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Projetos de Arqueologia e Patrimônio Cultural

Title: Microsoft Word - Antrope_DEZ_2022_SG.docx URL Source: blob://pdf/5865ec0e-3170-4cc9-9e8a-2724d43941de Markdown Content: # Projetos em curso > N. 1 5 // dez embro 2022 // www.cta.ipt.pt 2 # www.cta.ipt.pt N. 1 5 // dezembro 20 22 // Instituto Politcnico de Tomar PROPRIETRIO Instituto Politcnico de Tomar | Centro das Arqueologias EDITORA Ana Pinto da Cruz, Instituto Politcnico de Tomar CO -EDITORA DO PRESENTE NMERO Sara Garcs, Instituto Politcnico de Tomar EDIO E SEDE DE REDACO Centro das Arqueologias, Instituto Politcnico de Tomar DIVULGAO Em Linha DIRECTORES -ADJUNTOS Helena Moura, Rodrigo Banha da Silva, Vasco Gil Mantas, Thierry Aubry CONSELHO CIENTFICO Alexandra Figueiredo, Professora Adjunta /Doutora em Arqueologia e Pr -histria, Responsvel pelo Laboratrio: Arqueologia e Conservao do Patrimnio Subaqutico, Diretora dos cursos: 1. Arqueologia, Gesto e Educao Patrimonia l; 2. Arqueologia Subaqutica Ana M. S. Bettencourt, Departamento de Histria do Instituto de Cincias Sociais da Universidade do Minho Luiz Oosterbeek, Professor Coordenador do Instituto Politcnico de Tomar Primitiva Bueno Ramirez, Professora Catedrtica Doutora, Universidad de Alcal de Henares Rodrigo Balbn Behrmann, Professor Catedrtico Doutor da Universidad de Alcal de Henares Rossano Lopes Bastos, Doutor, Arquelogo. Assessoria e consultoria em Patrimnio Cultural e Arqueolgico. Livre Docente em Arqueologia Brasileira/MAE/US Telmo Pereira, Universidade Autnoma de Lisboa. Instituto Politcnico de Tomar. Quinta do Contador. Instituto Terra e Memria. Centro de Geocincias da Univer sidade de Coimbra. UNIARQ, Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa. Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa Thomas W. Wyrwoll, THERION, Francoforte do Meno, Alemanha DESIGN GRFICO Gabinete de Comunicao e Imagem, Instituto Politcnico de Tom ar PERIODICIDADE Semestral - ISSN 2183 - 1386 LATINDEX folio n 23611 | ANOTADA DA ERC | REGISTADA NA INPI Os textos so da inteira responsabilidade dos autores .34 # ndice EDITORIAL........... 0 6 TURARQ, INOVAO Luiz Oosterbeek.............................................................. .... 08 INVESTIGAO ARQUEOLGICA NO STIO ROMANO DE VALE DO JUNCO (ORTIGA, MAO) Fernando Coimbra. ... 31 AS PRIMEIRAS MANIFESTAES ARTSTICAS DO CENTRO -OESTE DA PENNSULA IBRICA: O VALE DO OCREZA Sara Garcs e Telmo Pereira ......................................................................................... 53 O PROJETO FIRST -ART. UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR PARA A CARACTERIZAO DA ARTE NEANDERTAL Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, P ierluigi Rosina, Jos Julio Garca Arranz, Hugo A. Mira, George Nash ......... .. . 69 56 Antrope // N. 1 5 // dezembro 2022 // pp. 0 6 07 // ISSN 2183 -1386 http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media # EDITORIAL 7 > // Editorial // # Editorial Devido ao falecimento da Doutora Ana Rosa Cruz este nmero publicado apenas com projetos aprovados e previamente avaliados, estando em preparao um nmero para o ano de 2023 em sua homenagem. 89 Antrope // N. 1 5 // dezembro 2022 // pp. 09 30 // ISSN 2183 -1386 http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media # TURARQ INOVAO 1 # TURARQ INOVATION 2 # Luiz Oosterbeek Instituto Politcnico de Tomar [email protected] > 1 Projeto submetido a concurso no mbito do concurso CENTRO -59 -2020 -06 para contratao de recursos altamente qualificados para territrios do interior, e aprovado com o n CENTRO -04 -3559 -FSE - 000158. > 2 Project submitted to tender under the call for tender "CENTRO -59 -2020 -06" for the recruitment of highly qualified resources for in land territories and approved under the number CENTRO -04 -3559 -FSE -000158. 10 > Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVA O // Resumo A estratgia do presente projeto assenta em dois pilares: acessibilidade do Patrimnio Cultural e Territorial (aliado ao Turismo e assegurando a sua Conservao), apoiada por novos recursos digitais que, porm, devem potenciar a fruio cognitiva atravs de experincias analgicas. A promoo do Turismo Patrimonial beneficia os territrios de baixa densidade, gerando riqueza e novos empregos, tanto direta quanto indiretamente. Acionar, duplamente, o tour digital e o tour presencial constituem um procedimento empresarial acelerado pela crise sanitria procura turstica atual: constatao relevante para esta proposta de valorizao patrim onial holstica e preditiva. Na esfera do patrimnio identificada uma lacuna essencial para a valorizao global dos territrios, que penaliza sobretudo os territrios de baixa densidade demogrfica: uma compreenso e valorizao do patrimnio arqueolgi co, que representa mais de 90% dos recursos patrimoniais da regio, com distribuio equilibrada por todo o territrio. Tal no se deve falta de identificao desse patrimnio, em grande medida inventariado, mas falta de recursos humanos qualificados e dedicados a essa valorizao. A dificuldade dos agentes tursticos em valorizar esses recursos patrimoniais tem bloqueado a sua plena insero em cadeias de valor que contribuam no apenas para o desenvolvimento de ambos os setores, mas para o desenvolvi mento e coeso territoriais. O projeto parte desta estratgia e dos recursos dos trs centros de pesquisa acreditados pela Fundao para a Cincia e Tecnologia (FCT) no Instituto Politcnico de Tomar (IPT), articulando -se com entidades nacionais que gerem o territrio, o patrimnio e o turismo (CIMT Comunidade Intermunicipal do Mdio Tejo; DGPC Direo Geral do Patrimnio Cultural; e Turismo Centro), com o setor empresarial (NERSANT 11 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Associao Empresarial da Regio de Santarm; e PME Pequenas e Mdi as Empresas) e com a UNESCO - Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura. Abstract The strategy of this project is based on two pillars: accessibility of Cultural and Territorial Heritage (allied to Tourism and ensuring its Conservation), supported by new digital resources which, however, should enhance cognitive fruition through analogi cal experiences. The promotion of Heritage Tourism benefits low density territories, generating wealth and new jobs, both directly and indirectly. Activating, doubly, the "digital tour" and the "face -to -face tour" is a business procedure accelerated by the sanitary crisis to the current tourism demand: it is relevant to this proposal of holistic and predictive heritage valuation. In the sphere of heritage, an essential gap is identified for the overall valorisation of the territories, which penalises above all the territories of low demographic density: an understanding and valorisation of the archaeological heritage, which represents more than 90% of the heritage resources of the region, with a balanced distribution throughout the territory. This is not du e to the lack of identification of this heritage, largely inventoried, but to the lack of qualified human resources dedicated to this valorisation. The difficulty of tourism agents in valuing these heritage resources has blocked their full insertion into value chains that contribute not only to the development of both sectors, but to territorial development and cohesion. The project is based on this strategy and on the resources of the three research centres accredited by the Foundation for Science and Tech nology (FCT) at the Polytechnic Institute of Tomar (IPT), articulating with national entities that manage the 12 > Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO // territory, heritage and tourism (CIMT - Intermunicipal Community of the Mdio Tejo; DGPC - Direo Geral do Patrimnio Cultural; and Turismo Centr o), with the business sector (NERSANT - Santarm Region Business Association; and PME - Small and Medium Sized Enterprises) and with UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Projet o, Plano de insero dos recursos humanos altamente qualificados no plano de atividades do IPT e demonstrao do enquadramento no objetivo especfico da prioridade de investimento 8.5 A presente proposta pretende contribuir para o desenvolvimento rural da regio do Mdio Tejo, uma regio estratgica do ponto de vista da potencialidade da relao entre patrimnio e turismo, entendida num contexto ps -Covid -19, no qual se estima que as dimenses de proximidade, disperso territorial e co -construo de conhecimento venham a ser estruturalmente mais relevantes (Figueira & Oosterbeek, 2020). A estratgia do presente projeto assenta em dois pilares: acessibilidade do Patrimnio Cultural e Territorial (aliado ao Turismo e Conservao e R estauro), apoiada por novos recursos digitais que, porm, devem potenciar a fruio cognitiva atravs de experincias analgicas. O projeto inscreve -se numa lgica de progressiva estruturao de uma malha urbana em rede de Cidades Inteligentes, apoiada num a Logstica 4.0, este conjunto implicando a integrao de saberes e experincias tradicionais (analgicas, cuja importncia social, econmica e psicolgica se tornou muito evidente durante o confinamento) com novas tecnologias e recursos digitais (Choudhur y & Dixit, 2018). 13 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media O Turismo Cultural foi recentemente reafirmado pela OMT (Organizao Mundial do Turismo) como um elemento importante do consumo turstico internacion al, representando mais de 39% das chegadas tursticas. A investigao no domnio do turismo cultural tambm cresceu rapidamente, nomeadamente em domnios como o consumo cultural, as motivaes culturais, a conservao do Patrimnio, a economia do turismo c ultural, a antropologia e a relao com a economia criativa. As principais tendncias da investigao incluem a passagem do patrimnio material para o imaterial, uma maior ateno aos grupos indgenas e a outros grupos minoritrios e uma expanso geogrfic a na cobertura da investigao em turismo cultural. Este domnio reflete tambm uma srie de "voltas" nas cincias sociais, incluindo as mobilidades, desempenho e criatividade (Richards, 2018). A promoo do Turismo Patrimonial beneficia os territrios de baixa densidade, gerando riqueza e novos empregos, tanto direta quanto indiretamente. O desafio comum , no entanto, melhorar o tradicional sistema de proteo e gesto turstica das reas naturais que abrigam recursos patrimoniais no meio rural modernizando -o e renovando - o, gerando um modelo de gesto integrado aprovado e, acima de tudo, adaptando -o aos novos desafios do uso da tecnologia por parte das populaes. Este modelo poder, no futuro, ser transferido para outras regies. Neste quadro geral, na esfera do patrimnio identificada uma lacuna essencial para a valorizao global dos territrios, que penaliza sobretudo os territrios de baixa densidade demogrfica e que importa colmatar para que o conjunto dos municpios e agen tes possam potenciar as oportunidades criadas: uma compreenso e valorizao do patrimnio arqueolgico, que representa mais de 90% dos recursos patrimoniais da regio, com distribuio equilibrada por todo o territrio. Tal no se deve falta de identifi cao desse patrimnio, em grande medida inventariado, mas falta de recursos 14 > Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO // humanos qualificados e dedicados a essa valorizao. A dificuldade dos agentes tursticos em valorizar esses recursos patrimoniais tem bloqueado a sua plena insero em cadeias de valor que contribuam no apenas para o desenvolvimento de ambos os setores, mas para o desenvolvimento e coeso territoriais. O IPT, atravs da ctedra UNESCO -IPT de Humanidades e Gesto Territorial e de diversos dos seus cursos, tem desenvolvido uma ateno especial aos territrios de baixa densidade (Oosterbeek), procurando estruturar interfaces entre os setores cultural e econmico, num quadro de internacionalizao 3. Este envolvimento exprime -se tambm pela a rticulao com a UNESCO no sentido de preparar um novo programa internacional, com a designao BRIDGES, que teve o seu ponto de partida num encontro organizado no Centro de Estudos Politcnicos de Mao em 2019, e que tem uma ateno especial aos territr ios de baixa densidade 4. O projeto parte desta estratgia e dos recursos dos trs centros de pesquisa acreditados pela Fundao para a Cincia e Tecnologia (FCT) no Instituto Politcnico de Tomar (IPT), articulando -se com entidades nacionais que gerem o territrio, o patrimnio e o turismo (CIMT Comunidade Intermunicipal do Mdio Tejo; DGPC Direo Geral do Patrimnio Cultural; e Turismo Centro), com o setor empresarial (NERSANT Associao Empresarial da Regio de Santarm; e PME Pequenas e Mdias Empresas) e com a UNESCO - Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura., como se ilustra no diagrama da figura 1. > 3e.g. https://drive.google.com/open?id=1XfUE17qn1oIVyjrj7pGO4s8Y7KLi2wE8 > 4vd. https://en.unesco.org/news/toward -establishment -bridges -action -promote -sustainability - > science 15 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Fig. 1 Dinmica do projeto: prisma da coeso territorial atravs de uma estratgia turstica que valorize o patrimnio arqueolgico, apoiada na pesquisa e inovao e estabelea uma vinculao entre recursos digitais e experincias analgicas (centro); enquadramento nos programas estratgicos da Ctedra UNESCO -IPT e dos trs centros