Salve. Uma das perguntas mais fascinantes que me foram a desabro de tempo foi a relação entre o judaísmo e a maçonaria e, digamos, se há compatibilidade ou incompatibilidade entre o judaísmo e a maçonaria. Isto é uma questão que pode ser, obviamente, abordada de muitas maneiras diferentes.
Eu vou apenas dar três ou quatro reflexões sobre a questão. A primeira reflexão é ter em conta que a maçonaria... que começou basicamente no princípio dos anos 1700. Foi um desenvolvimento que foi fundamentalmente influenciado por a ideologia cristã e era frequentemente, ferozmente, antecebida. Em muitos países, como a Alemanha, como os Estados Unidos, até basicamente ao princípio dos anos 1900, o que aconteceu foi que a Alemanha, em um momento, não havia, os judeus não eram permitidos participar nas lojas maçónicas. Claro que o próprio facto de que durante muito tempo os judeus não eram aceitos levou também à criação de lojas maçónicas alternativas sobre os judeus, de uma maneira ou outra, e, por outro lado, criou também um desejo em muitas pessoas dentro da comunidade judeca de participarem, quanto mais não seja pelo facto.
porque não lhes era permitido participar. Mas, portanto, o primeiro ponto é este, perceber que na sua essência começou como um movimento, digamos, antirreligioso, mas também muito antissemita, portanto, muito baseado na ideologia e na cultura que rodeava, e portanto, e que os judeus não eram permitidos. Depois, um segundo ponto, que é um ponto também… Enfim, muito importante do ponto de vista histórico é que, a partir de finais dos anos 1800, começou, como parte do antissemitismo a nível mundial, começou a desenvolver-se esta cabal, entre aspas, da associação entre os judeus e os maçons.
Portanto, começou-se a desenvolver esta ideia, até muito porque os próprios maçons têm uma simbologia e têm, digamos, um ritualismo que, pelo menos à primeira vista, podem prestar muito da Bíblia Hebraica. Portanto, toda a ideia relacionada com o Templo de Salomão, com as descrições do Templo de Salomão e tudo isso é tudo, obviamente, baseado na Bíblia Hebraica. E, portanto, há aí essa ligação.
Mas, portanto, é uma ligação que, digamos, levou ao antissemitismo do lado de fora, não do lado dentro da maçonaria neste caso, mas não deixa de ser de alguma maneira irónico e, ainda que os judeus não eram permitidos na maçonaria, as forças antissemitas fora da maçonaria criaram essa ideia da ligação entre… entre os de Ismia e a maçonaria, em particular depois com o desenvolvimento dos protocolos dos anciãos de Zeão e tudo isso, portanto, enfim, uma coisa nada mesmo simpática. Agora, uma terceira ideia é que, mesmo esquecendo tudo isso, todo o ritualismo da maçonaria é baseado numa... digamos, imitação ou uma projeção do que era o templo.
Portanto, o trabalho no templo e toda esta imagem, toda esta imaginação, toda esta visualização que é feita, basicamente, no templo, é uma coisa que, do ponto de vista do judaísmo, é anátema do judaísmo tradicional, obviamente. No judaísmo tradicional, nós vamos, fazemos tudo… e mais alguma coisa que seja possível, para, se estamos a fazer alguma coisa que parece relacionada com o templo, ser muito claro que não estamos a fazer no templo, porque não é o templo. Então, muitas dos rituais que nós temos foram modificados ligeiramente para serem feitos de maneira diferente do templo.
Por exemplo, quando chega a altura do secote que nós fazemos... fazemos abanar o Lulá e o Etrog, é de uma maneira diferente e faz-se num contexto diferente do que era feito no templo. Quando fazemos a festa de Passover, a Pesach da Páscoa Judaica, nós comemos imensas coisas, mas algumas coisas não comemos porque era típico do que se fazia no templo e para não haver conclusões nenhumas dessas. E portanto, toda a ideia de que estamos a criar todas essas imagens relacionadas com o tempo, como se aquilo fosse um tempo, é um conceito, do ponto de vista do judaísmo tradicional, é inaceitável. Portanto, do ponto de vista estrito do judaísmo tradicional, não seria particularmente compatível a ligação com o judaísmo e a maçonaria.
Mas depois há um último ponto, que é um ponto que eu acho também que é interessante, um último ponto que eu acho que é interessante, que é... muitas vezes, como muitas outras coisas, muitas situações, do nosso ponto de vista judaico, a maçonaria tem, quer dizer, parte de uma ideia, que é uma ideia bastante, até bastante cara a nós próprios, bastante importante para nós, que é a ideia de solidariedade. Portanto, toda a ideia da solidariedade de grupo que é desenvolvida, toda a ideia de cada um ajudar os outros.
Tudo isso é um conceito até muito judaico, é um conceito, o nosso próprio conceito de caridade, digamos assim, é um conceito de destaca, que é um conceito que tem muito a ver quase como se fosse um seguro. Isto é, nós estamos num sistema em que ajustamos uns aos outros, quando eu preciso ajudo os outros, quando os outros precisam eu ajudo-os a eles. E portanto é este sentido de entre e ajuda institucionalizado que é muito, faz muita parte de todo o desenvolvimento das comunidades judaicas através dos sistemas. todas estas instituições de beneficência, de apoio mútuo e tudo isso, é uma ideia que é muito semelhante, digamos assim, à ideia da maçonaria. Portanto, desse ponto de vista, a ideia básica, o ponto de partida, não é um ponto que repugna ninguém, é um ponto até muito saudável, de solidariedade.
Depois, onde os problemas para nós, digamos, do ponto de vista mais tradicional, aparecem é, de facto... o facto de ritualismo que é feito muitas vezes tem conotações cristãs muito claras e por outras vezes tem conotações que não sendo cristãs que são exclusivamente judéias, não seriam compatíveis com a nossa visão de não fazer imitações do templo. Como uma reflexão final, hoje em dia as coisas são muito mais matizadas, portanto, do que toda esta história e eu posso dizer, por exemplo, que que já participei várias vezes em funerais, isto é, fazer o serviço de enterro, o serviço de funerário, de pessoas, de judeus que eram maçons, e portanto eu coordenei com a representação dos maçons, e eles coordenaram comigo, todo o ritual.
E portanto, no meio do nosso ritual judaico, nós parámos um pouco, eles fizeram o ritual deles, e eu devo dizer que, além de não ter percebido muito bem as intenções e as coisas, Mas o que ele estava a dizer, o que ele estava a fazer, não pareceu nada questionável, pareceu uma coisa muito neutral. E portanto, para falar de todas estas considerações, a realidade dos factos é que há muitos judeus que são maçons, como há muitos que não são, obviamente, e não é uma coisa que seja realmente vista tão mal como conceptualmente poderia pensar-se. Do ponto de vista conceptual seria realmente proibido, mas do ponto de vista prático...
as coisas não funcionam tanto assim, e como digo, não tem havido, enfim, a minha própria experiência, a relutância inclusivamente de, da mesma maneira, fazer um funeral, por exemplo, com honras militares, coordenar com o exército, com as forças armadas, para ter honras militares, também ter honras de maçonaria, também tem efeito. Dito isto tudo, acho eu que seria importante participar da maçonaria, eu acho que há coisas melhores em que participar, coisas mais... importantes, coisas mais úteis, mas também não acho que seja o fim do mundo. Shalom. Barahá.