Title: Microsoft Word - Antrope_DEZ_2022_SG.docx
URL Source: blob://pdf/5865ec0e-3170-4cc9-9e8a-2724d43941de
Markdown Content:
# Projetos em curso
> N. 1 5 // dez embro 2022 // www.cta.ipt.pt
2
# www.cta.ipt.pt
N. 1 5 // dezembro 20 22 // Instituto Politcnico de Tomar
PROPRIETRIO
Instituto Politcnico de Tomar | Centro das Arqueologias
EDITORA
Ana Pinto da Cruz, Instituto Politcnico de Tomar
CO -EDITORA DO PRESENTE NMERO
Sara Garcs, Instituto Politcnico de Tomar
EDIO E SEDE DE REDACO
Centro das Arqueologias, Instituto Politcnico de Tomar
DIVULGAO
Em Linha
DIRECTORES -ADJUNTOS
Helena Moura, Rodrigo Banha da Silva, Vasco Gil Mantas, Thierry Aubry
CONSELHO CIENTFICO
Alexandra Figueiredo, Professora Adjunta /Doutora em Arqueologia e Pr -histria, Responsvel
pelo Laboratrio: Arqueologia e Conservao do Patrimnio Subaqutico, Diretora dos
cursos: 1. Arqueologia, Gesto e Educao Patrimonia l; 2. Arqueologia Subaqutica
Ana M. S. Bettencourt, Departamento de Histria do Instituto de Cincias Sociais da
Universidade do Minho
Luiz Oosterbeek, Professor Coordenador do Instituto Politcnico de Tomar
Primitiva Bueno Ramirez, Professora Catedrtica Doutora, Universidad de Alcal de Henares
Rodrigo Balbn Behrmann, Professor Catedrtico Doutor da Universidad de Alcal de Henares
Rossano Lopes Bastos, Doutor, Arquelogo. Assessoria e consultoria em Patrimnio Cultural e
Arqueolgico. Livre Docente em Arqueologia Brasileira/MAE/US
Telmo Pereira, Universidade Autnoma de Lisboa. Instituto Politcnico de Tomar. Quinta do
Contador. Instituto Terra e Memria. Centro de Geocincias da Univer sidade de
Coimbra. UNIARQ, Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa. Faculdade de
Letras, Universidade de Lisboa
Thomas W. Wyrwoll, THERION, Francoforte do Meno, Alemanha
DESIGN GRFICO
Gabinete de Comunicao e Imagem, Instituto Politcnico de Tom ar
PERIODICIDADE
Semestral - ISSN 2183 - 1386
LATINDEX folio n 23611 | ANOTADA DA ERC | REGISTADA NA INPI
Os textos so da inteira responsabilidade dos autores .34
# ndice
EDITORIAL........... 0 6
TURARQ, INOVAO
Luiz Oosterbeek.............................................................. .... 08
INVESTIGAO ARQUEOLGICA NO STIO ROMANO DE VALE DO JUNCO
(ORTIGA, MAO)
Fernando Coimbra. ... 31
AS PRIMEIRAS MANIFESTAES ARTSTICAS DO CENTRO -OESTE DA
PENNSULA IBRICA: O VALE DO OCREZA
Sara Garcs e Telmo Pereira ......................................................................................... 53
O PROJETO FIRST -ART. UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR PARA A
CARACTERIZAO DA ARTE NEANDERTAL
Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, P ierluigi
Rosina, Jos Julio Garca Arranz, Hugo A. Mira, George Nash ......... .. . 69 56
Antrope // N. 1 5 // dezembro 2022 // pp. 0 6 07 // ISSN 2183 -1386
http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
# EDITORIAL 7
> // Editorial //
# Editorial
Devido ao falecimento da Doutora Ana Rosa Cruz este nmero publicado apenas
com projetos aprovados e previamente avaliados, estando em preparao um nmero para
o ano de 2023 em sua homenagem. 89
Antrope // N. 1 5 // dezembro 2022 // pp. 09 30 // ISSN 2183 -1386
http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
# TURARQ INOVAO 1
# TURARQ INOVATION 2
# Luiz Oosterbeek
Instituto Politcnico de Tomar
[email protected]
> 1
Projeto submetido a concurso no mbito do concurso CENTRO -59 -2020 -06 para contratao de
recursos altamente qualificados para territrios do interior, e aprovado com o n CENTRO -04 -3559 -FSE -
000158.
> 2
Project submitted to tender under the call for tender "CENTRO -59 -2020 -06" for the
recruitment of highly qualified resources for in land territories and approved under the number
CENTRO -04 -3559 -FSE -000158. 10
> Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVA O //
Resumo
A estratgia do presente projeto assenta em dois pilares: acessibilidade do
Patrimnio Cultural e Territorial (aliado ao Turismo e assegurando a sua Conservao),
apoiada por novos recursos digitais que, porm, devem potenciar a fruio cognitiva
atravs de experincias analgicas. A promoo do Turismo Patrimonial beneficia os
territrios de baixa densidade, gerando riqueza e novos empregos, tanto direta quanto
indiretamente. Acionar, duplamente, o tour digital e o tour presencial constituem um
procedimento empresarial acelerado pela crise sanitria procura turstica atual:
constatao relevante para esta proposta de valorizao patrim onial holstica e preditiva.
Na esfera do patrimnio identificada uma lacuna essencial para a valorizao global
dos territrios, que penaliza sobretudo os territrios de baixa densidade demogrfica:
uma compreenso e valorizao do patrimnio arqueolgi co, que representa mais de
90% dos recursos patrimoniais da regio, com distribuio equilibrada por todo o
territrio. Tal no se deve falta de identificao desse patrimnio, em grande medida
inventariado, mas falta de recursos humanos qualificados e dedicados a essa
valorizao.
A dificuldade dos agentes tursticos em valorizar esses recursos patrimoniais tem
bloqueado a sua plena insero em cadeias de valor que contribuam no apenas para o
desenvolvimento de ambos os setores, mas para o desenvolvi mento e coeso territoriais.
O projeto parte desta estratgia e dos recursos dos trs centros de pesquisa acreditados
pela Fundao para a Cincia e Tecnologia (FCT) no Instituto Politcnico de Tomar
(IPT), articulando -se com entidades nacionais que gerem o territrio, o patrimnio e o
turismo (CIMT Comunidade Intermunicipal do Mdio Tejo; DGPC Direo Geral
do Patrimnio Cultural; e Turismo Centro), com o setor empresarial (NERSANT 11
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Associao Empresarial da Regio de Santarm; e PME Pequenas e Mdi as Empresas)
e com a UNESCO - Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a
Cultura.
Abstract
The strategy of this project is based on two pillars: accessibility of Cultural and
Territorial Heritage (allied to Tourism and ensuring its Conservation), supported by new
digital resources which, however, should enhance cognitive fruition through analogi cal
experiences. The promotion of Heritage Tourism benefits low density territories,
generating wealth and new jobs, both directly and indirectly. Activating, doubly, the
"digital tour" and the "face -to -face tour" is a business procedure accelerated by the
sanitary crisis to the current tourism demand: it is relevant to this proposal of holistic and
predictive heritage valuation.
In the sphere of heritage, an essential gap is identified for the overall valorisation
of the territories, which penalises above all the territories of low demographic density: an
understanding and valorisation of the archaeological heritage, which represents more than
90% of the heritage resources of the region, with a balanced distribution throughout the
territory. This is not du e to the lack of identification of this heritage, largely inventoried,
but to the lack of qualified human resources dedicated to this valorisation. The difficulty
of tourism agents in valuing these heritage resources has blocked their full insertion into
value chains that contribute not only to the development of both sectors, but to territorial
development and cohesion.
The project is based on this strategy and on the resources of the three research
centres accredited by the Foundation for Science and Tech nology (FCT) at the
Polytechnic Institute of Tomar (IPT), articulating with national entities that manage the 12
> Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO //
territory, heritage and tourism (CIMT - Intermunicipal Community of the Mdio Tejo;
DGPC - Direo Geral do Patrimnio Cultural; and Turismo Centr o), with the business
sector (NERSANT - Santarm Region Business Association; and PME - Small and
Medium Sized Enterprises) and with UNESCO - United Nations Educational, Scientific
and Cultural Organization.
Projet o, Plano de insero dos recursos humanos altamente qualificados no plano
de atividades do IPT e demonstrao do enquadramento no objetivo especfico da
prioridade de investimento 8.5
A presente proposta pretende contribuir para o desenvolvimento rural da regio
do Mdio Tejo, uma regio estratgica do ponto de vista da potencialidade da relao
entre patrimnio e turismo, entendida num contexto ps -Covid -19, no qual se estima que
as dimenses de proximidade, disperso territorial e co -construo de conhecimento
venham a ser estruturalmente mais relevantes (Figueira & Oosterbeek, 2020).
A estratgia do presente projeto assenta em dois pilares: acessibilidade do
Patrimnio Cultural e Territorial (aliado ao Turismo e Conservao e R estauro),
apoiada por novos recursos digitais que, porm, devem potenciar a fruio cognitiva
atravs de experincias analgicas. O projeto inscreve -se numa lgica de progressiva
estruturao de uma malha urbana em rede de Cidades Inteligentes, apoiada num a
Logstica 4.0, este conjunto implicando a integrao de saberes e experincias
tradicionais (analgicas, cuja importncia social, econmica e psicolgica se tornou
muito evidente durante o confinamento) com novas tecnologias e recursos digitais
(Choudhur y & Dixit, 2018). 13
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
O Turismo Cultural foi recentemente reafirmado pela OMT (Organizao
Mundial do Turismo) como um elemento importante do consumo turstico internacion al,
representando mais de 39% das chegadas tursticas. A investigao no domnio do
turismo cultural tambm cresceu rapidamente, nomeadamente em domnios como o
consumo cultural, as motivaes culturais, a conservao do Patrimnio, a economia do
turismo c ultural, a antropologia e a relao com a economia criativa. As principais
tendncias da investigao incluem a passagem do patrimnio material para o imaterial,
uma maior ateno aos grupos indgenas e a outros grupos minoritrios e uma expanso
geogrfic a na cobertura da investigao em turismo cultural. Este domnio reflete tambm
uma srie de "voltas" nas cincias sociais, incluindo as mobilidades, desempenho e
criatividade (Richards, 2018).
A promoo do Turismo Patrimonial beneficia os territrios de baixa densidade,
gerando riqueza e novos empregos, tanto direta quanto indiretamente. O desafio comum
, no entanto, melhorar o tradicional sistema de proteo e gesto turstica das reas
naturais que abrigam recursos patrimoniais no meio rural modernizando -o e renovando -
o, gerando um modelo de gesto integrado aprovado e, acima de tudo, adaptando -o aos
novos desafios do uso da tecnologia por parte das populaes. Este modelo poder, no
futuro, ser transferido para outras regies.
Neste quadro geral, na esfera do patrimnio identificada uma lacuna essencial
para a valorizao global dos territrios, que penaliza sobretudo os territrios de baixa
densidade demogrfica e que importa colmatar para que o conjunto dos municpios e
agen tes possam potenciar as oportunidades criadas: uma compreenso e valorizao do
patrimnio arqueolgico, que representa mais de 90% dos recursos patrimoniais da
regio, com distribuio equilibrada por todo o territrio. Tal no se deve falta de
identifi cao desse patrimnio, em grande medida inventariado, mas falta de recursos 14
> Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO //
humanos qualificados e dedicados a essa valorizao. A dificuldade dos agentes
tursticos em valorizar esses recursos patrimoniais tem bloqueado a sua plena insero
em cadeias de valor que contribuam no apenas para o desenvolvimento de ambos os
setores, mas para o desenvolvimento e coeso territoriais.
O IPT, atravs da ctedra UNESCO -IPT de Humanidades e Gesto Territorial e
de diversos dos seus cursos, tem desenvolvido uma ateno especial aos territrios de
baixa densidade (Oosterbeek), procurando estruturar interfaces entre os setores cultural
e econmico, num quadro de internacionalizao 3. Este envolvimento exprime -se
tambm pela a rticulao com a UNESCO no sentido de preparar um novo programa
internacional, com a designao BRIDGES, que teve o seu ponto de partida num
encontro organizado no Centro de Estudos Politcnicos de Mao em 2019, e que tem
uma ateno especial aos territr ios de baixa densidade 4.
O projeto parte desta estratgia e dos recursos dos trs centros de pesquisa
acreditados pela Fundao para a Cincia e Tecnologia (FCT) no Instituto Politcnico
de Tomar (IPT), articulando -se com entidades nacionais que gerem o territrio, o
patrimnio e o turismo (CIMT Comunidade Intermunicipal do Mdio Tejo; DGPC
Direo Geral do Patrimnio Cultural; e Turismo Centro), com o setor empresarial
(NERSANT Associao Empresarial da Regio de Santarm; e PME Pequenas e
Mdias Empresas) e com a UNESCO - Organizao das Naes Unidas para a Educao,
a Cincia e a Cultura., como se ilustra no diagrama da figura 1.
> 3e.g. https://drive.google.com/open?id=1XfUE17qn1oIVyjrj7pGO4s8Y7KLi2wE8
> 4vd. https://en.unesco.org/news/toward -establishment -bridges -action -promote -sustainability -
> science 15
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Fig. 1 Dinmica do projeto: prisma da coeso territorial atravs de uma estratgia
turstica que valorize o patrimnio arqueolgico, apoiada na pesquisa e inovao e
estabelea uma vinculao entre recursos digitais e experincias analgicas (centro);
enquadramento nos programas estratgicos da Ctedra UNESCO -IPT e dos trs centros
de investigao da rede FCT no IPT (crculo interno); em articulao com entidades de
gesto territorial, empresariais e internacionais (crculo externo).
O presente projeto estrutura uma equipa enquadrada com o apoio da referida
ctedra UNESCO e dos trs centros de investigao do IPT que integram a rede apoiada
pela FCT (Centro de Geocincias 5, Techn&Art 6, Ci2 7), que articula as dimenses de
reconhecimento e valorizao da malha patrimonial dos territrios impactados, com
ateno especial ao patrimnio arqueolgico, incorporando a inter face com o tecido
empresarial no domnio do turismo, as preocupaes de conservao e sustentabilidade
do patrimnio nesse contexto, a construo de instrumentos econmicos de valorizao
> 5
http://portal2.ipt.pt/pt/ipt/servicos_especializados/centro_de_geociencias/
> 6
http://www.techneart.ipt.pt/pt/centro/
> 7
http://www.ci2.ipt.pt/ 16
> Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO //
territorial e o desenvolvimento e implementao de diversas solues digitais integradas
(envolvendo Cloud Computing, Big Data Management, Inteligncia Artificial e Internet
das Coisas). Esta estratgia configura, tambm, uma resposta s necessidades de
reorganizao que decorrem do impacto da pandemia de Covid -19: a valor izao do
patrimnio arqueolgico, disperso pelo territrio de forma equilibrada e integrada com os
ecossistemas, na dupla perspetiva da sua fruio e conservao, converge com as
perspetivas de integrao dos vetores cultural, econmico e sanitrio, em to rno da
sustentabilidade global (Mauser et al., 2013).
O projeto beneficia, tambm, de sinergias com o projeto desenvolvido pelo IPT
sobre territrios de montanha, HIGHLANDS.3, financiado pela Comisso Europeia no
m bito do programa H2020 -MCSA -RISE.
O foco da equipa de projeto, para alm da integrao transversal das competncias
dos trs centros num esforo de desenvolvimento territorial, o de apoiar o tecido
empresarial no setor do turismo (em articulao com a N ERSANT, potenciando a
experincia j em curso de colaborao na implementao de um parque arqueosocial,
em Mao, onde estas dimenses esto integradas e se organiza uma estratgia de
reanimao turstica em contexto de desconfinamento 8), apoiando igualm ente as
estratgias de coeso territorial implementadas no quadro da CIMT. Uma dimenso
essencial do presente projeto o aprofundamento da articulao do IPT com estas duas
entidades.
> 8vd. https://www.youtube. com/watch?v=3h7bS -IB --M17
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Perfis dos recursos humanos a contratar
Segundo a Estratgia Regional de Especializao Inteligente (RIS3), no Centro,
os diversos agentes regionais validaram um conjunto de domnios diferenciadores
temticos nos quais a regio se diferencia. Estes domnios correspondem a reas nas quais
existe capacidade produtiva instalada e/ou capacidade de produo de conhecimento
cientfico e tec nolgico, seja de forma consolidada, seja uma realidade emergente ou
mesmo uma aposta mais voluntarista. O Turismo constitui um dos domnios
diferenciadores temticos da regio Centro, seja pelos resultados que os dados estatsticos
disponveis evidenciam, seja pelas dinmicas instaladas no territrio, seja ainda pelas
caractersticas fsicas da regio baseadas em recursos endgenos diversificados que faz
todo o sentido valorizar no contexto de uma estratgia de especializao inteligente.