de investigao da rede FCT no IPT (crculo interno); em articulao com entidades de gesto territorial, empresariais e internacionais (crculo externo). O presente projeto estrutura uma equipa enquadrada com o apoio da referida ctedra UNESCO e dos trs centros de investigao do IPT que integram a rede apoiada pela FCT (Centro de Geocincias 5, Techn&Art 6, Ci2 7), que articula as dimenses de reconhecimento e valorizao da malha patrimonial dos territrios impactados, com ateno especial ao patrimnio arqueolgico, incorporando a inter face com o tecido empresarial no domnio do turismo, as preocupaes de conservao e sustentabilidade do patrimnio nesse contexto, a construo de instrumentos econmicos de valorizao > 5 http://portal2.ipt.pt/pt/ipt/servicos_especializados/centro_de_geociencias/ > 6 http://www.techneart.ipt.pt/pt/centro/ > 7 http://www.ci2.ipt.pt/ 16 > Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO // territorial e o desenvolvimento e implementao de diversas solues digitais integradas (envolvendo Cloud Computing, Big Data Management, Inteligncia Artificial e Internet das Coisas). Esta estratgia configura, tambm, uma resposta s necessidades de reorganizao que decorrem do impacto da pandemia de Covid -19: a valor izao do patrimnio arqueolgico, disperso pelo territrio de forma equilibrada e integrada com os ecossistemas, na dupla perspetiva da sua fruio e conservao, converge com as perspetivas de integrao dos vetores cultural, econmico e sanitrio, em to rno da sustentabilidade global (Mauser et al., 2013). O projeto beneficia, tambm, de sinergias com o projeto desenvolvido pelo IPT sobre territrios de montanha, HIGHLANDS.3, financiado pela Comisso Europeia no m bito do programa H2020 -MCSA -RISE. O foco da equipa de projeto, para alm da integrao transversal das competncias dos trs centros num esforo de desenvolvimento territorial, o de apoiar o tecido empresarial no setor do turismo (em articulao com a N ERSANT, potenciando a experincia j em curso de colaborao na implementao de um parque arqueosocial, em Mao, onde estas dimenses esto integradas e se organiza uma estratgia de reanimao turstica em contexto de desconfinamento 8), apoiando igualm ente as estratgias de coeso territorial implementadas no quadro da CIMT. Uma dimenso essencial do presente projeto o aprofundamento da articulao do IPT com estas duas entidades. > 8vd. https://www.youtube. com/watch?v=3h7bS -IB --M17 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Perfis dos recursos humanos a contratar Segundo a Estratgia Regional de Especializao Inteligente (RIS3), no Centro, os diversos agentes regionais validaram um conjunto de domnios diferenciadores temticos nos quais a regio se diferencia. Estes domnios correspondem a reas nas quais existe capacidade produtiva instalada e/ou capacidade de produo de conhecimento cientfico e tec nolgico, seja de forma consolidada, seja uma realidade emergente ou mesmo uma aposta mais voluntarista. O Turismo constitui um dos domnios diferenciadores temticos da regio Centro, seja pelos resultados que os dados estatsticos disponveis evidenciam, seja pelas dinmicas instaladas no territrio, seja ainda pelas caractersticas fsicas da regio baseadas em recursos endgenos diversificados que faz todo o sentido valorizar no contexto de uma estratgia de especializao inteligente. Foram igualmente identificadas prioridades transversais, que podem nortear os investimentos a fazer como a sustentabilidade dos recursos, eficincia energtica, coeso territorial e internacionalizao atravs de solues industriais sustentveis, valorizao dos recursos endgenos naturais, tecnologias para a qualidade de vida e inovao territorial. tambm objetivo das RIS3 apoiar as regies rurais e menos desenvolvidas. Pretende -se assim, seguindo as diretrizes da RIS3 implementar uma estratgia no s assente na excel ncia cientfica e tecnolgica, mas tambm na no -tecnolgica e incluir a adoo e a difuso do conhecimento e da inovao como um dos pilares do projeto (por exemplo, inovaes sociais e de servios, a es para enfrentar desafios societais). A contr atao de Recursos Humanos Altamente Qualificados impe -se como uma necessidade absoluta para que o projeto possa ser implementado, em face da necessidade de o mesmo ser dotado de uma equipa de projeto totalmente dedicada ao mesmo. Perfil 1 Patrimnio ar queolgico, tecnologias digitais e integrao de territrios em redes tursticas internacionais 18 > Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO // O IPT pretende contratar um(a) Doutor(a) com formao em arqueologia e patrimnio e com experincia no domnio da valorizao turstica do patrimnio arqueolg ico, incluindo a interface com o setor empresarial. As suas funes sero de caracterizao da estrutura de comunicao do acervo patrimonial arqueolgico, formao de terceiros neste domnio e articulao entre as diferentes dimenses do projeto. Perfil 2 Aplicaes digitais e sistemas inteligentes para a valorizao patrimonial e turstica do territrio O IPT pretende contratar um(a) Doutor(a) em Engenharia Informtica, Cincias da Computao ou reas afins, com experincia e conhecimentos prvios em processamento e anlise de grandes quantidades de dados (Big data), algoritmos de Inteligncia Artificial, em particular de Aprendizagem Automtica e Aprendizagem Profunda, em programao (C++, Python, Open CV, MATLAB, Machine Learning/Deep Learning tools). A pessoa a contratar ser integrada no centro de investigao Ci2, num quadro de colaborao com os outros dois centros de investigao do IPT acreditados e apoiados pela FCT. Perfil 3 Organizao de pro jetos de transferncia de conhecimento para as empresas O IPT pretende contratar um(a) Doutor(a) com formao na rea de cincias, que possua experincia de trabalho com o ensino superior e a investigao, bem como com empresas, designadamente em contextos de transferncia de conhecimentos e de preparao e gesto de projetos. Perfil 4 Conservao do patrimnio 19 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial& seccao=antrope&lang=PT#media A valorizao patrimonial dos acervos e stios arqueolgico confronta -se, sempre, com um risco elevado de eroso, decorrente da insuficiente monitorizao da sua capacidade de carga e da insuficiente avaliao do estado de conservao. O IPT possui uma gra nde experincia neste domnio, e pretende contratar um(a) Doutor(a) com formao em conservao e restauro, para coordenar essa vertente. Perfil 5 Cincias Econmicas e Empresariais para o Turismo Sustentvel e Valorizao Patrimonial do Territrio O IPT pretende contratar um(a) Doutor(a) em Cincias Econmicas e Empresarias preferencialmente nas reas de especialidade em Economia do Turismo e Desenvolvimento Regional, Turismo Sustentvel e Valorizao do Patrimnio, Gesto Estratgica e Planeamento, Su stentabilidade Societal e Cincias Exactas nomeadamente nas reas da Estatstica e Investigao Operacional. Deve ter experincia na anlise de dados e construo de modelos econmicos aplicados ao desenvolvimento regional, redao de artigos cientficos, redao de propostas de projetos a submeter a entidades financiadoras, divulgao de cincia e apoio gesto de projetos cientficos, tendo como temas a privilegiar a gesto territorial e setorial. A pessoa a contratar ser integrada no centro de investig ao Techn&Art, num quadro de colaborao com os outros dois centros de investigao do IPT acreditados e apoiados pela FCT. Perfil 6 Valorizao do Patrimnio na sua articulao com o contexto geomorfolgico e ambiental. O IPT pretende contratar um(a) Doutor(a) com formao na interface do patrimnio com as cincias da terra e da vida, de forma a valorizar a dimenso integra da das paisagens culturais nos territrios de baixa densidade demogrfica, que possua experincia de trabalho com a investigao aplicada para o desenvolvimento territorial e turstico. 20 Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO // Resultados esperados Os resultados esperados situam -se em trs planos: investigao (co -construo de conhecimento, envolvendo a populao residente e visitante), transferncia de conhecimentos (entre ensino superior e o tecido empresarial) e valorizao de mercado do patrimnio arqueolgico na sua relao com o territrio, que convergem para o desenvolvimento territorial. Fig. 2 Estratgia do projeto orientada para resultados. No plano da investigao e inovao, o projeto pretende contribuir para um novo paradig ma de apropriao do patrimnio arqueolgico que o inscreva no territrio como um ativo de desenvolvimento a partir da integrao das dimenses de produo e fruio de conhecimento, ultrapassando aparentes e falsos dilemas, que por vezes ainda bloqueiam e ssa relao. Neste campo, o IPT participa e tem colaborado ativamente nas mais importantes redes internacionais de pesquisa a nvel internacional, incluindo HERITY International (parceiro da Comisso do Patrimnio Mundial da UNESCO e da > Desenvolvimento > territorial > Transferncia > de > conhecimento > Co -construo > de > conhecimento > Valorizao de > mercado 21 > Ant rope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Organizao Mundial de Turismo) 9, o Centro Universitrio Europeu para os Bens Culturais 10 , a Bolsa de Turismo Arqueolgico do Mediterrneo (Paestum) 11 , os Itinerrios Culturais do Conselho da Europa ou o Conselho Internacional para a Filosofia e as Cincias Humanas 12 . No plano da transferncia e valorizao de conhecimento para empresas, para alm dos seus planos de formao conferentes de grau acadmico, o IPT ir estruturar aes de formao, que se deseja que sejam articuladas em particular com a NERSANT, para a preparao de gestores e funcionrios de empresas de hotelaria e turismo no conhecimento e compreenso deste patrimnio e na orientao de visitantes pa ra o mesmo, de forma articulada com a j existente rede de museus e servios municipais de cultura (que tambm sero atualizados neste domnio, dando continuidade colaborao com a CIMT). No plano do mercado, o projeto dar apoio direto a empresas na est ruturao de planos de atividade e negcios que potenciem o mapeamento do projeto, propondo, sempre em parceria com as demais entidades territoriais, a criao de um selo de qualidade para as empresas que acolham e promovam este eixo de valorizao patrimo nial e territorial. > 9 http://www.herity.info/ > 10 www.univeur.org > 11 https://www.borsaturismoarcheologico.it/ > 12 www.cipsh.net 22 > Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO // Metodologia de acompanhamento da operao O projeto ter uma estrutura de gesto e monitorizao, integrando um conselho coordenador, uma equipa de projeto e dois avaliadores externos, para alm do apoio do gabinete de projetos do IPT. O conselho coordenador composto pelos Doutores Luiz Oosterbeek (Ctedra UNESCO -IPT), Lus Mota Figueira (CGEO), Sandra Jardim (Ci2) e Cludia Pires da Silva (Techn&Art), alm de um representante a designar pela NERSANT e um representante a designar pela CIMT. O Conselho toma as decises estratgicas e orienta as atividades da equipa de projeto. s reunies do conselho coordenador assistir uma representante da equipa de projeto bem como o diretor d o Gabinete de Apoio a Atividades de Investigao e Desenvolvimento do IPT (Doutor Lus Santos, que por sua vez coordenado, no IPT, do projeto H2020 RISE Higlands). A equipa de projeto integra os seis quadros altamente qualificados que se iro contratar, e tem a responsabilidade de implementar o projeto, incluindo a prossecuo das medidas de aferio de impacto do projeto (indicadores). Dever, para alm das atividades concretas de atuao, produzir um relatrio semestral, que incluir os referidos indica dores. Os relatrios semestrais do projeto sero disponibilizados para apreciao por avaliadores independentes, um dos quais com perfil essencialmente acadmico e o outro com perfil essencialmente empresarial. 23 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Sustentabilidade O clculo do financiamento solicitado apresentado no anexo 3.1., que acompanha este documento. A sustentabilidade da operao a criar com o presente projeto uma prioridade absoluta. Para o efeito, e para alm da monitorizao progressiva dos diversos indicadores, prev -se a criao de uma estrutura de perenizao destas competncias. Esta estrutura poder ter distintas formas de formalizao (como entidade prpria, como parceria consolidada entre diferentes atores ou como unidade agregada a e ntidades j existentes nos territrios), no sendo adequado propor desde j qual o modelo a implementar (em face do quadro de incerteza que se vislumbra, na sequncia da crise gerada pela pandemia atual). No sendo ajustado definir j o modelo institucion al, definem -se, contudo, as competncias e as possveis fontes de financiamento. No plano do financiamento, sero exploradas a vertente empresarial (como oferta de servios remunerados) e a estruturao de projetos internacionais de intercmbio (designada mente com recurso a fundos de programas europeus), para alm das perspetivas de empregabilidade no mbito do IPT, que constituiro sempre uma prioridade, no mbito da autonomia de competncias do Instituto, nos termos da Lei e das orientaes da tutela. No plano das competncias, tratar -se - de manter o apoio identificao e estruturao de processos de conhecimento e valorizao patrimoniais, que assegurem a fruio e a conservao, bem como a sua internacionalizao, com recurso crescente a tecnologias digitais, mas privilegiando as experincias analgicas. 