977 e momini 1982 a partir de uma ótica bem humorada enfatizando o clima de cabaré dos espetáculos bresan Pau Brasil dirigido por antones filho marcou a época no teatro brasileiro com uma leitura carnavalesca e criativa de macunaima 1978 a partir da Obra de Mário de Andrade a peça trabalhava com um despojamento radical do palco dando espaço para uma elaborada técnica gestual dos atores articulados por um texto provocativo ail e bem humorado a abertura e o abrandamento da repressão trouxeram de volta diretores e autores consagrados exilados ou proibidos pela censura voltam ao país para agitar ainda mais o cenário teatral José Celso martinz Correa em 1978 criando seu novo grupo Zina zona Augusto Boal com o sucesso morra em ponta de proibidos foram encenados entre eles destacam-se rasga coração sob a direção de José Renato 1979 de do Valdo Viana Filho que trata do conflito de gerações entre pai e filho ambos militantes de esquerda é barrela 1980 de Plínio Marcos sobre a vida no seio da marginalidade na área do cinema o final da década de 1960 e a primeira metade da década de 1970 também configurava uma crise estética e política cercado pela indústria cinematográfica norte-americana Ana embora naquele momento oo também não vivesse seus melhores dias e pela tendência mais intelectualizada dos realizadores ligados ao cinema novo o cinema brasileiro dependia cada vez mais do apoio oficial para realizar filmes que fossem além da demanda por lazer marca principal do Gosto Popular pelo cinema o cinema novo tinha conseguido um reconhecimento inédito para o cinema brasileiro consagrado em festivais considerados artísticos como os de de venez e canes mas carecia de uma penetração maior no público mais amplo de classe média no Brasil embora agradasse plateias estudantis e intelectualizadas os impasses em torno da função social e estética do cinema já anunciados em terra em trans de Glauber Rocha foram radicalizados pelo chamado cinema Marginal 262 cujos Marcos foram os filmes O Bandido da luz vermelha de rogérios ganzel matou a família e foi ao cinema de Júlio Bressan e à margem de Oswaldo Candeias assim como no teatro o cinema Marginal pode ser enquadrado com uma variante da contracultura brasileira propondo a transgressão comportamental e a destruição de qualquer discurso lógico e linear Como as bases da sua criação nesses filmes a linguagem do humor e do grotesco era utilizada como base das alegorias sobre o Brasil considerado um país absurdo sem perspectivas políticas e culturais por outro lado o cinema Marginal também radicalizou uma tendência que se anunciava no movimento tropicalista o estranhamento diante da outrora figura heroica do Povo as figuras simbólicas das classes populares são mostradas como grotescas e de mau gosto vitimizadas pela desumanização das sociedades sugadas pelo sistema o herói não era mais O Operário consciente oamp lotador um militante abnegado de classe média mas o marginal o para social o artista maldito o transgressor de todas as regras mas as principais figuras do cinema brasileiro tentavam reciclar suas carreiras diante da nova conjuntura e da derrota iminente da última tentativa da esquerda em confrontar diretamente o regime a luta armada Glauber Rocha considerado o maior diretor brasileiro percorreu vários países a partir do final dos anos 1960 fixando-se em Cuba por alguns anos em 1969 ganhou o prêmio de melhor direção em Canas com o dragão da maldade contra o santo guerreiro retomando a temática de Deus e o Diabo na Terra do Sol 1964 a partir de uma narrativa mais acessível depois do agônico cabeças cortadas Glauber mergulha numa profunda crise criativa na Pereira dos Santos outro diretor consagrado conseguiu realizar um dos mais importantes filmes da década chamado Como era gostoso o meu francês 1971 O filme é uma releitura da antropofagia cultural tema inv vulgar naquele momento seacon Naima Joaquim Pedro de Andrade sucesso de 1969 era uma leitura tropicalista do anti herói de Mário de Andrade o filme de Nelson Pereira Sutilmente retoma um viés crítico em relação à tendência de abertura da cultura brasileira em relação às influências externas Além disso o filme contem uma série de alusões à situação política como a censura a tortura e a Guerrilha inspirado na saga de an staden que passou quase um ano entre os Tupinambás no século XI o filme inverte o destino do personagem neste caso um francês e não um alemão na vida real staden escapou de ser devorado pelos índios enquanto no filme O Herói civilizador estrangeiro é comido mas antes de morrer profere uma espécie de maldição contra os brasileiros que o devoraram Santos ainda Faria outros filmes marcantes nos anos 1970 sobre a cultura afro-brasileira intitulados o amuleto de Ogum 1975 e Tenda dos Milagres 1978 fundindo o misticismo afro-brasileiro a crítica opressão social e política que sempre caracterizou sua obra o filme histórico também foi utilizado em Chaves diferenciadas aproveitando-se da Boa Vontade do Regime com esse gênero considerado educativo os filmes independência ou morte de Carlos Coimbra e os Inconfidentes de Joaquim Pedro de Andrade mostravam leituras diferentes dos eventos e personagens históricos oficiais enquanto o primeiro filme assumia A História oficial narrando os fatos consagrados de maneira linear e simplista enfatizando os amores do Imperador e tentando imitar o luxo das Produções estrangeiras os Inconfidentes foi realizado dentro de uma concepção cinema de autor de produção barata despojado e utilizando-se do tema da Inconfidência Mineira para na verdade discutir a crise na esquerda brasileira o lugar do intelectual No processo histórico e sua fracassada opção pela luta armada contra o regime militar os revolucionários Inconfidentes no filme se perdiam em ilusões de conquista do Poder projetos utópicos e discursos vazios ao mesmo tempo que se isolavam da população e dos Trabalhadores no caso simbolizados pelos escravos O Curioso é que o filme praticamente não tem diálogos próprios sendo uma colagem de textos retirados dos Altos da Devassa do romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles e dos poemas de Cláudio Manoel da Costa Tomás Antônio Gonzaga e Avarenga pexoto enquanto Independência ou Morte tornou-se um grande sucesso de público motivado sobretudo pela presença do casal número um das novelas da época Tarcisio me Glória menzes o filme de Joaquim Pedro não agradava as plateias mais desatentas embora não tenha chegado a ser um fracasso de Bilheteria completo independentemente da qualidade de um ou outro Ambos são documentos importantes para se compreender a complexa configuração cultural do início da década de 1970 oscilando entre o fmo oficial partilhado por muitos setores da sociedade e a crítica velada exercitada por poucos mas influentes atores sociais numa outra perspectiva Tuda nudé será castigada de Arnaldo Jabor baseado na peça de Nelson Rodrigues foi um grande sucesso de 1973 consagrando o jovem diretor revelado pelo cinema novo de longe o filme foi a melhor adaptação cinematográfica das polêmicas peças do dramaturgo que mostra as tensões entre personagens divididos entre uma moral rigorosa e um impulso para transgressão gerando culpas espia e autop punições no mesmo ano São Bernardo de Leon irsm adaptava o livro homônimo de Graciliano Ramos retomando a investigação sobre a mentalidade autoritária da Elite rural brasileira como metáfora dos tempos de repressão conservadorismo E modernização excludente trabalhando com o tema da sexualidade de uma forma mais questionável do ponto de vista estético e dramático surgiu no início dos anos 970 o gênero cinematográfico que ficou conhecido como pornochanchada geralmente eram Produções muito baratas feitas em estúdios improvisados com atores e atrizes desconhecidos a maioria deles sem talento dramático mas com alguma beleza física as histórias eram variações dentro do mesmo tema a traição conjugal as estratégias de conquista amorosa as moças do interior que se perdiam na cidade de grande as relações entre patrões e empregadas ou entre chefes e secretárias a partir desses motes os filmes abusavam das cenas de nudez feminina e dis simulações mal feitas de cenas de sexo independentemente da sua baixa qualidade esse gênero foi o responsável por levar aos cinemas milhões de pessoas que nunca viam filmes brasileiros geralmente oriundas das classes populares parte da Juventude siné passou a uma estética válida para criticar o Bom Gosto imposto pela censura do regime compartilhado até por setores de esquerda notadamente a comunista a partir de 1976 o cinema brasileiro conheceu sua maior consagração de público conciliando certo reconhecimento da crítica com um amplo reconhecimento Popular inclusive da classe média que resistia aos padrões estéticos do nosso cinema a partir de então o cinema brasileiro apoiado pela embrafilme conseguiu uma razoável penetração no mercado nacional e até no Internacional uma interessante conjugação entre um tipo de cinema de autor linguagem mais pessoal e artesanal e um cinema mais Industrial filmes Tecnicamente bem feitos com grande esquema de encenação foi exercitada em várias Produções que pareciam reverter a tendência falta de público crônica que o nosso cinema sofria neste sentido os filmes de Kaká Diegues como Chica da Silva 1976 e Bruno Barreto diretor de Dona Flor e Seus Dois Maridos 1976 foram os principais referenciais da época Este último aliás se tornou o filme brasileiro mais visto de todos os tempos mesclando humor erotismo e figurinos luxuosos tornaram-se grandes sucessos de Bilheteria até pelo o fato de sugerirem uma abordagem mais leve da história dos problemas e dos costumes brasileiros nesse sentido sinalizavam outro caminho para o cinema diferente do cinema novo e retomando num nível de produção mais sofisticada a tradição do humor e da chanchada carnavalesca dos anos 1950 o naturalismo temperado pelo melodrama social foi a principal linguagem de crítica social no cinema do final dos anos 1900 70 nesse sentido os filmes de Hector babenco argentino radicado no Brasil são exemplares Lúcio Flávio O Passageiro da Agonia 1978 e pichote a lei do mais fraco 1980 mergulhando na vida de marginais adultos e Mirins babenco construiu uma denúncia hiperrealista sobre o sistema carcerário e sobre a lógica de exclusão e violência entre os menores abandonados produzida pela desigualdade socioeconômica aliada à falta de cidadania kak diegs realizou no final da década BB Brasil 1979 que procurava conciliar crítica social e política com uma linguagem mais leve e bem humorada o filme sucesso de público e de crítica contava a história de uma caravana de artistas pobres a caravana Holiday que percorria o interior do Brasil a partir desse tema Diegues apresentava um balanço crítico da modernização conservadora brasileira dos anos 1970 plena de disparidades regionais e sociais e dos efeitos da indústria cultural no Brasil profundo em meados da década de 1970 o regime militar percebeu que estava perdendo a batalha da cultura os vetustos membros do Conselho Federal de Cultura não tinham o mesmo prestígio dos intelectuais conserv adores dos anos 1940 e 1950 266 a censura só era aplaudida por uma pequena burguesia ignorante sem capacidade de construir hegemonias e de influenciar os formadores de opinião ligados aos segmentos mais escolarizados da classe média os intelectuais liberais e de esquerda cristalizaram a ideia de um regime anticultura repressor das liberdades e da criatividade era preciso construir uma política cultural proativa que não necessariamente significava abrir mão dos instrumentos repressivos em outras palavras o regime militar tentou combinar repressão seletiva regulamentação da vida cultural e mecenato que não era vedado aos artistas de oposição neste processo valores conservadores folcloristas nacionalistas e autoritários se combinavam com defesa do patrimônio construção de um mercado de bens simbólicos e valorização de temas que tinham muitos pontos em contato com o Nacional popular de esquerda sem contar com intelectuais orgânicos valorizados pela classe média intelectualizada o regime evitou se pautar por um estrito controle de conteúdo nos produtos e obras de arte estava mais preocupado com que não deveria ser dito do que com a construção de uma estética e de um temário oficiais lançou um canto de sereias artistas de oposição sobretudo no teatro e no cinema que não ficaram indiferentes Mesmo Sabendo dos riscos políticos de dialogar com um governo que prendia censurava torturava e matava em que peso esses esforços para construir uma política cultural positiva e proativa o regime militar brasileiro passou para a história como um regime que cerceou e controlou a expressão artística e cultural se existia uma política cultural que perpassou os governos militares ela pode ser resumida numa palavra censura como os artistas jornalistas e intelectuais foram os únicos atores sociais que mantiveram algum espaço de liberdade de expressão após o golpe A Nova Onda autoritária pós as 5 recaiu com especial vigor sobre eles na verdade no caso particular do teatro a atuação dos sensores era constante desde 1964 P2 67 a ação da censura e seus efeitos eram diferenciados conforme a área de expressão e a natureza da obra censurada entre 1969 e 1979 quando a censura foi mais rigorosa o teatro foi uma das áreas mais afetadas e como já dissemos não precisou esperar o ai5 para sofrer os rigores da censura foram cerca de 450 peças interditadas total parcialmente no cinema foram cerca de 500 filmes muitos estrangeiros 269 na música popular alguns compositores foram particularmente perseguidos como Chico Buarque Gonzaguinha Taiguara entre outros Mas mesmo com a abertura a censura de tipo comportamental não a receu na literatura propriamente dita a censura foi mais atuante a partir de 19 75 contradizendo a própria tendência de abertura do regime militar até porque o mercado editorial no Brasil conheceu uma grande expansão a partir da segunda metade dos anos 1970 no total cerca de 200 obras literárias foram proibidas paralelamente a esses procedimentos de vigilância e silenciamento das vozes da oposição cultural e política o regime militar desenvolveu um conjunto de política de incentivo à produção cultural chegando em algumas áreas a apoiar financeiramente a produção e a distribuição das obras como no caso do cinema essa tendência se incrementou a partir da segunda metade dos anos 1970 mas já se esboçava timidamente no final da década anterior algumas agências oficiais se destacaram nessa política de Promoção e distribuição da Cultura a embrafilme surgi em 1969 e o conine conselho superior de cinema em 1975 a primeira a princípio tinha a função de ajudar na distribuição de filmes brasileiros e