Foram igualmente identificadas prioridades transversais, que podem nortear os
investimentos a fazer como a sustentabilidade dos recursos, eficincia energtica, coeso
territorial e internacionalizao atravs de solues industriais sustentveis, valorizao
dos recursos endgenos naturais, tecnologias para a qualidade de vida e inovao
territorial. tambm objetivo das RIS3 apoiar as regies rurais e menos desenvolvidas.
Pretende -se assim, seguindo as diretrizes da RIS3 implementar uma estratgia no s
assente na excel ncia cientfica e tecnolgica, mas tambm na no -tecnolgica e incluir
a adoo e a difuso do conhecimento e da inovao como um dos pilares do projeto (por
exemplo, inovaes sociais e de servios, a es para enfrentar desafios societais).
A contr atao de Recursos Humanos Altamente Qualificados impe -se como uma
necessidade absoluta para que o projeto possa ser implementado, em face da necessidade
de o mesmo ser dotado de uma equipa de projeto totalmente dedicada ao mesmo.
Perfil 1 Patrimnio ar queolgico, tecnologias digitais e integrao de territrios
em redes tursticas internacionais 18
> Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO //
O IPT pretende contratar um(a) Doutor(a) com formao em arqueologia e
patrimnio e com experincia no domnio da valorizao turstica do patrimnio
arqueolg ico, incluindo a interface com o setor empresarial. As suas funes sero de
caracterizao da estrutura de comunicao do acervo patrimonial arqueolgico,
formao de terceiros neste domnio e articulao entre as diferentes dimenses do
projeto.
Perfil 2 Aplicaes digitais e sistemas inteligentes para a valorizao
patrimonial e turstica do territrio
O IPT pretende contratar um(a) Doutor(a) em Engenharia Informtica, Cincias
da Computao ou reas afins, com experincia e conhecimentos prvios em
processamento e anlise de grandes quantidades de dados (Big data), algoritmos de
Inteligncia Artificial, em particular de Aprendizagem Automtica e Aprendizagem
Profunda, em programao (C++, Python, Open CV, MATLAB, Machine Learning/Deep
Learning tools). A pessoa a contratar ser integrada no centro de investigao Ci2, num
quadro de colaborao com os outros dois centros de investigao do IPT acreditados e
apoiados pela FCT.
Perfil 3 Organizao de pro jetos de transferncia de conhecimento para as
empresas
O IPT pretende contratar um(a) Doutor(a) com formao na rea de cincias, que
possua experincia de trabalho com o ensino superior e a investigao, bem como com
empresas, designadamente em contextos de transferncia de conhecimentos e de
preparao e gesto de projetos.
Perfil 4 Conservao do patrimnio 19
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial& seccao=antrope&lang=PT#media
A valorizao patrimonial dos acervos e stios arqueolgico confronta -se, sempre,
com um risco elevado de eroso, decorrente da insuficiente monitorizao da sua
capacidade de carga e da insuficiente avaliao do estado de conservao. O IPT possui
uma gra nde experincia neste domnio, e pretende contratar um(a) Doutor(a) com
formao em conservao e restauro, para coordenar essa vertente.
Perfil 5 Cincias Econmicas e Empresariais para o Turismo Sustentvel e
Valorizao Patrimonial do Territrio
O IPT pretende contratar um(a) Doutor(a) em Cincias Econmicas e
Empresarias preferencialmente nas reas de especialidade em Economia do Turismo e
Desenvolvimento Regional, Turismo Sustentvel e Valorizao do Patrimnio, Gesto
Estratgica e Planeamento, Su stentabilidade Societal e Cincias Exactas nomeadamente
nas reas da Estatstica e Investigao Operacional. Deve ter experincia na anlise de
dados e construo de modelos econmicos aplicados ao desenvolvimento regional,
redao de artigos cientficos, redao de propostas de projetos a submeter a entidades
financiadoras, divulgao de cincia e apoio gesto de projetos cientficos, tendo como
temas a privilegiar a gesto territorial e setorial. A pessoa a contratar ser integrada no
centro de investig ao Techn&Art, num quadro de colaborao com os outros dois
centros de investigao do IPT acreditados e apoiados pela FCT.
Perfil 6 Valorizao do Patrimnio na sua articulao com o contexto
geomorfolgico e ambiental.
O IPT pretende contratar um(a) Doutor(a) com formao na interface do
patrimnio com as cincias da terra e da vida, de forma a valorizar a dimenso integra da
das paisagens culturais nos territrios de baixa densidade demogrfica, que possua
experincia de trabalho com a investigao aplicada para o desenvolvimento territorial e
turstico. 20
Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO //
Resultados esperados
Os resultados esperados situam -se em trs planos: investigao (co -construo de
conhecimento, envolvendo a populao residente e visitante), transferncia de
conhecimentos (entre ensino superior e o tecido empresarial) e valorizao de mercado
do patrimnio arqueolgico na sua relao com o territrio, que convergem para o
desenvolvimento territorial.
Fig. 2 Estratgia do projeto orientada para resultados.
No plano da investigao e inovao, o projeto pretende contribuir para um novo
paradig ma de apropriao do patrimnio arqueolgico que o inscreva no territrio como
um ativo de desenvolvimento a partir da integrao das dimenses de produo e fruio
de conhecimento, ultrapassando aparentes e falsos dilemas, que por vezes ainda
bloqueiam e ssa relao. Neste campo, o IPT participa e tem colaborado ativamente nas
mais importantes redes internacionais de pesquisa a nvel internacional, incluindo
HERITY International (parceiro da Comisso do Patrimnio Mundial da UNESCO e da
> Desenvolvimento
> territorial
> Transferncia
> de
> conhecimento
> Co -construo
> de
> conhecimento
> Valorizao de
> mercado 21
> Ant rope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Organizao Mundial de Turismo) 9, o Centro Universitrio Europeu para os Bens
Culturais 10 , a Bolsa de Turismo Arqueolgico do Mediterrneo (Paestum) 11 , os Itinerrios
Culturais do Conselho da Europa ou o Conselho Internacional para a Filosofia e as
Cincias Humanas 12 .
No plano da transferncia e valorizao de conhecimento para empresas, para
alm dos seus planos de formao conferentes de grau acadmico, o IPT ir estruturar
aes de formao, que se deseja que sejam articuladas em particular com a NERSANT,
para a preparao de gestores e funcionrios de empresas de hotelaria e turismo no
conhecimento e compreenso deste patrimnio e na orientao de visitantes pa ra o
mesmo, de forma articulada com a j existente rede de museus e servios municipais de
cultura (que tambm sero atualizados neste domnio, dando continuidade colaborao
com a CIMT).
No plano do mercado, o projeto dar apoio direto a empresas na est ruturao de
planos de atividade e negcios que potenciem o mapeamento do projeto, propondo,
sempre em parceria com as demais entidades territoriais, a criao de um selo de
qualidade para as empresas que acolham e promovam este eixo de valorizao
patrimo nial e territorial.
> 9
http://www.herity.info/
> 10
www.univeur.org
> 11
https://www.borsaturismoarcheologico.it/
> 12
www.cipsh.net 22
> Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO //
Metodologia de acompanhamento da operao
O projeto ter uma estrutura de gesto e monitorizao, integrando um conselho
coordenador, uma equipa de projeto e dois avaliadores externos, para alm do apoio do
gabinete de projetos do IPT.
O conselho coordenador composto pelos Doutores Luiz Oosterbeek (Ctedra
UNESCO -IPT), Lus Mota Figueira (CGEO), Sandra Jardim (Ci2) e Cludia Pires da
Silva (Techn&Art), alm de um representante a designar pela NERSANT e um
representante a designar pela CIMT. O Conselho toma as decises estratgicas e orienta
as atividades da equipa de projeto. s reunies do conselho coordenador assistir uma
representante da equipa de projeto bem como o diretor d o Gabinete de Apoio a Atividades
de Investigao e Desenvolvimento do IPT (Doutor Lus Santos, que por sua vez
coordenado, no IPT, do projeto H2020 RISE Higlands).
A equipa de projeto integra os seis quadros altamente qualificados que se iro
contratar, e tem a responsabilidade de implementar o projeto, incluindo a prossecuo das
medidas de aferio de impacto do projeto (indicadores). Dever, para alm das
atividades concretas de atuao, produzir um relatrio semestral, que incluir os referidos
indica dores.
Os relatrios semestrais do projeto sero disponibilizados para apreciao por
avaliadores independentes, um dos quais com perfil essencialmente acadmico e o outro
com perfil essencialmente empresarial. 23
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Sustentabilidade
O clculo do financiamento solicitado apresentado no anexo 3.1., que
acompanha este documento.
A sustentabilidade da operao a criar com o presente projeto uma prioridade
absoluta. Para o efeito, e para alm da monitorizao progressiva dos diversos
indicadores, prev -se a criao de uma estrutura de perenizao destas competncias. Esta
estrutura poder ter distintas formas de formalizao (como entidade prpria, como
parceria consolidada entre diferentes atores ou como unidade agregada a e ntidades j
existentes nos territrios), no sendo adequado propor desde j qual o modelo a
implementar (em face do quadro de incerteza que se vislumbra, na sequncia da crise
gerada pela pandemia atual).
No sendo ajustado definir j o modelo institucion al, definem -se, contudo, as
competncias e as possveis fontes de financiamento.
No plano do financiamento, sero exploradas a vertente empresarial (como oferta
de servios remunerados) e a estruturao de projetos internacionais de intercmbio
(designada mente com recurso a fundos de programas europeus), para alm das
perspetivas de empregabilidade no mbito do IPT, que constituiro sempre uma
prioridade, no mbito da autonomia de competncias do Instituto, nos termos da Lei e das
orientaes da tutela.
No plano das competncias, tratar -se - de manter o apoio identificao e
estruturao de processos de conhecimento e valorizao patrimoniais, que assegurem a
fruio e a conservao, bem como a sua internacionalizao, com recurso crescente a
tecnologias digitais, mas privilegiando as experincias analgicas. 24
> Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO //
Insero dos recursos humanos altamente qualificados no plano de atividades
do Instituto Politcnico de Tomar, a partir da Escola Superior de Tecnologia de
Abrantes e do Centro de Estudos Politcnicos de Mao
O IPT possui uma matriz formativa reconhecida nos domnios da arqueologia e
conservao do patrimnio, das tecnologias da informao e do turismo cultural. A
cooperao com o poder municipal e com as estruturas empresariais tem vindo a
implementar uma rede intermunicipal cada vez mais consolidada, destinada a melhorar
e reforar o uso social e turstico sustentvel de Paisagens Culturais, Histricas e
Arqueolgicas, preservadas em reas rurais.
Trata -se de uma estratgia de gesto integrada, sustentvel e inclusiva, para um
turismo temtico de qualidade, com base no conhecimento, na proximidade com as
comunidades locais e no valor e diversidade do territrio. Esta estratgia permite
implementar um modelo de gesto sustentvel das paisagens culturais tendo em conta o
seu desenvolvimento no tempo , favorecendo a conservao dos stios que podem ser
visitados (grutas, abrigos, afloramentos rochosos, monumentos, fortificaes, ) e do
ambiente natural a que esto intrinsecamente ligados.
Para alm das licenciaturas (em particular nas reas de Turismo, Patrimnio e
Informtica), so relevantes neste contexto os mestrados do IPT em Arqueologia e Gesto
de Paisagens Culturais (Erasmus Mundus) e Engenharia Informtica, bem como os
programas internacionais da ctedra UNESCO -IPT em Humanidades e Gesto Cultural
Integrada do Territrio (que coordena um programa internacional, com a UNESCO, sobre
territrios de baixa dens idade demogrfica). Estes cursos, e os projetos aplicados em curso,
contribuem j para promover a proteo legal e fsica dos espaos naturais com valores
arqueolgicos e histricos, atravs da definio e implementao da figura de "Paisagem 25
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Cultural e Tu rismo Sustentvel", que dever ajudar a evitar a degradao da qualidade
natural e meio -ambiental dos stios e seus entornos naturais, os problemas de
conservao do Patrimnio Cultural e Natural por causas naturais e antrpicas e o
abandono progressivo das populaes locais destes stios, ao gerar novas oportunidades
no campo da gesto e explorao econmica como recursos tursticos de excelncia, do
tipo arqueolgico , histrico e ambiental.
No existem, no entanto, recursos humanos que sejam dedicados especificamente
implementao desta a rticulao, o que implica perfis multidisciplinares, que cruzem
o conhecimento do patrimnio com as necessidades do tecido empresarial ligado ao
turismo e com os recursos tecnolgicos que configuram as cidades inteligentes. O IPT
prope -se contratar estes recursos, atravs da presente candidatura, focando os seus
esforos nos territrios de baixa densidade demogrfica.
A integrao dos recursos a contratar nas atividades do IPT ser feita, como
decorre do projeto, atravs dos seus trs centros de investiga o apoiados pela FCT e em
articulao com a oferta formativa do Instituto nos domnios do patrimnio, turismo e
engenharia informtica.
Demonstrao do enquadramento no objetivo especfico da prioridade de
investimento 8.5
O projeto contribui para os objetivos da Prioridade de Investimento 8.5, que
incentiva a adaptao mudana dos trabalhadores, das empresas e dos empresrios,
evidenciando, mais concretamente, a elevao de competncias empresariais em I&I
atravs da intensificao das interaes e ntre empresas e as entidades do sistema de I&I.
O projeto estrutura uma equipa que concretizar uma estratgica relao entre o Instituto 26
> Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO //
Politcnico de Tomar e o tecido empresarial, cujo objeti vo ser estimular a participao
ativa do sistema cientfico e tecnolgico no incremento de inovao empresarial nos
domnios do Turismo Cultural potenciados pela colaborao com empresas, em territrios
de baixa densidade. Desta forma, pretende -se contribuir para suprir um dos problemas
mais graves desses territrio s (o menor capital humano), sendo intuito do Instituto
Politcnico de Tomar desenvolver competncias nos domnios da Qualificao e
Internacionalizao da Investigao e Desenvolvimento e Inovao nos domnios do
Turismo do Patrimnio Histrico, Arqueolgi co e de Paisagens Culturais.
No projeto so claramente identificados os problemas e oportunidades a
considerar, bem como as categorias de atividades a desenvolver, especificando alguns dos
instrumentos a desenvolver e os resultados esperados (bem como os seus indicadores de
realizao), no que diz respeito produo, transferncia e valorizao de novo
conhecimento. Esta estratgia contribui para os desafios globais de sustentabilidade,
contribuindo para um maior equilbrio na relao entre reas de baixa densidade e reas
de concentrao populacional, temtica que constitui o foco de pesquisa da Ctedra
UNESCO -IPT de Humanidades e Gesto Cultural Integrada do Territrio, sendo
igualmente parte das linhas de pesquisa dos trs centros de investigao do IPT.
A dimenso de inovao do projeto est, por um lado, na abordagem temtica e
territorial que oferece e na firme vontade de gerar um frum de trabalho estvel que ajude
a melhorar as estratgias de conservao e usos sustentveis de espaos de alto valor
ambiental e cultural. Por outro lado, a aplicao dos postulados da economia circular (que
se baseia no paradigma "reduzi r, reutilizar e reciclar") deve favorecer um novo sistema
de gesto ambiental e, sobretudo, o turismo em reas rurais de alto valor ecolgico e
patrimonial. 27
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
A abordagem do projeto consiste em criar uma rede municipal estvel onde as
polticas comunitrias e internacionais (UNESCO) neste domnio possam se r
implementadas, proporcionando uma base de territrios que estimulam o turismo dos seus
territrios atravs de um conjunto de boas prticas e conhecimentos especializados.
A criao de uma rede de stios -paisagens culturais localizadas em reas rurais
or ientadas para a preservao e a explorao sustentvel dos destinos culturais e
tursticos patrimoniais pretende consolidar -se como uma slida estratgia de conservao
e uso cultural/econmico sustentvel para os locais e suas paisagens, estrelados pelas
populaes locais sob a superviso das autoridades locais/regionais interessadas.
