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Queda do Muro de Berlim e Suas Consequências

Foi uma obra de engenharia militar única, uma barreira de concreto, barras de ferro e pontos de controle militar que dividiram durante quase 30 anos não só Berlim e meu país, a Alemanha. O muro separou dois mundos totalmente opostos e muitos corações. Meu nome é Elisa Criesi, da BBC News Brasil, aqui em Londres, e nesse vídeo eu vou falar sobre um dos episódios mais marcantes do século XX, a queda do muro de Berlim. Mas por que? que o muro foi construído. Depois de vencer a Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos, França, Reino Unido e União Soviética concordaram em dividir a Alemanha derrotada em quatro zonas. Berlim ficou na parte soviética, mas, por ser a capital do país, decidiram dividi-la. Cada uma das quatro potências administrava seu próprio setor da cidade. Assim, formou-se um bloco capitalista na parte ocidental e um bloco comunista na parte oriental. Era o que o primeiro ministro britânico, Winston Churchill, chamou de Cortina de Ferro, um muro ideológico que separava dois modelos antagônicos. Para o trieste do Adriático, um corte de ferro desceu pelo continente. Começava assim a chamada Guerra Fria e a narrativa de um mundo dividido entre duas potências inimigas. A Alemanha era a síntese dessa divisão. A República Federal da Alemanha, capitalista, era apoiada e influenciada por Estados Unidos, França e Reino Unido. Já a República Democrática Alemã Comunista era parte da zona de influência da União Soviética. Berlim era uma espécie de ilha cercada pelo bloco comunista. Com o passar dos anos, isso se tornou um problema. Primeiro, porque os serviços secretos dos Estados Unidos e do Reino Unido usavam a cidade como base para espionagem. Segundo, porque mais de 2 milhões e meio de pessoas fugiram da parte oriental para a ocidental entre 1949 e 1961. Muitos cruzavam a fronteira em busca das oportunidades do lado capitalista. Na noite de 3 de agosto de 1961, começou a Operação Rosa. Em poucas horas e para a surpresa de muita gente, o Muro de Berlim foi erguido. Nos anos seguintes, ele se transformou em uma barreira quase intransponível, feita de... placas de concreto e cabos de aço. Era um muro de mais de 3 metros e meio de altura, reforçado por cercas elétricas. E antes do muro havia a chamada Faixa da Morte. Era vigiada por policiais armados no alto de torres e cães policiais no solo. O muro tinha 155 quilômetros de extensão e rodeava toda a Berlim Ocidental. Ele separou famílias por quase 30 anos. Minha família vivia na parte capitalista de Alemanha e não foi diretamente afeitada, mas foi um trauma para gerações de alemães. Nessas três décadas, cerca de 260 pessoas morreram tentando chegar ao lado capitalista. Outras milhares foram presas. Mas escapar não era impossível. Mais de 5 mil berlinenses do leste ultrapassaram o muro em túneis, escondidos em carros ou até de tirolesa e balão. Nem todo mundo vivia insatisfeito no lado comunista da Alemanha, mas muita gente que não gostava tentava atravessar o muro. Então ele se tornou um símbolo do que não estava funcionando na União Soviética. Mas no final dos anos 80, a situação mudaria radicalmente. Desde 1985, os governos comunistas eram cada vez mais corruptos e pouco eficientes. A União Soviética viveu uma profunda crise econômica, agravada pelo alto custo da corrida armamentista com os Estados Unidos e pela guerra no Afeganistão. uma década de conflito que foi chamada de Vietnã-Russo. Isso obrigou o governo a cortar a ajuda econômica que forneceu durante décadas a todos os países do bloco comunista, incluindo a Alemanha Oriental. Todos esses problemas causaram uma grande tensão social. O então líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, respondeu com uma proposta de abertura social e política. Ficou conhecida como Glasnost. Graças a ela, os cidadãos e os meios de comunicação dos países soviéticos começaram a ter mais liberdade de expressão. e usá-la para criticar os governos. Greves e protestos inéditos foram convocados em todos os países do bloco comunista. Na Polônia, o movimento sindical não comunista Solidariedade, liderado por Lech Walesa, conseguiu as primeiras eleições parcialmente livres em décadas. Também em junho, a Hungria decidiu abrir sua fronteira. Milhares de alemães cruzaram para o bloco ocidental por ali. Foi durante essa onda de mudanças que aconteceu o que muitos na época achavam impossível, a queda do muro de Belém. Eu era muito pequena, mas me lembro dos meus pais chocados e mesmo anos depois repetindo um glópel inacreditável. Na Alemanha Oriental, o presidente Erich Honecker enfrentou enormes protestos, relutando em aceitar as demandas dos cidadãos. Honecker renunciou em 9 de novembro. O governo da Alemanha do Leste se viu forçado a... fazer mudanças como, por exemplo, permitir que as pessoas viajassem para fora do bloco comunista. A ideia era que a medida fosse aplicada apenas no dia seguinte, e com restrições. Mas quando um alto funcionário do governo foi questionado em uma coletiva de imprensa, tudo se precipitou. Uma multidão eufórica começou a cruzar a fronteira, agora aberta. Alguns pisaram no lado ocidental da cidade pela primeira vez na vida. Do outro lado, centenas de animais ocidentais os esperavam e comemoravam aquele momento histórico. Famílias e amigos se reuniram depois de três décadas. As imagens deram a volta ao mundo. Nos meses seguintes, a República Democrática Alemã entrou em colapso. Os outros governos do bloco comunista foram caindo um após o outro. Em 1991, a União Soviética se desfez. pondo fim ao mundo bipolar da Guerra Fria. A euforia daquelas primeiras semanas logo deu lugar ao desânimo entre muitos. Eles ganhavam a liberdade, mas perdiam de uma hora para outra garantia. como pleno emprego ou mesmo creches gratuitas. Muitos também se sentiam traídos. Encaravam as empresas, por exemplo, como um bem comum. Mas, com a reunificação, elas foram fechadas ou privatizadas sem que os trabalhadores ganhassem o que entendiam ser sua parte. Hoje, 30 anos depois, uma pesquisa mostra que, entre os alemães do leste, 72% avaliam positivamente a reunificação. Música mas 37% acham que, em muitos aspectos, a vida era melhor na antiga Alemanha oriental. Desde a reunificação, desemprego e falta de perspectivas fizeram com que cerca de um em cada quatro alemães imigrasse do leste ao oeste. Mas uma mudança ocorreu em 2017. Depois de quase 30 anos perdendo população, o leste da Alemanha virou jogo demográfico. O país se tornou o grande motor econômico da Europa. Mesmo assim, o governo ainda não atingiu um equilíbrio entre as duas Alemanhas. Mesmo assim, as diferenças econômicas e sociais entre o leste e o oeste da Alemanha ainda são claras. Ainda hoje, o salário médio do oeste é quase 20% maior do que no leste. É também no oeste que estão as sedes das grandes empresas alemãs. Hoje... pedaços desse muro tão simbólico estão distribuídos pelo mundo. São uma lembrança de que essa linha de concreto dividiu muito mais do que uma cidade.