com o tempo passou a apoiar também a produção lembramos que a distribuição dos filmes a chegada das cópias nas salas de cinema do Brasil e do mundo era o grande problema do cinema brasileiro desde os anos 1950 com com o mercado dominado por Leo de suas distribuidoras muitos filmes com um bom potencial de público simplesmente Não conseguiam competir com o cinema norte--americano porque sequer eram exibidos na maioria das salas de cinema ou promovidos de maneira eficaz quanto ao conine sua principal tarefa era normatizar e fiscalizar o mercado criando leis de incentivo e obrigatóriedade de exibição de um percentual de filmes brasileiros o mecenato oficial causou muita atenção no meio cinematográfico sobretudo depois da Adesão do grupo oriundo do cinema novo à política cultural do regime informado pela defesa do cinema brasileiro de um projeto de nação outra agência oficial que se destacou nos anos 1970 e realizou um importante trabalho de divulgação cultural foi osn serviço Nacional de teatro com inúmeras campanhas de popularização barateamento do ingresso e apoio direto à produção o scnt paradoxalmente contribuiu para divulgar uma das áreas mais perseguidas pela censura e não se pense que apenas peças oficiais eram apoiadas muitas peças de conteúdo crítico e atores ligados à oposição tinham o apoio do snut o caso mais famoso foi patética alegoria sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do dois exército em São Paulo a peça foi premiada pelo ecn mas a censura vetou a entrega do prêmio e a montagem a própria nomeação de Orlando Miranda empresário teatral que tinha o apoio de setores da classe artística para direção do snt em 1975 representou uma Complex e longa negociação entre profissionais de teatro e o governo federal a partir de 1973 p273 a princípio Pode parecer estranha e irracional a política cultural do regime militar por um lado censura e perseguição aos artistas e por outro apoio direto à produção cultural Nacional nesse sentido alguns pontos devem ser esclarecidos em primeiro lugar o apoio direto à cultura nacional cresceu à medida que a censura ficou mais Branda a partir de 1975 sugerindo com isso uma espécie de corolário da política de abertura lenta gradual e segura do governo 1974 a 1979 lembramos que esse governo tinha uma política de distensão em relação aos artistas e jornalistas como forma de diminuir o isolamento junto à opinião pública de classe média das grandes cidades brasileiras leitora de jornais e consumidora de produtos culturais a derrota surpreendente do partido oficial Arena Aliança Renovadora Nacional nas eleições de 1974 havia deixado o governo perplexo com o comportamento do eleitorado das grandes cidades e aproximação com a imprensa e os artistas era um canal importante de comunicação entre estado e sociedade em segundo lugar devemos ter em mente que alguns governos militares como do General gaiser apesar de em linhas Gerais aprofundar os Eros econômicos com o capitalismo internacional desenvolvi uma política na analista em vários setores a cultura era um deles pois era vista pelos militares como um meio de integração nacional independentemente do conteúdo das obras o fato de uma produção Nacional na música no teatro no cinema conseguir formar um público representava a manutenção de um espaço importante perante a invasão cultural estrangeira sobretudo norte-americana cuja força Econômica era avassaladora apesar de toda a perseguição setores da esquerda nacionalista ligada ao PCB vislumbraram elementos positivos nesta política cultural nacionalista em terceiro lugar havia uma contradição entre os diversos órgãos e agências do governo enquanto os órgãos militares e de segurança mantinham uma lógica de controle repressão e Vigilância muitos órgãos da cultura eram dirigidos por pessoas ligadas às Artes e ao meio intelectual sobretudo após 1975 como Roberto Farias na embrafilme e Orlando Miranda no snt esses nomes eram elos entre o estado e a classe artística desempenhando um papel de mediadores das tensões entre um e outro além disso O mecenato Cultural era um importante dispositivo do governo para tentar cooptar opositores e mantê-los sob controle mesmo permitindo certa liberdade de expressão em suas obras a tentativa de dotar de maior organicidade a política cultural do regime militar e sistematizar aproximação com os artistas e intelectuais ficou Clara no documento intitulado Política Nacional de Cultura publicado pelo Ministério da Educação e Cultura MEC em 1975 e elaborado sob a coordenação de Afonso Arinos de Melo Franco a pedido do ministro Nei Braga tem o papel de vigilante do estado que deveria zelar pelo Bom Gosto na programação dos meios de comunicação e na produção artística palavras que facilmente derivavam para censura pura e simples por outro enfatizava a necessidade de proteger a cultura nacional do colonialismo disseminado pela indústria cultural que ameaçava descaracterizar o homem brasileiro curiosamente essa mesma indústria cultural crescia Passos Lagos favorecida pela política de desenvolvimento econômico e pela expansão do mercado realizado pelo próprio regime Além disso o Tom nacionalista e crítico em relação à cultura de massa acabou por agradar alguns setores da esquerda que apesar de inimigos ideológicos do regime aplaudiram a preocupação do governo gaisa em relação a estes pontos sobretudo os artistas que não tinham espaço no mercado acabaram por vislumbrar uma possibilidade de o estado contrabalançar A Supremacia das empresas privadas nacionais e multinacionais na área cal artistas conhecidos pela sua verve crítica ao poder chegaram a elogiar o governo militar os casos que mais geraram polêmica na opinião pública foram as declarações elogiosas a Gais eig berid do Couto e Silva o estrategista da abertura feitas por gul alber Rocha e Jardes Macalé ao lado da criação da Funarte em 1975 uma fundação de incentivo à produção artística e à conservação do patrimônio cultural Nacional folclórico e histórico A Política Nacional de Cultura foi o grande acontecimento da política Cultural de 1975 isso não significa que a censura Implacável a cargo do Departamento de Polícia Federal de epf tivesse acabado embora mais Branda do que no final do governo Mice 1972 até o início de 1974 a censura oficial prévia se fez presente até 1979 quando foi praticamente extinta como parte da agenda de abertura do regime de transição para o governo civil um movimento cultural significativo na cultura brasileira gestado fora das correntes consagradas nos anos 1960 foi protagonizadas pelos chamados Independentes ou alternativos a Rigor o uso da expressão movimento era mais aplicável em relação aos músicos estes no no final da década de 1970 e sobretudo a partir de 1979 conseguiram ocupar a mídia e chamar a atenção da crítica musical com sua palavra de ordem contra todas as ditaduras a ditadura política e a ditadura do mercado mas além do campo musical podemos localizar entre 1977 e 1985 o auge de uma significativa cultura independente ao alternativa que reprocesso o legado da contracultura do final dos anos 1960 e se manifestava não só nas artes mas em posturas comportamentais diante da nova conjuntura social e cultural que o país atravessava marcada por alguns elementos básicos o clima de abertura política a presença avassaladora de uma indústria cultural cada vez mais sofisticada e as novas perspectivas libertárias antiautoritárias abertas pelo partido dos trabalhadores partido de esquerda fundado em 1980 com grande poder de atração junto à Juventude e Universitária o meio social Universitário era a base da cultura alternativa e sofrera nos anos 1970 uma grande expansão incluindo cada vez mais jovens da classe média baixa bastante influenciados pela indústria cultural essa nova Juventude Universitária era marcada por um conjunto de atitudes des ambíguas e até contraditórias recusa e ao mesmo tempo a aceitação dos produtos e linguagens da cultura de massa uma atitude política oscilando entre a vontade de participar e discutir os temas nacionais e certo descompromisso em nome da liberdade comportamental e existencial o culto individualidade e as relações privadas e afetivas em detrimento das imposições coletivistas que até então marcavam a cultura de esquerda o curso ao humor e ao deboche como formas de crítica social a perda de referenciais de mudança revolucionária da realidade social em nome de uma revolução individual que muitas vezes caía num vago autoconhecimento psicologizante ou num esoterismo Místico outra marca dessa geração era a busca por novos espaços de formas de participação política como os movimentos de minoria o movimento Ecológico e os movimentos culturais o movimento dependente e alternativo tinha inúmeras facetas e é até arriscado propor uma interpretação histórica muito panorâmica mas efetivamente parece ter ocorrido uma convergência de características culturais e comportamentais que marcou uma geração de jovens do final dos anos 1970 e início dos anos 1980 que havia crescido sobre a ditadura sob o A5 e mesmo possuindo o natural desejo de participação até porque a ditadura ainda era uma realidade contundente viam seus caminhos cerceados e limitados seja por fatores políticos seja por fatores econômicos o movimento foi particularmente forte em São Paulo onde até um bairro inteiro se notabilizou como centro geográfico da vida independente e alternativa a Vila Madalena ao lado do tradicional bairro do bexiga eram os centros da Boémia alternativa a Vila concentrava a população estudantil de São Paulo dado a sua proximidade com a Cidade Universitária e por causa dos seus outrora aluguéis baratos bares escolas livrarias repúblicas estudantis e de artistas dividi espaço com famílias de classe média e velhos moradores criando uma paisagem Urbana acolhedora e aconchegante numa época em que a cidade passa por mudanas Profundas com bairos inteiros sendo destruídos pela especulação imobiliária em outras capitais como Rio de Janeiro Belo Horizonte e Curitiba os movimentos de música teatro e poesia alternativos também tinham um espaço significativo da vida cultural e Urbana culturalmente falando Os Independentes seguiam a tradição dos Malditos e do desbunde marcas da cultura jovem underground do início dos anos 1970 a abertura para o humor a Dias formas e recusa dos grandes esquemas de produção e distribuição do produto cultural foram incorporadas como heranças do início da década na música por exemplo os cantores e instrumentistas optavam por gravar discos à própria custa em pequenos estúdios e distribuí-los em lojas pequenas ou de porta em porta na poesia essa atitude de despojamento e recusa viu-se traduzida pela geração mimeógrafo que sem dinheiro para imprimir seus Liv livros em gráficas industriais utilizava-se dessa engou cab barate caseira para rodar seus romances e poemas e distribuí-los pela cidade grupos de teatro amador ocupavam os espaços dos campi universitários dos teatros decadentes dos centros urbanos ou realizavam Apeninos em bares e nas ruas em todas as áreas algumas características eram comuns a busca da linguagem despojada e espontânea a recusa ao esquema espcial de gravadoras e editoras uma postura política o recurso ao deboche e a linguagem do kit ma goosto a tentativa de romper as fronteiras entre estilo de vida autoconhecimento e experiência estética na poesia nomes como Paulo Leminski Alice Ruiz PR cacaso Chacal e Ana Cristina César Rio de Janeiro entre outros encarnaram o jovem Poeta dos anos 1970 com uma produção já destacada desde o início da década so a inspiração de Torquato Neto companheiros dos tropicalistas em 1968 e ali Salomão me segura que eu vou dar um troço 1972 a poesia jovem ganhou a mídia e as ruas na segunda metade da década os sinais de vitalidade e presença da poesia jovem brasileira 274 eram muitos dezenas de revistas áreas artesanais em praticamente todos os estados brasileiros pequenas editoras caseiras feiras poéticas e outros eventos grupos especializados em happening e declamação como nuvem Cigana no Rio de Janeiro e o poet zia em São Paulo no início dos anos 1980 essa febre de poesia e literatura é jovem e alternativa chegou às grandes editoras em São Paulo a Brasiliense saiu na frente organizando coleções de poesia e prosa cantadas literárias e traduzindo clássicos da literatura jovem como osbe Nicks norte-americanos dos anos 1950 e 1960 na música A Febre independente alternativa foi maior ainda desde as polêmicas participações do músico arrigo Barnabé e a banda Sabor de veneno no festival Universitário da TV Cultura 1978 e no festival de MPB da TV tup de São Paulo 1979 a música independente ganha destaque na mídia propondo uma linguagem poética e musical anticonvencional e mesclando música erudita de Vanguarda rock MPB a nova música também conhecida como Vanguarda Paulista parecia retomar as experiências mais radicais do tropicalismo que a anb mais aceita no mercado tinha deixado de lado a Rigo era o mais destacado e cultuado artista do movimento compondo e interpretando peças individuais e óperas Pops como o antológico long ply Clara crocodilo sem tema melódico reconhecível consideradas pela crítica beirando atonalismo sem eixo harmônico Central trabalhadas a partir de arranjos ousados e inovadores com letras inspiradas em histórias em quadrinhos e programas de rádio numa outra perspectiva esteticamente tão inovador quanto a Rigo Barnabé desenvolvendo uma proposta de fusão entre Palavra Falada e melodia o grupo rumo Luis Tati naos skind também marcou a época realizando um dos trabalhos mais senais da MPB Embora tenha permanecido pouco conhecido do grande público vindos de Mato Grosso TT Espíndola e o lírio selvagem Almir Sater traziam a contribuição da música pantaneira para o cenário da Vanguarda Paulista na virada da década Itamara sumps autor de letras criativas colocadas em músicas que fundiam o samba o pop o regai seguiria uma carreira bastante aclamada pela crítica musical no Rio de Janeiro a música independente aglutinou grupos e músicos individuais importantes O Pioneiro foi Antonio Adolfo que produziu o primeiro liip independente da hisa propriamente chamado feito em casa 19 77 lully lucina dupla de cantoras compositoras e instrumentistas os grupos antena coletiva e a barca do Sol que revelaram os talentos da cantora Olívia bton e do violoncelista Jaques morelenbaum e o grupo de maior sucesso do movimento independente o Boca livre Zé Renato Cláudio nuti Maurício Maestro David G formado em 1978 e que explodiu em 1900 com LP que vendeu mais de 80.000 cópias feito notável para um álbum que não teve o apoio de uma grande gravador e distribuído de porta em porta mas a música independente não foi privilégio de Rio de Janeiro e São Paulo nomens importantes surgiram em Minas