As experincias que se pretende desenvolver aumentam a necessidade de
cooperar de maneira transmunicipal para conseguir objetivos comuns e obter resultados
apreciveis a nvel nacional e europeu, desenvolvendo uma atividade coordenada, e uma
rede slida e estvel para a melhoria das condies de uso do s recursos patrimoniais a
partir de um conjunto de boas prticas de conservao preventiva e cresc imento da
atividade econmica nas zonas rurais onde , por exemplo, se concentra uma importante
oferta turstica de stios arqueolgicos associados a paisagens desertificadas, mas que em
muitas ocasies ainda existe uma forte tradio na explorao destes recursos, o qual
constitui uma referncia da identidade dos territrios (Patrimnio Ferrovirio, Histrico,
Arqueolgico e Militar no caso da regio do Mdio Tejo). Os trabalhos a desenvolver
incluem:
No relacionamento de stios histricos e arqueolgicos proceder ao
levantamento de todo o patrimnio arqueolgico, respetivos cadastros e
atualizao de cadastros e classificaes;
Implementar um programa de reduo do impacto da pegada
humana nos stios e seus entornos naturais. Realizao de workshops e elaborao
de um manual tcnico conjunto focando na preveno de riscos e da redao de 28
> Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO //
planos de emergncia.
Redao de um plano -piloto de uso sustentvel , conservao e
difuso pblica sustentvel, numa estratgia conjunto em que os resultados da
experimentao beneficiem todos os envolvidos.
Proposta de implantao de recursos de conservao e
acessibilidade sustentvel em lugares arqueolgicos, histricos e zonas naturais
associadas.
Desenvolvimento de um modelo de gesto turstica para os stios
no meio -rura l, que inclua:
o Aplicao para gesto de pblicos;
o Programa de educao patrimonial orientada ao pblico
escolar e universitrio;
o Programa de formao do pessoal de atendimento ao
pblico dos destinos arqueolgicos e histricos e as suas paisagens
culturais;
o Programa de formao e empregabilidade para zonas
rurais;
o Difuso escala nacional, regional e global, mediante o uso
de novas tecnologias (website, aplicaes on -line), e sistemas
tradicionais (guia turstico, material de difuso, exposies
itinerantes...);
o Apoio em linha e presencial ao sector do turismo temtico:
conformao de pacotes tursticos destinados sua comercializao;
o Desenvolvimento de um plano de acessibilidade (fsica e
intelectual) para os destinos: peque nas infraestruturas para a melhoria
de estruturas de acesso fsico e intelectual, e recursos didticos
especficos.
o Desenvolvimento de manuais de boas prticas e
desenvolvimento de mapas de risco e planos de emergncia e
seminrios de formao para o pessoal e para os desempregados no 29
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
terreno rural.
o Desenvolvimento de sistemas de gesto turstica
inteligentes, com recurso a modelos de Inteligncia Artificial.
O principal pblico -alvo das aes e resultados do projeto a populao nos
territrios de baixa densidade, que vive nas zonas arqueolgicas e histricos envolvidas.
Mais especificamente, os gestores e utilizadores destas reas arqueolgicas histricas e
naturais so visados, bem como o pblico escolar e familiar e os turistas em geral.
Assim, a proposta visa um posicionamento do Patrimnio Histrico,
Arqueolgico e de Paisagens Culturais no mercado de turismo, baseado em aes que
favorecem a excelncia do servio cultural e de mediao turstica.
O projeto ser implementado em estreita articulao com os seguintes parceiros
estratgicos do IPT:
NERSANT, Associao empresarial
CIMT, Comunidad e Intermunicipal
Pinhal Maior, Associao de Desenvolvimento do Pinhal Interior
Sul
TAGUS Associao para o Desenvolvimento Integrado do
Ribatejo Interior
ACITOFEBA Associao Comercial e Industrial
Tagus Valley, Tecnopolo do Vale do Tejo
ACIAAR Centro de Interpretao de Arqueologia do Alto
Ribatejo
Rede de Formao Tecnolgica e Profissional do Mdio Tejo
Instituto Terra e Memria, Mao 30
> Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO //
> Agradecimentos
> O presente projeto foi elaborado no mbito do Centro de Geocincias, com a colaborao
> do C entro Techn&Art e do Centro Ci2 do IPT. O coordenador agradece em especial a Lus Mota
> Figueira, Srgio Nunes, Sandra Jardim, Lus Santos e Rita Anastcio pelas sugestes na fase de
> candidatura e pela colaborao na implementao do projeto, ao qual foi re forado com a
> colaborao de Regina Delfino e Ricardo Tries, dos investigadores contratados (Sara Garcs,
> Hugo Gomes, Ancia Trindade, Eduardo Ferraz, Douglas Cardoso e Marco Martins) e de Joana
> Gerardo Rey. O agradecimento alarga -se s colaboraes e sug estes de: Associao Empresarial
> NERSANT; Municpios de Mao, Abrantes, Constncia, Vila Nova da Barquinha e Tomar;
> Comunidade Intermunicipal do Mdio Tejo; Turismo Centro; DGPC.
Referncias Bibliogrficas
Choudhury, R.R.; Dixit, S.K. (2018). Prospects and Challenges in Smart Tourism.
International Journal of Creative Research Thoughts, 6 (1), pp. 242 -248.
Figueira, L.M.; Oosterbeek, L., Turismo mundial, crise sanitria e futuro: vises globais
partilhadas . Tomar: Instituto Politcnico de Tomar, pp. 141 -154.
Mauser, W. et al. (2013). Transdisciplinary global change research: The co -creation of
knowledge for sustainability. Curr. Opin. Environ. Sustain. 5, 420 431.
Oosterbeek, Luiz (ed., 2019). Resilience and Transformation in the territories of
lowdemographic density. Studies in Honnour of Prof. Jos Bayolo Pacheco
deAmorim, on occasion of the establishment of the UNESCO -IPT chair
onHumanities and Cultural Integrated Landscape Management. Mao: Instituto
Terr ae Memria, srie ARKEOS, vol. 48.
Richards, G. (2018). Cultural Tourism: A review of recent research and trends. Journal
of Hospitality and Tourism Management , 36, pp. 12 -21. 31
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
# INVESTIGAO ARQUEOLGICA
# NO STIO ROMANO DE VALE DO JUNCO
# (ORTIGA, MAO)
# ARCHAEOLOGICAL RESEARCH
# AT THE ROMAN SITE OF VALE DO JUNCO
# (ORTIGA, MAO)
# Fernando Coimbra
Museu de Arte Pr -histrica de Mao
Instituto Politcnico de Tomar
[email protected] 32
> Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) //
Resumo
Em termos de escavao arqueolgica, a Estao Romana de Vale do Junco foi
intervencionada pela ltima vez em 1986, altura em que descobriram importantes
vestgios e artefactos de uma forja romana. Com este artigo apresenta -se um Projeto de
Investigao Pl urianual em Arqueologia (PIPA), aprovado pela tutela, que pretende dar
continuidade investigao naquele arqueosstio. No mbito do PIPA referido j se
realizaram trabalhos preparatrios, constitudos por prospeo geoeltrica, cujos
resultados se encont ram ainda em estudo. O presente texto efetua a reviso do estado dos
conhecimentos sobre Vale do Junco, a descrio tcnico/cientfica do projeto, aborda a
difuso dos resultados esperados e as medidas de proteo e salvaguarda programadas
para esta esta o arqueolgica. referido ainda um primeiro resultado prtico do projeto,
consubstanciado na organizao de uma exposio temporria com peas arqueolgicas
provenientes de Vale do Junco.
Abstract
In terms of archaeological excavation, the Roman Site of Vale do Junco was last
intervened in 1986, when important remains and artefacts from a Roman forge were
discovered. This article presents a Multi -Annual Research Project in Archaeology
(PIPA), approved by the supervising Ministry, which intends to give co ntinuity to the
research in that archaeological site. The preparatory work, consisting of geoelectric
prospection, whose results are still being studied, has already been carried out within the
scope of the PIPA. The present text reviews the state of knowl edge about Vale do Junco,
the technical/scientific description of the project, addresses the dissemination of the
expected results and the protection and safeguard measures planned for this 33
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
archaeological site. A first practical result of the project is al so mentioned, embodied in
the organization of a temporary exhibition with archaeological pieces from Vale do Junco.
Introduo
O presente artigo pretende dar a conhecer um projeto de investigao arqueolgica
na Estao Romana de Vale do Junco, 13 que se encontra aprovado pela Direo Geral do
Patrimnio Cultural (DGPC), do qual j se realizaram trabalhos preparatrios
constitudos por prospeo geoeltrica, cujos resultados se encontram ainda em estudo.
Em termos geomorfolgicos, Vale do Junco loc aliza -se num terrao fluvial do Rio
Tejo, com uma altitude mdia entre 70m e 90m, sendo a cobertura dos terrenos constituda
por depsitos do antigo esturio pliocnico do Pr -Tejo, formada por saibros, argilas e
areias, com cascalheiras nas cotas mais ele vadas (Zbyzwesky et al., 1981). Foi relatada a
recolha, no local, de alguns utenslios lticos com uma cronologia atribuvel ao Paleoltico
(Carvalho e Cabral, 1996), informao que ser tida em conta aquando da realizao dos
trabalhos de campo previstos no presente projeto.
O objetivo geral do presente projeto retomar a investigao em Vale do Junco,
cuja ltima interveno remonta a mais de 35 anos, pretendendo -se conseguir um melhor
conhecimento do Perodo Romano na regio e, simultaneamente, salvagu ardar e
rentabilizar o stio em termos de educao patrimonial e de turismo cultural, dado que se
encontra enquadrado numa paisagem de grande beleza natural, num planalto localizado
sobre uma curva pronunciada do Rio Tejo. De modo a atingir esse triplo obj etivo,
propomos os seguintes objetivos especficos: 1) efetuar prospeo seletiva, de modo a
compreender a delimitao da rea da estao arqueolgica de Vale do Junco; 2) realizar
> 13 assim que este arqueosstio designado no Portal do Arquelogo. Neste texto, de modo a simplificar,
> o stio denominado apenas como Vale do Junco. 34
> Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) //
escavaes arqueolgicas para c olocar a descoberto a totalidade das estrutu ras do
balnerio, que se encontra ainda parcialmente enterrado; 3) efetuar sondagens
arqueolgicas em reas ainda no intervencionadas, que indiquem a existncia de
estruturas enterradas, segundo as informaes de prospeo geoeltrica j realizada; 4)
rel ocalizar, preservar e salvaguardar a necrpole, escavada apenas de modo preliminar h
mais de 70 anos; 5) estabelecer um quadro cronolgico mais preciso dos contextos de
ocupao do local, que permita compreender melhor o stio e as atividades a
desenvolv idas no Perodo Romano; 6) efetuar prospeo numa rea mais alargada em
redor de Vale do Junco, que permita identificar outros vestgios romanos e,
simultaneamente, compreender de modo complementar as atividades econmicas que
foram desenvolvidas naquela e stao arqueolgica; 7) divulgao cientfica e cultural dos
resultados dos trabalhos, atravs de publicaes, participao em congressos, organizao
de conferncias e atividades destinadas ao pblico; 8) organizao de uma exposio
temporria com materi ais provenientes de Vale do Junco, existentes nas reservas do
Museu de Arte Pr -histrica de Mao; 9) preservar, conservar e musealizar esta estao
arqueolgica, com o apoio institucional, logstico e financeiro da Cmara Municipal de
Mao e do Institut o Terra e Memria.
Relativamente a estes objetivos, a exposio temporria referida foi j inaugurada
no dia dez de dezembro de 2022, com grande afluncia de pblico, e apresentao de um
catlogo preliminar, cuja edio est programada para breve (Coimbra, no prelo).
Revi so do estado dos conhecimentos
O territrio do Concelho de Mao bastante rico em vestgios arqueolgicos de
vrias pocas, desde o Paleoltico e o Neoltico at s Idades dos Metais e ao Perodo
Romano (Oosterbeek e Cura, 2005; Pierro, 2019), no send o de descartar alguns stios 35
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152 // ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editor ial&seccao=antrope&lang=PT#media
arqueolgicos de datao posterior. Todavia, a Romanizao deste territrio ainda um
dos fenmenos menos estudados na regio e que urge investigar, de modo a completar o
conhecimento sobre as estratgias de povoamento e a ren tabilizao dos recursos naturais
desde a chegada dos romanos s terras que constituem o atual municpio de Mao.
No que diz respeito a Vale do Junco, trata -se provavelmente uma villa com
balnerio privado, situada na rea de influncia da civitas de Aritium Vetus, a pouca
distncia de Alvega (Alarco, 1987; 1988) , cujo territrio se estendia pelas duas margens
do Tejo, sendo ligado por uma ponte (Alarco, 1985), cujos peges parecem ainda existir
na margem sul (Carvalho e Cabral, 1996). As escavaes iniciais de Joo Calado
Rodrigues, com lacunas entre 1943 e 1952, colocaram a descoberto apenas parte das
estruturas termais (Pereira, 1970). No incio da dcada de 50, os trabalhos dirigidos por
Joo Manuel Bairro Oleiro tiveram lugar, de modo preliminar, na rea da necrpole
(Carvalho, 1987a), situada a leste do balne rio, e descoberta anteriormente necrpole
da Herdade do Carvalhal, em Constncia (Dias, 1987). Existem ainda referncias ao
aparecimento, no local, de algumas moedas de cobre datveis entre a segunda metade do
sculo III e meados do sculo IV (Oleiro, 1 951; Pereira, 1970). Entretanto, o stio apenas
voltaria a ser intervencionado em 1986, sob a responsabilidade de Rogrio Carvalho
(Carvalho, 1987a; 1987b; 1988; Carvalho e Cabral, 1996). No estado atual dos
conhecimentos verifica -se que existem ainda vri as dvidas sobre as caractersticas desta
estao arqueolgica e sobre as atividades econmicas a desenvolvidas. Se nas
sondagens de 1986 foi identificada uma forja com materiais associados, tais como uma
tenaz, dois martelos, uma bigorna e outros utensl ios destinados agricultura (Carvalho
e Ponte, 1987), como mais tarde referiram Carvalho e Cabral (1996:161) a questo de
fundo que se coloca, no a localizao da fornalha, mas sim compreender se estamos
em vias de delimitao do espao de uma forja d e uma villa rstica, ou () se existiro 36
> Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) //
outras estruturas idnticas, trabalhando igualmente os metais. Para alm disso, no que
diz respeito ao balnerio, como referiu Carvalho (1988: 74), grande parte do edifcio se
encontra ainda soterrado, exigindo, p ortanto, uma ao programada para o seu estudo
integrado.
Do que se conhece deste edifcio at aos dias de hoje, sabe -se que se encontra
distribudo por dois andares, distinguindo -se os compartimentos seguintes: frigidarium
de planta quadrangular, com pavimento de opus signinum , junto do qual se observa uma
pisci na com acesso por cinco degraus; tepidarium , de planta retangular e pavimento de
tijoleira, com uma abside a oeste, possivelmente um laconicum ; caldarium, mais a sul
(Fig.1), com vestgios de hypocaustum, e uma abertura que pode indicar a presena de
uma f ornalha. Todavia, ainda no est claro onde se localiza a entrada do frigidarium ,
apesar de ele comunicar a Norte com dois pequenos espaos de funo desconhecida
(Reis, 2004; 2019 -2020).
Fig.1: Estruturas do caldarium, aps limpeza de vegetao. Foto: F. Coimbr a. 37
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Os materiais de construo utilizados, principalmente a m qualidade do opus
signinum, parecem indicar uma edificao privada caracterstica do Baixo -imprio.
Cronologicamente, o perodo de ocupao deste stio arqueolgico parece ter comeado
no sculo I d.C., com base na descoberta de um fragmento de sigillata sud -glica, sendo
o local aba ndonado provavelmente em finais do sculo IV, incio do sculo V (Carvalho
e Cabral, 1996). Em 1997, a exposio intitulada Portugal Romano: a explorao dos
recursos naturais , organizada no Museu Nacional de Arqueologia exps dez peas de
Vale do Junco re lacionadas com os trabalhos de metalurgia e de agricultura (Alarco,
1997). Em 13 de Julho de 1998 deu entrada no Museu Monogrfico de Conimbriga, para
tratamento, um vasto conjunto de artefactos e outro esplio proveniente de trabalhos em
Vale do Junco, e ntre os quais se destacam: dois martelos de ferreiro, uma bigorna, uma
tenaz, um algaraviz, duas enxadas (Fig.2), duas podoas, nove moedas, uma asa de stula
e dois fragmentos de terra sigillata (Fig.3), entre diversos objetos em ferro e em bronze. 14
Fig.2: Uma das enxadas provenientes de Vale do Junco. Foto: Gonalo Figueiredo,
Instituto Politcnico de Tomar
> 14 Todo este esplio j foi devolvido ao Museu de Mao no dia 27 de junho de 2022. 38
> Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Val e de Junco (Ortiga, Mao) //
Fig.3: Fragmento de Terra Sigillata Clara, com decorao de um peixe em relevo. Foto:
Gonalo Figueiredo, Instituto Politcnico de
A existnci a de uma conheira nas proximidades de Vale do Junco (Batata, 2006)
pode estar relacionada com a explorao aurfera neste stio arqueolgico, dada a sua
proximidade com o Tejo (Fig.4). Na realidade, como recentemente escreveu Jos d
Encarnao, s obejam ente conhecido o facto de, no seu leito e terrenos circunstantes,
se encontrarem pepitas, que lhe valeram o nome por que os antigos o designaram: o Tejo
aurfero (Encarnao, 2022). 39
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Fig.4: O Tejo, visto de Vale do Junco. Foto: F. Coimbra.