24 > Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO // Insero dos recursos humanos altamente qualificados no plano de atividades do Instituto Politcnico de Tomar, a partir da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes e do Centro de Estudos Politcnicos de Mao O IPT possui uma matriz formativa reconhecida nos domnios da arqueologia e conservao do patrimnio, das tecnologias da informao e do turismo cultural. A cooperao com o poder municipal e com as estruturas empresariais tem vindo a implementar uma rede intermunicipal cada vez mais consolidada, destinada a melhorar e reforar o uso social e turstico sustentvel de Paisagens Culturais, Histricas e Arqueolgicas, preservadas em reas rurais. Trata -se de uma estratgia de gesto integrada, sustentvel e inclusiva, para um turismo temtico de qualidade, com base no conhecimento, na proximidade com as comunidades locais e no valor e diversidade do territrio. Esta estratgia permite implementar um modelo de gesto sustentvel das paisagens culturais tendo em conta o seu desenvolvimento no tempo , favorecendo a conservao dos stios que podem ser visitados (grutas, abrigos, afloramentos rochosos, monumentos, fortificaes, ) e do ambiente natural a que esto intrinsecamente ligados. Para alm das licenciaturas (em particular nas reas de Turismo, Patrimnio e Informtica), so relevantes neste contexto os mestrados do IPT em Arqueologia e Gesto de Paisagens Culturais (Erasmus Mundus) e Engenharia Informtica, bem como os programas internacionais da ctedra UNESCO -IPT em Humanidades e Gesto Cultural Integrada do Territrio (que coordena um programa internacional, com a UNESCO, sobre territrios de baixa dens idade demogrfica). Estes cursos, e os projetos aplicados em curso, contribuem j para promover a proteo legal e fsica dos espaos naturais com valores arqueolgicos e histricos, atravs da definio e implementao da figura de "Paisagem 25 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Cultural e Tu rismo Sustentvel", que dever ajudar a evitar a degradao da qualidade natural e meio -ambiental dos stios e seus entornos naturais, os problemas de conservao do Patrimnio Cultural e Natural por causas naturais e antrpicas e o abandono progressivo das populaes locais destes stios, ao gerar novas oportunidades no campo da gesto e explorao econmica como recursos tursticos de excelncia, do tipo arqueolgico , histrico e ambiental. No existem, no entanto, recursos humanos que sejam dedicados especificamente implementao desta a rticulao, o que implica perfis multidisciplinares, que cruzem o conhecimento do patrimnio com as necessidades do tecido empresarial ligado ao turismo e com os recursos tecnolgicos que configuram as cidades inteligentes. O IPT prope -se contratar estes recursos, atravs da presente candidatura, focando os seus esforos nos territrios de baixa densidade demogrfica. A integrao dos recursos a contratar nas atividades do IPT ser feita, como decorre do projeto, atravs dos seus trs centros de investiga o apoiados pela FCT e em articulao com a oferta formativa do Instituto nos domnios do patrimnio, turismo e engenharia informtica. Demonstrao do enquadramento no objetivo especfico da prioridade de investimento 8.5 O projeto contribui para os objetivos da Prioridade de Investimento 8.5, que incentiva a adaptao mudana dos trabalhadores, das empresas e dos empresrios, evidenciando, mais concretamente, a elevao de competncias empresariais em I&I atravs da intensificao das interaes e ntre empresas e as entidades do sistema de I&I. O projeto estrutura uma equipa que concretizar uma estratgica relao entre o Instituto 26 > Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO // Politcnico de Tomar e o tecido empresarial, cujo objeti vo ser estimular a participao ativa do sistema cientfico e tecnolgico no incremento de inovao empresarial nos domnios do Turismo Cultural potenciados pela colaborao com empresas, em territrios de baixa densidade. Desta forma, pretende -se contribuir para suprir um dos problemas mais graves desses territrio s (o menor capital humano), sendo intuito do Instituto Politcnico de Tomar desenvolver competncias nos domnios da Qualificao e Internacionalizao da Investigao e Desenvolvimento e Inovao nos domnios do Turismo do Patrimnio Histrico, Arqueolgi co e de Paisagens Culturais. No projeto so claramente identificados os problemas e oportunidades a considerar, bem como as categorias de atividades a desenvolver, especificando alguns dos instrumentos a desenvolver e os resultados esperados (bem como os seus indicadores de realizao), no que diz respeito produo, transferncia e valorizao de novo conhecimento. Esta estratgia contribui para os desafios globais de sustentabilidade, contribuindo para um maior equilbrio na relao entre reas de baixa densidade e reas de concentrao populacional, temtica que constitui o foco de pesquisa da Ctedra UNESCO -IPT de Humanidades e Gesto Cultural Integrada do Territrio, sendo igualmente parte das linhas de pesquisa dos trs centros de investigao do IPT. A dimenso de inovao do projeto est, por um lado, na abordagem temtica e territorial que oferece e na firme vontade de gerar um frum de trabalho estvel que ajude a melhorar as estratgias de conservao e usos sustentveis de espaos de alto valor ambiental e cultural. Por outro lado, a aplicao dos postulados da economia circular (que se baseia no paradigma "reduzi r, reutilizar e reciclar") deve favorecer um novo sistema de gesto ambiental e, sobretudo, o turismo em reas rurais de alto valor ecolgico e patrimonial. 27 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media A abordagem do projeto consiste em criar uma rede municipal estvel onde as polticas comunitrias e internacionais (UNESCO) neste domnio possam se r implementadas, proporcionando uma base de territrios que estimulam o turismo dos seus territrios atravs de um conjunto de boas prticas e conhecimentos especializados. A criao de uma rede de stios -paisagens culturais localizadas em reas rurais or ientadas para a preservao e a explorao sustentvel dos destinos culturais e tursticos patrimoniais pretende consolidar -se como uma slida estratgia de conservao e uso cultural/econmico sustentvel para os locais e suas paisagens, estrelados pelas populaes locais sob a superviso das autoridades locais/regionais interessadas. As experincias que se pretende desenvolver aumentam a necessidade de cooperar de maneira transmunicipal para conseguir objetivos comuns e obter resultados apreciveis a nvel nacional e europeu, desenvolvendo uma atividade coordenada, e uma rede slida e estvel para a melhoria das condies de uso do s recursos patrimoniais a partir de um conjunto de boas prticas de conservao preventiva e cresc imento da atividade econmica nas zonas rurais onde , por exemplo, se concentra uma importante oferta turstica de stios arqueolgicos associados a paisagens desertificadas, mas que em muitas ocasies ainda existe uma forte tradio na explorao destes recursos, o qual constitui uma referncia da identidade dos territrios (Patrimnio Ferrovirio, Histrico, Arqueolgico e Militar no caso da regio do Mdio Tejo). Os trabalhos a desenvolver incluem: No relacionamento de stios histricos e arqueolgicos proceder ao levantamento de todo o patrimnio arqueolgico, respetivos cadastros e atualizao de cadastros e classificaes; Implementar um programa de reduo do impacto da pegada humana nos stios e seus entornos naturais. Realizao de workshops e elaborao de um manual tcnico conjunto focando na preveno de riscos e da redao de 28 > Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO // planos de emergncia. Redao de um plano -piloto de uso sustentvel , conservao e difuso pblica sustentvel, numa estratgia conjunto em que os resultados da experimentao beneficiem todos os envolvidos. Proposta de implantao de recursos de conservao e acessibilidade sustentvel em lugares arqueolgicos, histricos e zonas naturais associadas. Desenvolvimento de um modelo de gesto turstica para os stios no meio -rura l, que inclua: o Aplicao para gesto de pblicos; o Programa de educao patrimonial orientada ao pblico escolar e universitrio; o Programa de formao do pessoal de atendimento ao pblico dos destinos arqueolgicos e histricos e as suas paisagens culturais; o Programa de formao e empregabilidade para zonas rurais; o Difuso escala nacional, regional e global, mediante o uso de novas tecnologias (website, aplicaes on -line), e sistemas tradicionais (guia turstico, material de difuso, exposies itinerantes...); o Apoio em linha e presencial ao sector do turismo temtico: conformao de pacotes tursticos destinados sua comercializao; o Desenvolvimento de um plano de acessibilidade (fsica e intelectual) para os destinos: peque nas infraestruturas para a melhoria de estruturas de acesso fsico e intelectual, e recursos didticos especficos. o Desenvolvimento de manuais de boas prticas e desenvolvimento de mapas de risco e planos de emergncia e seminrios de formao para o pessoal e para os desempregados no 29 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 09 30// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media terreno rural. o Desenvolvimento de sistemas de gesto turstica inteligentes, com recurso a modelos de Inteligncia Artificial. O principal pblico -alvo das aes e resultados do projeto a populao nos territrios de baixa densidade, que vive nas zonas arqueolgicas e histricos envolvidas. Mais especificamente, os gestores e utilizadores destas reas arqueolgicas histricas e naturais so visados, bem como o pblico escolar e familiar e os turistas em geral. Assim, a proposta visa um posicionamento do Patrimnio Histrico, Arqueolgico e de Paisagens Culturais no mercado de turismo, baseado em aes que favorecem a excelncia do servio cultural e de mediao turstica. O projeto ser implementado em estreita articulao com os seguintes parceiros estratgicos do IPT: NERSANT, Associao empresarial CIMT, Comunidad e Intermunicipal Pinhal Maior, Associao de Desenvolvimento do Pinhal Interior Sul TAGUS Associao para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior ACITOFEBA Associao Comercial e Industrial Tagus Valley, Tecnopolo do Vale do Tejo ACIAAR Centro de Interpretao de Arqueologia do Alto Ribatejo Rede de Formao Tecnolgica e Profissional do Mdio Tejo Instituto Terra e Memria, Mao 30 > Luiz Oosterbeek // TURARQ INOVAO // > Agradecimentos > O presente projeto foi elaborado no mbito do Centro de Geocincias, com a colaborao > do C entro Techn&Art e do Centro Ci2 do IPT. O coordenador agradece em especial a Lus Mota > Figueira, Srgio Nunes, Sandra Jardim, Lus Santos e Rita Anastcio pelas sugestes na fase de > candidatura e pela colaborao na implementao do projeto, ao qual foi re forado com a > colaborao de Regina Delfino e Ricardo Tries, dos investigadores contratados (Sara Garcs, > Hugo Gomes, Ancia Trindade, Eduardo Ferraz, Douglas Cardoso e Marco Martins) e de Joana > Gerardo Rey. O agradecimento alarga -se s colaboraes e sug estes de: Associao Empresarial > NERSANT; Municpios de Mao, Abrantes, Constncia, Vila Nova da Barquinha e Tomar; > Comunidade Intermunicipal do Mdio Tejo; Turismo Centro; DGPC. Referncias Bibliogrficas Choudhury, R.R.; Dixit, S.K. (2018). Prospects and Challenges in Smart Tourism. International Journal of Creative Research Thoughts, 6 (1), pp. 242 -248. Figueira, L.M.; Oosterbeek, L., Turismo mundial, crise sanitria e futuro: vises globais partilhadas . Tomar: Instituto Politcnico de Tomar, pp. 141 -154. Mauser, W. et al. (2013). Transdisciplinary global change research: The co -creation of knowledge for sustainability. Curr. Opin. Environ. Sustain. 5, 420 431. Oosterbeek, Luiz (ed., 2019). Resilience and Transformation in the territories of lowdemographic density. Studies in Honnour of Prof. Jos Bayolo Pacheco deAmorim, on occasion of the establishment of the UNESCO -IPT chair onHumanities and Cultural Integrated Landscape Management. Mao: Instituto Terr ae Memria, srie ARKEOS, vol. 48. Richards, G. (2018). Cultural Tourism: A review of recent research and trends. Journal of Hospitality and Tourism Management , 36, pp. 12 -21. 