Gerais com destaque para a cantora Titan de Belo Horizonte e artistas ligados ao vigoroso movimento cultural do Vale do Jequitinhonha no Ceará malo e Miranda tornou-se referência na coleta e gravação de cantos indígenas na Bahia onde a música de carnaval sempre teve um vigor próprio independente antes de ser descoberta pelo Brasil entre outros estados em Pernambuco e na Paraíba o movimento armorial criado em 1970 por Ariano Suassuna atravessava a década mesclando o folclore musical com a música erudita somando-se a inúmeras iniciativas culturais locais no teatro na poesia no artesanato e na música popular sobretudo que marcavam a vida daqueles dois estados desde o início da década de 1960 a primavera cultural brasileira não sucumbiu aos tempos invernais do ai5 involuntariamente a censura a repressão e o controle social e político acabaram por dar uma importância Renovada à Vida cultural espaço no qual a expressão crítica mesmo que alegórica ou metafórica ainda era possível convivendo com o mercado a sombra delou completamente inserida nas grandes estruturas de produção a cultura brasileira de viés crítico esquerdista foi uma espécie de educação sentimental dos jovens sobretudo na direção de valores Democráticos e libertários se não fez a revolução nem derrubou a ditadura com a força das canções filmes e peças alimentou a pequena Utopia democrática que ganharia as suas idad e o Tom das lutas civis a partir de meados dos anos 1970 letras em rebeldia intelectuais jornalistas e escritores de oposição a partir de 1964 o mundo intelectual brasileiro tornou-se um espaço de oposição à ditadura Ora mais radical Ora mais moderada criou-se uma relação quase automática entre o ser intelectual socialmente reconhecido como tal e ser de oposição talvez possamos questioná-la a partir de uma análise Ampla e rigorosa dos fatos posto que havia muitos intelectuais a serviço da ditadura seja na condição de burocratas do setor cultural seja na condição de tecnocratas da área de planejamento e economia por exemplo é inegável entretanto que boa parte dos intelectuais brasileiros foi crítica ditadura frequentemente se apoiando em valores e tradições de esquerda ser intelectual de esquerda definir a essência do etos oposicionista ao regime militar e em que Pese essa aparente homogeneidade ideológica do mundo intelectual nele se ocultava uma ampla Gama de ideias correntes e posições políticas o intelectual de que tratamos neste capítulo pode ser definido a partir do manejo profissional da palavra e do pensamento um elo comum presente em vários ramos de atividade profissional que inclui a pesquisa acadêmica a do no ensino superior os estudantes universitários o jornalismo profissional militante ou partidário a escrita literária profissional cada campo de atividade experimentou convergências e particularidades na construção desta identidade intelectual que marcou o campo oposicionista ao regime e que sempre se constituiu em um desafio para que os Generais no poder pudessem consolidar sua legitimação simbólica e política perante a sociedade como um todo os artífices militares e civis do golpe militar de 1964 esperavam contar com boa parte das elites intelectuais na tarefa de conter as massas ignaras e as lideranças irresponsáveis que agitavam o ambiente antes mesmo do fatídico 31 de Março muitos jornalistas professores e escritores aderiram à conspiração antol mas a mesma imprensa Liberal que apoiou o golpe alguns dias depois já dava espaço a críticas direcionadas aos novos donos do Poder sobretudo porque perceberam a imposição de um projeto político que i além da mera intervenção cirúrgica para depurol e afastar os esquerdistas do coração do Estado as perseguições efetuadas no mundo das ideias acendeu o alerta de várias consciências liberais sobre o caráter do novo regime Nesse contexto por exemplo surgiu a noção de terrorismo cultural que seria importante para legitimar ao posição intelectual no imediato pós-golpe foi um católico Liberal ao seu Amoroso Lima indignado com as perseguições no meio Universitário como as demissões de Celso Furtado anisil Teixeira e Josué de Castro dos seus postos públicos quem forjou a senha inicial para a resistência intelectual ao regime a cunhar a expressão terrorismo cultural Lima no começo dos anos 1960 já não era mais o intelectual católico erudito e reacionário dos anos 1920 que assinava sob o pernóstico nome de Tristão de Ataide convertido ao liberalismo produziu reflexões bastante lúcidas sobre o processo de radicalização política em curso nos anos 1960 P 277 ao disseminar a expressão terrorismo cultural ao seu Amoroso Lima captou um sentimento coletivo de importantes setores da classe média sintetizando a denúncia dos abusos e arbitrariedades do Novo regime sob uma perspectiva insuspeita pois seu anticomunismo era notório em t tipicamente liberal e afeito a tradição da cordialidade ao seu apontava que ponto 279 o terrorismo também anti brasileiro e por isso mesmo a forma que vem assumindo entre nós ainda assume os aspectos mais suaves e indiretos Como por exemplo o terrorismo cultural a guerra às ideias AG orora quando pretendemos ter feito uma revolução democrática começam logo com os processos mais antidemocráticos de caar mandatos e suprimir direitos políticos demitir professores e juízes prender estudantes jornalistas e intelectuais em geral segundo a tática primária de todas as revoluções que julgam dear pela força o poder das convicções e a marcha das ideias os nossos jornalistas professores estudantes sacerdotes intelectuais filósofos ainda presos entre nós estão sendo vítimas deste terrorismo cultural tanto mais abominável quanto mais disfarçado e tão profundamente anti brasileiro para ele A Perseguição aqueles que tinham ideias contrárias ao regime fazia com que atores sociais que deveriam ajudar a construir a nacionalidade Sob Nova Direção estudantes jornalistas filósofos sacerdotes dela se afastassem perseguições feitas por um governo presidido pelo General Humberto de Alencar Castelo Branco que justamente orgulhava-se de ser um intelectual fardado amigo de escritores cuja imagem pública tentava afirmar como um Liberal da caserna outro escritor mais a esquerda e heterodoxo em suas filiações políticas que produziu um corpo importante de críticas iniciais ao regime foi Carlos kuni A balbúrdia Festiva dos quartéis e o aplauso geral da classe média aos militares ainda estavam vigorosos quando o escritor lançou um conjunto de crônicas posteriormente publicadas em livro que se constituiam em grande sucesso editorial As Crônicas de coni foram publicadas entre abril e dezembro de 1964 no jornal carioca Correio da Manhã servindo não apenas para fixar o seu autor nos anais da história da resistência ao regime como também para consolidar a imagem de um jornalismo crítico liberal e independente que acabou por se consagrar posteriormente na memória social em que Pese o apoio geral da Imprensa ao golpe lembremos que o MMO Correio da Manhã havia veiculado dois editoriais violentíssimo contra o agonizante governo João gull os famosos basta e fora escritos pela equipe de editores da qual fazia parte o mesmo Carlos Heitor coni e que serviram de de 100 Il legitimação para o Levante militar corne não escondia sua antipatia política pelo governo deposto aliado a este fato sua independência partidária e seu individualismo crítico exercitados com uma corajosa virulência ajudaram a disseminar e legitimar as duras críticas que fazia o novo regime em uma de suas primeiras crônicas dizia não pedirei licença na praça pública ou na Rua da Relação da polícia política no Rio de Janeiro para pensar nem muito menos me orientare pelos pronunciamentos dos líderes civis ou em cvis do movimento vitorioso 282 na mesma crônica lança um apelo apelo aos meus colegas de profissão os que escrevem os que exercem atividade intelectual os que ensinam e os que aprendem não é hora para o medo marquemos cada qual Nossa posição 283 imagens semelhantes se sucederiam em suas crônicas que sempre faziam apelos à liberdade de pensamento e opinião bem como exortavam os intelectuais como os personagens principais da Resistência após a promulgação do ato institucional em 9 de Abril de 1964 corne denunciava que o regime preparava outro Ato punitivo dos delitos de opinião reiterando o papel dos intelectuais e através da palavra e pronunciando a Clara e corajosamente sem medo que podemos unir contra todos os animais que para sobreviverem exalam mau cheiro mudam de feite e cor usam chifres e patá 284 em Maio de 1964 cony escreveu em uma de suas crônicas mais famosas acredito que é chegada a hora dos intelectuais tomarem posição em face do regime opressor que se instalou no país reafirmando os intelectuais como consciência da sociedade coni escreveu se diante de crimes contra a pessoa humana e a cultura os intelectuais não moverem um dedo estarão abdicando de sua responsabilidade na mesma linha de crítica de ao seu Amoroso Lima mas com mais pimenta nas palavras denunciava a perseguição a sacerdotes professores estudantes jornalistas artistas economistas e reafirmava no campo damente cultural implantou-se o terror 285 tanto ao seu Amoroso Lima com seu liberalismo baseado numa ética de responsabilidades quanto Carlos Eitor coni em seu existencialismo individualista e libertário lançaram bases simbólicas importantes que perdurariam na memória da Resistência cultural contra o regime a a ditadura era contra cultura b a ditadura era legítima sobretudo porque tentava proibir os atos de pensamento c a ditadura perseguia Quem deveria ajudar a reconstruir o Brasil ou seja os intelectuais até então sócios do Estado nos projetos políticos nacionais ponto 286 d a ditadura ao implantar o terror cultural erudi a sua base de sustentação na classe média que grosso modo havia prestigiado o golpe a imagem do terror cultural como elemento de reticul ação da oposição ganhou força e foi reiterada no Manifesto de 14 de Março de 1965 publicado no Correio da Manhã veiculado como uma verdadeira plataforma da oposição que se rearticulação das liberdades democráticas 287 o que não deixa de ser surpreendente para um dos jornais mais combativos a favor do golpe dado havia um ano o documento ainda se posicionava contra a restrição dos direitos individuais contra a delação violência e tortura contra o obscurantismo e o terror cultural pelas garantias irrestritas ao direito de opinião Associação reunião e propaganda pela libertação dos presos políticos pela suspensão da intervenção em sindicatos de diretórios estudantis e pelo respeito à liberdade de cátedra e autonomia universitária O Manifesto era apoiado por 107 Ass uras de intelectuais oriundos de diversas correntes ideológicas reunindo liberais como ao seu Amoroso Lima Barbosa Lima sobrinho Oto Maria carpo Hermano Alves trotskistas como Paulo Francis e Mário Pedrosa trabalhistas de esquerda como Antonio Calado e Flávio Tavares comunistas como Dias Gomes Joaquim Pedro de Andrade Nelson Pereira dos Santos Óscar niema e sergil Cabral o leque de de apoiadores à prova da capacidade aglutinadora da Resistência cultural argamassa que uma aliança política estrita tem sempre mais dificuldade em lograr outro teste importante que sintetizou o clima de perseguição ao meio cultural nos primeiros tempos do regime foi o artigo de Márcio Moreira Alves que logo depois seria eleito deputado federal e ficaria notabilizado em 1968 como pivô da crise política que culminaria no A5 o artigo era intitulado delito de opinião e foi Public no Correio da Manhã em 24 de junho de 1964 ele começa fazendo referência ao apelo do General goir do Couto e Silva ólogo do regime militar que afirmara que a revolu não pode se alienar da Inteligência Alves prossegue e os demais revolucionários pensantes civis e militares indagam com ingua perplexidade aaz da generalizada a condenação que sofrem a resposta é simples continua a imperar o terror ideológico em todas as Universidades do país ninguém sofre de bom grado a prepotência policialesca Enquanto houver penas para delito de opinião os que têm opinião não podem apoiar o governo a defesa da liberdade de opinião e a denúncia do terror cultural tinham a vantagem de operarem num território até então considerado como convergente a cultura visto como um valor em si como instrumento da grandeza Nacional também tinham a vantagem de contornar a delicada questão da Defesa do governo deposto tema que certamente dividiria a oposição ao regime que se forjava contornando também a exortação aos movimentos e organizações de trabalhadores que certamente não contaria com a anuência dos liberais tradicionalmente antipopulares e marcados pelos valores oligárquicos assim percebida como legítim e como espaço de convergência de diferentes atores ao se encaminharem para o campo da oposição ao regime militar a resistência cultural seria incorporada e reverberada por outros grupos ideológicos sobretudo pelos comunistas em sua busca da unidade das oposições democráticas a cultura parecia o terreno inequívoco para afmar Tal estratégia de unidade em Maio de 1965 Nelson ernex Sodré historiador militar identificado com o PCB publicou um longo artigo 288 no primeiro número da revista civilização brasileira 289 listando as violências contra a cultura desde o golpe militar não por acaso o artigo intitulava-se o terrorismo cultural demonstrando como a expressão se plasmar como eixo da Resistência fazendo convergir liberais e comunistas nesse texto sodr reafirma os Person im agens da Resistência cultural apelando para a luta contra o regime como uma defesa dos princípios gerais da liberdade de pensamento que além de qualquer simpatia pelo projeto reformista ou pelo comunismo em si mesmo ajudando a parar as diferenças ideológicas de Base a defesa da Cultura como Campo privilegiado de ação poderia ser a trilha para a unidade das oposições e para a reconquista dos liberais desgarrados da Via democrática uma vez que foram seduzidos pelo autoritarismo de crise que os levou a apoiar o libertis sdio de março de 1964 afasta-se Sutilmente das posições defendidas por liberais como limoni ao redimensionar o papel dos intelectuais menos como expressões de valores individuais e mais como canais da expressão das ideias e sentimentos difusos da coletividade para os que pretendiam acabar com a agitação a solução parecia Clara a amordaçar os agitadores Essa foi a crença ingênua que fundada no medo moveu os atentados cometidos contra a cultura em nosso país desde os idos de abril de 1964 como a agitação continuou muitos dos simplistas a esta altura terão verificado que a agitação não deriva de atos de vontade mas da própria realidade os intelectuais não aerem apenas a refletem em que peso e as suas dienas em relação aos liberais Sodré