Na regio do Mdio Tejo portugus, a explorao do ouro deve ter contribudo
para a fixao de populaes romanas ao longo deste rio e de alguns dos seus afluentes
(Romo, 2006), no s no concelho de Mao, mas tambm nos vizinhos de Vila Velha
de Rdo e Abrantes.
Atualmente, como se refere no Portal do Arquelogo relativamente a Vale do
Junco, as estruturas romanas evidenciam um elevado grau de abandono e d egradao,
encontrando -se em perigo de destruio. Torna -se ento importante desenvolver um
projeto de trabalhos plurianuais de arqueologia, com as caractersticas mencionadas atrs,
que tero ainda a finalidade de continuar o estudo de Vale do Junco e ef etivar a sua
preservao e rentabilizao cultural.
Entretanto, em Fevereiro de 2022, redescobriu -se na reserva do Museu de Mao
uma estatueta em bronze com uma inscrio em grego (Fig.5), proveniente deste stio
arqueolgico, cujo achado atribudo a F lix Alves Pereira em 1921. O estudo integral 40
Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) //
desta extraordinria pea foi recentemente efetuado e publicado (Encarnao e Coimbra,
2022), constituindo mais um testemunho da importncia arqueolgica e cultural de Vale
do Junco. 15
Fig.5: Estatueta encontrada em Vale do Junco. Foto: Gonalo Figueiredo, IPT.
> 15 Dado que o objeti vo do presente artigo apresentar o projeto de investigao em Vale do Junco, no se
> desenvolve aqui os dados sobre esta estatueta, que conforme referido j se encontram publicados. 41
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Descrio tcnico/cientfica do projeto
Os diversos trabalhos de campo e laboratoriais relativos a Vale do Junco sero
desenvolvidos por uma equipa multidisciplinar em colaborao institucional,
constituda por elementos com reconhecida formao na inves tigao arqueolgica,
integrando ainda alunos de mestrado e de doutoramento. Assim, para alm da equipa de
arqueologia propriamente dita, o projeto inclui ainda especialistas nas seguintes reas:
- Conservao e restauro (ficando tambm responsvel pela c oordenao de trabalhos
de laboratrio .
- Cartografia e Sistemas de Informao Geogrfica;
- Antropologia Fsica (para o caso do aparecimento de ossadas humanas);
- Zooarqueologia (para o estudo de eventual fauna);
- Arqueobotnica (para a reconstituio do ambiente);
- Geologia (tendo em conta a localizao da estao arq ueolgica)
O plano de trabalhos a desenvolver assenta essencialmente em quatro vertentes:
1) prospees; 2) sondagens/escavaes; 3) tratamento/conservao dos materiais; 4)
interpretao de dados e sua divulgao.
Antes da prospeo propriamente dita ser analisada documentao diversa,
como, por exemplo, relatrios de trabalhos anteriores em Vale do Junco, cartografia,
fotografia area e bibliografia produzida at a atualidade sobre este arqueosstio.
A prospeo ser inicialmente seletiva, de modo a compreender a delimitao da
rea da estao arqueolgica de Vale do Junco. Posteriormente ser dirigida a uma rea
mais alargada, com vista possvel identificao de novos achados de cronologia
romana, que contribua m com informaes complementares para um melhor
entendimento das caractersticas do stio em estudo. 42
Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) //
Entretanto, j foi efetuada uma campanha de prospeo geoeltrica, em setembro
de 2022 (Fig.6), da responsabilidade do gelogo italiano Luca Gentile Lorru sso, 16 cujos
resultados preliminares j permitiram identificar estruturas enterradas a oeste do
balnerio, o que contribui para um conhecimento mais amplo e profundo do stio
arqueolgico antes do incio das intervenes de carcter intrusivo. Simultaneamente,
este tipo de prospeo permite orientar a programao das futuras escavaes.
Relativamente a sondagens/escavaes, pretende -se dar continuidade aos
trabalhos interrompidos em meados dos anos 80, colocando a descoberto as estruturas
correspondentes ao balnerio que ainda se encontram soterradas. Para alm disso, sero
tidos em conta os resultados constantes no relatrio da prospeo geoeltrica.
Fig.6 : Georesistivmetro com CPU integrado e monitor (modelo X612EM+),
utilizado na prospeo geoeltric a. Foto: F. Coimbra.
> 16 Com o apoio da empresa MAE -Advanced Geophysics Instruments (Frosolone , Itlia), que cedeu o
> georesistivmetro com CPU integrado e monitor, utilizado nos trabalhos de campo. 43
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Os trabalhos sero desenvolvidos por uma equipa de 10 a 15 elementos, durante
campanhas anuais, no vero, com a durao de 4 semanas em cada ano. Em termos de
metodologia, as escavaes sero efetuadas atravs da decapagem das Unidades
Estratigrficas naturais, fazendo a cri vagem das terras removidas e o levantamento
tridimensional dos artefactos e dos ecofatos. Ser utilizada a estao total para
levantamentos topogrficos, incluindo os diferentes nveis escavados.
Ser efetuado o desenho manual de cortes estratigrficos, estruturas e plantas de
edificaes, para alm de fotografia com mquina digital profissional.
Todo o esplio encontrado ser imediatamente resguardado, tomando -se
precaues especiais no que diz respeito recolha de carves e matria orgnica para
datao. Sero ainda recolhidas amostras para anlises sedimentolgicas, polnicas e
antracolgicas e preservada eventual microfauna e vestgios osteolgicos.
No que diz respeito a tratamento/conserva o dos materiais resultantes dos
trabalhos de campo existem duas linhas de ao: 1) preservao e conservao de
estruturas; 2) tratamento e conservao de artefactos. Relativamente 1 linha, ela
implementada no local, seguindo as normas de conservao do patrimnio edificado,
que incluem as seguintes etapas:
- Limpeza e tratamento de estabilizao das estruturas j colocadas a
descoberto e a descobrir futuramente;
- Tratamento do ataque biolgico, por meio de fungicidas do tipo
Preventol R80;
- Aplicao de pelcula anti crescimento de erva;
- Aplicao de uma camada de proteo de cascalho no solo (a
implementar no final do projeto). 44
> Fernando Coimbra // Invest igao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) //
Quanto aos artefactos, aps a s ua recolha em campo, sero devidamente
estabilizados e enviados para laboratrio, onde se proceder: a) limpeza, com escova
fina e gua corrente; b) ao registo tcnico pela fotografia e pela realizao do desenho
arqueolgico; c) ao estudo e interpreta o das suas caractersticas, com base em ficha
pr -formatada e insero em base de dados; d) conservao, pela recomposio e
colagem dos elementos fraturados e restauro dos objetos principais.
No caso do aparecimento de ossos humanos eles sero tratados conforme a
metodologia cientfica antropolgica tida por conveniente, sendo elaboradas fichas
prprias de interpretao das ossadas, seu posicionamento, tipologia, patologias, relao
contextual, anatomia, entre outros, procurando ainda informaes sobre n mero mnimo
de indivduos, sexo, idade na poca da morte, doenas ou outros dados evidentes deste
tipo de estudo. Sero tambm realizados estudos tafonmicos e taxonmicos dos restos
faunsticos encontrados, incidindo na anlise de marcas de predao ou d e corte nos
ossos e da sua contextualizao estratigrfica. Os dados zooarqueolgicos sero tratados
atravs da participao da equipa do Centro Portugus de Geo -Histria e Pr -Histria
(CPGP) nos trabalhos de campo e, em laboratrio, no LAP_CPGP (Laborat rio de
Arqueozoologia e Paleontologia do CPGP), que possu colees de referncia
osteolgica, para comparao. Sero analisados vestgios palinolgicos e carpolgicos
para reconstituio paleoambiental e sero efetuadas anlises sedimentolgicas a partir
de amostras recolhidas durante as escavaes. Esto previstos ainda trabalhos de
arqueometria, como por exemplo anlise de pastas de esplio cermico e anlise de
outras matrias -primas que surjam nas escavaes arqueolgicas.
Por ltimo, ser elaborado, anualmente, um relatrio de progresso e um relatrio
final. Para alm disso sero produzidos textos e publicaes diversas e efetuadas
apresentaes pblicas, palestras acadmicas e cientficas, cujos pormenores sero 45
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
desenvolvi dos mais adiante na seo seguinte, intitulada difuso dos resultados
esperados.
Toda a informao recolhida nos trabalhos de campo e laboratoriais ser
integrada numa base de dados especfica para o arqueosstio estudado e ser elaborado
um Sistema de Informao Geogrfica de modo obteno de uma disposio espacial
dos diferentes elementos existentes em Vale do Junco.
Difuso dos resultados esperados
A difuso dos resultados ser estruturada em duas linhas de atuao: 1)
Divulgao cientfica entre a comunidade arqueolgica; 2) Socializao do
conhecimento. A primeira linha ser realizada atravs da elaborao de artigos em
revistas nacionais e internacionais, organizao de encontros cientficos temticos e
publicao das respetivas Atas, participao e organizao de sesses temticas em
congressos internacionais/nac ionais, com a publicao de artigos nas Atas e produo de
uma monografia final.
A segunda linha ser desenvolvida com o apoio dos Servios Educativos do
Museu de Arte Pr -Histrica de Mao, visando o envolvimento dos resultados da
investigao nas ativi dades didticas. Ser organizada segundo os critrios da
Arqueologia Pblica, envolvendo o pblico em geral e, em particular, os habitantes da
regio onde se encontra a estao arqueolgica de Vale do Junco, articulando os
resultados da investigao com at ividades didtico -sociais, de forma a atrair a ateno da
populao sobre a importncia dos resultados conseguidos, tornando -os, sempre que
possvel, protagonistas do processo de aprendizagem e de divulgao do conhecimento.
Nesta linha, particular ateno ser dada a estruturar as atividades em funo das diversas
faixas etrias do pblico (adolescentes, adultos, idosos). 46
Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) //
Est ainda previsto fazer divulgao dos resultados nos seguintes eventos: dias
Internacionais dos Monumentos e Stios, dias Europeus d o Patrimnio, pensando -se ainda
em, ao longo do projeto, organizar um dia aberto nas escavaes, permitindo ao pblico
interessado ter acesso direto investigao arqueolgica, obviamente em condies de
controlo.
Com o objetivo de difuso e cruzamento de informao, a investigao
arqueolgica em Vale de Junco articula -se tambm com o j referido projeto TURARQ,
centrado em turismo arqueolgico relativamente a cinco municpios da regio do Mdio
Tejo. Para alm disso, est planeada uma conferncia, 17 destinada ao pblico em geral,
para apresentao dos resultados das primeiras escavaes no mbito do presente projeto,
que ter o lugar a partir do final de maio de 2023.
Por ltimo, sero ainda aproveitadas as plataformas digitais pertencentes a
instituies da esfera do Instituto Terra e Memria, com a finalidade de carregar
informao e contedos relativos ao envolvimento da p opulao no que diz respeito aos
resultados da investigao. Este conjunto de atividades de divulgao insere -se numa
componente de sociabilizao do conhecimento, uma prtica indispensvel no domnio
da arqueologia, que no se pretende destinada apenas a um crculo restrito de
especialistas, mas sim para fruio da sociedade em geral.
Medidas de proteo e salvaguarda
As estruturas arquitetnicas do balnerio romano de Vale de Junco j colocadas a
descoberto sero alvo de um programa de proteo e con solidao, de acordo com as
antigas tcnicas de construo identificadas. O mesmo procedimento ser aplicado a
> 17 Como meio preliminar de apresentao deste projeto, no dia 23 de setembro de 2022 foi efetuada uma
> conferncia intitulada O passado romano no territ rio de Mao, que teve lugar no auditrio do Centro
> Cultural Elvino Pereira, em Mao. O evento deu grande destaque ao stio romano de Vale do Junco. 47
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
outras estruturas que surjam ao longo dos trabalhos de campo. Aps cada escavao
anual, os solos e os cortes estratigrficos sero protegidos co m geotxtil e terra. Ser
monitorizado o crescimento da vegetao na proximidade das estruturas, de modo a evitar
que o alargamento de caules e de razes danifique as paredes colocadas a descoberto.
O esplio encontrado ser acondicionado, etiquetado e inventariado de acordo
com as normas vigentes, sendo depositado nas reserva s do Museu de Arte Pr -Histrica
de Mao. Eventuais achados de metal e materiais osteolgicos (que necessitam de
medidas mais urgentes e qualificadas de consolidao e conservao) sero tratados no
Laboratrio de Conservao e Restauro do Instituto Terra e Memria. As medidas de
acondicionamento do eventual esplio sseo, humano e zoolgico, tero em conta a
necessidade de salvaguardar as superfcies por micro golpes ou frices, para as preservar
intactas para o estudo tafonmico. O material cermico, de pois de ter sido lavado com
escovas de dentes hmidas ser dividido por tipo de desengordurante, antes do
acondicionamento em sacos, de forma facilitar o sucessivo processo de restauro das suas
formas. Todos os materiais sero acondicionados em sacos polim ricos neutros.
Consideraes finais
A exposio planeada no mbito do presente projeto, intitulada Vale do Junco e
o Passado Romano no Territrio de Mao, constitui um primeiro resultado concreto do
mesmo. Foi organizada por temas, tais como: agricultura, tecelagem, cermica,
metalurgia, comrcio, materiais de construo, alimentao, equipamento militar, artes,
epigrafia e religio, crendices e supersties. Cada um foi apresentado a partir de
pequenos textos da nossa responsabilidade, de caracter simples, com o objetivo de prestar
inform aes e de despertar a curiosidade no pblico, sendo complementadas por imagens
selecionadas das peas expostas. 48
> Fernando Coimbra // Investigao Arqueol gica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) //
A mostra estrutura -se em trs sees que se interligam: peas arqueolgicas,
painis explicativos e um diaporama onde constam, entre muitas ou tras, imagens das
escavaes realizadas em 1986 (Fig.7 e Fig.8). Por ocasio da inaugurao foi produzido
um catlogo preliminar, cuja edio mais cuidada est em preparao por parte da Cmara
Municipal de Mao.
Fig.7: Pormenor da exposio, onde se observam expositores com peas e painis. Foto:
F. Coimbra.
Por ltimo, encontra -se em curso uma tentativa de relocalizao de uma ara
dedicada s Aqvis Sacris (guas Sagradas), encontrada em Vale do Junco por Evaristo
Parente, morador na Ortiga, e referida por Encarnao e Leito (2018). O paradeiro desta
epgrafe atualmente desconhecido, existindo apenas um desenho da autoria de Joo
Caritas Ribeirinho (Fig.9), que adquiriu moedas ao achador daquela ara. Foram
contactados familiares de ambos, mas at ao momento sem se conseguir reencontrar a ara
em questo. 49
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Fig.8: Outro detalhe da exposio onde se observa o diaporama, expositores e painis.
Foto: F. Coimbra.
Figura 9 Ara s Aqvis Sacris encontrada em Vale do Junco. Desenho: Joo
Caritas Ribeirinho 50
> Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) //
Agradecimentos:
Agradeo ao Professor Doutor Jos dEncarnao a cedncia de uma cpia do
desenho da ara s Aqvis Sacris. Agradeo ao Dr. Rogrio Carvalho a cedncia dos
negativos das fotografias das escavaes de 1986, para digitalizao no Departamento de
Fotografia do Instituto Politcnico de Tomar e utilizao no diaporama da exposio
sobre Vale do Junco.
Bibliografia
Alarco, A. M. (1997). Portugal Romano: a explorao dos recursos naturais . Museu
Nacional de Arqueologia, Lisboa: 160 -161.
Alarco, J. de (1985). Sobre a Romanizao do Alentejo e Algarve. Arqueologia, 11 .
GEAP, Porto: 99 -111.
Alarco, J. de (1987). Traos essenciais da Geografia Poltica e Econ mica do Vale do
Tejo. In, Arqueologia do Vale do Tejo . IPPC, Lisboa: 55 -58.
Alarco, J. de (1988). Roman Portugal. 4 vol . Vol. 1: Introduction. Vol. 2 (fasc. 1): Porto,
Bragana, Viseu. Vol. 2 (fasc. 2): Coimbra, Lisboa. Vol. 2 (fasc. 3): vora, Lagos,
Faro. Aris & Phillips, Warminster.