31 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media # INVESTIGAO ARQUEOLGICA # NO STIO ROMANO DE VALE DO JUNCO # (ORTIGA, MAO) # ARCHAEOLOGICAL RESEARCH # AT THE ROMAN SITE OF VALE DO JUNCO # (ORTIGA, MAO) # Fernando Coimbra Museu de Arte Pr -histrica de Mao Instituto Politcnico de Tomar [email protected] 32 > Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) // Resumo Em termos de escavao arqueolgica, a Estao Romana de Vale do Junco foi intervencionada pela ltima vez em 1986, altura em que descobriram importantes vestgios e artefactos de uma forja romana. Com este artigo apresenta -se um Projeto de Investigao Pl urianual em Arqueologia (PIPA), aprovado pela tutela, que pretende dar continuidade investigao naquele arqueosstio. No mbito do PIPA referido j se realizaram trabalhos preparatrios, constitudos por prospeo geoeltrica, cujos resultados se encont ram ainda em estudo. O presente texto efetua a reviso do estado dos conhecimentos sobre Vale do Junco, a descrio tcnico/cientfica do projeto, aborda a difuso dos resultados esperados e as medidas de proteo e salvaguarda programadas para esta esta o arqueolgica. referido ainda um primeiro resultado prtico do projeto, consubstanciado na organizao de uma exposio temporria com peas arqueolgicas provenientes de Vale do Junco. Abstract In terms of archaeological excavation, the Roman Site of Vale do Junco was last intervened in 1986, when important remains and artefacts from a Roman forge were discovered. This article presents a Multi -Annual Research Project in Archaeology (PIPA), approved by the supervising Ministry, which intends to give co ntinuity to the research in that archaeological site. The preparatory work, consisting of geoelectric prospection, whose results are still being studied, has already been carried out within the scope of the PIPA. The present text reviews the state of knowl edge about Vale do Junco, the technical/scientific description of the project, addresses the dissemination of the expected results and the protection and safeguard measures planned for this 33 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media archaeological site. A first practical result of the project is al so mentioned, embodied in the organization of a temporary exhibition with archaeological pieces from Vale do Junco. Introduo O presente artigo pretende dar a conhecer um projeto de investigao arqueolgica na Estao Romana de Vale do Junco, 13 que se encontra aprovado pela Direo Geral do Patrimnio Cultural (DGPC), do qual j se realizaram trabalhos preparatrios constitudos por prospeo geoeltrica, cujos resultados se encontram ainda em estudo. Em termos geomorfolgicos, Vale do Junco loc aliza -se num terrao fluvial do Rio Tejo, com uma altitude mdia entre 70m e 90m, sendo a cobertura dos terrenos constituda por depsitos do antigo esturio pliocnico do Pr -Tejo, formada por saibros, argilas e areias, com cascalheiras nas cotas mais ele vadas (Zbyzwesky et al., 1981). Foi relatada a recolha, no local, de alguns utenslios lticos com uma cronologia atribuvel ao Paleoltico (Carvalho e Cabral, 1996), informao que ser tida em conta aquando da realizao dos trabalhos de campo previstos no presente projeto. O objetivo geral do presente projeto retomar a investigao em Vale do Junco, cuja ltima interveno remonta a mais de 35 anos, pretendendo -se conseguir um melhor conhecimento do Perodo Romano na regio e, simultaneamente, salvagu ardar e rentabilizar o stio em termos de educao patrimonial e de turismo cultural, dado que se encontra enquadrado numa paisagem de grande beleza natural, num planalto localizado sobre uma curva pronunciada do Rio Tejo. De modo a atingir esse triplo obj etivo, propomos os seguintes objetivos especficos: 1) efetuar prospeo seletiva, de modo a compreender a delimitao da rea da estao arqueolgica de Vale do Junco; 2) realizar > 13 assim que este arqueosstio designado no Portal do Arquelogo. Neste texto, de modo a simplificar, > o stio denominado apenas como Vale do Junco. 34 > Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) // escavaes arqueolgicas para c olocar a descoberto a totalidade das estrutu ras do balnerio, que se encontra ainda parcialmente enterrado; 3) efetuar sondagens arqueolgicas em reas ainda no intervencionadas, que indiquem a existncia de estruturas enterradas, segundo as informaes de prospeo geoeltrica j realizada; 4) rel ocalizar, preservar e salvaguardar a necrpole, escavada apenas de modo preliminar h mais de 70 anos; 5) estabelecer um quadro cronolgico mais preciso dos contextos de ocupao do local, que permita compreender melhor o stio e as atividades a desenvolv idas no Perodo Romano; 6) efetuar prospeo numa rea mais alargada em redor de Vale do Junco, que permita identificar outros vestgios romanos e, simultaneamente, compreender de modo complementar as atividades econmicas que foram desenvolvidas naquela e stao arqueolgica; 7) divulgao cientfica e cultural dos resultados dos trabalhos, atravs de publicaes, participao em congressos, organizao de conferncias e atividades destinadas ao pblico; 8) organizao de uma exposio temporria com materi ais provenientes de Vale do Junco, existentes nas reservas do Museu de Arte Pr -histrica de Mao; 9) preservar, conservar e musealizar esta estao arqueolgica, com o apoio institucional, logstico e financeiro da Cmara Municipal de Mao e do Institut o Terra e Memria. Relativamente a estes objetivos, a exposio temporria referida foi j inaugurada no dia dez de dezembro de 2022, com grande afluncia de pblico, e apresentao de um catlogo preliminar, cuja edio est programada para breve (Coimbra, no prelo). Revi so do estado dos conhecimentos O territrio do Concelho de Mao bastante rico em vestgios arqueolgicos de vrias pocas, desde o Paleoltico e o Neoltico at s Idades dos Metais e ao Perodo Romano (Oosterbeek e Cura, 2005; Pierro, 2019), no send o de descartar alguns stios 35 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152 // ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editor ial&seccao=antrope&lang=PT#media arqueolgicos de datao posterior. Todavia, a Romanizao deste territrio ainda um dos fenmenos menos estudados na regio e que urge investigar, de modo a completar o conhecimento sobre as estratgias de povoamento e a ren tabilizao dos recursos naturais desde a chegada dos romanos s terras que constituem o atual municpio de Mao. No que diz respeito a Vale do Junco, trata -se provavelmente uma villa com balnerio privado, situada na rea de influncia da civitas de Aritium Vetus, a pouca distncia de Alvega (Alarco, 1987; 1988) , cujo territrio se estendia pelas duas margens do Tejo, sendo ligado por uma ponte (Alarco, 1985), cujos peges parecem ainda existir na margem sul (Carvalho e Cabral, 1996). As escavaes iniciais de Joo Calado Rodrigues, com lacunas entre 1943 e 1952, colocaram a descoberto apenas parte das estruturas termais (Pereira, 1970). No incio da dcada de 50, os trabalhos dirigidos por Joo Manuel Bairro Oleiro tiveram lugar, de modo preliminar, na rea da necrpole (Carvalho, 1987a), situada a leste do balne rio, e descoberta anteriormente necrpole da Herdade do Carvalhal, em Constncia (Dias, 1987). Existem ainda referncias ao aparecimento, no local, de algumas moedas de cobre datveis entre a segunda metade do sculo III e meados do sculo IV (Oleiro, 1 951; Pereira, 1970). Entretanto, o stio apenas voltaria a ser intervencionado em 1986, sob a responsabilidade de Rogrio Carvalho (Carvalho, 1987a; 1987b; 1988; Carvalho e Cabral, 1996). No estado atual dos conhecimentos verifica -se que existem ainda vri as dvidas sobre as caractersticas desta estao arqueolgica e sobre as atividades econmicas a desenvolvidas. Se nas sondagens de 1986 foi identificada uma forja com materiais associados, tais como uma tenaz, dois martelos, uma bigorna e outros utensl ios destinados agricultura (Carvalho e Ponte, 1987), como mais tarde referiram Carvalho e Cabral (1996:161) a questo de fundo que se coloca, no a localizao da fornalha, mas sim compreender se estamos em vias de delimitao do espao de uma forja d e uma villa rstica, ou () se existiro 36 > Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) // outras estruturas idnticas, trabalhando igualmente os metais. Para alm disso, no que diz respeito ao balnerio, como referiu Carvalho (1988: 74), grande parte do edifcio se encontra ainda soterrado, exigindo, p ortanto, uma ao programada para o seu estudo integrado. Do que se conhece deste edifcio at aos dias de hoje, sabe -se que se encontra distribudo por dois andares, distinguindo -se os compartimentos seguintes: frigidarium de planta quadrangular, com pavimento de opus signinum , junto do qual se observa uma pisci na com acesso por cinco degraus; tepidarium , de planta retangular e pavimento de tijoleira, com uma abside a oeste, possivelmente um laconicum ; caldarium, mais a sul (Fig.1), com vestgios de hypocaustum, e uma abertura que pode indicar a presena de uma f ornalha. Todavia, ainda no est claro onde se localiza a entrada do frigidarium , apesar de ele comunicar a Norte com dois pequenos espaos de funo desconhecida (Reis, 2004; 2019 -2020). Fig.1: Estruturas do caldarium, aps limpeza de vegetao. Foto: F. Coimbr a. 37 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Os materiais de construo utilizados, principalmente a m qualidade do opus signinum, parecem indicar uma edificao privada caracterstica do Baixo -imprio. Cronologicamente, o perodo de ocupao deste stio arqueolgico parece ter comeado no sculo I d.C., com base na descoberta de um fragmento de sigillata sud -glica, sendo o local aba ndonado provavelmente em finais do sculo IV, incio do sculo V (Carvalho e Cabral, 1996). Em 1997, a exposio intitulada Portugal Romano: a explorao dos recursos naturais , organizada no Museu Nacional de Arqueologia exps dez peas de Vale do Junco re lacionadas com os trabalhos de metalurgia e de agricultura (Alarco, 1997). Em 13 de Julho de 1998 deu entrada no Museu Monogrfico de Conimbriga, para tratamento, um vasto conjunto de artefactos e outro esplio proveniente de trabalhos em Vale do Junco, e ntre os quais se destacam: dois martelos de ferreiro, uma bigorna, uma tenaz, um algaraviz, duas enxadas (Fig.2), duas podoas, nove moedas, uma asa de stula e dois fragmentos de terra sigillata (Fig.3), entre diversos objetos em ferro e em bronze. 14 Fig.2: Uma das enxadas provenientes de Vale do Junco. Foto: Gonalo Figueiredo, Instituto Politcnico de Tomar > 14 Todo este esplio j foi devolvido ao Museu de Mao no dia 27 de junho de 2022. 38 > Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Val e de Junco (Ortiga, Mao) // Fig.3: Fragmento de Terra Sigillata Clara, com decorao de um peixe em relevo. Foto: Gonalo Figueiredo, Instituto Politcnico de A existnci a de uma conheira nas proximidades de Vale do Junco (Batata, 2006) pode estar relacionada com a explorao aurfera neste stio arqueolgico, dada a sua proximidade com o Tejo (Fig.4). Na realidade, como recentemente escreveu Jos d Encarnao, s obejam ente conhecido o facto de, no seu leito e terrenos circunstantes, se encontrarem pepitas, que lhe valeram o nome por que os antigos o designaram: o Tejo aurfero (Encarnao, 2022). 39 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Fig.4: O Tejo, visto de Vale do Junco. Foto: F. Coimbra. Na regio do Mdio Tejo portugus, a explorao do ouro deve ter contribudo para a fixao de populaes romanas ao longo deste rio e de alguns dos seus afluentes (Romo, 2006), no s no concelho de Mao, mas tambm nos vizinhos de Vila Velha de Rdo e Abrantes. Atualmente, como se refere no Portal do Arquelogo relativamente a Vale do Junco, as estruturas romanas evidenciam um elevado grau de abandono e d egradao, encontrando -se em perigo de destruio. Torna -se ento importante desenvolver um projeto de trabalhos plurianuais de arqueologia, com as caractersticas mencionadas atrs, que tero ainda a finalidade de continuar o estudo de Vale do Junco e ef etivar a sua preservao e rentabilizao cultural. Entretanto, em Fevereiro de 2022, redescobriu -se na reserva do Museu de Mao uma estatueta em bronze com uma inscrio em grego (Fig.5), proveniente deste stio arqueolgico, cujo achado atribudo a F lix Alves Pereira em 1921. O estudo integral 40 Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) // desta extraordinria pea foi recentemente efetuado e publicado (Encarnao e Coimbra, 2022), constituindo mais um testemunho da importncia arqueolgica e cultural de Vale do Junco. 15 Fig.5: Estatueta encontrada em Vale do Junco. Foto: Gonalo Figueiredo, IPT. > 15 Dado que o objeti vo do presente artigo apresentar o projeto de investigao em Vale do Junco, no se > desenvolve aqui os dados sobre esta estatueta, que conforme referido j se encontram publicados. 41 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Descrio tcnico/cientfica do projeto Os diversos trabalhos de campo e laboratoriais relativos a Vale do Junco sero desenvolvidos por uma equipa multidisciplinar em colaborao institucional, constituda por elementos com reconhecida formao na inves tigao arqueolgica, integrando ainda alunos de mestrado e de doutoramento. Assim, para alm da equipa de arqueologia propriamente dita, o projeto inclui ainda especialistas nas seguintes reas: - Conservao e restauro (ficando tambm responsvel pela c oordenao de trabalhos de laboratrio . - Cartografia e Sistemas de Informao Geogrfica; - Antropologia Fsica (para o caso do aparecimento de ossadas humanas); - Zooarqueologia (para o estudo de eventual fauna); - Arqueobotnica (para a reconstituio do ambiente); - Geologia (tendo em conta a localizao da estao arq ueolgica) O plano de trabalhos a desenvolver assenta essencialmente em quatro vertentes: 1) prospees; 2) sondagens/escavaes; 3) tratamento/conservao dos materiais; 4) interpretao de dados e sua divulgao. Antes da prospeo propriamente dita ser analisada documentao diversa, como, por exemplo, relatrios de trabalhos anteriores em Vale do Junco, cartografia, fotografia area e bibliografia produzida at a atualidade sobre este arqueosstio. A prospeo ser inicialmente seletiva, de modo a compreender a delimitao da rea da estao arqueolgica de Vale do Junco. Posteriormente ser dirigida a uma rea mais alargada, com vista possvel identificao de novos achados de cronologia romana, que contribua m com informaes complementares para um melhor entendimento das caractersticas do stio em estudo. 