reiterava o personagem central da Resistência naquele momento os intelectuais escrevia ele a verdade felizmente é que os intelectuais portaram-se muito bem os que tinham uma coluna tomaram posição contra os atentados à cultura a maioria porém não tinha Onde escrever a maioria estava foragida presa exilada valorizando o papel da Cultura em em termos genéricos fazendo a ponto de convergência das várias oposições ao regime conclui o que existe hoje Neste País é um imenso gigantesco ignominioso inquéritos policial militares contra a cultura 291 justamente em Maio de 1965 o PCB de sodr se posicionou oficialmente sobre o novo contexto político através da resolução de Maio definiu o caráter da ditadura antinacional antidemocrática entreguista reacionária e denunciou que sua política econômica subordinada e completamente ao imperialismo norte--americano eraa aliva à burguesia Nacional portanto op pkb reiterava sua política frentista lançada oficialmente em 1958 adaptada aos Novos Tempos autoritários assim enfatizava a necessidade de isolar a ditadura agregando as forças antiditatorial pela Unidade de ação a resolução de 1965 incorporava a imagem consagrada pelo texto de ao seu Amoroso Lima enfatizando a cultura e como um dos Campos de combate da oposição os intelectuais se arregimentando contra o terror cultural e para exigir a restauração das liberdades democráticas e a retomada do desenvolvimento econômico do país dos 1992 a aproximação com os intelectuais era fundamental para legitimar a luta Ampla pelas liberdades democráticas eixo privilegiado de ação contra a ditadura o documento é explícito neste sentido a formação desta Ampla frente de resistência oposição e combate à ditadura será possível através da luta pelas liberdades democráticas inseparável de todas as demais 293 reivindicações constitu e por isso mesmo a mais Ampla e mobilizadora o Manifesto dos 1500 intelectuais e artistas pela Liberdade Correio da Manhã 30 de maio de 1965 foi um dos documentos mais contundentes desse primeiro fren ismo intelectual de oposição e afirmava a vocação da resistência dos artistas e intelectuais em discurso endereçado ao presidente da república senhor presidente os intelectuais e artistas brasileiros temem pelo destino da arte e da Cultura em Nossa pátria neste instante ameaçada no que tem de fundamental a liberdade estamos conscientes do papel que nos cabe na sociedade brasileira e da responsabilidade que temos na representação dos Sentimentos mais autênticos do nosso povo como desempenhar este papel e exercer esta responsabilidade se direito à opinião e a divergência democrática passam a ser encarados como delito e a criação a artística como ameaça ao regime a linguagem nacionalista e o papel do intelectual como aralto da sociedade dão a tônica do documento revelando a permanência da autoimagem do intelectual artífice da Nação mesmo que as condições políticas fossem diferentes após 1964 o protesto na frente do Hotel Glória no Rio de Janeiro 9 de novembro de 1965 tornou-se um dos atos civis da Resistência intelectual mais notórios daqueles primeiros tempos do regime alguns intelectuais e estudantes protestavam contra a reunião da organização dos Estados americanos oa sediada naquele hotel vista como braço de intervenção dos Estados Unidos na América Latina perspectiva aliás comprovada pela intervenção militar na República Dominicana para combater o movimento popular de apoio ao presidente reformista Juan buch eleito em 1900 63 derrubado no mesmo ano por um golpe militar a intervenção composta por 10000 militares brasileiros ao lado dos 21.000 marinir norte-americanos Foi comandada por um general brasileiro Hugo Alvim sendo devidamente sancionada pelo e o ato de protesto culminou na prisão de oito intelectuais por uma semana que ficaram conhecidos como os oito do Glória tornando-se símbolos do ativismo intelectual contra o regim as faixas por eles carregadas abaixo a ditadura e viva a liberdade tornaram-se emblemáticas da voz geral da Resistência vestidos a caráter de terno e gravata com o Falte para um intelectual da época foram todos presos após certa perplexidade das autoridades que não sabia muito como agir contra aquele estranho grupo de senhores engravatados eram eles Glauber Rocha Joaquim Pedro de Andrade Mário Carneiro fotógrafo cinematográfico o embaixador Jaime Azevedo Rodrigues afastado do Itamarati por suas simpatias a Cuba o diretor teatral Flávio Rangel e os jornalistas Carlos Heitor coni Antonio Calado e Márcio Moreira Alves em princípio o ato em si foi um fracasso conforme Antonio calado declarou posteriormente eu estava pensando que fossem aparecer pelos menos uns 100 intelectuais e artistas a apareceram oito tinha um pouco mais que desapareceram antes de a gente ser preso 295 De toda forma o que tinha tudo para ser um ato brancale de protesto ganhou repercussão na imprensa e acabou por aliviar a repressão que os setores mais duros do regime queriam aplicar aos presos em certo sentido ficava provada a capacidade da Resistência cultural em potencializar a ocupação do espaço público nesse caso materializado pela ocupação da rua ainda que por um pequeno mas eloquente grupo de pessoas Esse aspecto não passou despercebido para os militares numa Clara sugestão para apertar o Seco aos intelectuais percebendo que o espaço da cultura e das Artes se articulava contra o regime o texto do inquérito policial militar 709 conhecido como inquérito policial militar Do PCB afirmava a infiltração Comunista no meio intelectual é extremamente variada em seus agentes e suas formas existe um certo número de elementos que pertencem aos quadros partidários há também numerosos escritores artistas jornalistas professores que trabalham em proveito do partido sem exercerem uma militância ostensiva isso lhes dá grande Independência e flexibilidade de ação permitindo-lhes atuar em várias frentes legais e semila sem se exporem a sanções jud iis nem a disciplina partidária conclui em t Sutilmente lamentoso de um modo geral a maioria destas pessoas escapou à sanções da revolução de 31 de Março em outras palavras o terrorismo cultural sob o ponto de vista do regime nem mesmo havia começado apesar da gritaria geral mas que ninguém duvidasse para a repressão a hora dos intelectuais e dos Artistas não tardaria chegar o ato institucional número 5 promulgado em 1968 foi considerado um golpe dentro do golpe fazendo com que a repressão se tornasse mais direta e ampla se a perseguição ao meio intelectual não era novidade ela conheceria uma nova escala e novos meios de ação repressiva como a censura e a vigilância policial constante a onda de punições impostas pelo regime em 1969 por exemplo teve como foco o mundo acadêmico concentrando a maior parte dos 180 professores cassados ou punidos de alguma forma pelo regime para os intelectuais que se envolveram com a luta armada e com as organizações clandestinas de esquerda a prisão tortura e mesmo morte passaram a fazer parte da experiência sob o autoritarismo o exílio também foi marcante para muitas trajetórias intelectuais tanto no ciclo punitivo de 1964 quanto no 1969 a 1970 P 298 A5 o acirramento da censura e o novo ciclo de punições a docentes em universidades públicas reforçaram a sensação de fechamento de um espaço público e de um tipo de ação intelectual que era relativamente vigoroso desde o golpe de 1964 até 1968 intelectuais engajados de Formação humanista genérica ligados ao mundo da crítica das Artes e das Letras eram os protagonistas principais da Resistência cultural materializada em um sem número de artigos manifestos políticos e culturais que tinham a imprensa como principal veículo a partir de 1969 entrou em seno intelectual acadêmico e profissional ligado organicamente ao mundo das Universidades espaços que ainda possuíam alguma margem de ação para o intelectual de oposição a ainda que sob o manto nem sempre acessível ao grande público dos artigos acadêmicos considerado fundamental no projeto de desenvolvimento nacional dos militares o ensino de graduação e de pós--graduação foi incrementado como nunca a partir do final dos anos 1960 a graduação deveria gerar os quadros de gerenciamento técnico e burocrático tanto no setor público quanto no privado fundamentais para a nova etapa de desenvolvimento capitalista que se desenhava em 1980 eram cerca de 8.2 milhões de trabalhadores nessa grande área quase 20% da população economicamente ativa em 1960 18.8550 e 227 97 1980 a pós-graduação também foi incrementada em 1969 havia 93 cursos de mestrado e 32 de doutorado no Brasil passando a 717 257 respectivamente 10 anos depois 299 os números são claros o regime militar expandiu o ensino superior sobretudo de caráter público na expectativa de geração de quadros superiores e de pesquisa associada ao desenvolvimento Nacional ao fazer-lo porém incrementou as bases sociais do Meio intelectual que em linhas Gerais alimentava uma identidade oposicionista e de esquerda já foi dito que o estado maior deste partido intelectual de oposição eram os intelectuais docentes e pesquisadores de maior prestígio social e institucional enquanto os estudantes eram sua guarda avançada 300 estímulo à profissionalização das atividades intelectuais seja no âmbito das Universidades seja na indústria da cultura mídia editoras publicidade entre outros ramos criou uma situação paradoxal pois esse núcleo social da oposição ao regime estava organicamente ligado ao processo de modernização imposto pelos militares não é possível compreender a resistência cultural e e artística no Brasil da ditadura sem levar em conta este dado isso não impediu que as vozes dos intelectuais fossem vigorosas críticas da ditadura o que se viu nos anos 1970 é que o debate intelectual extrapolou o meio acadêmico interveio na agenda política e ideológica lançando novas bases para pensar o processo político social e econômico do Brasil partindo de agendas de pesquisa calcadas em debates teóricos sof ados inacessíveis ao público Lego novas palavras de ordem ou novas estratégias de ação e crítica ganhavam o debate público dentro do campo intelectual uma viragem tornou-se cada vez mais clara o intelectual engajado generalista formado na órbita da igreja católica ou do Partido Comunista atuando na imprensa diária ou associado à burocracia Federal da cultura estava sendo paulatinamente superado por um novo tipo de intelectual especialista e profissionalizado outra diferença dos anos 1970 é que o tipo de intelectual que se considerava sócio do estado e intérprete da Nação para superar o atraso e o subdesenvolvimento tal como se afirmara por exemplo nos Marcos do Instituto Superior de estudos brasileiros isb 302 dava espaço ao intelectual crítico sempre desconfiado do Estado das instituições e valores dominantes e da burguesia que se via mais como porta-voz da sociedade civil o centro brasileiro de análise e planejamento Sebrap foi a face mais visível desta nova postura crítica do intelectual criado em 1969 tendo à frente Fernando Henrique Cardoso e José Artur janotti o Sebrap reuniam em se cultura da pesquisa e do Rigor teórico exercitados na faculdade de Filosofia letras e ciências humanas da universidade de São Paulo 303 com a vantagem de não ter que se submeter às restrições de uma burocracia acadêmica em parte afinada com o regime nos primeiros anos o dinheiro para sustentar a empreitada veio da fundação ford com sede nos Estados Unidos o que os mais radicais consideravam dinheiro sujo do imperialismo a consolidação da reputação acadêmica do centro permitiu a diversificação do financiamento a agenda proposta pelo brap desviou-se da herança nacionalista do isb do Partido Comunista calcada na visão do Brasil como uma nação alienada de si mesma na estagnação Econômica causada pela ditadura e na defesa da alianças de classe voltadas em nome dos interesses nacionais desenvolvimentistas a partir do Sebrap o Brasil passou a ser visto como resultado de um desenvolvimento econômico periférico dependente das economias centrais do capitalismo mas não menos vigoroso no campo político o centro dedicou-se a compreender criticamente o autoritarismo e as instituições do estado brasileiro problematizando a tese defendida pelo PCB de que o regime militar era um tipo de fascismo a brasileira não foi apenas o Sebrap que galvanizou a ação intelectual de oposição nos anos 1970 várias universidades também se tornaram espaços de reflexão crítica e pesquisa acadêmica destacando em Pontos específicos como exemplo podemos citar a críticas políticas econômicas do regime que tinham como epicentros do Instituto de Economia da Unicamp apuc do Rio de Janeiro a busca de um pensamento acadêmico organicamente ligado aos novos movimentos sociais que emergiam como a PUC de São Paulo e o cedec Centro de Estudos de Cultura contemporân fundado em 1976 a partir de pesquisadores saídos do brap como Francisco refort o Instituto Universitário de pesquisas do Rio de Janeiro e perge criado em 1969 na Universidade Cândido Mendes tornou-se referência na área de sociologia e Ciência Política também no Rio de Janeiro o grupo Casagrande animado por intelectuais ligados ao Partido Comunista Brasileiro renovavam o fren ismo Cultural de coloração Nacional Popular que tinha o Rio de Janeiro tradicionalmente seu Grande centro difusor entre 1974 e 1979 é perceptivo aproximação de todos esses núcleos de pensamento e crítica intelectual esboçando uma grande frente de oposição que não sobreviveria ao novo quadro político pós Anistia e pós-reforma partidária à volta dos exilados as leitoras diferenciada sobre o papel dos movimentos sociais no processo de transição a fragmentação de propostas partidárias à esquerda foram fatais para o partido intelectual que teve como sua última grande tentativa de ação comum a candidatura de Fernando Henrique Cardoso ao Senado em 1978 a literatura era historicamente a área de atuação do intelectual engajado por excelência que se utilizava de várias formas de escrita ensaio crônica contos romance para transmitir ideias e intervir no sobre a sociedade e as liberdades públicas não foi diferente no Brasil do regime militar apesar de outras áreas artísticas Como o teatro o cinema e a música popular terem maior destaque junto ao grande público na verdade um dos apelos dessas Artes ditas de espetáculo é que elas se tornaram mais literárias incorporando de maneira criativa em suas obras mais sofisticadas a tradição da literatura e culta da prosa e da poesia o romance pós-golpe expressou a crise e o dilema dos intelectuais dentro do contexto autoritário nesse sentido destacam-se dois romances canônicos pessach a travessia Carlos Heitor coni 1966 e quarup Antonio calado 1967 Em ambos o intelectual é forçado a despir-se de suas roupagens sociais e aderir à