Batata, C. (2006). Idade do Ferro e Romanizao entre os rios Zzere, Tejo e Ocreza.
Trabalhos de Arqueologia, 46 . Instituto Portugus de Arqueologia, Lisboa: 200 -
201; 262
Carvalho, R. P. (1987a). Estao Romana de Vale do Junco. Ortiga Mao. Relatrio
de trabalhos arqueolgicos. Dactilografado. 32p.
Carvalho, R. P. (1987b). Uma forja romana em Vale do Junco. In, Arqueologia do Vale
do Tejo . IPPC, Lisboa: 64 -65. 51
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 31 52// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Carvalho, R. P. (1988). Estao romana do Vale de Junco -Ortiga. Informao
Arqueolgica , 8, Lisboa: 73 -75.
Carvalho, R. P.; Cabral, M. C. (1996). Algumas peas metlicas do Vale do Junco. In,
Ocupao Romana dos Esturios do Tejo e do Sado Actas das Primeiras
Jornadas sobre Romanizao dos Esturios do Tejo e do Sado. Cmara Municipal
do Seixal e Publicaes Dom Quixote, Lisboa: 157 -166 .
Carvalho, R. P.; Ponte, S. da (1987). Seis peas metlicas do Vale do Junco. Portuglia,
vol.6 -7, srie 2 . Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade
do Porto: 105 -106.
Coimbra, F. A. (Coord . de) (no prelo). Vale do Junco e o Passado Romano no Territrio
de Mao . Catlogo da exposio. Cmara Municipal de Mao.
Dias, L. F. (1987). Necrpole da Herdade do Carvalhal (Constncia). In, Arqueologia do
Vale do Tejo . IPPC, Lisboa: 62 -63.
Encarnao, J. de (no prelo). A relembrar esse passado romano. In, COIMBRA, F. A. (no
prelo), Vale do Junco e o Passado Romano no Territrio de Mao . Catlogo da
exposio. Cmara Municipal de Mao.
Encarnao, J. De; Coimbra, F. A. (2022). Estatueta Ro mana de Vale do Junco (Ortiga,
Mao). Antrope, 14 . Centro das Arqueologias, Instituto Politcnico de Tomar :
177 -190.
Encarnao, J. De; Leito, M. (2018). Ara da Senhora da Moita, Mao (Conventus
Scallabitanus). Ficheiro Epigrfico , (163), Inscrio 638.
Oleiro, J. M. B. (1951). Actividades arqueolgicas no concelho de Mao (Beira Baixa,
Portugal). Zephyrus, vol. II , Salamanca: 107 -109.
Oosterbeek, L.; Cura, S. (2005). O Patrimnio arqueolgico do Concelho de
Mao. Zahara, 6. Abrantes: 17 -32 52
> Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) //
Pereira, M A. H. (1970). Monumentos Histricos do Concelho de Mao. Cmara
Municipal de Mao: 352 -374.
Pierro, R. de (2019). Contributos para a Carta Arqueolgica do Concelho de Mao .
Dissertao de Mestrado. Instituto Politcnico de Tomar: 250p.
Reis, M. P. dos (2004). Las termas y balnea romanos de Lusitania. Studia Lusitana, 1.
Museo Nacional de Arte Romano, Mrida: 205p.
Reis, M. P. dos (2019 -2020). Termas e balnerios romanos entre o Tejo e a Estrela.
Ebvrobriga, 10 . Museu Arqueolgico Municipal Jos Monteiro, Fundo: 89 -99.
Romo, J. (2006). Carta Geolgica de Portugal. Notcia explicativa da folha 28 -A:
Mao . Departame nto de Geologia. Instituto Nacional de Engenharia,
Tecnologia e Inovao, Lisboa: 60 -63.
Zbyszewski, G.; Carvalhosa, A.; Gonalves, F. (1981). Carta Geolgica de Portugal na
escala de 1: 50 000 - Notcia explicativa da folha 28 -C GAVIO. Servios
Geolgico s de Portugal, Lisboa: 13. 53
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
# AS PRIMEIRAS MANIFESTAES ARTSTICAS DO
# CENTRO -OESTE DA PENNSULA IBRICA:
# O VALE DO OCREZA
# THE FIRST ARTISTIC EXPRESSIONS OF THE
# CENTRAL -WESTERN IBERIAN PENINSULA:
# THE OCREZA VALLEY
# Sara Garcs
Instituto Politcnico de Tomar
[email protected]
# Telmo Pereira
Universidade Autnoma de Lisboa
[email protected] 54
> Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula
> Ibrica: o Vale do Ocreza //
Resumo
O objetivo deste projeto identificar, caracterizar e datar arte rupestre paleoltica
no vale do Ocreza e reas adjacentes, associando -a a outros vestgios arqueolgicos e
evoluo da paisagem. O ocidente ibrico uma regio fundamental para compreende r
fenmenos como a extino e substituio do Neandertal por AMHs (Zilho 2001; Zilho
et al. 2010, 2020), possvel miscigenao Neanderthal -AMHs (Duarte et al. 1999) e
tambm cronologia e ecodinmica dos AMHs (Belmiro et al. 2020; Benedetti et al. 2019).
Anteriormente, foi sugerido que o desaparecimento e substituio do Neanderthal por
AMHs na Europa Ocidental poderia ter ocorrido h cerca 54 ka cal BP (Slimak et al.
2022), mas apenas cerca de 34 -32 ka cal BP na Pennsula Ibrica ocidental, com possvel
coexistncia (Bicho et al. 2014) e o debate sobre a presena ou no de Aurinhacense durou
algum tempo (Aubry, et al. 2006; Bicho 2005; Bicho et al. 2014; Thacker 2001; Zilho et
al. 2010). No entanto, alguns stios no interior da Pennsula Ibrica e as suas reas
adjacentes tm muito poucos dados (Alcaraz -Castao et al. 2021). As ocupaes
paleolticas e mesolticas do baixo Tejo so conhecidas desde o sculo XIX, mas a arte
rupestre pr -histrica nesta rea s foi encontrada na dcada de 1970 devido const ruo
da barragem do Fratel (Garcs 2017). O trabalho de salvamento efetuado no Tejo
consistiu no mapeamento e registo da maior quantidade possvel de rochas, dando
prioridade s que em breve estariam debaixo de gua. Foram ocasionalmente realizados
alguns trabalhos posteriores e, hoje, o Complexo de Arte Rupestre do Vale do Tejo conta
com 12 stios, 1636 painis e 6988 figuras registadas (Garcs 2017) ainda que deste
registo somente uma rocha tenha sido de facto apontada como de cronologia paleoltica.
Enq uanto isto, vrios contextos com arte paleoltica nas reas adjacentes foram sendo
encontrados como as grutas de Maltravieso e Escoural e tambm contextos com arte
paleoltica ao ar livre como o Ca, Guadiana e Zzere. Uma das questes primordiais 55
> Antr ope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
sobre a arte rupestre do Tejo desde h 20 anos articulava -se com a rara presena de arte
paleoltica numa to grande rea gravada. Com a descoberta d o novo painel com arte
paleoltica no Ocreza, evidente que necessrio acentuar e atualizar a investigao
arqueolgica neste ltimo troo deste afluente. Para isso, temos como objetivos: prospetar
e atribuir coordenadas precisas s rochas com gravuras j conhecidas e a descobrir,
atualizar o acervo de registo e decalque de todas as rochas do Ocreza utilizando as mais
recentes tecnologias de fotogrametria 3D; refinar o conhecimento sobre o contexto
arqueolgico atravs do alargamento da rea de escavao do novo painel; objetivar
(atravs da escavao) a relao estratigrfica das unidades sedimentares com os motivos
do painel gravado, o estudo geolgico dos sedimentos, a posio e sobreposio das
gravuras recobertas por depsitos aluviais que possam ind icar uma cronologia para as
gravuras deste painel, analisar do ponto de vista espacial a existncia de possveis nveis
arqueolgicos em estratigrafia nos depsitos de terrao e vertente sobranceiros em todo
o troo de rio, abrir sondagens manuais em ponto s estratgicos ao longo do ltimo troo
de 800m do rio Ocreza para verificar a potencialidade de mais painis com arte rupestre.
Se possvel, proceder a estudos de reconstruo ambiental e comportamental e dataes
recorrendo a diferentes mtodos. Os resul tados esperados englobam a identificao de
nveis arqueolgicos em estratigrafia nos depsitos existentes nas vertentes sobranceiras
aos painis de arte rupestre j existentes; a identificao de mais rochas imediatamente
parte do novo painel com gravu ras paleoltica e o respetivo horizonte arqueolgico; uma
melhor compreenso da relao entre a arte rupestre paleoltica e contextos arqueolgicos
coevos; uma compreenso dos processos tafonmicos e de formao de stio e da
identificao de uma sequncia estratigrfica (testemunha de mudanas ambientais,
datada pelo contedo arqueolgico e por vrios mtodos de datao radiomtricos) e os
potenciais painis novos gravados; a identificao novos nveis arqueolgicos em 56
> Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula
> Ibrica: o Vale do Ocreza //
estratigrafia nos depsitos de terrao e vertente sobranceiros em todo o troo de rio aqui
proposto a anlise abrindo, assim, o leque de possibilidades no que toca a trabalhos
futuros e a construo de um catlogo de rochas com gravuras atualizado seguindo os
mais recentes modelos de documentao e mais recentes tecnologias de localizao
geogrfica.
Abstract
The aim of this project is to identify, characterise and date Palaeolithic rock art in
the Ocreza valley and adjacent areas, linking it to other arc haeological remains and the
evolution of the landscape. The Iberian west is a key region for understanding phenomena
such as Neanderthal extinction and replacement by AMHs (Zilho 2001; Zilho et al.
2010, 2020), possible Neanderthal -AMHs admixture (Duarte et al. 1999) and chronology
and ecodynamics of AMHs (Belmiro et al. 2020; Benedetti et al. 2019). Previously, it has
been suggested that Neanderthal disappearance and replacement by AMHs in Western
Europe might have occurred around 54 ka cal BP (Slimak et al. 2022), but only around
34 -32 ka cal BP in western Iberia, with possible coexistence (Bicho et al. 2014) and the
debate about the presence or not of Aurinhacense lasted for some time (Aubry, et al. 2006;
Bicho 2005; Bicho et al. 2014; Thacker 2001; Zil ho et al. 2010). However, some sites
in the interior of the Iberian Peninsula and its adjacent areas have very little data (Alcaraz -
Castao et al. 2021). Palaeolithic and Mesolithic occupations of the lower Tagus have
been known since the 19 th century, bu t prehistoric rock art in this area was only found in
the 1970s due to the construction of the Fratel dam (Garcs 2017).
The rescue work carried out in the Tagus consisted of mapping and recording as
many rocks as possible, giving priority to those that would soon be under water. Some
subsequent work was occasionally carried out and, today, the Tagus Valley Rock Art 57
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Complex has 12 sites, 1636 panels and 6988 recorded figures (Garcs 2017) although of
this record only one rock has been noted as having a Palaeolithic chronology.
Meanwhile, several contexts with Palaeolithic art in adjacent areas have been
found such as the caves of Maltravieso and Escoural, and contexts with open -air
Palaeolithic art such as the Ca, Guadiana and Zzere. One of the main questions about
the rock ar t of the Tagus River for the last 20 years was the rare presence of Palaeolithic
art in such a large, engraved area. With the discovery of a new panel with Palaeolithic art
in the Ocreza, it is necessary to accentuate and update the archaeological research in this
last stretch of this tributary. To do so, we have as objectives prospect and assign precise
coordinates to the rocks with engravings already known and to be discovered, update the
record and decal collection of all the rocks of the Ocreza using th e latest 3D
photogrammetry technologies; refine the knowledge about the archaeological context
through the enlargement of the excavation area of the new panel; to objectify (through
the excavation) the stratigraphic relationship of the sedimentary units wi th the motifs of
the engraved panel, the geological study of the sediments, the position and superposition
of the engravings covered by alluvial deposits which may indicate a chronology for the
engravings of this panel to analyse from a spatial point of vi ew the existence of possible
archaeological levels in stratigraphy on the terrace and upstream slope deposits along the
whole stretch of the river, to open manual surveys at strategic points along the last 800m
stretch of the Ocreza River to verify the pot ential for more panels with rock art.
If possible, proceed to environmental and behavioural reconstruction studies and
dating using different methods. The expected results include the identification of
archaeological levels in stratigraphy in the deposits on the slopes above the existing rock
art panels; the identification of further rocks immediately adjacent to the new panel with
Palaeolithic engravings and the respective archaeological horizon; a better understanding 58
> Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula
> Ibrica: o Vale do Ocreza //
of the relationship between Palaeolithic rock art and coeval archaeological contexts; an
understanding of the taphonomic and site formation processes and the iden tification of a
stratigraphic sequence (witness to environmental changes, dated by the archaeological
content and by various radiometric dating methods) and the potential new recorded
panels; the identification of new archaeological levels in stratigraphy on the terrace and
slope deposits overlying the whole stretch of river proposed for analysis, thus opening the
range of possibilities for future work, and the construction of an up -to -date catalogue of
engraved rocks, following the latest documentation mod els and the latest technologies for
geographical localisation.
Objectivos do projecto
Em 2021, em contexto de escavao foi descoberto, no vale do Ocreza, um novo
painel com arte rupestre paleoltica (Danelatos , 2022) (Fig.1). Com esta descoberta,
evidente que necessrio acentuar e atualizar a investigao arqueolgica neste ltimo
troo deste afluente. Para isso, temos como objetivos: relocalizar todas as gravuras
identificadas h cerca de duas dcadas util izando as mais recentes tecnologias de
localizao geogrfica (os registos encontram -se obsoletos tendo em conta os trabalhos
recentemente desenvolvidos no CARVT). Isto incluir a atribuio de coordenadas
precisas s rochas com gravuras j conhecidas e a descobrir, bem como atualizar o acervo
de registo e decalque de todas as rochas do Ocreza utilizando as mais recentes tecnologias
de fotogrametria 3D; refinar o conhecimento sobre o contexto arqueolgico,
nomeadamente, atravs do alargamento da rea de esc avao do novo painel; pretende -
se com a escavao objetivar a relao estratigrfica das unidades sedimentares com os
motivos do painel gravado. A existncia deste painel gravado permite augurar a existncia
de mais rochas cobertas por sedimentos a possib ilidade de nveis de ocupao humana no 59
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
troo nas reas imediatamente adjacentes sondagem j efetuada. necessrio levar a
cabo o estudo geolgico dos sedimentos, a posio e sobreposio das gravuras recobertas
por depsitos aluviais que possam indicar uma cronologia para a realizao das
manifestaes artsticas deste painel. necessrio analisar do ponto de vista espacial
(tendo em conta a localizao dos painis de gravuras anteriormente localizados e as
caractersticas geomorfolgicas dos depsitos que cobrem o novo painel com gravuras) a
existncia de possveis nveis arqueolgicos em estratigrafia nos depsitos de terrao e
vertente sobranceiros em todo o troo de rio aqui proposto a anlise. tambm objetivo
deste projecto proceder -se abertura de sondagens manuais em pontos estratgicos ao
longo do ltimo troo de 800m do rio Ocreza para verificar a potencialidade de mais
painis com arte rupestre estarem presentes debaixo de sedimento. O carcter inovador
da presente proposta prende -se com a possibilidade de se estabelecer a primeira relao
objetiva entre a arte rupestre paleoltica do Complexo Rupestre do Tejo e os contextos do
Paleoltico Superior, nomeadamente neste vale, assim como a identificao de mais
painis gravados desta cronologia em larga escala. Ter -se - tambm em conta possveis
vestgios de arte mvel, a sua anlise e a sua correlao com os demais vestgios
arqueolgicos. O estudo dos sedimentos, a posio e sobreposio das gravuras cobertas
por depsitos aluviais e coluvionares podero vir a indicar uma cronologia mais precisa
para as gravuras encontradas e as identificadas no decorrer dos trabalhos. A eventualidade
(embora pouco provvel) de se encontrarem restos faun sticos pode contribuir para a
reconstruo ambiental e comportamental. A datao combinando diferentes mtodos de
datao poder precisar a cronologia das ocupaes. Sero tidos em conta o estudo das
matrias -primas, cadeias operatrias e objetivos da prod uo da indstria ltica. Tudo isto
considerado indito para esta realidade que, apesar da identificao de arte paleoltica
ter pelo menos duas dcadas, nunca foi alvo de escavao. A possibilidade de datao dos 60
> Sara Garcs & Telmo Pereira // As Pri meiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula
> Ibrica: o Vale do Ocreza //
contextos a encontrar podem ir de encontro a vrios mtodos como dataes de
termoluminescncia (TL) sobre materiais lticos aquecidos dos nveis arqueolgicos, a
da tao por OSL dos nveis sedimentares e dataes por radiocarbono de possveis
materiais orgnicos. Os resultados esperados englobam a identificao de nveis
arqueolgicos em estratigrafia nos depsitos existentes nas vertentes sobranceiras aos
painis de arte rupestre j existentes; a identificao de mais rochas imediatamente parte
do novo painel c om gravuras paleoltica e o respetivo horizonte arqueolgico; uma
melhor compreenso da relao entre a arte rupestre paleoltica e contextos arqueolgicos
coevos; uma melhor compreenso dos processos tafonmicos e de formao de stio e da
identificao d e uma sequncia estratigrfica (testemunha de mudanas ambientais,
datada pelo contedo arqueolgico e por vrios mtodos de datao radiomtricos) e os
potenciais painis novos gravados; a identificao de novos nveis arqueolgicos em
estratigrafia nos d epsitos de terrao e vertente sobranceiros em todo o troo de rio aqui
proposto a anlise abrindo, assim, o leque de possibilidades no que toca a trabalhos
futuros. A construo de um catlogo de rochas com gravuras atualizado seguindo os
mais recentes mo delos de documentao em arte rupestre e utilizando as mais recentes
tecnologias de localizao geogrfica ser um dos pontos mais importantes deste projecto
tendo em conta que estes registos tm de ser atualizados face s novas descobertas e
objetivos da proposta. 61
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Figura 1: Novo painel do vale do Ocreza com decalque de figuras.