42 Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) // Entretanto, j foi efetuada uma campanha de prospeo geoeltrica, em setembro de 2022 (Fig.6), da responsabilidade do gelogo italiano Luca Gentile Lorru sso, 16 cujos resultados preliminares j permitiram identificar estruturas enterradas a oeste do balnerio, o que contribui para um conhecimento mais amplo e profundo do stio arqueolgico antes do incio das intervenes de carcter intrusivo. Simultaneamente, este tipo de prospeo permite orientar a programao das futuras escavaes. Relativamente a sondagens/escavaes, pretende -se dar continuidade aos trabalhos interrompidos em meados dos anos 80, colocando a descoberto as estruturas correspondentes ao balnerio que ainda se encontram soterradas. Para alm disso, sero tidos em conta os resultados constantes no relatrio da prospeo geoeltrica. Fig.6 : Georesistivmetro com CPU integrado e monitor (modelo X612EM+), utilizado na prospeo geoeltric a. Foto: F. Coimbra. > 16 Com o apoio da empresa MAE -Advanced Geophysics Instruments (Frosolone , Itlia), que cedeu o > georesistivmetro com CPU integrado e monitor, utilizado nos trabalhos de campo. 43 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Os trabalhos sero desenvolvidos por uma equipa de 10 a 15 elementos, durante campanhas anuais, no vero, com a durao de 4 semanas em cada ano. Em termos de metodologia, as escavaes sero efetuadas atravs da decapagem das Unidades Estratigrficas naturais, fazendo a cri vagem das terras removidas e o levantamento tridimensional dos artefactos e dos ecofatos. Ser utilizada a estao total para levantamentos topogrficos, incluindo os diferentes nveis escavados. Ser efetuado o desenho manual de cortes estratigrficos, estruturas e plantas de edificaes, para alm de fotografia com mquina digital profissional. Todo o esplio encontrado ser imediatamente resguardado, tomando -se precaues especiais no que diz respeito recolha de carves e matria orgnica para datao. Sero ainda recolhidas amostras para anlises sedimentolgicas, polnicas e antracolgicas e preservada eventual microfauna e vestgios osteolgicos. No que diz respeito a tratamento/conserva o dos materiais resultantes dos trabalhos de campo existem duas linhas de ao: 1) preservao e conservao de estruturas; 2) tratamento e conservao de artefactos. Relativamente 1 linha, ela implementada no local, seguindo as normas de conservao do patrimnio edificado, que incluem as seguintes etapas: - Limpeza e tratamento de estabilizao das estruturas j colocadas a descoberto e a descobrir futuramente; - Tratamento do ataque biolgico, por meio de fungicidas do tipo Preventol R80; - Aplicao de pelcula anti crescimento de erva; - Aplicao de uma camada de proteo de cascalho no solo (a implementar no final do projeto). 44 > Fernando Coimbra // Invest igao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) // Quanto aos artefactos, aps a s ua recolha em campo, sero devidamente estabilizados e enviados para laboratrio, onde se proceder: a) limpeza, com escova fina e gua corrente; b) ao registo tcnico pela fotografia e pela realizao do desenho arqueolgico; c) ao estudo e interpreta o das suas caractersticas, com base em ficha pr -formatada e insero em base de dados; d) conservao, pela recomposio e colagem dos elementos fraturados e restauro dos objetos principais. No caso do aparecimento de ossos humanos eles sero tratados conforme a metodologia cientfica antropolgica tida por conveniente, sendo elaboradas fichas prprias de interpretao das ossadas, seu posicionamento, tipologia, patologias, relao contextual, anatomia, entre outros, procurando ainda informaes sobre n mero mnimo de indivduos, sexo, idade na poca da morte, doenas ou outros dados evidentes deste tipo de estudo. Sero tambm realizados estudos tafonmicos e taxonmicos dos restos faunsticos encontrados, incidindo na anlise de marcas de predao ou d e corte nos ossos e da sua contextualizao estratigrfica. Os dados zooarqueolgicos sero tratados atravs da participao da equipa do Centro Portugus de Geo -Histria e Pr -Histria (CPGP) nos trabalhos de campo e, em laboratrio, no LAP_CPGP (Laborat rio de Arqueozoologia e Paleontologia do CPGP), que possu colees de referncia osteolgica, para comparao. Sero analisados vestgios palinolgicos e carpolgicos para reconstituio paleoambiental e sero efetuadas anlises sedimentolgicas a partir de amostras recolhidas durante as escavaes. Esto previstos ainda trabalhos de arqueometria, como por exemplo anlise de pastas de esplio cermico e anlise de outras matrias -primas que surjam nas escavaes arqueolgicas. Por ltimo, ser elaborado, anualmente, um relatrio de progresso e um relatrio final. Para alm disso sero produzidos textos e publicaes diversas e efetuadas apresentaes pblicas, palestras acadmicas e cientficas, cujos pormenores sero 45 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media desenvolvi dos mais adiante na seo seguinte, intitulada difuso dos resultados esperados. Toda a informao recolhida nos trabalhos de campo e laboratoriais ser integrada numa base de dados especfica para o arqueosstio estudado e ser elaborado um Sistema de Informao Geogrfica de modo obteno de uma disposio espacial dos diferentes elementos existentes em Vale do Junco. Difuso dos resultados esperados A difuso dos resultados ser estruturada em duas linhas de atuao: 1) Divulgao cientfica entre a comunidade arqueolgica; 2) Socializao do conhecimento. A primeira linha ser realizada atravs da elaborao de artigos em revistas nacionais e internacionais, organizao de encontros cientficos temticos e publicao das respetivas Atas, participao e organizao de sesses temticas em congressos internacionais/nac ionais, com a publicao de artigos nas Atas e produo de uma monografia final. A segunda linha ser desenvolvida com o apoio dos Servios Educativos do Museu de Arte Pr -Histrica de Mao, visando o envolvimento dos resultados da investigao nas ativi dades didticas. Ser organizada segundo os critrios da Arqueologia Pblica, envolvendo o pblico em geral e, em particular, os habitantes da regio onde se encontra a estao arqueolgica de Vale do Junco, articulando os resultados da investigao com at ividades didtico -sociais, de forma a atrair a ateno da populao sobre a importncia dos resultados conseguidos, tornando -os, sempre que possvel, protagonistas do processo de aprendizagem e de divulgao do conhecimento. Nesta linha, particular ateno ser dada a estruturar as atividades em funo das diversas faixas etrias do pblico (adolescentes, adultos, idosos). 46 Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) // Est ainda previsto fazer divulgao dos resultados nos seguintes eventos: dias Internacionais dos Monumentos e Stios, dias Europeus d o Patrimnio, pensando -se ainda em, ao longo do projeto, organizar um dia aberto nas escavaes, permitindo ao pblico interessado ter acesso direto investigao arqueolgica, obviamente em condies de controlo. Com o objetivo de difuso e cruzamento de informao, a investigao arqueolgica em Vale de Junco articula -se tambm com o j referido projeto TURARQ, centrado em turismo arqueolgico relativamente a cinco municpios da regio do Mdio Tejo. Para alm disso, est planeada uma conferncia, 17 destinada ao pblico em geral, para apresentao dos resultados das primeiras escavaes no mbito do presente projeto, que ter o lugar a partir do final de maio de 2023. Por ltimo, sero ainda aproveitadas as plataformas digitais pertencentes a instituies da esfera do Instituto Terra e Memria, com a finalidade de carregar informao e contedos relativos ao envolvimento da p opulao no que diz respeito aos resultados da investigao. Este conjunto de atividades de divulgao insere -se numa componente de sociabilizao do conhecimento, uma prtica indispensvel no domnio da arqueologia, que no se pretende destinada apenas a um crculo restrito de especialistas, mas sim para fruio da sociedade em geral. Medidas de proteo e salvaguarda As estruturas arquitetnicas do balnerio romano de Vale de Junco j colocadas a descoberto sero alvo de um programa de proteo e con solidao, de acordo com as antigas tcnicas de construo identificadas. O mesmo procedimento ser aplicado a > 17 Como meio preliminar de apresentao deste projeto, no dia 23 de setembro de 2022 foi efetuada uma > conferncia intitulada O passado romano no territ rio de Mao, que teve lugar no auditrio do Centro > Cultural Elvino Pereira, em Mao. O evento deu grande destaque ao stio romano de Vale do Junco. 47 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media outras estruturas que surjam ao longo dos trabalhos de campo. Aps cada escavao anual, os solos e os cortes estratigrficos sero protegidos co m geotxtil e terra. Ser monitorizado o crescimento da vegetao na proximidade das estruturas, de modo a evitar que o alargamento de caules e de razes danifique as paredes colocadas a descoberto. O esplio encontrado ser acondicionado, etiquetado e inventariado de acordo com as normas vigentes, sendo depositado nas reserva s do Museu de Arte Pr -Histrica de Mao. Eventuais achados de metal e materiais osteolgicos (que necessitam de medidas mais urgentes e qualificadas de consolidao e conservao) sero tratados no Laboratrio de Conservao e Restauro do Instituto Terra e Memria. As medidas de acondicionamento do eventual esplio sseo, humano e zoolgico, tero em conta a necessidade de salvaguardar as superfcies por micro golpes ou frices, para as preservar intactas para o estudo tafonmico. O material cermico, de pois de ter sido lavado com escovas de dentes hmidas ser dividido por tipo de desengordurante, antes do acondicionamento em sacos, de forma facilitar o sucessivo processo de restauro das suas formas. Todos os materiais sero acondicionados em sacos polim ricos neutros. Consideraes finais A exposio planeada no mbito do presente projeto, intitulada Vale do Junco e o Passado Romano no Territrio de Mao, constitui um primeiro resultado concreto do mesmo. Foi organizada por temas, tais como: agricultura, tecelagem, cermica, metalurgia, comrcio, materiais de construo, alimentao, equipamento militar, artes, epigrafia e religio, crendices e supersties. Cada um foi apresentado a partir de pequenos textos da nossa responsabilidade, de caracter simples, com o objetivo de prestar inform aes e de despertar a curiosidade no pblico, sendo complementadas por imagens selecionadas das peas expostas. 48 > Fernando Coimbra // Investigao Arqueol gica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) // A mostra estrutura -se em trs sees que se interligam: peas arqueolgicas, painis explicativos e um diaporama onde constam, entre muitas ou tras, imagens das escavaes realizadas em 1986 (Fig.7 e Fig.8). Por ocasio da inaugurao foi produzido um catlogo preliminar, cuja edio mais cuidada est em preparao por parte da Cmara Municipal de Mao. Fig.7: Pormenor da exposio, onde se observam expositores com peas e painis. Foto: F. Coimbra. Por ltimo, encontra -se em curso uma tentativa de relocalizao de uma ara dedicada s Aqvis Sacris (guas Sagradas), encontrada em Vale do Junco por Evaristo Parente, morador na Ortiga, e referida por Encarnao e Leito (2018). O paradeiro desta epgrafe atualmente desconhecido, existindo apenas um desenho da autoria de Joo Caritas Ribeirinho (Fig.9), que adquiriu moedas ao achador daquela ara. Foram contactados familiares de ambos, mas at ao momento sem se conseguir reencontrar a ara em questo. 49 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 3152// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Fig.8: Outro detalhe da exposio onde se observa o diaporama, expositores e painis. Foto: F. Coimbra. Figura 9 Ara s Aqvis Sacris encontrada em Vale do Junco. Desenho: Joo Caritas Ribeirinho 50 > Fernando Coimbra // Investigao Arqueolgica no stio Romano de Vale de Junco (Ortiga, Mao) // Agradecimentos: Agradeo ao Professor Doutor Jos dEncarnao a cedncia de uma cpia do desenho da ara s Aqvis Sacris. Agradeo ao Dr. Rogrio Carvalho a cedncia dos negativos das fotografias das escavaes de 1986, para digitalizao no Departamento de Fotografia do Instituto Politcnico de Tomar e utilizao no diaporama da exposio sobre Vale do Junco. Bibliografia Alarco, A. M. (1997). Portugal Romano: a explorao dos recursos naturais . Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa: 160 -161. Alarco, J. de (1985). Sobre a Romanizao do Alentejo e Algarve. Arqueologia, 11 . GEAP, Porto: 99 -111. Alarco, J. de (1987). Traos essenciais da Geografia Poltica e Econ mica do Vale do Tejo. In, Arqueologia do Vale do Tejo . IPPC, Lisboa: 55 -58. Alarco, J. de (1988). Roman Portugal. 4 vol . Vol. 1: Introduction. 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Servios Geolgico s de Portugal, Lisboa: 13. 