luta efetiva contra o regime o romance P através se a transformaria em matéria ficcional o exercício de liberdade crítica das Crônicas temperado pelo clima de radicalização da cont o regime que anuna com o chamado armas feito inicialmente pelos brisol no Liv umel existencial e libertá inicialmente crtic da armada acaba por Eng na Guerrilha como umber port tendo sua condição de intelectual e livre Pensador depois de vários episódios quase rocambolesc nos quais se destaca uma Improvável habilidade do personagem intelectual nas táticas de luta armada Sem falar na sua coragem Diante Do perigo o intelectual se mantém íntegro realizando sua passagem escolhendo o seu destino por opção e coerência de ideias ou seja mantendo sua independência intelectual Paulo Francis em então um intelectual de esquerda escreveu sobre o romance cony estabelece a absoluta incompatibilidade do intelectual com as linhas Mestres da sociedade brasileira o herói se contempla e vê o próximo com precisão e Lucidez mas não passa disto diante da solução revolucionária que lhe é proposta por dois tipos a quem despreza pessoalmente o protagonista manifesta um tom cético fundado não só em razões de temperamento como na descrença da viabilidade dos esquemas em Ação da esquerda local transmutando os impasses do personagem ficcional para a condição histórica efetiva dos intelectuais brasileiros ao se referir ao autor coni francisa remata seu individualismo continua intransigente mas ele incorporou a personalidade um senso impessoal de alternativa onde forças coletivas podem afirmar se os intelectuais são uma espécie de sismógrafo social em país subdesenvolvidos onde a maioria vive em condições adequadas era da pedra lascada eles são muitas vezes forçados a deixar seus gabinetes e agir como Vanguarda na humanização dos oprimidos nada mais distante portanto enquanto paradigma de intelectual engajado do outro romance de sucesso da época quarup de Antonio calado no qual intelectual representado pelo personagem do padre Nando se com as classes populares despojando-se das sutilezas e contorcionismos do pensamento especulativo para aderir à luta armada guiado pelo herói camponês mesmo Ferreira Gular ligado ao pcbi portanto pouco simpático a esta opção política reconhece que a dimensão política do livro Vai Além da questão estrita da luta armada ponto 38 pode-se discutir se o único caminho de Reintegração do intelectual Brasileiro ao seguido finalmente pelo padre Nando e mesmo se a melhor maneira de lutar contra a opressão é essa qual ele a dele mas este é o aspecto episódico da questão o fundamental é a afirmação implícita no romance de que é preciso deseducar se livrar-se das concepções idealistas alheias à realidade nacional para poder encontrar-se dentro do mundo que o romance define a realidade pessoal deságua no coletivo não se trata de apagar-se na massa mas entender que o seu destino está ligado a ela de encontrar um centro ao definir a trajetória do padre Nando gull define o ideal de resistência intelectual dos comunistas desviando a exortação política da luta armada que eventualmente poderia sobressair da leitura de quarup sintomaticamente os finais dos romances são bem distintos enquanto o personagem intelectual guerrilheiro de coni faz a Travessa para o interior de si mesmo reiterando sua luta é como opção individualista e libertária o personagem central de calado segue para o interior do Brasil guiado por um camponês dissolvendo sua individualidade na Terra e no povo pelo qual lutaria menos como opção e mais como o resultado de um processo de transformações coletivas na qual ele se dilui como indivíduo autocentrado Em ambos os romances Entretanto residia a falha trágica que deveria ser redimida a impossibilidade de permanecer ser na Torre de Marfim e que distante das lutas políticas terrenas lugar do intelectual tradicional a virtude do romance quarup e do senso crítico que lhe dava suporte não era narrar a luta armada e afirmar o intelectual como herói da Resistência como em pessach mas examinar o processo de adequação da Consciência do intelectual revolucionário aos Novos Tempos nesse processo reflexivo a própria figura do intelectual perdia sentido pois só valia-se diluída na luta maior que se travava para além da obra de arte a Guerrilha a própria sobrevivência das atividades de espírito impunha a resistência que mais do que política era vivida como uma afirmação ética entretanto como apontam as resenhas as duas saídas para a ação não resolvem os dilemas da intelectualidade confundida com a consciência crítica da Nação sob o autoritarismo ao contrário a a opção da luta armada explícitos dis sensos e dilemas internos a este grupo social autoimagem do intelectual como reserva ética política e moral da Nação já balada em psach quarup será duramente questionada pela própria literatura ao longo dos anos 1970 ajudando a redimensionar o seu papel no campo da Resistência cultural os fatores para essa mudança de configuração e posicionamento foram vários as dem do mercado A Crítica da contracultura jovem aos excessos de intelectualismo a crise das esquerdas derrotadas na luta armada o mecenato oficial as novas estruturas de oportunidade profissional nas universidades e na indústria da cultura esses fatores ao que parecem tiveram um efeito particularmente intenso na literatura uma arte que sempre foi vista como a expressão Mais sofisticada do intelectual exigir maestria no domínio da língua vernáculo e da escrita a crise do romance portando certa fragmentação da linguagem referenciada na realidade e do fluxo narrativo que lhe é própria é a expressão da crise do intelectual como homem de letras que consegue pensar o mundo como se estivesse fora dele isso se percebe Nos romances de Antonio calado dos anos 1970 Bard Don Joan 1970 e reflexos do baile 1977 ou na tentativa de um romance realista contracultural como se poderia notar em zero de Loyola Brandão lançado em 1974 na Itália em 1975 no Brasil mas proibido no ano seguinte até 1979 as grandes respostas literárias dos anos 1970 e a ditadura militar no campo da ficção retomaram a narrativa realista mas evitando uma visão UNISC do narrador tradicional trabalhando a como se fosse um documentário cinematográfico cujas expressões mais notórias e contundentes foramen câmara lenta de Renato tapajóz e a festa de evangelo 310 Em ambos o tema da derrota trabalhado pelo viest do martírio e solidão do guerrilheiro herói em câmara lenta ou da impotência e covardia da sociedade como um todo diante do autoritarismo a festa apresenta-se como ruptura com a boa consciência literária do intelectual que esteve na base da Gênese do conceito de resistência cultural nesses livros não resta nem a intelectual despir-se o reinventar-se e se tornar guerrilheiro a violência absoluta e a mediocridade dos algos são impositivas e determinantes da nova realidade social obviamente a literatura do período vai além destes temas constituindo-se igualmente em reflexão sobre a violência das relações sociais e políticas potencializadas pela experiência autoritária e nítida influência de outras linguagens vindas do jornalismo publicidade do cinema nos livros o conto a poesia o livro reportagem autobiografia a novela seriam os principais formatos literários dos anos 1970 Na tentativa de manter a palavra literária como lugar de resistência cultural 12 em que PES o lançamento de romances em seu formato mais clássico como incidente em antares Érico Veríssimo 1971 em 1975 houve um Boom literário no Brasil apontando novas tendências do mercado editorial como o romance reportagem Agnaldo Silva José louzeiro a publicação debs se leiros estrangeiros e de livros de memórias sobretudo após 197 n quando os exilados começam a voltar e a narrar suas aventuras e Desventuras na luta contra o regime militar e no exílio os livros O Que É Isso Companheiro e os carbonários escritos pelos ex-guerrilheiros Fernando gabir e Alfred do cirques respectivamente inscrevem-se nessa tendência e são importantes Marcos na própria reconstrução da memória sobre a experiência da Guerrilha e seu lugar na história do Brasil portanto a literatura durante o regime militar propiciou uma gama de consciências literárias 313 sobre a experiência histórica não porque imitou a realidade nos Livros mas porque em muitos casos só a reflexão propiciada pela ficção pela imaginação ou pela memória poderia dar conta de compreender uma realidade política cultural e social tão multifacetada e complexa a imprensa Liberal que em 1964 apoiar o golpe militar em bloco também se beneficiou do ativismo intelectual dando voz tanto aos manifestos quanto ao debate cultural que envolvia o meio nesse sentido marcando o espaço público ao lado das revistas intelectuais que abundaram no período dos anos 1960 e 1970 a imprensa conseguia diluir parte de suas responsabilidades diretas no golpe passando a se autorrepresentar como um dos lugares privilegiados da resistência e como tal vítima do arbítrio mas o espaço de maior comunicação do intelectual com o público leitor mais amplo foi a chamada imprensa alternativa seu perfil mais militante do Que acadêmico não implicava que os debates oriundos da pesquisa Universitária estivessem totalmente ausentes dos jornais jornais como o correio da manhã ou folha da semana 1965 1966 67 edições que se abriram aos grandes de debates crônicas ou críticas intelectuais do final dos anos 1960 praticamente desapareceram da grande imprensa liberal os anos de chumb e o susto com a luta armada deixaram os grandes jornais brasileiros ressabiados emparedados entre a crítica a arbitri e a defesa do combate ao terrorismo de esquerda se não havia uma censura prévia rigorosa aos grandes veículos exceção feita ao estado de São Paulo 1907 72 a 1975 e a revista Veja 1974 a 1976 alguns temas críticos eram evitados pelos editores bem como qualquer pauta política que pudesse perturbar a lógica palaciana dos militares em conduzir os negócios do país mas para o final dos anos 1970 e início dos anos 1980 o tema da política e o debate cultural voltariam a grande imprensa cujo grande exemplo é o Projeto folha a partir de 1976 conduzido pelos editores percu Abramo e posteriormente por Boris Casoy assim como folhetim tabloide de temas culturais e políticos veiculado aos domingos pelo jornal Paulistano 1977 a 1989 ao lado das publicações da editora Brasiliense 316 e do Jornal do Brasil a folha com instituirá a experiência de leitura mais influente nos meios intelectuais e acadêmicos em tempos de abertura e transição política afirmando um projeto comercial e político Há um só tempo para além da Imprensa de caráter mais restrito e aprofundado os anos 1960 e 1970 viram Florescer várias revistas de caráter acadêmico mas não necessariamente ligadas a instituições partidos ou programas de pós-graduação específico a tradição de revistas intelectuais vinha do começo do século sendo um dos espaços mais importantes de ativismo intelectual em um ambiente ainda carente de grandes instituições de ensino superior mesmo com criação e expansão das Universidades nos anos 1940 e 1950 algumas revistas ainda eram um centro de convergência para os debates como as revistas clima Senhor o Brasiliense após o golpe militar a revista civilização brasileira criada por hênio Silveira foi o principal periódico de debates intelectuais entre 1965 e 1968 tornando-se o mais importante espaço Editorial de reflexão e debate no campo da esquerda que gravitava em torno do Partido Comunista Brasileiro em seus 22 números foi uma das expressões mais vigorosas da esfera pública que se formará após o golpe momento em que o intelectual ainda não havia sido incorporado totalmente pelo meio Universitário nem pela indústria da cultura para angariar intelectuais e leitores ligados ao catolicismo de esquerda o mesmo hênio Silveira lançou a revista paz e Terra 1966 a 1969 que sub achave do catolicismo Progressista discutia temas da pauta intelectual dos anos 1960 tais como a Sexualidade as guerras as artes o Marxismo o papel social e político da igreja as correntes de esquerda que aderiram a luta armada tinham nas revistas teoria e prática dirigida pelo arquiteto e artista plástico Sérgio ferro e a parte ligada ao teatro da Universidade de São Paulo seus principais redutos a segunda estampou uma frase que se tornou lapidar do debate intelectual no contexto da luta armada o intelectual deve suicidar-se enquanto categoria social para Renascer como revolucionário ambas tiveram vida editorial efímera no final dos anos 1960 p318 nos anos 1970 as revistas tornaram-se mais acadêmicas ligadas aos inúmeros centros de pesquisa que começavam a se espalhar e refletindo a ampliação das pesquisas especializadas e temáticas os cadernos Sebrap cebrap revista de Cultura contemporânea que dados e o perge podem ser citados como exemplos de revistas acadêmicas influentes naquela década nos anos 1970 debate crítica foi um exemplo de revista de Ciências Sociais que se constituiu em um espaço de debate acadêmico independente fazendo a ponte entre os professores que ainda atuavam nas universidades sobretudo paulistas e os caçados criada por Jaime pinsky então professor de história na espis e apoiada pela Editora osc a revista tinha como parte do Conselho editorial além do próprio pinsky florestão Fernandes e José da soua Martins a publicação existiu de 1972 a 1975 sendo autod dissolvida pelo conselho e relançada um ano depois sob o nome contesto após a imposição da censura prévia ação inédita em se tratando de um periódico Acadêmico brasileiro outro grande espaço de articulação e debate da esquerda intelectual foi a chamada imprensa alternativa o Pasquim e a opinião podem ser consideradas as duas matrizes dos jornais nanicos tomada como contraponto a grande imprensa Liberal seus interesses políticos e diretrizes comerciais a imprensa alternativa Fez história nos anos 1970 não conseguindo sobreviver com o mesmo vigor à virada da década entre 1964 e 1980 surgiram mais de 150 periódicos de oposição ao regime militar nesse formato dividindo-se em dois grandes conjuntos uma linhagem mais propriamente política sob influência da esquerda marxista 320 outra ideologicamente mais difusa voltada à crítica comportamental o suplemento pifpaf Maio a setembro de 1960 64 oito edições de milor Fernandes veiculado pela revista O Cruzeiro é considerado fundador da nova imprensa alternativa 321 utilizando-se de uma diagramação ousada muitos recursos gráficos e linguagem humorística a revista foi fechada depois de lançar o concurso mis vorada 65 satirizando a corrida presidencial Prometida para o ano seguinte ao golpe Serviu de inspiração gráfica para o Pasquim lançado em 1969 e que reuniu parte da equipe que havia trabalhado com milor como os cartoonist Jaguar