Decalque: Sara Garcs, 2022
Reviso do estado atual dos conhecimentos
O ocidente ibrico uma regio fundamental para compreender fenmenos a
extino e substituio do Neandertal por AMHs (Anatomical Modern Humans) (Bicho
2005; Zilho, 2001; Zilho, et al. 2010, 2020), possvel miscigenao Neanderthal -AMHs
(Duarte et al. 1999) e tambm cronologia e ecodinmica dos Humanos Modernos
(Belmiro et al. 2020; Benedetti et al. 2019). Foi sugerido que o desaparecimento e
substituio do Neanderthal por AMHs na Europa Ocidental poderia ter ocorrido h cerca
54 ka cal BP (Slimak et al. 2022), mas apenas h cerca de 34 -32 ka cal BP na Pennsula
Ibrica ocidental, com possvel coexistncia (Bicho et al. 2014) e o debate sobre a
presena ou no de Aurinhacense durou algum tempo (Aubry, et al. 2006; Bicho 2005;
Bicho et al. 2014; Thacker 2001; Zilho, et al. 2010). No entanto, alguns stios no interior
da Pennsula Ibrica e as suas reas adjacentes tm muito poucos dados (Alcaraz -Castao
et al. 2021). A maior parte do ocidente ibrico corresponde a Portugal e os poucos
conhecimentos sobre este territrio esto profund amente ligados ao baixo investimento
na investigao paleoltica ao longo de dcadas. A investigao paleoltica em Portugal
comeou no sculo XIX com a e scavao das Grutas Casa da Moura, Cesareda e 62
> Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula
> Ibrica: o Vale do Ocreza //
Furninha. At aos anos 1990, o trabalho de campo era realizado por equipas peq uenas e
utilizando mtodos diferentes. As primeiras descobertas so essencialmente recolhas de
superfcie em terraos e praias elevadas, datadas segundo o mtodo das sries que foi
utilizada at quase ao final do sculo XX. Por sua vez, escavou -se praticam ente apenas
locais do Paleoltico Superior ao ar livre. Em ambos os casos, as publicaes foram
escassas e a localizao de muitos desses stios perdeu -se tornando impossvel a sua re -
escavao e o seu estudo refinado com novos mtodos. Nos finais dos anos 80 com a
mudana para a Nova Arqueologia, deu -se um aumento da produo de teses,
investigao, consequente identificao e escavao de novos locais e enriquecimento de
datas absolutas, na sua maioria relacionadas com a chegada de investigadores estrange iros
(Zilho 2002). Apesar disso, na maioria dos casos no foram utilizados mtodos refinados
como flutuao, estao total, micromorfologia ou amostras de sedimentos. As ocupaes
paleolticas e mesolticas do baixo Tejo so conhecidas desde o sculo XIX, mas a arte
rupestre pr -histrica s foi encontrada na dcada de 1970 devido construo da
barragem do Fratel (Gomes, 2010; Garcs 2017). O trabalho de campo de salvamento
efetuado no Tejo consistiu no mapeamento, registo e rastreio da maior quantidade
possvel de rochas, dando prioridade s que em breve estariam debaixo de gua. Foram
ocasionalmente realizados alguns trabalhos posteriores e, hoje, o Complexo de Arte
Rupestre do Vale do Tejo tem 12 stios, 1636 painis e 6988 figuras registadas (Garcs
2018) ainda que deste registo somente uma rocha tenha sido de facto apontada como de
cronologia paleoltica. Enquanto isto, vrios contextos com arte rupestre paleoltica nas
reas adjacentes foram sendo encontrados como as grutas de Maltravieso, e Escoural e
tambm contextos com arte rupestre paleoltica ao ar livre como o Vale do Ca, Guadiana
e Zzere. Uma das questes primordiais sobre a presena de painis gravados no Tejo
desde h 20 anos articulava -se com a rara presena de arte paleoltica num to gr ande 63
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
complexo rupestre. Recentemente, no mbito de trabalhos de escavao no vale do
Ocreza, foi encontrada uma nova rocha com arte paleoltica, aumentado o nmero de
figuras registadas. A maioria das figuras rupestres do Tejo so do estilo esquemtico
(en quadradas no horizonte da Arte Esquemtica da Pennsula Ibrica) e pela utilizao
sistemtica de rochas horizontais e sub -horizontais compatveis com outras configuraes
semelhantes. A nica figura de cronologia paleoltica registada era a figura de um c avalo
no rio Ocreza, numa laje sub -vertical de 30 x 50 cm encontrada em 2000, claramente
distinguvel por o seu motivo tpico, mtodo e tcnica consensualmente atribudo ao
Solutrense (Baptista, 2001). Em 2021, a escavao foi organizada para proceder
abertura das primeiras sondagens arqueolgicas na rea imediatamente ao lado d e painis
de arte rupestre do Tejo, na zona do cavalo do Ocreza para focar particularmente a arte
rupestre do Paleoltico. A resposta questo sobre a presena ou no de mais arte rupestre
paleoltica no vale do Tejo surgiu rapidamente revelando que sob e sses depsitos e apenas
alguns centmetros abaixo da superfcie existem painis grandes, bem preservados,
complexos, ricos, e aparentemente mais antigos com arte rupestre do Paleoltico
(possivelmente do Gravetense) juntamente com uma lareira e ferramentas em pedra. Em
suma, o rio Tejo tem grandes condies para a alta preservao de stios do Paleoltico
Superior, incluindo de arte rupestre. A diferena marcante na quantidade de painis
conhecidos de cronologia paleoltica e ps -paleoltica pode ser interp retada de vrias
maneiras: pelo facto dos investigadores apenas debruarem a sua ateno para os painis
horizontais perto da gua negligenciando os painis verticais em cotas mais elevadas e
pela ausncia de projetos de investigao centrados em potenciai s contextos de arte
rupestre paleoltica no Tejo mesmo aps a descoberta do aglomerado de arte rupestre do
Vale do Ca. Com a nova descoberta do painel com arte paleoltica no Ocreza e com os
resultados derivados deste projecto poderemos confirmar a hipte se levantada de tambm 64
> Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula
> Ibrica: o Vale do Ocreza //
outros ncleos de arte rupestre do Tejo terem painis com arte rupestre paleoltica. Tendo
em conta que o vale do Ca contempla acima de tudo uma grande continuidade de arte
rupestre paleoltica com poucos registos ps -paleolticos (voltando depois a ter u m forte
registo da Idade do Ferro (Santos, 2017), o vale do Guadiana regista poucos exemplares
de arte paleoltica com uma bem assente cronologia ps -paleoltica (Baptista & Santos
2013) e outros ncleos em rio (como o rio Zzere) apresenta raras rochas gr avadas
paleolticas carecendo de uma contextualizao, a se confirmar a possibilidade de mais
rochas com arte paleoltica surgirem no Tejo, este pode vir a tornar - se num stio fulcral
para a compreenso da evoluo da arte rupestre gravada em contexto ao ar livre
abarcando uma continuidade cronolgica que neste momento no existe num s stio em
territrio portugus.
Bibliografia
Alcaraz -Casta o, M., J. J. Alcolea -Gonz lez, M. de Andr s-Herrero, S. Castillo -Jim nez,
F. Cuartero, G. Cuenca -Besc s, M. Kehl, J. A. L pez -Sez, L. Luque, S. P rez -
Daz, R. Piqu , M. Ruiz -Alonso, G. C. Weniger, and J. Yravedra. 2021. First
Modern Human Settlement Recorded in the Iberian Hinterland Occurred during
Heinrich Stadial 2 within Harsh Envir onmental Conditions. Scientific Reports
11(1).
Aubry , Thierry, Miguel Almeida, and M.J. Neves. 2006. The Middle -to -Upper
Paleolithic Transition in Portugal: An Aurignacian Phase or Not. Towards a
Definition of the Aurignacian. ... 95 108.
Baptista, A.M (2001). Ocreza (Envendos, Mao, Portugal central): um novo stio com
arte paleoltica de ar livre. IN: Ana Rosa Cruz, Luiz Oosterbeek (Coord.),
Territrios, mobilidade e povoamento no Alto -Ribatejo. II: Santa Cita e o 65
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
quaternrio da regio, Tomar. Arkeos : perspectivas em dilogo. 11:163 -192.
Tomar: CEIPHAR - Centro Europeu de Investigao da Pr -Histria do Alto
Ribatejo.
Baptista, A.M. & Santos, A.S. (2013) A Arte Rupestre do Guadiana Portugus na rea de
influncia do Alqueva. Memrias dOdiana, Estudos Arqueolgicos do Alqueva,
2 Srie, 339p.
Belmiro, Joana, Nuno F. Bicho, Jonathan Haws, and Jo o Cascalheira. 2020. Th e
Gravettian - Solutrean Transition in Westernmost Iberia: New Data from the Sites
of Vale Boi and Lapa Do Picareiro. Quaternary International (August).
Benedetti, Michael M., Jonathan A. Haws, Nuno F. Bicho, Lukas Friedl , and Brooks B.
Ellwood. 2019. Late Pleistocene Site Formation and Paleoclimate at Lapa Do
Picareiro, Portugal. Geoarchaeology 34(6):698 726.
Bicho, Nuno F. 2005. The Extinction of Neanderthals and the Emergence of the Upper
Paleolithic in Portugal. Promontoria .
Bicho, Nuno F., Jo o Marreiros, Jo o Cascalheira, Telmo Pereira, and Jonathan Haws.
2014. Bayesian Modeling and the Chronology of the Portuguese Gravettian.
Quaternary International .
Danelatos, D. (2022) Upper Paleolithic rock art in Tagu s Valley Rock Art Complex
(context, style and chronology) [Master Dissertation] International Master
Erasmus Mundus in Quaternary and Prehistory. Tomar Polytechnic Institute
(Portugal), Univerisit Degli Studi di Ferrara (Italy), University Rovira i Virgil i
de Tarragona (Spain) and National D'Histoire Naturelle Museum of Paris
(France). 193p.
Duarte, Cid lia, Jo o Maur cio, P. B. Pettitt, Pedro Souto, Erik Trinkaus, H. van der
Plicht, and Jo o Zilh o. 1999. The Early Upper Paleolithic Human Skeleton from 66
> Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula
> Ibrica: o Vale do Ocreza //
the Abrigo Do Lagar Velho (Portugal) and Modern Human Emergence in Iberia.
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America
96(13):7604 9.
Garc s, S. 2017. Cerv deos: S mbolos e Sociedade nos prim rdios da agricultura no vale
do Tejo. Uni versidade de Trs -os -Montes e Alto Douro. [Tese de Doutoramento].
Garc s, Sara. 2018. Corpus Do Complexo de Arte Rupestre Do Vale Do Tejo . Area
Domeniu. Instituto Terra e Mem ria.
Gomes, M.V. (2010) Arte Rupestre do Vale do Tejo. Um Ciclo Artstico -Cul tural Pr e
Proto -Histrico. [Tese de Doutoramento]. Faculdade de Cincias Sociais e
Humanas. Universidade Nova de Lisboa. 2 vols. 1643p.
Thacker, Paul T. 2001. The Aurignacian Campsite at Chain a, and Its Relevance for the
Earliest Upper Palaeolithic Se ttlement of the Rio Maior Vicinity. Revista
Portuguesa de Arqueologia 4(1):5 15.
Santos, A.T. (2017) "A arte paleoltica ao ar livre da bacia do Douro margem direita do
Tejo: Uma viso de conjunto". Universidade do Porto. [Tese de Doutoramento].
Slimak, L., Zanolli, C., Higham, T., Frouin, M., Schwenninger, J. -L., Arnold, L. J.,
Demuro, M., Douka, K., Mercier, N., Gurin, G., Valladas, H., Yvorra, P., Giraud,
Y., Seguin -Orlando, A., Orlando, L., Lewis, J. E., Muth, X., Camus, H.,
Va ndevelde, S., Metz, L. (2022). Modern human incursion into Neanderthal
territories 54,000 years ago at Mandrin, France. Science Advances , 8(6), eabj9496.
https://doi.org/10.1126/sciadv.abj9496
Zilh o, Jo o. 2001. Middle Paleolithic Settlement Patterns in Portugal. in Settlement
Dynamics of the Middle Paleolithic and Middle Stone Age , edited by N. Conard. 67
> Antrop e // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Zilh o, J. 2002. O Paleol tico Superior Portugu s 30 000 anos depois. In Arqueologia
2000 - Balan o de um sculo de investiga o arqueol gica em Portugal.
Arqueologia e Hist ria. 94. Lisboa: 41 -55.
Zilh o, Jo o, Diego E. Angelucci, E. Badal -Garcia, F. DErrico, Flor al Daniel, Laure
Dayet, Katerina Douka, Thomas F. G. Higham, M. J. Martinez -Sanchez, R.
Montes -Bernardez, S. Murcia -Mascaros, C. Perez -Sirvent, C. Roldan -Garcia,
Marian Vanhaeren, Valent n Villaverde, R. Wood, and Josefina Zapata. 2010.
Symbolic Use of Marine Shells and Mineral Pigments by Iberian Neandertals.
Proceedings of the National Academy of Sciences 107(3):1023 28.
Zilh o, Jo o, D. E. Angelucci, M. Ara jo Igreja, L. J. Arnold, E. Badal, P. Callapez, J. L.
Cardoso, F. DErrico, J. Daura, M. Demuro, M. Descha mps, C. Dupont, S.
Gabriel, D. L. Hoffmann, P. Legoinha, H. Matias, A. M. Monge Soares, M.
Nabais, P. Portela, A. Queffelec, F. Rodrigues, and P. Souto. 2020. Last
Interglacial Iberian Neandertals as Fisher -Hunter -Gatherers. Science 367(6485). 68 69
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
# O PROJETO FIRST -ART. UMA ABORDAGEM
# MULTIDISCIPLINAR PARA A CARACTERIZAO DA
# ARTE NEANDERTAL
# THE FIRST ART PROJECT. A MULTIDISCIPLINARY
# APPROACH TO CHARACTERISE NEANDERTHAL ART
# Sara Garcs
Instituto Politcnico de Tomar ; Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra
[email protected]
# Hiplito Collado Giraldo
Junta da Extremadura, Espanha; Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra
[email protected]
# Hugo Gomes
Instituto Politcnico d e Tomar; Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra
[email protected]
# Virginia Lattao
Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra
[email protected]
# Pierluigi Rosina
Instituto Politcnico d e Tomar; Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra
[email protected]
# Jos Julio Garca Arranz
Universidad de Extremadura
[email protected]
# Hugo A. Mira
[email protected]
# George Nash
Instituto Politcnico d e Tomar; Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra
[email protected] 70
> Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca
> Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a
> caracterizao da Arte Neandertal //
Resumo
H alguns anos, a gruta de Maltravieso ( localizada em Cceres) tornou -se parte,
juntamente com a gruta de Ardales (Andaluca) e a gruta de La Pasiega (Cant bria) , de
um grupo selecionado de grutas na Pennsula Ibrica, onde uma equipa internacional de
investigadores utilizando o mtodo da s srie s de Urnio, dataram um conjunto de
pequenas crostas que cobriam manifestaes de arte rupestre . Em Maltravieso faziam
parte destas figuras algumas mos pintadas em negativ o. Os resultado s surpreenderam a
comunidade cientfica j que as dataes apresentadas apontavam para que estas figu ras
(principalmente algumas figuras em Maltravieso) tinham sido feit as numa data anterior a
67.000 anos atrs e, portanto, a sua autoria deve ria ser atribuda aos Neandertais
(Hoffman et al., 2018; 2020).