53 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media # AS PRIMEIRAS MANIFESTAES ARTSTICAS DO # CENTRO -OESTE DA PENNSULA IBRICA: # O VALE DO OCREZA # THE FIRST ARTISTIC EXPRESSIONS OF THE # CENTRAL -WESTERN IBERIAN PENINSULA: # THE OCREZA VALLEY # Sara Garcs Instituto Politcnico de Tomar [email protected] # Telmo Pereira Universidade Autnoma de Lisboa [email protected] 54 > Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula > Ibrica: o Vale do Ocreza // Resumo O objetivo deste projeto identificar, caracterizar e datar arte rupestre paleoltica no vale do Ocreza e reas adjacentes, associando -a a outros vestgios arqueolgicos e evoluo da paisagem. O ocidente ibrico uma regio fundamental para compreende r fenmenos como a extino e substituio do Neandertal por AMHs (Zilho 2001; Zilho et al. 2010, 2020), possvel miscigenao Neanderthal -AMHs (Duarte et al. 1999) e tambm cronologia e ecodinmica dos AMHs (Belmiro et al. 2020; Benedetti et al. 2019). Anteriormente, foi sugerido que o desaparecimento e substituio do Neanderthal por AMHs na Europa Ocidental poderia ter ocorrido h cerca 54 ka cal BP (Slimak et al. 2022), mas apenas cerca de 34 -32 ka cal BP na Pennsula Ibrica ocidental, com possvel coexistncia (Bicho et al. 2014) e o debate sobre a presena ou no de Aurinhacense durou algum tempo (Aubry, et al. 2006; Bicho 2005; Bicho et al. 2014; Thacker 2001; Zilho et al. 2010). No entanto, alguns stios no interior da Pennsula Ibrica e as suas reas adjacentes tm muito poucos dados (Alcaraz -Castao et al. 2021). As ocupaes paleolticas e mesolticas do baixo Tejo so conhecidas desde o sculo XIX, mas a arte rupestre pr -histrica nesta rea s foi encontrada na dcada de 1970 devido const ruo da barragem do Fratel (Garcs 2017). O trabalho de salvamento efetuado no Tejo consistiu no mapeamento e registo da maior quantidade possvel de rochas, dando prioridade s que em breve estariam debaixo de gua. Foram ocasionalmente realizados alguns trabalhos posteriores e, hoje, o Complexo de Arte Rupestre do Vale do Tejo conta com 12 stios, 1636 painis e 6988 figuras registadas (Garcs 2017) ainda que deste registo somente uma rocha tenha sido de facto apontada como de cronologia paleoltica. Enq uanto isto, vrios contextos com arte paleoltica nas reas adjacentes foram sendo encontrados como as grutas de Maltravieso e Escoural e tambm contextos com arte paleoltica ao ar livre como o Ca, Guadiana e Zzere. Uma das questes primordiais 55 > Antr ope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media sobre a arte rupestre do Tejo desde h 20 anos articulava -se com a rara presena de arte paleoltica numa to grande rea gravada. Com a descoberta d o novo painel com arte paleoltica no Ocreza, evidente que necessrio acentuar e atualizar a investigao arqueolgica neste ltimo troo deste afluente. Para isso, temos como objetivos: prospetar e atribuir coordenadas precisas s rochas com gravuras j conhecidas e a descobrir, atualizar o acervo de registo e decalque de todas as rochas do Ocreza utilizando as mais recentes tecnologias de fotogrametria 3D; refinar o conhecimento sobre o contexto arqueolgico atravs do alargamento da rea de escavao do novo painel; objetivar (atravs da escavao) a relao estratigrfica das unidades sedimentares com os motivos do painel gravado, o estudo geolgico dos sedimentos, a posio e sobreposio das gravuras recobertas por depsitos aluviais que possam ind icar uma cronologia para as gravuras deste painel, analisar do ponto de vista espacial a existncia de possveis nveis arqueolgicos em estratigrafia nos depsitos de terrao e vertente sobranceiros em todo o troo de rio, abrir sondagens manuais em ponto s estratgicos ao longo do ltimo troo de 800m do rio Ocreza para verificar a potencialidade de mais painis com arte rupestre. Se possvel, proceder a estudos de reconstruo ambiental e comportamental e dataes recorrendo a diferentes mtodos. Os resul tados esperados englobam a identificao de nveis arqueolgicos em estratigrafia nos depsitos existentes nas vertentes sobranceiras aos painis de arte rupestre j existentes; a identificao de mais rochas imediatamente parte do novo painel com gravu ras paleoltica e o respetivo horizonte arqueolgico; uma melhor compreenso da relao entre a arte rupestre paleoltica e contextos arqueolgicos coevos; uma compreenso dos processos tafonmicos e de formao de stio e da identificao de uma sequncia estratigrfica (testemunha de mudanas ambientais, datada pelo contedo arqueolgico e por vrios mtodos de datao radiomtricos) e os potenciais painis novos gravados; a identificao novos nveis arqueolgicos em 56 > Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula > Ibrica: o Vale do Ocreza // estratigrafia nos depsitos de terrao e vertente sobranceiros em todo o troo de rio aqui proposto a anlise abrindo, assim, o leque de possibilidades no que toca a trabalhos futuros e a construo de um catlogo de rochas com gravuras atualizado seguindo os mais recentes modelos de documentao e mais recentes tecnologias de localizao geogrfica. Abstract The aim of this project is to identify, characterise and date Palaeolithic rock art in the Ocreza valley and adjacent areas, linking it to other arc haeological remains and the evolution of the landscape. The Iberian west is a key region for understanding phenomena such as Neanderthal extinction and replacement by AMHs (Zilho 2001; Zilho et al. 2010, 2020), possible Neanderthal -AMHs admixture (Duarte et al. 1999) and chronology and ecodynamics of AMHs (Belmiro et al. 2020; Benedetti et al. 2019). Previously, it has been suggested that Neanderthal disappearance and replacement by AMHs in Western Europe might have occurred around 54 ka cal BP (Slimak et al. 2022), but only around 34 -32 ka cal BP in western Iberia, with possible coexistence (Bicho et al. 2014) and the debate about the presence or not of Aurinhacense lasted for some time (Aubry, et al. 2006; Bicho 2005; Bicho et al. 2014; Thacker 2001; Zil ho et al. 2010). However, some sites in the interior of the Iberian Peninsula and its adjacent areas have very little data (Alcaraz - Castao et al. 2021). Palaeolithic and Mesolithic occupations of the lower Tagus have been known since the 19 th century, bu t prehistoric rock art in this area was only found in the 1970s due to the construction of the Fratel dam (Garcs 2017). The rescue work carried out in the Tagus consisted of mapping and recording as many rocks as possible, giving priority to those that would soon be under water. Some subsequent work was occasionally carried out and, today, the Tagus Valley Rock Art 57 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Complex has 12 sites, 1636 panels and 6988 recorded figures (Garcs 2017) although of this record only one rock has been noted as having a Palaeolithic chronology. Meanwhile, several contexts with Palaeolithic art in adjacent areas have been found such as the caves of Maltravieso and Escoural, and contexts with open -air Palaeolithic art such as the Ca, Guadiana and Zzere. One of the main questions about the rock ar t of the Tagus River for the last 20 years was the rare presence of Palaeolithic art in such a large, engraved area. With the discovery of a new panel with Palaeolithic art in the Ocreza, it is necessary to accentuate and update the archaeological research in this last stretch of this tributary. To do so, we have as objectives prospect and assign precise coordinates to the rocks with engravings already known and to be discovered, update the record and decal collection of all the rocks of the Ocreza using th e latest 3D photogrammetry technologies; refine the knowledge about the archaeological context through the enlargement of the excavation area of the new panel; to objectify (through the excavation) the stratigraphic relationship of the sedimentary units wi th the motifs of the engraved panel, the geological study of the sediments, the position and superposition of the engravings covered by alluvial deposits which may indicate a chronology for the engravings of this panel to analyse from a spatial point of vi ew the existence of possible archaeological levels in stratigraphy on the terrace and upstream slope deposits along the whole stretch of the river, to open manual surveys at strategic points along the last 800m stretch of the Ocreza River to verify the pot ential for more panels with rock art. If possible, proceed to environmental and behavioural reconstruction studies and dating using different methods. The expected results include the identification of archaeological levels in stratigraphy in the deposits on the slopes above the existing rock art panels; the identification of further rocks immediately adjacent to the new panel with Palaeolithic engravings and the respective archaeological horizon; a better understanding 58 > Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula > Ibrica: o Vale do Ocreza // of the relationship between Palaeolithic rock art and coeval archaeological contexts; an understanding of the taphonomic and site formation processes and the iden tification of a stratigraphic sequence (witness to environmental changes, dated by the archaeological content and by various radiometric dating methods) and the potential new recorded panels; the identification of new archaeological levels in stratigraphy on the terrace and slope deposits overlying the whole stretch of river proposed for analysis, thus opening the range of possibilities for future work, and the construction of an up -to -date catalogue of engraved rocks, following the latest documentation mod els and the latest technologies for geographical localisation. Objectivos do projecto Em 2021, em contexto de escavao foi descoberto, no vale do Ocreza, um novo painel com arte rupestre paleoltica (Danelatos , 2022) (Fig.1). Com esta descoberta, evidente que necessrio acentuar e atualizar a investigao arqueolgica neste ltimo troo deste afluente. Para isso, temos como objetivos: relocalizar todas as gravuras identificadas h cerca de duas dcadas util izando as mais recentes tecnologias de localizao geogrfica (os registos encontram -se obsoletos tendo em conta os trabalhos recentemente desenvolvidos no CARVT). Isto incluir a atribuio de coordenadas precisas s rochas com gravuras j conhecidas e a descobrir, bem como atualizar o acervo de registo e decalque de todas as rochas do Ocreza utilizando as mais recentes tecnologias de fotogrametria 3D; refinar o conhecimento sobre o contexto arqueolgico, nomeadamente, atravs do alargamento da rea de esc avao do novo painel; pretende - se com a escavao objetivar a relao estratigrfica das unidades sedimentares com os motivos do painel gravado. A existncia deste painel gravado permite augurar a existncia de mais rochas cobertas por sedimentos a possib ilidade de nveis de ocupao humana no 59 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media troo nas reas imediatamente adjacentes sondagem j efetuada. necessrio levar a cabo o estudo geolgico dos sedimentos, a posio e sobreposio das gravuras recobertas por depsitos aluviais que possam indicar uma cronologia para a realizao das manifestaes artsticas deste painel. necessrio analisar do ponto de vista espacial (tendo em conta a localizao dos painis de gravuras anteriormente localizados e as caractersticas geomorfolgicas dos depsitos que cobrem o novo painel com gravuras) a existncia de possveis nveis arqueolgicos em estratigrafia nos depsitos de terrao e vertente sobranceiros em todo o troo de rio aqui proposto a anlise. tambm objetivo deste projecto proceder -se abertura de sondagens manuais em pontos estratgicos ao longo do ltimo troo de 800m do rio Ocreza para verificar a potencialidade de mais painis com arte rupestre estarem presentes debaixo de sedimento. O carcter inovador da presente proposta prende -se com a possibilidade de se estabelecer a primeira relao objetiva entre a arte rupestre paleoltica do Complexo Rupestre do Tejo e os contextos do Paleoltico Superior, nomeadamente neste vale, assim como a identificao de mais painis gravados desta cronologia em larga escala. Ter -se - tambm em conta possveis vestgios de arte mvel, a sua anlise e a sua correlao com os demais vestgios arqueolgicos. O estudo dos sedimentos, a posio e sobreposio das gravuras cobertas por depsitos aluviais e coluvionares podero vir a indicar uma cronologia mais precisa para as gravuras encontradas e as identificadas no decorrer dos trabalhos. A eventualidade (embora pouco provvel) de se encontrarem restos faun sticos pode contribuir para a reconstruo ambiental e comportamental. A datao combinando diferentes mtodos de datao poder precisar a cronologia das ocupaes. Sero tidos em conta o estudo das matrias -primas, cadeias operatrias e objetivos da prod uo da indstria ltica. Tudo isto considerado indito para esta realidade que, apesar da identificao de arte paleoltica ter pelo menos duas dcadas, nunca foi alvo de escavao. A possibilidade de datao dos 60 > Sara Garcs & Telmo Pereira // As Pri meiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula > Ibrica: o Vale do Ocreza // contextos a encontrar podem ir de encontro a vrios mtodos como dataes de termoluminescncia (TL) sobre materiais lticos aquecidos dos nveis arqueolgicos, a da tao por OSL dos nveis sedimentares e dataes por radiocarbono de possveis materiais orgnicos. Os resultados esperados englobam a identificao de nveis arqueolgicos em estratigrafia nos depsitos existentes nas vertentes sobranceiras aos painis de arte rupestre j existentes; a identificao de mais rochas imediatamente parte do novo painel c om gravuras paleoltica e o respetivo horizonte arqueolgico; uma melhor compreenso da relao entre a arte rupestre paleoltica e contextos arqueolgicos coevos; uma melhor compreenso dos processos tafonmicos e de formao de stio e da identificao d e uma sequncia estratigrfica (testemunha de mudanas ambientais, datada pelo contedo arqueolgico e por vrios mtodos de datao radiomtricos) e os potenciais painis novos gravados; a identificao de novos nveis arqueolgicos em estratigrafia nos d epsitos de terrao e vertente sobranceiros em todo o troo de rio aqui proposto a anlise abrindo, assim, o leque de possibilidades no que toca a trabalhos futuros. A construo de um catlogo de rochas com gravuras atualizado seguindo os mais recentes mo delos de documentao em arte rupestre e utilizando as mais recentes tecnologias de localizao geogrfica ser um dos pontos mais importantes deste projecto tendo em conta que estes registos tm de ser atualizados face s novas descobertas e objetivos da proposta. 