e Ziraldo o Pasquim foi o grande sucesso de público da Imprensa alternativa os temas comportamentais a visualidade ousada a sátira política e humor de costumes angariava um público jovem bem mais amplo do que os densos textos de análise de conjuntura dos jornais mais politizados a tendo a crítica política e comportamental o pasquin abrigou sobretudo até 1972 um núcleo importante do jornalismo contracultural que trouxe temas como sexualidade drogas cultura pop movimento P em matérias assinadas por luí Carlos Marciel e por Caetano Veloso opinião fundado em 1972 pelo empresário e ex-militante do partido socialista brasileiro Fernando parian foi um importante espaço de convergência dos debates intelectuais entre 1972 e 1977 seu editor era Raimundo Pereira que mais tarde fundaria outro jornal importante movimento 1975 a 1981 ambos procuravam dar espaço para várias vozes críticas ao regime e foram duramente censurados a censura prévia com prometia não apenas a liberdade de conteúdo desses jornais mas também dificultava a sua vida financeira além de atrasar a publicação Não Foram poucos os casos de recolhimento de edições inteiras quando elas já estavam nas bancas o que acarretava grandes prejuízos comerciais opinião e movimento foram espaços plurais do ponto de vista das várias facções e partidos de esquerda na maior parte de sua existência o tema das liberdades democráticas e dos interesses nacionais na área econômica e cultural propiciavam uma convergência de debates políticos e ideológicos trazendo para o jornal a fina flor da intelectualidade brasileira de esquerda de jovens professores iniciantes AD docentes consagrados na carreira havia diferenças no foco dos dois jornais ponto opinião era mais sensível ao nacionalismo e a política institucional e movimento mais voltado a temas culturais e aos movimentos Este último passará por uma séria dissidência interna a partir de 1977 quando abraçou a causa da Assembleia constituinte que não era pauta comum das esquerdas por ser identificada com uma proposta Liberal a partir de então movimento passou a ser cada vez mais identificado com o Partido Comunista do Brasil pdub embora tentasse manter o espírito de uma frente de esquerda os grupos mais à esquerda ligados ao trotskismo e a antiga polop fundaram o jornal em tempo em 1978 na redefinição partidária das esquerdas pós 1979 o empo ficou mais próximo do PT muitos jornais que existiram ao longo dos anos 1970 tinham um foco temático mais específico a questão cultural e os novos movimentos de minorias tinham lugar privilegiado no jornal versus 1975 a 1979 o feminismo tinha como veículos principais os jornais Brasil mulher mais focado em questões propriamente feministas 1975 a 1980 e Maria Quitéria 1977 a 1979 porta-voz do movimento feminino pela Anistia mais voltado para a participação da mulher na política geral o Lampião 1978 foi o primeiro jornal a dar voz ao movimento homossexual no Brasil quando a censura política finalmente arreu em 1979 a imprensa alternativa teve que enfrentar o medo dos jornaleiros que tinham suas bancas atacadas e destruídas pela extrema direita esses atentados junto com a fragmentação das esquerdas nos Marcos da abertura do regime impossibilitando um freno mais amplo foram fatais para a imprensa alternativa nos anos 1980 os grupos e partidos de esquerda investiria mais na imprensa partidária buscando um leitor mais fiel aos seus grupos e uma formação doutrinária mais estrita as redações dos jornais como espaços de debate e de convivência ainda que conflitava entre várias tendências de esquerda era coisa do passado o sucesso editorial que chegou a possibilitar tir TR agens de 20 a 40.000 exemplares também ficou a memória de um jornalismo heroico em vários sentidos seja porque enfrentou o regime nos tempos duros seja por ter saído da lógica comercial restritiva das grandes empresas jornalísticas sem Pretender a neutralidade a imprensa alternativa talvez tenha sido mais plural que muitos jornais que bradam suas virtudes de isenção e de pluralismo a democracia relativa os anos Gael os anos de governo do Presidente Ernesto gisel constituem um particular exercício de compreensão dialética da história ou seja aquela que leva em conta as contradições intrínsecas ao período tese e antítese convivem neles de maneira tão adensada cuja melhor expressão encontra-se na fórmula de alio Gaspari ao dizer que quando gaise assumiu havia uma ditadura sem ditador no fim do seu governo havia um ditador sem ditadura 325 talvez a bela formulação em seu jogo instigante de palavras seja um tanto questionável como explicação histórica mas tem seu momento de verdade o fato é que gaiser passou para a história como presidente autocrático que iniciou um processo de abertura e consequentemente de transição política na ocasião de sua morte em 1996 essa percepção construí ainda sob seu mandato presidencial consagrou-se na memória a imprensa Liberal artifici ar alto dessa memória não se cansou de repetir o quadro explicativo que colocou o presidente sob a perspectiva de uma contradição suspensa pelo balanço positivo do saldo final do seu governo para o processo democrático a folha de São Paulo por exemplo estão põ sua Manchete gisel que fez a abertura morre aos 88 326 emendou pode-se dizer que foi a ação firme do presidente gaisa que permitiu o turning poente definitivo rumo à democracia diz o editorial do mesmo jornal referindo-se à demissões de Silvio Frota e Ednardo dav lamelo considerados expressões da linha dura a imagem se repete na revista Veja Gais eu tinha uma característica incum entre os presidentes militares manda foi assim que com mão de ferro inviabilizou a ditadura 327 Marcos S Correa desenvolve a tese no artigo principal da revista apelando para a memória dos jovens autoritário Imperial gisel botou ordem nas Forças Armadas os 59 milhões de brasileiros que nasceram depois de 1979 e não sabem o que é temer um governo no tempo do Presidente Ernesto Gais é temia-se quem não temeu seu governo dificilmente saberá que vive há 17 anos sem medo do arbítrio político por herança do General autoritário que na semana passada aos 89 anos morreu de câncer no Rio de Janeiro a curiosa tese da ditadura como anarquia e subversão da ordem não pela esquerda mas pela tigrada dos quartéis tem uma formulação direta no artigo antes de gis eu havia um sistema que apesar das aparências era um regime de presidentes fracos generais submetidos de baixo para cima a tutela dos quartéis para acabar com esta subversão hierar gaiso não precisou de pruridos liberais encarando a anarquia militar ele personalizou autoritarismo que antes era exercido pelos Fantasmas das Forças Armadas e pelas legiões quase clandestinas da repressão política Thomas skidmore um dos intérpretes liberais da história republicana brasileira chancelou será lembrado como soldado austero que deu outra chance para a democracia o complexo personagem histórico recebeu o reconhecimento pela sua chance para a democracia do próprio presidente que concluiu o processo de transição democrática Fernando Henrique Cardoso em 1995 FHC seu opositor Nos Tempos da ditadura lhe prestou homenagem em um almoço no Palácio das Laranjeiras com sua morte decretou se luto de oito dias essas falas e episódios ocorridos depois de terminada ditadura consagram uma interpretação eventualmente plausível da trajetória do presidente gaiso Sem dúvida um dos governos mais complexos e dinâmicos do regime militar nesse sentido podem ser expressões de uma contradição efetiva inscrita na dialética da história dos projetos e das ações do governo gaise eu poderíamos juntar outra as aparentes contradições anticomunista convicto foi o primeiro a reconhecer o governo comunista de Angola em 1975 mandatário de um regime acusado de ser braço do imperialismo estadunidense entrou em conflito com o grande irmão do Norte por conta do acordo nuclear com a Alemanha e por causa dos Direitos Humanos abusou da censura para controlar a oposição mas patrocinou uma política cultural que beneficiou muitos istas que eram notoriamente contra o regime essas políticas longe de serem expressões de um governo hesitante ou Indefinido inscrevem-se uma estratégia Clara de reforçar a autoridade do estado e consequentemente dotar o regime e governo de instrumentos para conduzir a transição para o governo civil com mão de ferro mas há outro aspecto que deriva menos da dialética da história e suas contradições e mais da construção de uma memória em torno do presidente seu governo Esse aspecto envolve a forma de situar o governo gaiso na história surfando no magma conceitual da política entre ditadura e democracia cujos sentidos foram alvo de redefinições durante recomposição de forças políticas no processo de abertura e transição ao incensar o papel do ex-presidente inegavelmente um homem de autoridade capacidade de ação e informado por um projeto de transição cujo sentido Inicial era certo e vago a memória Liberal constrói seu próprio lugar nesse projeto legitimando se igualmente consagra-se uma forma de transição entendida como retirada negociada dos militares no poder contenção dos atores mais radicais em nome da Paz social e da ordem pública gaiso acabou sendo o único presidente do regime militar com lugar de honra na memória Liberal sobre a ditadura que se construiu paralelamente ao processo de aberto ao lado do Falecido Castelo Branco se este é a tido como um liberal de farda ninguém se ilude com o gaise era um autoritário mas que teria utilizado seu poder autocrático para acabar com o regime militar que já teria realizado seu papel histórico afastar o reformismo e ameaçada da revolução socialista do Horizonte histórico cumprindo uma espécie de Destino Manifesto nessas construções simbólicas e ideológicas sobre giseo e abertura subjaz um movimento explicativo mais Sutil sobre o regime como um todo as mazelas da política durante o regime militar não se devem às boas intenções do golpe de 1964 desagradável mas necessário que por sinal contou com amplo apoio civil e liberal os desvios do regime que puseram o caráter Redentor e Cívico da revolução em xque Seguindo a linha de raciocínio histórico O desvio fundamental teria ocorrido quando Costa e Silva se apoiou na linha dura para emparedar Castelo Branco e se impor como seu sucessor a consequência teria sido aí cinco e os anos de chumbo do governo médi incrementados pelo radicalismo da esquerda aterrorizada pela Guerrilha a sociedade impotente se tornou também vítima do arbitrio da violência das forças de repressão vistas como autônomas quase um ator político em si mesmo nessa ótica a chegada de gás e o poder retoma rotas finalmente traçada deline é um projeto retilíneo de transição e o conduz a partir do Palácio impondo-se às ruas tomadas pela esquerda e aos quartéis tomados pela extrema direita esse esquema explicativo consagrado pela memória liberal e por historiadores identificados com esta perspectiva ideológica 332 sustenta-se sobre algumas premissas em primeiro lugar restringe o processo político ao projeto de distensão e de abertura que teriam sido frutos de uma política deliberada e autoconsciente de governo conduzida pelo alto desde a posse de gaise a presença de goir do Couto e Silva no governo seria prova dessa intenção cabe perguntar se aquilo a que chamamos de abertura foi fruto exclusivo ou prioritariamente das intenções e conduções do Palácio Qual o papel dos agentes sociais sobretudo aqueles ligados à oposição nesse processo ponto de interrogação 333 em segundo lugar a distensão anunciada é vista como tendo uma relação direta e causal com a abertura continuada por João Baptista Figueiredo eixo que por sua vez explica a transição como um todo o movimento de extensão abertura transição visto dessa maneira não dá conta das marchas e contramarchas da história por fim delimita de maneira muito restrito conceitos de ditadura e democracia a primeira passa a ser sinônimo apenas de repressão policial direta de caráter semic clandestino e violento simbolizada pela imagem do porão e da tigrada a segunda irrestrita volta de normalidade jurídico institucional e um mínimo de liberdades civis sobretudo liberdade de expressão aqui obviamente não podemos ser levianos no criticismo a ponto de desmerecer esses importantes elementos como base para a democracia pois sua ausência explica a tragédia dos anos de chumbo trata--se de forçar a definição para além destes limites e revisar criticamente a relação do governo gaisa com o processo de democratização pelo teor das declarações da mídia de personalidades políticas e pelo olhar de alguns historiadores parece que há uma identidade quase direta entre o governo Gazo e abertura as mortes violentas de militantes de esquerda parecem ser mais obra de um Porão do regime incontrolável até então e as cassações o fechamento do congresso e as imposições institucionais meras táticas para melhor realizar a distensão em ambas não apenas a figura de Gais eu mas também a memória Liberal a que aludimos sobre o ex-presidente fica preservada como se o resultado das suas ações políticas há outra chance para a democracia explicasse a natureza e o percurso do processo histórico desde o lançamento da distensão quando olhamos para alguns dados isoladamente o saldo repressivo do governo gaiso não autoriza a falar em democracia ou mesmo em distensão durante seu governo houve 39 opositores desaparecidos e 42 mortos pela repressão a censura à imprensa as artes e as diversões foem amplamente utilizada abrandando somente em meados de 1900 76 o congresso foi fechado durante 15 dias se não é possível nessa perspectiva falar de uma chance para a democracia dada de maneira inequívoca linear e direta desde o início do seu governo como se fosse uma vontade de Ferro do presidente em acabar com o regime então que teria sido a abertura como pensar aquele momento histórico para além de uma memória Liberal que nele se reconhece o processo de distensão e Abertura era sobretudo um projeto de institucionalização do regime como estadista de visão estratégica Gais Eu sabia que o aparato policialesco de repressão era insuficiente arriscado para Tutelar o sistema político sob risco do governo isolar-se dele efetivamente há uma agenda de abertura quando muito só após 1977 até então abertura dentro da Concepção palaciana é era sinônimo de institucionalização da exceção descompressão pontual restrita e tática e projeto estratégico de retirada para os quartéis ced a agenda de transição iniciada em 1977 se reafirma em 1978 seguida da indicação oficial de João Figueiredo para a presidência Ou seja a partir de Então já com a pressão das ruas e do próprio sistema político nesta ordem é que a abertura se transforma em um projeto de transição democrática ainda que de longo