Desde ento, um formidvel debate cientfico inter nacional tem sido realizado a
favor e contra estas reivindicaes (Hoffman et al., 2020 ; White et al., 2020 ; Slimak et
al., 2018), que ainda hoje continua a desenvolver -se.
Perante estes extraordinrios resultados , e c om o objectivo de lanar luz sobre o
debate e atestar de forma clara e categrica a existncia e caractersticas da arte
Neandertal, um grupo de especialistas em arte pr -histrica com o apoio de laboratrios
internacionais especializados em datao, sequenciao de ADN e caracterizao de
pig mentos esto a desenvolver um novo projecto de investigao denominado FIRST -
ART (A Primeira Arte) .
Este projecto, actualmente em curso, foi estruturado em duas fases. A primeira,
com um mbito territorial mais limitado, centrou -se principalmente nas gr utas de
Maltravieso e Escoural, no sudoeste da Pennsula Ibrica, com a incorporao do Museu
e Centro de Investigao da Gruta de Altamira do Governo espanhol. Foi financiado ao 71
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
abrigo do programa de cooperao Interreg V A Espanha -Portugal (POCTEP 2014 -2020
- N: 0497_FIRST_ART_4_E) e envolveu tambm instituies como o Ministrio
Regional da Cultura, Turismo e Desporto da Junta de Extremadura, a Direco Regional
da Cultura do Alentejo , as cmaras municipais de Montemor -o-Novo e Mao e contou
com o apoi o da Cmara Municipal de Cceres.
Este projeto foi realizado num mbito de cooperao cientfica transfronteiria, e
foi extremamente importante para a retomada da investigao da arte rupestre da gruta do
Escoural associando -o a um projeto mais amplo de salvaguarda, conservao e
valorizao de ambos os monumentos e dos respectivos testemunhos grficos neles
contidos (Garcs, et al., 2020).
Abstract
A few years ago, the Maltravieso cave (located in Cceres) became part, together
with the Ardales cave (Andalusia) and the La Pasiega cave (Cantabria), of a selected
group of caves on the Iberian Peninsula where an international team of researchers, using
the uranium series method, dated a set of small crusts covering rock art demonstrations.
In Maltravieso, some hands painted in negative were part of these figures. The results
surprised the scientific community since the dating presented pointed out that these
figures (mainly some figures in Maltravieso) had been made at a date before 67,000 years
ago and, therefore, their authorship should be attributed to Neanderthals (Hoffman et al.,
2018; 2020). Since then, a formidable international scientific debate has been held for and
against these claims (Hoffman et al., 2020; White et al., 2020; Slimak et al., 2018), which
continues to develop today.
In view of these extraordinary results, and with the aim of shedding light on the
debate and clearly and categoric ally attesting to the existence and characteristics of 72
> Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca
> Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a
> caracterizao da Arte Neander tal //
Neanderthal art, a group of experts in prehistoric art with the support of international
laboratories specialised in dating, DNA sequencing and pigment characterisation are
developing a new research pr oject called FIRST -ART.
This project, currently underway, was structured in two phases. The first, with a
more limited territorial scope, focused mainly on the Maltravieso and Escoural caves in
the southwest of the Iberian Peninsula, with the incorporation of the Spanish
Governme nt's Altamira Cave Museum and Research Centre. It was funded under the
Interreg V A Spain -Portugal cooperation programme (POCTEP 2014 -2020 - No:
0497_FIRST_ART_4_E) and also involved institutions such as the Regional Ministry of
Culture, Tourism and Sport of the Junta de Extremadura, the Regional Directorate of
Culture of the Alentejo, the town councils of Montemor -o-Novo and Mao and was
supported by the Municipality of Cceres.
This project was carried out in the framework of cross -border scientific
coop eration and was extremely important for the resumption of the investigation of the
cave art of Escoural, associating it to a wider project of safeguarding, conservation and
enhancement of both monuments and the respective graphic testimonies contained
ther ein.
Introduo
Durante o desenvolvimento do projeto, foi sempre necessrio contar com uma
abordagem crtica, estabelec endo um programa de trabalho cujo objectivo seria no s a
certificao da existncia da arte Neandertal, mas tambm a determinao das suas
caractersticas tcnicas e iconogrficas . Para isso desde cedo integrou -se vrios tipos de
anlises que vo desde a datao cronolgica das manifestaes de arte rupestre
seleccionadas em cada stio , passando pela caracterizao dos seus pigmentos e73
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
terminando com uma potencial anlise presena de ADN nesses pigmentos. Foram
tambm realizadas nova s data es utilizando o mtodo da s srie s de Urnio para
confirmar ou descartar as datas anteriormente obtidas, mas neste caso duplicando o
nmero de laboratrios integrados no projecto que analisam separadamente fraces das
mesmas amostras sob um protocolo de processamento idntico.
A partir destas mesmas figuras datadas ou de outras semelhantes localizadas nas
suas imediaes, os pigmentos com que as figuras foram executad as foram analisad as
com o objectivo de descobrir se era possvel determinar uma forma semelhante de
processar os pigmentos antes de os aplicar no suporte rochoso , independentemente da sua
localizao. Finalmente, estes mesmos pigmentos esto a ser analisados quanto
presena de vestgios do ADN dos humanos que os fizeram, dado que a confirmao da
sua presena propo rcionaria, para alm do conhecimento explcito das espcies que os
fizeram, dados socioculturais de carcter particularmente atractivo para o estudo do
processo criativo: ( seriam homens ou mulheres encarregadas de fazer a arte rupestre ? qual
seria a sua fa ixa etria ? etc.).
A Gruta do Escoural
Nesse sentido, relativamente gruta do Escoural foi preparado um pedido de
autorizao e projeto com uma detalhada descrio dos protocolos e processos a
implementar para enquadrar a componente de investigao na G ruta do Escoural .
Com efeito, interrompida h algumas dcadas a investigao sobre a arte rupestre
da gruta do Escoural, nomeadamente na sua vertente estilstica e iconogrfica, interessa
que esta seja retomada luz de novas metodologias de registo, analticas e de novos
conceitos interpretativos. Em paralelo, e na sequncia de recentes ensaios analticos
promovidos pela DRCA em colaborao com o Laboratrio HERCULES (Silva, et al. 74
> Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca
> Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a
> caracterizao da Arte Neandertal //
2017), justifica -se tambm continuar a desenvolver a vertente analtica sobre a arte
rupestre do Escoural com recurso s mais recentes tcnicas laboratoriais disponveis e
comparando tcnicas de anlise diferentes cujos resultados podem ser complementares.
O objectivo geral do projecto vis ou estabelecer um marco de cooperao entre
investigadores de vrias disci plinas que desenvolver am estratgias comuns que
permitir am a renovao do conhecimento dos vestgios grficos da gruta do Escoural,
contribuindo para a melhoria das suas condies de conservao assim como para a
atualizao e melhoria dos programas de dif uso turstico -cultural das suas manifestaes
rupestres. Este objectivo geral prende u-se de forma direta com o objectivo de proteger,
fomentar e valorizar o Patrimnio Natural e Cultural.
O processo de trabalho desenvolve u-se em trs etapas:
1. A anlise p rvia de cada um dos painis em que se recolhe m os
dados: tendo em conta todos os levantamentos/decalques que foram realizados na
gruta do Escoural desde a sua descoberta, foram analisa dos todos os painis
previamente identificados como contendo manifesta es artsticas e desenvolve u-
se um protocolo de prospeco interna gruta para a possvel identificao de
mais figuras. Este protocolo foi realizado recorrendo a uma cmara fotogrfica
Canon Powershot GX1 com o programa DStretch incorporado para uma
com preensiva identificao de pinturas atravs do aprimoramento da visualizao
das mesmas. Uma prospeco intensiva foi importante na medida em que f oram
reconhecidas previamente as particularidades de cada conjunto de painis de
modo reduzir o tempo de tra balho dentro da gruta na ao da documentao dos
painis. Foi tambm possvel identificar as necessidades de equipamento e
material para a documentao de cada painel e galeria sendo possvel a preparao
desta etapa dos trabalhos atempadamente. Na prospe co e documentao da 75
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
gruta foram identificados 103 painis com gravuras e pinturas (43 s com
pinturas; 52 com gravuras e 8 com pinturas e gravuras). necessrio ter em conta
que na fase de documentao digital dos painis possvel que se identifiquem
mais gravuras em painis onde nesta primeira fase foram s encontradas pinturas
e vice -versa.
2. A documentao digital 2D/3D das representaes parietais teve
em conta o rpido desenvolvimento tanto da qualidade como da definio das
cmaras digitais para a documentao de todo o tipo de manifestaes rupestres,
e recorremos a sistemas de tratamento informtico das imagens obtidas cujo uso
permite obter resultados muito satisfatrios na melhoria da visibilidade das
representaes rupestres independentemente da figura original apresentar
problemas de conservao que dificultem a sua observao. Este ob jectivo teve
tambm em conta a importncia dos suportes na hora da seleo dos espaos
grficos onde as pinturas ou gravuras foram realizados. cada vez mais evidente
que as irregularidades dos suportes tiveram um papel importante durante os
processos de seleo dos espaos grficos. Tivemos aqui em conta tambm o quo
fundamental atualmente um levantamento tridimensional como recurso virtual
ou como ao de realidade imersiva que actualmente so imprescindveis para a
elaborao de recursos didcticos em centros museogrficos e espaos
expositivos. O processamento da informao digitalizada est, neste momento a
ser efectuada em laboratrio.
3. Tendo em conta o ponto de vista cientfico e o mximo interesse de
produzir dados fundamentais para o conheciment o da gruta e sua aplicao na sua
conservao, foi aplicado um rigoroso protocolo de recolha de amostras de
pigmentos das pinturas rupestres para a sua caracterizao mineralgica e datao 76
> Sara Garcs, Hiplito Co llado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca
> Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a
> caracterizao da Arte Neandertal //
absoluta. Enquanto a caracterizao mineralgica seguiu uma metodo logia j
anteriormente aplicada com sucesso em contextos rupestres variados pela equipa
(Gomes et al., 2013; Collado Giraldo, et al. 2014; Gomes, et al., 2015; 2019;
Rosina et al., 2019; Garcs et al., 2021; Garcs et al., 2022; Gomes et al., 2022, b;
Nico li et al., 2022; Rosina et al., 2022), a metodologia da recolha de amostras de
pigmentos e a sua possvel datao seguiu um protocolo desenvolvido
recentemente e que apresenta resultados inovadores em contextos em gruta
(Hoffman et al., 2018) mas que tamb m j foi atestada em alguns contextos ao ar
livre pela atual equipa de trabalho (Rosina et al, 2022). Com este objectivo
pretendemos aprofundar o conhecimento da composio dos pigmentos e
aglutinantes que foram utilizados durante o perodo pr -histrico n a gruta do
Escoural e a partir da compreenso destes dados, compreender as caractersticas
e composio dos suportes parietais para ser possvel aprofundar o conhecimento
sobre as causas da sua degradao, e de como a minimizar.
4. Tendo em conta os mais recentes dados rela tivos autoria
Neandertal das pinturas rupestres de alguns contextos peninsulares, prop s -se este
conjunto de aces multidisciplinares de modo a questionar a autoria das
manifestaes artsticas da gruta do Escoural. Este objectivo ter o seu reforo
argumentativo nos resultados da metodologia de datao de Urnio -Trio a ser
aplicada s pinturas e gravuras rupestres e da aplicao de uma metodologia
experimental para a determinao da autoria Neandertal atravs da anlise da
eventual presena de ADN dos mesmos, nas amostras de pigmento.
Resumindo, lev ou -se a cabo trs aces concretas: o levantamento fotogrfico e
fot ogramtrico de todos os painis da gruta do Escoural para a elaborao de um catlogo
actualizado dos contedos grficos da gruta do Escoural mediante o emprego de 77
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
metodologias novas e de tratamento digital de imagens; o scanner tridimensional de alta
reso luo dos suportes das manifestaes parietais e modelizao integral da cavidade; e
a aplicao de um conjunto multi -proxy de metodologias de anlise de composio de
pigmentos e aglutinantes, datao cronolgica absoluta e anlises para a hipottica
dete rminao de presena de ADN Neandertal na composio dos pigmentos.
A Gruta do Escoural no contexto do projeto FIRST -ART
At aos anos 60 do Sculo XX, no estavam registados no territrio portugus
quaisquer stios com vestgios rupestres atribudos ao perodo Paleoltico. A descoberta
da Gruta do Escoural (1963) e o posteri or reconhecimento de vestgios rupestres (pinturas
e gravuras) no seu interior atribudos ao Paleoltico, por Manuel Farinha dos Santos
(Santos, 1964) com o apoio de Andr Glory, veio finalmente colmatar aquela lacuna. Esta
gruta, que ainda hoje continua a ser a nica cavidade com arte rupestre paleoltica
identificada em territrio portugus, permaneceu durante dcadas como o nico
testemunho deste tipo de manifestao artstica at descoberta e interpretao da arte
rupestre do vale do Ca (Clottes, 199 5) e outros contextos similares. Entretanto, algumas
descobertas de arte mvel foram adicionando dados ao conhecimento de arte rupestre
paleoltica: a placa da gruta do Caldeiro (Zilho, 1988), a placa do stio de Vale Boi
(Bicho et al., 2010) e as colec es de placas incisas do stio do Fariseu, no Ca (Aubry &
Sampaio, 2008) e no terrao do Medal, no vale do rio Sabor (Figueiredo et al., 2014).
Apesar de comumente aceite a atribuio de uma cronologia paleoltica aos
vestgios de pintura e de gravura de scobertas na gruta do Escoural, na falta de dataes
absolutas diretas e de contextos arqueolgicos seguros, a respectiva fundamentao nunca
foi muito alm de consideraes de carcter estilstico -formais. Pese embora os projectos
de salvaguarda, gesto p atrimonial e valorizao pblica de que foi alvo, a gruta do 78
> Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca
> Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a
> car acterizao da Arte Neandertal //
Escoural no tem atrado nos ltimos tempos o interesse da comunidade arqueolgica
(Silva, 2017). Com efeito, considerando o tempo decorrido aps os trabalhos pioneiros
de Farinha dos Santos (San tos, 1964) e de Varela Gomes (1994), ou dos projectos
promovidos pelo Servio Regional de Arqueologia do Sul (Arajo & Lejeune 1995),
visvel a necessidade de desenvolvimento de novos projectos de investigao tendo em
conta a constante atualizao de co ntedos comparando com outros contextos europeus.
A gruta do Escoural foi ainda alvo de aces mais diretamente relacionadas com
as ocupaes arqueolgicas da cavidade e de aces de diagnstico de mbito
geomorfolgico, ambiental e biolgico para avaliao do impacto e alteraes provocadas
pela visita pblica nos ltimos anos (Montes, 2015). No que se refere documentao
dos motivos rupestres, pouco tempo aps a sua descoberta, Farinha dos Santos regista e
publica 9 figuras pintadas (Santos, 1964). Glory, na sequncia da sua visita de janeiro de
1965, aponta em relatrio sumrio, para cerca de 33 figuras (Glory et al., 1965)
assinalando, pela primeira vez, algumas gravuras. No final dos anos 70 Farinha dos
Santos, com a especial colaborao de Jorge Pinho Monteiro e Varela Gomes (Santos et
al., 1980) retomaria o estudo sistemtico da gruta, interpretando esta, na linha da viso
estruturalista de Leroi -Gourhan, como um santurio rupestre. No entanto, o grande
esforo de documentao ento realizado privilegiaria as gravuras em detrimento das
pinturas (Silva, 2017). A primeira tentativa de se construir um corpus exaustivo da arte
rupestre da gruta do Escoural resulta do projecto luso -belga promovido pelo Servio
Regional de Arqueologia do Sul, sendo publicado em meados dos anos 90 (Arajo &
Lejeune 1995) .
No que respeita cronologia, a falta de dataes absolutas, as sucessivas e
diversas propostas foram construdas utilizando a penas critrios estilstico -formais.