prazo havia uma pressão cada vez maior dos movimentos sociais Unidos ocupando de forma crescente a praça pública 335 em torno da Democracia o que sem dúvida era um fator de pressão a mais sobre as políticas de distensão e abertura no caso brasileiro eram fatos novos imprevistos que colocavam novas demandas políticas sociais e econômic para as quais A Estratégia do governo oferecia pouca resposta além da repressão a pressão das ruas talvez tenha se duelo perdido e Esquecido entre a tímida distensão de 1974 e a efetiva agenda de abertura em 1978 O Fiel da balança no processo de transição foram os atores liberais apoiados por parte da esquerda comunistas Do PCB pdub e reunidos em torno da oposição partidária DB bar PMDB e da grande imprensa o processo final da transição a partir de 1982 foi hegemonizado pelos liberais em negociação com os militares ela foi vantajosa para ambos pois se garantia uma retirada sem punição às violações aos direitos humanos e sem mudanças abruptas do modelo econômico fundamental sancionado pelas elites ao mesmo tempo em que se retomavam de maneira gradual as liberdades civis e o jogo eleitoral a morte de tan crdo complicou um pouco esse projeto estratégico pois sarne era um homem criado e tutelado pelos militares ao contrário de tan crdo conservador mas com brilho próprio e coerente em sua posição moderada porém constante o controle da direita militar e da repressão se insere na estratégia Sem dúvida de preparar terreno para institucionalizar o regime economizando a violência direta e abrindo novas possibilidades de legitimação institucional a politização dessas forças do porão se relaciona mais ao jogo sucessório do que uma real força de pressão dos quartéis mesmo quando reafirmada com mais clareza enquanto agenda de transição a abertura era parte de uma política de passagem gradual para um governo civil ainda tutelado pelos militares esse tipo de estratégia de retirada negociada foi comum aos regimes militares mais sofisticados ados e que governaram sociedades mais complexas e modernizadas Brasil Chile Uruguai pois os atores militares sabiam ser impossível a manutenção do regime sem combinar a institucionalização do autoritarismo e da tutela e a progressiva retirada para os quartéis para o pano de fundo da política de estado notemos que os militares argentinos não desenvolveram este tipo de política e o regime foi um desastre político combinando o alto grau de violência caótica num certo sentido E baixa institucionalização o que implodiu o exército argentino como instituição a guerra das Malvinas foi o ápice dos erros do regime militar argentino e a derrota para a Inglaterra celou seu destino invertendo a energia nacionalista que animava o conflito inicialmente e mobilizava parte da população o processo sucessório do General M se começou em meados de 1972 com forme notícias veiculadas pelo Jornal Estado de São Paulo o bravo matutino que desde a edição do ai5 andava se estranhando com a ditadura que ajudara a implantar em 1964 ganhou alguns anos de censura prévia por vazar informações sobre a sucessão presidencial 337 Este era um tema sensível pois sempre envolvia conflitos dentro do alto Escalão Pois todos os Generais graduados se sentiam aptos para o Car o lançamento oficial do candidato gaisa ocorreu apenas em 18 de junho de 1973 depois de obtido o Consenso militar ou seja o aval do Gal ato pela primeira vez um processo sucessório parecia não ser traumático para as forças armadas desde que tomaram o poder em 1964 m-se e quando vozes na tropa e da linha dura tomou até o cuidado de saber se gaiso ainda era próximo de golber do Couto e Silva figura mal vista pelo próprio Presidente e pela linha dura estão completamente separados respondeu o General João Batista Figueiredo então chefe do gabinete militar mal sabia médice que Figueiredo era do Círculo de confiança do grupo castelista gelista disposto a retomar o controle do Estado essa fidelidade lhe garantiu a futura indicação para a presidência da república e um constrangimento público no velório de micy quando o filho e o neto do defunto chamaram Figueiredo de canalha a oposição institucional reunida nodb que vivia dias patéticos e difíceis em uma conjuntura dominada pela repressão e pelo apoio popular do Governo foi criativo e conseguiu expor a artificialidade do processo deita eleitoral a chapa sem nenhuma chance de Vitória foi apelidada ironicamente diante candidatura composta pelo deput Deputado Alis Guimarães e por Barbosa Lima sobrinho o primeiro era um quadro político igresso do PSD Deputado desde os anos 1950 e que nos anos 1970 se destacou como uma das vozes liberais mais críticas ao regime militar destoando do Tom moderado que marcava boa parte dos políticos que se diziam liberais no Brasil o vice na chapa era ex-parlamentar advogado e jornalista historicamente ligado à Associação Brasileira de imprensa da qual fora Presidente nos anos 1920 1930 e voltaria a s-o em 1978 em janeiro de 1974 gaiser foi eleito presidente da república pelo colégio eleitoral 400 Contra 76 e 21 abstenções 339 e seu irmão Orlando gaisero colocou duas companhias de prontidão em Brasília de quem o notório irmão teria medo da esquerda armada em frangalhos ou da direita militar vitaminada ato Consumado com Gisa indicado eleito e empossado descobriu-se a Trama para diminuir a resistência do seu nome junto à linha dura pois o general gober foi indicado para a importante Casa Civil da presidência antes mesmo da Posse em fevereiro de 1974 panfletos anônimos contra o mago Como era conhecido golbery cérebro do golpe e do regime começam a circular nos círculos civis e militares para extrema direita militar a volta do chamado grupo castelista ou sorbone como eram chamados os militares com visão política estratégica poderia significar o aumento da corrupção início de um processo de transição política e desmontagem do aparato repressivo ao menos esse era o temor dos que se agitavam nos quartéis a discussão sobre o modelo político brasileiro eufemismo para designar a vontade da ditadura em Se institucionalizar ganhou espaço em 1972 ainda durante o governo Mice logo após a indicação oficial de gisel como seu sucessor o Instituto de Pesquisas estudos e Assessoria do congresso IPEC patrocinou uma palestra do cientista político anderley Guilherme dos Santos seguida de debate com os parlamentar na qual se apresentou a tese da descompressão política gradual para evitar o retrocesso esse debate Na verdade ainda muito restrito aos círculos centrais do Poder partia do princípio de que era necessária uma retirada estratégica dos Militares do coração do Estado sem ameaçar os princípios da revolução de 1964 segurança e desenvolvimento em outras palavras era preciso iniciar uma normalização da vida política que no jargão político da época significava consolidar o espírito de tutela do A5 em princípios constitucionais abrandar o controle da sociedade civil sem necessariamente dar a ela espaço político efetivo no processo decisório e em um futuro incerto devolver o poder a civis identificados com as doutrinas que inspiraram 1964 ou que ao menos não lhes fossem hostis em outra palavras os militares sonhavam um regime com um partido oficial hegemônico chancelado pelo voto majoritariamente civil e um estado blindado contra crises sejam oriundas da Extrema direita militar sejam advindas das pressões da esquerda nas ruas e movimentos sociais a fórmula era inspirada na longevidade bem-sucedida do modelo político mexicano 342 referência que aparece claramente no texto de Samuel tinton cientista político norte-americano a proach esto political decompression abordagens para descompressão política nele o famoso professor de Harvard antes de se consagrar como um dos ideólogos do mundo pós guerra fria aconselha os mandatários brasileiros a iniciar uma descompressão lenta e gradual o quanto antes para não perder o controle do processo sob o risco de um novo e mais terrível ciclo repressivo ou coisa pior o aumento descontrolado da Participação Popular no processo político em agosto de 1974 já com gaisa empossado um tinton veio ao Brasil participar do seminário legislaturas e desenvolvimento o general golbery que se considera um dos Pais da abertura não se empolgou muito com o Nobre Conselheiro qualificando seu famoso artigo como pedestre 344 para ele a abertura estava dada no bojo do movimento de 1964 sendo um dos princípios do castelis smo Qualquer que seja paternidade teórica do processo de abertura suas razões e objetivos estratégicos a sua forma básica ancorada no binômio lentidão e gradualidade prevaleceu supondo um controle total do processo político por parte do governo gaisero tal como se consagrou na memória Liberal sobre o período nesta a a tese da Democracia outorgada parece levar ligeira vantagem sobre a tese da Democracia conquistada em linhas Gerais consagrou-se à imagem de que os movimentos sociais voltaram a ser atures na luta pela democracia a partir do momento em que abertura foi desencadeada sendo est a causa daquelas lutas essa imagem supõe que a abertura foi uma decisão inequívoca do governo um projeto uniforme de movimento histórico retilíneo que teria permitido a expressão da contestação política e social um exame mais detalhado da conjuntura e do processo histórico articulado entretanto pode suscitar algumas dúvidas ao contrário de castelo Costa e Silva mic Gais não falou em volta à democracia em seu discurso de posse em pronunciamento econômico fez muitos elogios À Revolução e as suas realizações econômicas e políticas reconhecendo que foi dramaticamente nascida de um senso de laceradas que era hora de perseguir um Generoso consenso Nacional nada mais portanto do que uma vã Esperança apoiada em palavras vagas mas não demorou muito que o tema da distensão se consolidasse ainda que caresse de uma efetiva agenda política o discurso na reunião do ministério em 19 de Março de 1974 definiu o gradualismo como estratégia de distensão nas palavras de gaise eu o governo esperava um gradual mas seguro aperfeiçoamento democrático empenhando um diálogo honesto e estimulando maior participação das elites responsáveis e do Povo em geral mas avisou que os instrumentos excepcionais para manter a segurança continuariam como potencial de ação repressiva para evitar desvios à rota traçada 345 apesar dos sinais de busca de diálogo a transição para a democracia estava claramente subordinada à segurança do regime que na Ótica dos seus estrategistas passava pelo rearranjo institucional e pelo diálogo seletivo com a sociedade civil esse projeto inclui eventuais recursos a medidas liberalizantes Mas Não significava efetivamente Retorno à democracia ainda que no médio e longo prazos o novo governo tinha que lidar com uma conjuntura diferente do início dos anos 1970 se por um lado a Guerrilha de esquerda estava praticamente derrotada dando seus últimos suspiros nas selvas longinquas do Araguaia a economia grande trunfo era médi não tinha perspectivas promissoras a crise do petróleo demonstrar a fragilidade e a dependência do dinamismo econômico brasileiro e a busca Da ampliação da oferta e das matrizes energéticas tornou-se Uma Obsessão do governo já anunciada na primeira reunião presidencial a inflação de 1974 mais que duplicaram em relação ao ano anterior e o PIB cresceu pela metade Para retomar o crescimento com taxas aceitáveis de inflação dentro do projeto de expansão das indústrias de base de energia a festa do consumo dos tempos do Milagre iria se tornar mais com medida era a chamada reversão das expectativas que tinham um alvo certo a classe média em maio ficava ainda mais clara a mudança de rumos na economia com a primeira reunião do conselho de desenvolvimento econômico grau seus de epicentro do planejamento econômico que dava mais espaço aos tecnoburocrático para os próximos anos é notório que o regime militar se esforçou para despolitizar o cidadão comum e manter o debate dentro dos círculos restritos e tutelados do sistema político mas os acenos de distensão e os apelos à imaginação criadora dos políticos e da sociedade para substituir os instrumentos de repressão do governo trouxeram à luz a questão política não que essa questão houvesse sumido mas o clima repressivo reinante desde 1969 transformava ação política de oposição em negócio de alto risco a repressão policial a censura e o clima de vigilância não diziam respeito apenas ao combate da luta armada acabou por contaminar todos os espaços sociais da política Nesse contexto a fome de participação por parte de vários atores sociais e políticos aflorou no debate em torno de uma nova questão a questão democrática o governo ao seu modo falava em democracia os empresários falavam em democracia os intelectuais falavam em democracia os partidos falavam em democracia embora a palavra tivesse diversas conotações para o governo o país já era democrático posto que fiel aos valores cristãos e ocidentais e defensor da Liberdade individual e da livre iniciativa contra o totalitarismo de esquerda mas não abria mão dos instrumentos de repressão a até que um novo sistema de valores estivesse internalizado esse sistema era baseado na interiorização dos limites da ação opositora e do grau de reivindicações de ordem socioeconômica o governo entendia a democracia como mero debate de ideias e críticas construtivas 349 para os intelectuais as posições sobre a questão democrática variavam alguns aceitaram a real política imposta pelo governo afirmando que a única opção para a construção da Democracia era aceitar os limites e incrementos da distensão oficial outros denunciavam a questão democrática como mera estratégia de renovação da hegemonia burguesa 351 outros ainda entendiam que a partir da nova conjuntura de distensão era preciso conquistar mais espaços e abrir mão da Visão instrumental de democracia que afligia à esquerda e à direita a derrota traumática da esquerda armada é violência sem limites do terror de estado acabaram por mostrar urgência desse debate aceito inclusive pela esquerda sempre mais confortável em discutir a revolução Afinal a democracia em seu formato institucional e representativo eraa vista como um valor burguês mas novos conceitos de democracia dita substantiva em contraponto com a democracia formal e representativa começaram a surgir além disso a esquerda representada pelo PCB reiterava a política Ampla de alianças para democratizar o país privilegiando uma ação frentista e unificada das oposições parlamentar institucional que isolasse o regime paralelamente intelectuais comunistas assumiam o debate sobre a questão democrática aceitando os termos da democracia representativa burguesa como base para a ampliação dos direitos e da Participação Popular mesmo os Sobreviventes da da luta armada derrotada ainda que não abrissem mão da revolução como objetivo final passaram a fazer autocríticas nas quais o problema da política de massa se colocava como alternativa ao colapso da esquerda armada em quase todos esses documentos é visível a preocupação em rever posições que levaram ao isolamento e a crença ca na Vanguarda em armas o trabalho de massas como se dizia ao fim e ao cabo tangenciar o problema da Democracia as autocríticas ocorriam em um momento em que algumas lentes mais sensíveis já captavam o crescimento dos movimentos sociais de novo tipo formado por vizinhos abrigados em comunidades religiosas e aversos a vanguardismo dirigista e instrumental da tradição leninista para o conjunto das oposições começou a se definir um conceito de democracia participativa que tentava criar uma zona de convergência entre os conceitos elitistas e formais de democracia liberal e a democratização da sociedade com base na afirmação dos direitos sociais e da participação efetiva o partido de oposição parte do sistema político institucional ao qual era solicitada a criatividade por parte do governo também foi contaminado pelos debates intelectuais sobre a questão democrática aproveitando-se do clima de debate o MDB se propôs a fazer uma campanha eleitoral mais ousada incorporando em seu programa para as eleições de 1974 temas mais sensíveis como a crítica ao modelo econômico a repressão a autocracia das decisões de governo e as preocupações dos assalariados com o aumento da inflação para tal o programa do partido foi concebido pelos intelectuais do Sebrap centro brasileiro de análise e planejamento que tinha acabado de sofrer um atentado à bomba perpetrado pela direita em abril ao a mesmo tempo em que davam um novo ânimo à esquerda brigada no partido a começar pelo PCB Ulisses Guimarães percebeu que o debate na esquerda intelectual Paulista poderia se transformar em uma plataforma política sintética ao alcance do eleitor médio com esse espírito ele visitou o Sebrap e pediu a Fernando Henrique Cardoso que nomeasse uma comissão de intelectuais para redigir o programa do partido para as eleições de 1974 P3 356 Depois de ficar atrás dos votos nulos na eleição de 1970 que somaram 30% o MDB se renovou a partir da legislatura de 1971 com a guerrida atuação dos deputados chamados de autênticos que se diferenciavam dos adesista e dos moderados pesistas 357 a anticandidatura de 1973 também havia sido um momento de vitr do partido para a sociedade a aproximação com os intelectuais foi uma forma de chegar a setores mais críticos da sociedade civil que até então advogavam o voto nulo como forma de Protesto à ditadura antes da eleição o partido assumiu um tema sensível para a esquerda e para o meio intelectual de oposição a questão dos desaparecidos tema que explodiu para o debate público no começo do governo gazu em Julho de 1974 o MDB interpela o governo sobre o tema ameaçando convocar o ministro da Justiça Armando Falcão para depor no Congresso o tema dos desaparecidos incomodava a opinião pública mesmo aquela que era contrária ao Marxismo e aversa Revolução os liberais viviam uma contradição perceptível nas páginas da Imprensa desde 1968 pedi um Rigor no combate a terrorismo de esquerda mas quando governos em Dia com todos os meios próprios a uma ditadura assustavam-se com os efeitos colaterais e diretos da repressão os sequestros as torturas e as simulações de mortes por enfrentamento policial dão lugar à figura dos desaparecidos dos 169 militantes desaparecidos no Brasil 53 ocorrências foram no ano de 1974 boa parte após a posse de Gael 358 a 5 como não reconhecia a existência de torturas e execuções extrajudiciais o governo continuou não reconhecendo qualquer responsabilidade na questão dos desaparecidos imputando os próprios por essa situação dado a sua condição de clandestinos e terroristas com isso como vimos o governo se livrava de dar qualquer satisfação à sociedade o fato é que os temas da tortura e dos desaparecimentos tornaram-se uma verdade cada vez mais inconveniente para as consciências liberais ou religiosas mesmo de cores mais conservadoras a Igreja Católica cujas bases mais progressistas sofriam a violência Direta do regime desde 1968 abraçava cada vez mais a causa dos Direitos Humanos dentro da qual o tema dos desaparecidos era Central desde 1970 bispos e Generais se encontravam sigilosamente para conversar sobre o tema na chamada comissão bipartite 359 Apesar desse canal de diálogo as relações entre a igreja e o estado se azedar definitivamente em 1973 por causa da morte do estudante de Geologia da USP Alexandre van no chilem 360 em março daquele ano Alexandre foi morto nas dependências do do kudi em São Paulo ao que tudo indica por Acidente de trabalho dos torturadores o caso como não apenas a comunidade estudantil mas a comunidade católica de São Paulo o jovem de 22 anos foi enterrado como indigente no cemitério de perus e as autoridades demoraram alguns dias para reconhecer sua prisão e morte a versão oficial era de sempre fuga seguida de atropelamento ela foi prontamente rechaçada pelos colegas do movimento estudantil e pela igreja Alexandre o minhoca era um líder popular do mento estudantil espiano e membro de uma tradicional família Católica do interior de São Paulo desde 1972 militava na gel quebrada a que depositava esperanças em um novo ciclo de recrutamento para Guerrilha no meio estudantil onde atuava abertamente a morte de vanu chilem fez com que a Cúpula da Igreja Católica no Brasil abraçasse definitivamente o tema dos Direitos Humanos como eixo principal das críticas ao regime Na verdade o tema dos direitos humanos e sobretudo da justiça social tinha aparecido em vários documentos do bispado brasileiro a repressão entrar em choque com o clero diretamente tanto no caso dos Frades dominicanos presos e torturados durante a Caçada mariga 364 quant no assassinato do Padre Henrique Pereira Neto assessor de domer Camara Arcebispo de Olinda Recife e símbolo da igreja agressista nos anos 1960 e 1970 essas tensões explodiram definitivamente por ocasião da morte de vanu chilem agora era a Arquidiocese de São Paulo liderada por Dom Paulo ivarest arnes Tornado Cardeal pelo Papa Paulo VI que comprava a briga com o regime a igreja pressionada pelas bases laicas e clericais assumia como opositora institucional do regime não por acaso em fevereiro de 1973 a voz institucional da igreja a conferência nacional dos bispos do Brasil CNBB em sua 13 assembleia geral rememorou os 25 anos da declaração universal dos direitos humanos as autoridades governamentais bem como setores mais conservadores da sociedade ficaram profundamente insatisfeitos com a missa realizada em memória de Alexandre van no chilem no dia de março de 1973 Véspera do aniversário da Redentora como os golpistas chamaram finalmente a deposição de goular em 1964 em plena Catedral da Sé cerca de 5.000 pessoas compareceram a missa com direito ao coro de caminhando a música proibida de Geraldo Vandré e puderam ouvir o recado de Dom Paulo ao governo Só Deus é dono da vida dele s e só ele pode decidir seu fim a Rigor a missa de Alexandre van chilem era o primeiro ato público de massa contra o regime desde 1968 portanto com a posse de gaise Eu a relação entre o regime e a igreja já estava tensa mas havia expectativa de um novo canal de diálogo e controle dos aparatos e Meios Ilegais da repressão entretanto para a decepção dos mais crédulos a repressão continuou ativa ampliando o recurso ao desaparecimento de militantes em agosto de 1974 Dom Paulo Evaristo arnes entregou a relação de 22 desaparecidos ao General golir do Couto e Silva 21 deles ocorridos a partir da posse de gaisero lista que crescia nos meses seguintes sinal que nada mudaria tão cedo em fevereiro de 1975 o ministro da Justiça Armando Falcão foi a dar a versão do governo ou melhor a dos órgãos de repressão conforme o governo dos 27 desaparecidos cobrados pela oposição constavam seis foragidos sete colocados em liberdade cinco com destino ignorado um morto na Bolívia um banido dois ainda na clandestinidade e um refugiado na Checoslováquia a criatividade do governo não encontrou sequer uma versão Ainda que fantasiosa para quatro nomes a ordem dos Advogados do Brasil que receberam o golpe militar com certo entusiasmo 366 e distanciar-se do regime por conta do ai5 deu uma virada definitiva nas suas posições em 1974 na sua V Conferência Nacional cujo tema era sintomático o advogado e os direitos do homem assim outra voz Liberal importante se voltava contra o governo nesse clima de intenso debate sobre a questão dos os direitos humanos oposição crescente da igreja e revisão do modelo político aconteceram as eleições de Novembro os militares calcularam que tutelando a sociedade política e ainda se aproveitando dos triunfos da economia ainda que a crise rondae o Brasil a sociedade civil iria reboque dos seus projetos e agendas as eleições legislativas de 1974 eram vistas como estratégicas para o governo disposto a testar a resposta da sociedade ao diálogo proposto e aferir a internalização dos valores do regime o governo deixou correr uma campanha relativamente livre temas importantes veiculados pelo programa do MDB foram debatidos com amplo uso dos meios de comunicação e do horário eleitoral com as eleições realizadas com relativa liberdade de debate o resultado foi alentador para a oposição ela obteve 50% dos votos para o Senado contra 37% da arena e 37% para a câmara contra 40% da arena mais do que isso saiu Vitoriosa nas grandes cidades e nos estados mais desenvolvidos conseguiu a maioria das assembleias legislativas de São Paulo Rio Grande do Sul Rio de Janeiro Acre e Amazonas fez 16 dos 22 senadores eleitos e 165 dos 364 deputados federais na legislatura anterior tinha apenas 87 com mais de 1 terço no Congresso o MDB poderia bloquear emendas constitucionais complicando o projeto de institucionalizar o regime atrapalhando assim o projeto de distensão nenhum governo gosta de derrotas eleitorais ainda mais um governo autoritário que apenas via nas eleições uma forma de reafirmar sua frágil legitimidade o governo surpreendido reagiu de forma ambígua em um primeiro momento o presidente gaiser saudou os eleitos e anunciou o fim da censura prévia à imprensa Liberal ensaiando uma reaproximação com setores liberais de corte conservador a imprensa na estratégia da distensão deveria cumprir um papel duplo por um lado ajudar na sondagem da opinião pública mais influente mapeando suas insatisfações de demandas por outro levar recados do governo a esta mesma opinião pública leia-se a classe média leitura da opinião publicada dos jornais ajudando a construir a reversão de expectativas o fism que traduzia a necessidade de preparar a classe média para os tempos difíceis da economia dera pós milagre Mas em agosto em meio à Nova Onda repressiva Que recaiu sobre o Partido Comunista Brasileiro considerado o articulador insidioso da derrota do partido oficial Eleitoral do governo o próprio gaiser se encarregou de esclarecer os limites da distensão em 1eo de agosto de 1975 o presidente foi a em Cadeia nacional e proferiu discurso conhecido como pad cal redefinindo o sentido da distensão nele rejeitou o fim do A5 a revogação do decreto lei número 477 a revisão da Lei de Segurança Nacional a promulgação de uma Anistia e redução das prerrogativas do Poder Executivo o estado isolou-se e declarou guerra sociedade civil a Vitória Eleitoral da oposição quase simultânea ao colapso da luta armada e a perspectiva de uma hegemonia absoluta do regime te o novo fôlego à questão democrática entre os elementos mais surpreendentes estava a Extrema confiança do Governo na aprovação do eleitorado tal como havia acontecido em 70 para tal os militares contavam até com o voto nulo que atraí o eleitorado mais crítico e educado das grandes cidades chegando a 30% dos votos em 1974 Tudo indica que uma boa parte desses votos migrou para a oposição talvez porque ela tenha se portado como tal na campanha eleitoral o resultado da primeira eleição do Governo gaisan foi portanto como um raio Céu Azul para usar o velho Clichê entre os vários atores políticos e mesmo entre setores do governo cresceu a percepção de que o estado dominado por um regime autoritário havia perdido as conexões com a sociedade que mesmo tutelada e vigiada se movia por caminhos insondáveis era como se o estado fosse um lugar do autoritarismo e a sociedade civil o lugar da Democracia essa imagem um tanto simplista aos olhos de hoje esboçada nos protestos de massa de 1968 marcaria definitivamente os debat sobre a questão democrática a partir de então a visão homogênea da sociedade civil como um bloco democrático contra um estado ilegítimo e autoritário teve sua função Histórica no desgaste do regime Mas pode esconder contradições se utilizada como receita única para a construção da Democracia a sociedade civil é um con junto heterogêneo de atores divididos em classes sociais grupos corporativos associações profissionais frações ideológicas instituições e movimentos sociais que dificilmente conseguem estabelecer um programa político comum se a questão democrática era um ponto de convergência as várias leituras do que significava a democracia e os vários projetos de transição política que elas encerram eram pontos de tensão dentro da sociedade para as associações profissionais identificadas com a tradição Liberal como a OAB e Associação Brasileira de imprensa bi democracia era o estado de direito marcado pelo Império da Lei pelo equilíbrio dos poderes de estado pelas liberdades civis reunião manifestação e expressão e pela igualdade jurídica entre os indivíduos para os movimentos sociais de esquerda era isso e Algo Mais configurando a chamada democracia substantiva marcada pela efetiva Participação Popular nas decisões dos governos pela construção de políticas de distribuição de renda e limites ao direito de propriedade para setores ainda mais à esquerda de tradição marxista era a realização da Democracia popular de massas de caráter delegativo e calcada mais em direitos sociais do que propriamente políticos sob um regime autoritário que ainda censurava reprimia torturava e matava essas diferenças ficavam suspensas mas na medida em que o processo de transição avançava elas tendiam a se tornar mais conflitivas como a história o demonstrou a partir de 1974 esboçou-se uma grande frente oposicionista formada por empresários políticos liberais políticos de esquerda movimentos sociais movimento estudantil mesmo as organizações Armadas de esquerda fizeram sua autocrítica e assumiram a questão democrática como sua plataforma esse fren ismo durou até começo de 1980 implodido sintomaticamente quando a questão democrática encontrou a questão Operária