Recentemente uma equipa internacional procedeu recolha de amostras de crostas de 79
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&p agina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
calcite das paredes da gruta para datao pelo mtodo Urnio -Trio. Este projecto inseriu -
se numa tentativa de datar vrias grutas com a rte rupestre paleoltica da Pennsula Ibrica
(Pike, et al., 2012). As amostras foram selecionadas tendo como objectivo a datao
absoluta sobre a respectiva formao calctica e com o fim de se obter dataes mnimas
para as pinturas. No entanto, no que r espeita ao Escoural, ainda no h resultados
conhecidos. Foram, entretanto, realizadas caracterizaes mineralgicas de pigmentos,
juntamente com fotografias e macrofotografias e reflectografia de infravermelhos. A
caracterizao de pigmentos seguiu as seg uintes metodologias: microespectroscopia de
infravermelhos (micro -FTIR), microscopia electrnica de varrimento acoplada a
espectrmetro de raios X (MEV -EDX), Microespectroscopia Raman e Micro -difraco
de raios X (micro -DRX). Foram assim caracterizados doi s tipos de pigmentos negros (de
origem mineral e de origem orgnica) e um tipo de pigmento vermelho (de origem
mineral) (Silva, 2017).
Apesar do que parece ser um longo historial de documentao e contextualizao
arqueolgica das pinturas e gravuras da gruta do Escoural, notria a falta de
documentao exaustiva, actualizada e contnua da gruta. Neste momento, urgente
rever, completa r e publicar um corpus das manifestaes artsticas. Este deve ser
realizado recorrendo s mais novas tecnologias de documentao em 2D e 3D e
interpretada em contexto e em sintonia com os resultados da caracterizao dos
pigmentos, da anlise das ocupae s arqueolgicas do stio e datada luz dos novos
mtodos de datao por Urnio -Trio, tendo em conta os mais recentes resultados desta
tcnica em outros contextos peninsulares (Hoffman et al., 2018).
tambm relevante registar a importncia que o levan tamento tridimensional ter
ao ser disponibilizado ao pblico em geral atravs de uma plataforma de depsito de
contedos 3D de fcil acesso. Este permitir tanto a investigadores como ao pblico em 80
> Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca
> Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a
> caracterizao da Arte Neandertal //
geral aceder e interagir com o contedo tridimensional da gruta visualizando in situ as
pinturas e gravuras enaltecidas digitalmente. Este tipo de contedo foi j desenvolvido
por membros da equipa noutros contextos (Garcs et al, 20 22 ). Estes resultados devero
ser publicados internacionalmente, mas tambm deve ro ser disponibilizados ao pblico
atravs de recursos didcticos e utilizados como atractivos tursticos.
O Projeto FIRST -ART e os trabalhos em desenvolvimento
Durante a primeira fase do projecto FIRST -ART, foram criados modelos
tridimensionais nas cavernas Maltravieso e Escoural, utilizando tecnologia de varrimento
laser 3D de alta resoluo, tanto a nvel global para ambas as grutas como a uma escala
mais especfica para os seus diferentes suportes gr ficos, que serviram de base
tecnolgica para o desenvolvimento de visitas virtuais . Estas serviram de base tecnolgica
para o desenvolvimento de visitas virtuais que, brevemente, estaro disponveis ao
pblico em geral, onde o visitante, alm de viver uma experincia totalmente imersiva
tanto na gruta do Escoural e Maltravieso, pode receber explicaes e informaes de
avatares digitais sobre a descoberta das grutas ou a forma de fazer as pinturas e gravuras
que nelas se conservam.
Estamos agora numa nova fase, alargando o protocolo de trabalho a um mbito
territorial que abrange, at data, um total de 32 grutas nas comunidades autnomas das
Astrias, Cantbria e Andaluzia. Esta uma nova etapa na qual o projecto FIRST -ART
apoiar projectos de investiga o actualmente autorizados em cada regio autnoma e em
fase de execuo em cada uma destas reas territoriais, gerando assim uma sinergia com
o mesmo objectivo, ou seja, aumentar o nmero e a fiabilidade dos dados cronolgicos,
tcnicos e humanos atravs da anlises laboratoriais aos pigmentos, dataes e anlises
de ADN que nos permitir afirmar inequivocamente que os Neandertais foram 81
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
responsveis por uma certa forma de criar e compreender a arte rupestre na Pennsula
Ibrica. Os trabalhos nestas regies autnomas esto neste momento em desenvolvimento
e contam com os seguintes laboratrios como parceiros: o Lab.IPT. Tomar Escola
Superior de Tecnologia. Instituto Politcnico de Tomar (Portugal) ; o Departamento de
Fsica e Cincias da Terra da Universidade de Ferrara (Itlia) ; a Faculdade de Cincias
Geogrficas da Universidade Normal de Nanjing (China ) e o Max Planck Institute for
Evolutionary Anthropology , em Leipzig (Alemanha). Estes laboratrios sero
complementados em cada caso por outros laboratrios independentes que iro processar
as amostras subdivididas de cada gruta .
Bibliografia
Arajo, A.C.; Lejeune, M. (1995). Gruta do Escoural: Necrpole Neoltica e Arte
Rupestre Paleoltica. Lisboa, Trabalhos de Arqueologia , n8, IPPAA.
Aubry, T. y Sampaio, J. (2008): Fariseu: cronologia e interpreta o funcional do s tio.
En A. Santos e J. Sampaio (eds.): Pr -hist ria, gestos intemporais. Actas del III
Congresso de Arqueologia de Tr s-os -Montes, Alto Douro e Beira In - terior, I.
Associa o Cultural Deportiva e Recreativa de Freixo de Num o. Oporto: 7 -30.
Bicho, N. F.; Gibaja, J. F. , Stiner, M. Y Manne, T. (2010). Le pal olithique sup rieur au
sud du Portugal: le site de Val Boi. En LAnthropologie , 114. Elsevier. Par s: 48 -
67.
Clottes, J. (1995). Palaeolithic Petroglyphs at Foz Ca, Portugal. INORA - International
Newsletter o n Rock Art, 10:2.
Collado Giraldo, H., Rosina, P., Garca Arranz, J. J., Gomes, H., Nobre, L., Domnguez -
Garca, I., Prez Romero, S. (2014). El arte rupestre esquemtico del Arroyo 82
> Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca
> Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a
> caracteri zao da Arte Neandertal //
Barban (Parque Nacional de Monfrage, Cceres): contextualizacin
arqueolgica y caracter izacin de pigmentos. Zephyrus , LXXIV , 9 14.
Figueiredo, S.S., Nobre, L., Gaspar, R., Carrondo, J., Cristo Ropero, A., Ferreira, J., Silva,
M.J.D., Molina, F.J. (2014). Foz do Medal Terrace - an open -air settlement with
Paleolithic Portable art. INORA - International News letter on Rock Art , 68: 12 -20.
Garcs, S. ; Collado, H. ; Garca Arraz, J J. ; Oosterbeek, L .; Silva, A.C.; Rosina, P; Gomes;
H. ; Pereira, A .B. ; Nash, G; Gomes, E. ; Almeida, N; Carpetudo, C. (2020) - O
Projecto Firs -Art - conservao, documentao e gesto das primeiras
manifestaes de arte rupestre no Sudoeste da Pennsula Ibrica: as grutas do
Escoural e Maltravieso. In ARNAUD, Jos M.; NEVES, Csar; MARTINS,
Andrea, coords. Arqueologia em Portugal 2020 - Estado da Q uesto. Lisboa:
Associao dos Arquelogos Portugueses, p. 513 -521. DOI:
https://doi.org/10.21747/978 -989 -8970 -25 -1/arqa40
Garcs, S.; Collado Giraldo, H.; Garca Arranz, J.J.; Nash, G.; Rosina, P.; Gomes, H.;
Oosterbeek, L.; Garrido Fernndez, E.; Prez Romero, S.; Capilla Nicols, J.E.;
Nicoli, M.; Vaccaro C. Y Pepi S. (2022) Las Manifestaciones grficas pr -
histricas en el Dolmen de Soto (Trigueros, Huelva). Archaeopress Archaeology.
210p.
Garcs, S., Gomes, H., Oosterbeek, L., Rosina, P. (2021) Prehi story of central
Portugal: brief panoramic of rock art and archeometry studies IN : Indigenous
Heritage and Rock Art: Worldwid e Research in Memory of Daniel
Arsenault [Paperback] Carole Charette (Editor); Aron Mazel (Editor); George
Nash (Editor), pp.: 43 -60. ISBN: 9781789696899 | Published by: Archaeopress
Archaeology. 83
> Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 769 86// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Garcs, S.; Collado, H.; Rosina, P.; Gomes, H.; Nash, G.; Nicoli, M.; Vaccaro, C. (2022).
Identification of organic material in Los Buitres 1 rock art shelter, Badajoz, Spain.
Complutum, 33 (2): 347 -361.
Gomes, H., Rosina, P., Holakooei, P., Solomon, T., & Vaccaro, C. (2013). Identification
of pigments used in rock art paintings in Gode Roriso -Ethiopia using Micro -
Raman spectroscopy. Journal of Archaeological Science .
https://doi.org/10.1016/j.jas.2013.04.017
Gomes, H., Collado, H., Martins, A., Nash, G. H., Rosina, P., Vaccaro, C., & Volpe, L.
(2015). Pigment in western Iberian schematic rock art: An analytical approach.
Mediterranean Archaeology and Archaeometry , 15 (1), 163 175.
https://doi.org/10.5281/zenodo.15050 .
GOMES, H.; ROSINA, P.; GUIDON, N.; BUCO, C.; SANTOS, T.; VOLPE, L.;
VACCARO, C.; NASH, G.; GARCS, S. (2019) Identification of organic binders
in Prehistoric pig ments through multiproxy archaeometry analyses from the Toca
do Paraguaio and the Boqueiro da Pedra Furada shelters (Capivara Sierra, Piau,
Brazil). Rock Art Research, 36(2): 214 -221.
Gomes H., Rosina P., Garcs S., Nicoli M., Vaccaro C., Pepi S. (2022) . Anlisis de los
pigmentos del dolmen de Soto. IN: Las manifestaciones grficas prehistricas en
el Dolmen de Soto. (Archaeopress 2022): 136 143.
Gomes H., Rosina P., Garcs S. and Vaccaro C. Multi -Proxy Archaeometric Analyses on
Rock Art Pigments in Different World Contexts (2022). IN: Global Perspectives
for the Conservation and Management of Open -Air Rock Art Sites. (Batarda,
Marshall, Domingo eds.). Routledge (Taylor & Francis) - London, pp. 252 -280.
ISBN:978 -0-367 -37267 -7 DOI:10.4324/9780429355349 -17 84
> Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca
> Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a
> caracterizao da Arte Neandertal //
Gomes, M.V. (1994). Escoural et Mazouco: deux sanctuaires palolithiques du Portugal.
Les Dossiers darchologie, 198 (01/11/1994): 4 -9.
Glory, A.; Vaultie r, M.; Santos, M.F. (1965). La grotte orne dEscoural (Portugal),
Bulletin de la Socit Prhistorique Franaise , 62 :1, Paris, pp.285 -295.
Hoffman, D.L., Standish, C.D., Garca -Diez, M., Pettitt, P., Milton, J.A., Zilho, J.,
Alcolea -Gonzlez, J.J., Can talejo -Duarte, P., Collado, H., Balbn, R.,
Lorblanchet, M., Ramos -Muoz, J., Weniger, G. -Ch., Pike, A.W.G. (2018). U -Th
dating of carbonate crusts reveals Neandertal original of Iberian cave art. Science ,
Vol. 359, Issue 6378, pp. 912 -915.
Nicoli M., Eftekhari N., Vaccaro C., Collado Giraldo H., Garcs S., Gomes H., Lattao V.,
Rosina P. (2022). A multi analytical evaluation of the depositional pattern on
open -air rock art panels at Abrigo del Lince (Badajoz, Spain). Environmental
Science and Pol lution Research. DOI: https://doi.org/10.1007/s11356 -022 -23589 -2
Rosina, P., Gomes, H., Collado, H., Nicoli, M., Volpe, L., & Vaccaro, C. (2018). icro -
Raman spec troscopy for the characterization of rock -art pigments from Abrigo del
guila (Badajoz Spain). Optics and Laser Technology , 102 , 274 281.
https://doi.org/10.1016/j.optlastec.2018.01.015 .
Rosina, P.; Collado, H.; Garcs, S.; Gomes, H.; Eftekhari, N.; Nicoli, M.; Vaccaro, C.
(2019) Benquerencia (La Serena - Spain) rock art: an integrated spectroscopy
analysis with FTIR and Raman. Helyon 5 (10) .
DOI: https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2019.e02561
Rosina P., Collado H., Garcs S., Gomes H., Lattao V., Nicoli, Eftekhari N., Vaccaro C.
(2022 ). Pigment spectroscopy analyses in Maltravieso cave,
Spain. LAnthropologie 103116, ISSN 0003 -5521,
https://doi.org/10.1016/j.anthro.2022.103116 .85
> Antrope // N . 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386
> http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media
Rosina, P., Garcs, S., Gomes, H., Nash, G.N., Guidon, N., Santos, T., Buco, C., Shao,
Q., Vaccaro, C. (2022). Dating Pre -Historic painted figures from the Serra da
Capivara National Park, Piau, Brazil. Rock Art Research. 39(1).
https://www.researchgate.net/publication/359370 378_DATING_PRE -
HISTORIC_PAINTED_FIGURES_FROM_THE_SERRA_DA_CAPIVARA_N
ATIONAL_PARK_PIAUI_BRAZIL
Montes, R. (2015). Estudio ambiental y medidas de conservacin preventiva de las
manifestaciones rupestres de la gruta de Escoural (Alentejo, Portugal)
Actuaciones 2010 -2012, Almansor , 3 srie, n 1, p.9 -50.
Pike, A.W .G., Hoffmann D.L., Garcia -Diez M., Pettitt P.B., Alcolea J., Balbin R.,
Gonzalez -Sainz C., de las Heras C., Lasheras J.A., Montes R., Zilho J. (2012).
U-Series Dating of Paleolithic Art in 11 Caves in Spain. Science 336 (6087):
1409 1413.
Santos, M.F. dos (1964). Vestgios de pinturas rupestres descobertas na Gruta do
Escoural. O Arquelogo Portugus . Lisboa (2 srie) p.5 -47.
Santos, M.F. dos; Gomes, M.V.; Monteiro, J.P. (1980). Descobertas de arte rupestre na
Gruta do Escoural (vora, Portugal). In Altamira Symposium , Madrid: Ministrio
de Cultura, p.205 -243.
Silva, A.C.; Mauran, G., Rosado, T., Miro, J., Candeias, A., Carpetudo, C ., Caldeira,
A.T. (2017). A Arte Rupestre da Gruta do Escoural - novos dados analticos sobre
a pintura paleoltica. IN: Arnaud, J.M. & Martins, A. (2017) Arqueologia em
Portugal. 2017 - Estado da Questo. II Congresso da Associao dos
Arquelogos Portugueses. Lisboa, pp. 1003 -1019. 86
> Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca
> Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a
> caracterizao da Arte Neandertal //
Ziho, J. (1988). Plaquette grav e du Solutr en sup rieur de la Gruta do Caldeir o
(Tomar, Portugal). Bulletin de la Soci t Pr historique Fran aise , 85 (4). Par s:
105 -109.
Notci as do projeto FIRST -ART:
https://www.20minutos.es/noticia/4884668/0/las -cuevas -de -maltravieso -en -caceres -y-
escoural -portugal -dispondran -de -un -recorrido -virtual -en -3d/
https://www.museosdeandalucia.es/es_ES/web/museodemalaga/actualidad/ -
/asset_publisher/SxfJV5dJvqKr/content/conferencia -con -motivo -del -dia -
europeo -del -arte -
rupestre?redirect=%2Fes_ES%2Fweb%2Fmuseodemalaga%2Factualidad%3Fp_
p_auth%3DcjuFCbwk%26p_p_id%3D49%26p_p_lifecycle%3D1%26p_p_state
%3Dnormal%26p_p_mode%3Dview%26_49_struts_action%3D%252Fmy_sites
%252Fview%26_49_groupId%3D1973938%26_49_privateLayout%3 Dfalse&in
heritRedirect=true
https://www.malagahoy.es/provincia/Benalmadena -Cueva -Toro_0_1751526477.html
ht tps://www.diariosur.es/axarquia/rincon/equipo -internacional -trabaja -datar -arte -
rupestre -cueva -victoria -20220516151620 -nt.html
https://andaluciainformacion.es/torremolinos/1147306/la -cueva -del -toro -de -
benalmadena -contara -con -un -proyecto -de -investigacion -sobre -su -arte/
https://www.guiadebenalmadena.com/BENALMADENA/benalmadena -
noticias/2022/12/15/la -cueva -del -toro -de -benalm adena -contara -con -un -
proyecto -de -investigacion/ 299