61 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Figura 1: Novo painel do vale do Ocreza com decalque de figuras. Decalque: Sara Garcs, 2022 Reviso do estado atual dos conhecimentos O ocidente ibrico uma regio fundamental para compreender fenmenos a extino e substituio do Neandertal por AMHs (Anatomical Modern Humans) (Bicho 2005; Zilho, 2001; Zilho, et al. 2010, 2020), possvel miscigenao Neanderthal -AMHs (Duarte et al. 1999) e tambm cronologia e ecodinmica dos Humanos Modernos (Belmiro et al. 2020; Benedetti et al. 2019). Foi sugerido que o desaparecimento e substituio do Neanderthal por AMHs na Europa Ocidental poderia ter ocorrido h cerca 54 ka cal BP (Slimak et al. 2022), mas apenas h cerca de 34 -32 ka cal BP na Pennsula Ibrica ocidental, com possvel coexistncia (Bicho et al. 2014) e o debate sobre a presena ou no de Aurinhacense durou algum tempo (Aubry, et al. 2006; Bicho 2005; Bicho et al. 2014; Thacker 2001; Zilho, et al. 2010). No entanto, alguns stios no interior da Pennsula Ibrica e as suas reas adjacentes tm muito poucos dados (Alcaraz -Castao et al. 2021). A maior parte do ocidente ibrico corresponde a Portugal e os poucos conhecimentos sobre este territrio esto profund amente ligados ao baixo investimento na investigao paleoltica ao longo de dcadas. A investigao paleoltica em Portugal comeou no sculo XIX com a e scavao das Grutas Casa da Moura, Cesareda e 62 > Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula > Ibrica: o Vale do Ocreza // Furninha. At aos anos 1990, o trabalho de campo era realizado por equipas peq uenas e utilizando mtodos diferentes. As primeiras descobertas so essencialmente recolhas de superfcie em terraos e praias elevadas, datadas segundo o mtodo das sries que foi utilizada at quase ao final do sculo XX. Por sua vez, escavou -se praticam ente apenas locais do Paleoltico Superior ao ar livre. Em ambos os casos, as publicaes foram escassas e a localizao de muitos desses stios perdeu -se tornando impossvel a sua re - escavao e o seu estudo refinado com novos mtodos. Nos finais dos anos 80 com a mudana para a Nova Arqueologia, deu -se um aumento da produo de teses, investigao, consequente identificao e escavao de novos locais e enriquecimento de datas absolutas, na sua maioria relacionadas com a chegada de investigadores estrange iros (Zilho 2002). Apesar disso, na maioria dos casos no foram utilizados mtodos refinados como flutuao, estao total, micromorfologia ou amostras de sedimentos. As ocupaes paleolticas e mesolticas do baixo Tejo so conhecidas desde o sculo XIX, mas a arte rupestre pr -histrica s foi encontrada na dcada de 1970 devido construo da barragem do Fratel (Gomes, 2010; Garcs 2017). O trabalho de campo de salvamento efetuado no Tejo consistiu no mapeamento, registo e rastreio da maior quantidade possvel de rochas, dando prioridade s que em breve estariam debaixo de gua. Foram ocasionalmente realizados alguns trabalhos posteriores e, hoje, o Complexo de Arte Rupestre do Vale do Tejo tem 12 stios, 1636 painis e 6988 figuras registadas (Garcs 2018) ainda que deste registo somente uma rocha tenha sido de facto apontada como de cronologia paleoltica. Enquanto isto, vrios contextos com arte rupestre paleoltica nas reas adjacentes foram sendo encontrados como as grutas de Maltravieso, e Escoural e tambm contextos com arte rupestre paleoltica ao ar livre como o Vale do Ca, Guadiana e Zzere. Uma das questes primordiais sobre a presena de painis gravados no Tejo desde h 20 anos articulava -se com a rara presena de arte paleoltica num to gr ande 63 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media complexo rupestre. Recentemente, no mbito de trabalhos de escavao no vale do Ocreza, foi encontrada uma nova rocha com arte paleoltica, aumentado o nmero de figuras registadas. A maioria das figuras rupestres do Tejo so do estilo esquemtico (en quadradas no horizonte da Arte Esquemtica da Pennsula Ibrica) e pela utilizao sistemtica de rochas horizontais e sub -horizontais compatveis com outras configuraes semelhantes. A nica figura de cronologia paleoltica registada era a figura de um c avalo no rio Ocreza, numa laje sub -vertical de 30 x 50 cm encontrada em 2000, claramente distinguvel por o seu motivo tpico, mtodo e tcnica consensualmente atribudo ao Solutrense (Baptista, 2001). Em 2021, a escavao foi organizada para proceder abertura das primeiras sondagens arqueolgicas na rea imediatamente ao lado d e painis de arte rupestre do Tejo, na zona do cavalo do Ocreza para focar particularmente a arte rupestre do Paleoltico. A resposta questo sobre a presena ou no de mais arte rupestre paleoltica no vale do Tejo surgiu rapidamente revelando que sob e sses depsitos e apenas alguns centmetros abaixo da superfcie existem painis grandes, bem preservados, complexos, ricos, e aparentemente mais antigos com arte rupestre do Paleoltico (possivelmente do Gravetense) juntamente com uma lareira e ferramentas em pedra. Em suma, o rio Tejo tem grandes condies para a alta preservao de stios do Paleoltico Superior, incluindo de arte rupestre. A diferena marcante na quantidade de painis conhecidos de cronologia paleoltica e ps -paleoltica pode ser interp retada de vrias maneiras: pelo facto dos investigadores apenas debruarem a sua ateno para os painis horizontais perto da gua negligenciando os painis verticais em cotas mais elevadas e pela ausncia de projetos de investigao centrados em potenciai s contextos de arte rupestre paleoltica no Tejo mesmo aps a descoberta do aglomerado de arte rupestre do Vale do Ca. Com a nova descoberta do painel com arte paleoltica no Ocreza e com os resultados derivados deste projecto poderemos confirmar a hipte se levantada de tambm 64 > Sara Garcs & Telmo Pereira // As Primeiras Manifestaes Artsticas do Centro -Oeste da Pennsula > Ibrica: o Vale do Ocreza // outros ncleos de arte rupestre do Tejo terem painis com arte rupestre paleoltica. Tendo em conta que o vale do Ca contempla acima de tudo uma grande continuidade de arte rupestre paleoltica com poucos registos ps -paleolticos (voltando depois a ter u m forte registo da Idade do Ferro (Santos, 2017), o vale do Guadiana regista poucos exemplares de arte paleoltica com uma bem assente cronologia ps -paleoltica (Baptista & Santos 2013) e outros ncleos em rio (como o rio Zzere) apresenta raras rochas gr avadas paleolticas carecendo de uma contextualizao, a se confirmar a possibilidade de mais rochas com arte paleoltica surgirem no Tejo, este pode vir a tornar - se num stio fulcral para a compreenso da evoluo da arte rupestre gravada em contexto ao ar livre abarcando uma continuidade cronolgica que neste momento no existe num s stio em territrio portugus. Bibliografia Alcaraz -Casta o, M., J. J. Alcolea -Gonz lez, M. de Andr s-Herrero, S. Castillo -Jim nez, F. Cuartero, G. Cuenca -Besc s, M. Kehl, J. A. L pez -Sez, L. Luque, S. P rez - Daz, R. Piqu , M. Ruiz -Alonso, G. 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Modern human incursion into Neanderthal territories 54,000 years ago at Mandrin, France. Science Advances , 8(6), eabj9496. https://doi.org/10.1126/sciadv.abj9496 Zilh o, Jo o. 2001. Middle Paleolithic Settlement Patterns in Portugal. in Settlement Dynamics of the Middle Paleolithic and Middle Stone Age , edited by N. Conard. 67 > Antrop e // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 5367// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media Zilh o, J. 2002. O Paleol tico Superior Portugu s 30 000 anos depois. In Arqueologia 2000 - Balan o de um sculo de investiga o arqueol gica em Portugal. Arqueologia e Hist ria. 94. Lisboa: 41 -55. Zilh o, Jo o, Diego E. Angelucci, E. Badal -Garcia, F. DErrico, Flor al Daniel, Laure Dayet, Katerina Douka, Thomas F. G. Higham, M. J. Martinez -Sanchez, R. Montes -Bernardez, S. Murcia -Mascaros, C. Perez -Sirvent, C. Roldan -Garcia, Marian Vanhaeren, Valent n Villaverde, R. 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A MULTIDISCIPLINARY # APPROACH TO CHARACTERISE NEANDERTHAL ART # Sara Garcs Instituto Politcnico de Tomar ; Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra [email protected] # Hiplito Collado Giraldo Junta da Extremadura, Espanha; Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra [email protected] # Hugo Gomes Instituto Politcnico d e Tomar; Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra [email protected] # Virginia Lattao Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra [email protected] # Pierluigi Rosina Instituto Politcnico d e Tomar; Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra [email protected] # Jos Julio Garca Arranz Universidad de Extremadura [email protected] # Hugo A. Mira [email protected] # George Nash Instituto Politcnico d e Tomar; Centro de Geocincias, Universidade de Coimbra [email protected] 70 > Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca > Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a > caracterizao da Arte Neandertal // Resumo H alguns anos, a gruta de Maltravieso ( localizada em Cceres) tornou -se parte, juntamente com a gruta de Ardales (Andaluca) e a gruta de La Pasiega (Cant bria) , de um grupo selecionado de grutas na Pennsula Ibrica, onde uma equipa internacional de investigadores utilizando o mtodo da s srie s de Urnio, dataram um conjunto de pequenas crostas que cobriam manifestaes de arte rupestre . Em Maltravieso faziam parte destas figuras algumas mos pintadas em negativ o. Os resultado s surpreenderam a comunidade cientfica j que as dataes apresentadas apontavam para que estas figu ras (principalmente algumas figuras em Maltravieso) tinham sido feit as numa data anterior a 67.000 anos atrs e, portanto, a sua autoria deve ria ser atribuda aos Neandertais (Hoffman et al., 2018; 2020). Desde ento, um formidvel debate cientfico inter nacional tem sido realizado a favor e contra estas reivindicaes (Hoffman et al., 2020 ; White et al., 2020 ; Slimak et al., 2018), que ainda hoje continua a desenvolver -se. Perante estes extraordinrios resultados , e c om o objectivo de lanar luz sobre o debate e atestar de forma clara e categrica a existncia e caractersticas da arte Neandertal, um grupo de especialistas em arte pr -histrica com o apoio de laboratrios internacionais especializados em datao, sequenciao de ADN e caracterizao de pig mentos esto a desenvolver um novo projecto de investigao denominado FIRST - ART (A Primeira Arte) . Este projecto, actualmente em curso, foi estruturado em duas fases. A primeira, com um mbito territorial mais limitado, centrou -se principalmente nas gr utas de Maltravieso e Escoural, no sudoeste da Pennsula Ibrica, com a incorporao do Museu e Centro de Investigao da Gruta de Altamira do Governo espanhol. Foi financiado ao 71 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media abrigo do programa de cooperao Interreg V A Espanha -Portugal (POCTEP 2014 -2020 - N: 0497_FIRST_ART_4_E) e envolveu tambm instituies como o Ministrio Regional da Cultura, Turismo e Desporto da Junta de Extremadura, a Direco Regional da Cultura do Alentejo , as cmaras municipais de Montemor -o-Novo e Mao e contou com o apoi o da Cmara Municipal de Cceres. Este projeto foi realizado num mbito de cooperao cientfica transfronteiria, e foi extremamente importante para a retomada da investigao da arte rupestre da gruta do Escoural associando -o a um projeto mais amplo de salvaguarda, conservao e valorizao de ambos os monumentos e dos respectivos testemunhos grficos neles contidos (Garcs, et al., 2020). Abstract A few years ago, the Maltravieso cave (located in Cceres) became part, together with the Ardales cave (Andalusia) and the La Pasiega cave (Cantabria), of a selected group of caves on the Iberian Peninsula where an international team of researchers, using the uranium series method, dated a set of small crusts covering rock art demonstrations. In Maltravieso, some hands painted in negative were part of these figures. The results surprised the scientific community since the dating presented pointed out that these figures (mainly some figures in Maltravieso) had been made at a date before 67,000 years ago and, therefore, their authorship should be attributed to Neanderthals (Hoffman et al., 2018; 2020). Since then, a formidable international scientific debate has been held for and against these claims (Hoffman et al., 2020; White et al., 2020; Slimak et al., 2018), which continues to develop today. In view of these extraordinary results, and with the aim of shedding light on the debate and clearly and categoric ally attesting to the existence and characteristics of 72 > Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca > Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a > caracterizao da Arte Neander tal // Neanderthal art, a group of experts in prehistoric art with the support of international laboratories specialised in dating, DNA sequencing and pigment characterisation are developing a new research pr oject called FIRST -ART. This project, currently underway, was structured in two phases. The first, with a more limited territorial scope, focused mainly on the Maltravieso and Escoural caves in the southwest of the Iberian Peninsula, with the incorporation of the Spanish Governme nt's Altamira Cave Museum and Research Centre. It was funded under the Interreg V A Spain -Portugal cooperation programme (POCTEP 2014 -2020 - No: 0497_FIRST_ART_4_E) and also involved institutions such as the Regional Ministry of Culture, Tourism and Sport of the Junta de Extremadura, the Regional Directorate of Culture of the Alentejo, the town councils of Montemor -o-Novo and Mao and was supported by the Municipality of Cceres. This project was carried out in the framework of cross -border scientific coop eration and was extremely important for the resumption of the investigation of the cave art of Escoural, associating it to a wider project of safeguarding, conservation and enhancement of both monuments and the respective graphic testimonies contained ther ein. Introduo Durante o desenvolvimento do projeto, foi sempre necessrio contar com uma abordagem crtica, estabelec endo um programa de trabalho cujo objectivo seria no s a certificao da existncia da arte Neandertal, mas tambm a determinao das suas caractersticas tcnicas e iconogrficas . Para isso desde cedo integrou -se vrios tipos de anlises que vo desde a datao cronolgica das manifestaes de arte rupestre seleccionadas em cada stio , passando pela caracterizao dos seus pigmentos e73 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media terminando com uma potencial anlise presena de ADN nesses pigmentos. Foram tambm realizadas nova s data es utilizando o mtodo da s srie s de Urnio para confirmar ou descartar as datas anteriormente obtidas, mas neste caso duplicando o nmero de laboratrios integrados no projecto que analisam separadamente fraces das mesmas amostras sob um protocolo de processamento idntico. A partir destas mesmas figuras datadas ou de outras semelhantes localizadas nas suas imediaes, os pigmentos com que as figuras foram executad as foram analisad as com o objectivo de descobrir se era possvel determinar uma forma semelhante de processar os pigmentos antes de os aplicar no suporte rochoso , independentemente da sua localizao. Finalmente, estes mesmos pigmentos esto a ser analisados quanto presena de vestgios do ADN dos humanos que os fizeram, dado que a confirmao da sua presena propo rcionaria, para alm do conhecimento explcito das espcies que os fizeram, dados socioculturais de carcter particularmente atractivo para o estudo do processo criativo: ( seriam homens ou mulheres encarregadas de fazer a arte rupestre ? qual seria a sua fa ixa etria ? etc.). A Gruta do Escoural Nesse sentido, relativamente gruta do Escoural foi preparado um pedido de autorizao e projeto com uma detalhada descrio dos protocolos e processos a implementar para enquadrar a componente de investigao na G ruta do Escoural . Com efeito, interrompida h algumas dcadas a investigao sobre a arte rupestre da gruta do Escoural, nomeadamente na sua vertente estilstica e iconogrfica, interessa que esta seja retomada luz de novas metodologias de registo, analticas e de novos conceitos interpretativos. Em paralelo, e na sequncia de recentes ensaios analticos promovidos pela DRCA em colaborao com o Laboratrio HERCULES (Silva, et al. 74 > Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca > Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a > caracterizao da Arte Neandertal // 2017), justifica -se tambm continuar a desenvolver a vertente analtica sobre a arte rupestre do Escoural com recurso s mais recentes tcnicas laboratoriais disponveis e comparando tcnicas de anlise diferentes cujos resultados podem ser complementares. O objectivo geral do projecto vis ou estabelecer um marco de cooperao entre investigadores de vrias disci plinas que desenvolver am estratgias comuns que permitir am a renovao do conhecimento dos vestgios grficos da gruta do Escoural, contribuindo para a melhoria das suas condies de conservao assim como para a atualizao e melhoria dos programas de dif uso turstico -cultural das suas manifestaes rupestres. Este objectivo geral prende u-se de forma direta com o objectivo de proteger, fomentar e valorizar o Patrimnio Natural e Cultural. O processo de trabalho desenvolve u-se em trs etapas: 1. A anlise p rvia de cada um dos painis em que se recolhe m os dados: tendo em conta todos os levantamentos/decalques que foram realizados na gruta do Escoural desde a sua descoberta, foram analisa dos todos os painis previamente identificados como contendo manifesta es artsticas e desenvolve u- se um protocolo de prospeco interna gruta para a possvel identificao de mais figuras. Este protocolo foi realizado recorrendo a uma cmara fotogrfica Canon Powershot GX1 com o programa DStretch incorporado para uma com preensiva identificao de pinturas atravs do aprimoramento da visualizao das mesmas. Uma prospeco intensiva foi importante na medida em que f oram reconhecidas previamente as particularidades de cada conjunto de painis de modo reduzir o tempo de tra balho dentro da gruta na ao da documentao dos painis. Foi tambm possvel identificar as necessidades de equipamento e material para a documentao de cada painel e galeria sendo possvel a preparao desta etapa dos trabalhos atempadamente. Na prospe co e documentao da 75 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media gruta foram identificados 103 painis com gravuras e pinturas (43 s com pinturas; 52 com gravuras e 8 com pinturas e gravuras). necessrio ter em conta que na fase de documentao digital dos painis possvel que se identifiquem mais gravuras em painis onde nesta primeira fase foram s encontradas pinturas e vice -versa. 2. A documentao digital 2D/3D das representaes parietais teve em conta o rpido desenvolvimento tanto da qualidade como da definio das cmaras digitais para a documentao de todo o tipo de manifestaes rupestres, e recorremos a sistemas de tratamento informtico das imagens obtidas cujo uso permite obter resultados muito satisfatrios na melhoria da visibilidade das representaes rupestres independentemente da figura original apresentar problemas de conservao que dificultem a sua observao. Este ob jectivo teve tambm em conta a importncia dos suportes na hora da seleo dos espaos grficos onde as pinturas ou gravuras foram realizados. cada vez mais evidente que as irregularidades dos suportes tiveram um papel importante durante os processos de seleo dos espaos grficos. Tivemos aqui em conta tambm o quo fundamental atualmente um levantamento tridimensional como recurso virtual ou como ao de realidade imersiva que actualmente so imprescindveis para a elaborao de recursos didcticos em centros museogrficos e espaos expositivos. O processamento da informao digitalizada est, neste momento a ser efectuada em laboratrio. 3. Tendo em conta o ponto de vista cientfico e o mximo interesse de produzir dados fundamentais para o conheciment o da gruta e sua aplicao na sua conservao, foi aplicado um rigoroso protocolo de recolha de amostras de pigmentos das pinturas rupestres para a sua caracterizao mineralgica e datao 76 > Sara Garcs, Hiplito Co llado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca > Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a > caracterizao da Arte Neandertal // absoluta. Enquanto a caracterizao mineralgica seguiu uma metodo logia j anteriormente aplicada com sucesso em contextos rupestres variados pela equipa (Gomes et al., 2013; Collado Giraldo, et al. 2014; Gomes, et al., 2015; 2019; Rosina et al., 2019; Garcs et al., 2021; Garcs et al., 2022; Gomes et al., 2022, b; Nico li et al., 2022; Rosina et al., 2022), a metodologia da recolha de amostras de pigmentos e a sua possvel datao seguiu um protocolo desenvolvido recentemente e que apresenta resultados inovadores em contextos em gruta (Hoffman et al., 2018) mas que tamb m j foi atestada em alguns contextos ao ar livre pela atual equipa de trabalho (Rosina et al, 2022). Com este objectivo pretendemos aprofundar o conhecimento da composio dos pigmentos e aglutinantes que foram utilizados durante o perodo pr -histrico n a gruta do Escoural e a partir da compreenso destes dados, compreender as caractersticas e composio dos suportes parietais para ser possvel aprofundar o conhecimento sobre as causas da sua degradao, e de como a minimizar. 4. Tendo em conta os mais recentes dados rela tivos autoria Neandertal das pinturas rupestres de alguns contextos peninsulares, prop s -se este conjunto de aces multidisciplinares de modo a questionar a autoria das manifestaes artsticas da gruta do Escoural. Este objectivo ter o seu reforo argumentativo nos resultados da metodologia de datao de Urnio -Trio a ser aplicada s pinturas e gravuras rupestres e da aplicao de uma metodologia experimental para a determinao da autoria Neandertal atravs da anlise da eventual presena de ADN dos mesmos, nas amostras de pigmento. Resumindo, lev ou -se a cabo trs aces concretas: o levantamento fotogrfico e fot ogramtrico de todos os painis da gruta do Escoural para a elaborao de um catlogo actualizado dos contedos grficos da gruta do Escoural mediante o emprego de 77 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media metodologias novas e de tratamento digital de imagens; o scanner tridimensional de alta reso luo dos suportes das manifestaes parietais e modelizao integral da cavidade; e a aplicao de um conjunto multi -proxy de metodologias de anlise de composio de pigmentos e aglutinantes, datao cronolgica absoluta e anlises para a hipottica dete rminao de presena de ADN Neandertal na composio dos pigmentos. A Gruta do Escoural no contexto do projeto FIRST -ART At aos anos 60 do Sculo XX, no estavam registados no territrio portugus quaisquer stios com vestgios rupestres atribudos ao perodo Paleoltico. A descoberta da Gruta do Escoural (1963) e o posteri or reconhecimento de vestgios rupestres (pinturas e gravuras) no seu interior atribudos ao Paleoltico, por Manuel Farinha dos Santos (Santos, 1964) com o apoio de Andr Glory, veio finalmente colmatar aquela lacuna. Esta gruta, que ainda hoje continua a ser a nica cavidade com arte rupestre paleoltica identificada em territrio portugus, permaneceu durante dcadas como o nico testemunho deste tipo de manifestao artstica at descoberta e interpretao da arte rupestre do vale do Ca (Clottes, 199 5) e outros contextos similares. Entretanto, algumas descobertas de arte mvel foram adicionando dados ao conhecimento de arte rupestre paleoltica: a placa da gruta do Caldeiro (Zilho, 1988), a placa do stio de Vale Boi (Bicho et al., 2010) e as colec es de placas incisas do stio do Fariseu, no Ca (Aubry & Sampaio, 2008) e no terrao do Medal, no vale do rio Sabor (Figueiredo et al., 2014). Apesar de comumente aceite a atribuio de uma cronologia paleoltica aos vestgios de pintura e de gravura de scobertas na gruta do Escoural, na falta de dataes absolutas diretas e de contextos arqueolgicos seguros, a respectiva fundamentao nunca foi muito alm de consideraes de carcter estilstico -formais. Pese embora os projectos de salvaguarda, gesto p atrimonial e valorizao pblica de que foi alvo, a gruta do 78 > Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca > Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a > car acterizao da Arte Neandertal // Escoural no tem atrado nos ltimos tempos o interesse da comunidade arqueolgica (Silva, 2017). Com efeito, considerando o tempo decorrido aps os trabalhos pioneiros de Farinha dos Santos (San tos, 1964) e de Varela Gomes (1994), ou dos projectos promovidos pelo Servio Regional de Arqueologia do Sul (Arajo & Lejeune 1995), visvel a necessidade de desenvolvimento de novos projectos de investigao tendo em conta a constante atualizao de co ntedos comparando com outros contextos europeus. A gruta do Escoural foi ainda alvo de aces mais diretamente relacionadas com as ocupaes arqueolgicas da cavidade e de aces de diagnstico de mbito geomorfolgico, ambiental e biolgico para avaliao do impacto e alteraes provocadas pela visita pblica nos ltimos anos (Montes, 2015). No que se refere documentao dos motivos rupestres, pouco tempo aps a sua descoberta, Farinha dos Santos regista e publica 9 figuras pintadas (Santos, 1964). Glory, na sequncia da sua visita de janeiro de 1965, aponta em relatrio sumrio, para cerca de 33 figuras (Glory et al., 1965) assinalando, pela primeira vez, algumas gravuras. No final dos anos 70 Farinha dos Santos, com a especial colaborao de Jorge Pinho Monteiro e Varela Gomes (Santos et al., 1980) retomaria o estudo sistemtico da gruta, interpretando esta, na linha da viso estruturalista de Leroi -Gourhan, como um santurio rupestre. No entanto, o grande esforo de documentao ento realizado privilegiaria as gravuras em detrimento das pinturas (Silva, 2017). A primeira tentativa de se construir um corpus exaustivo da arte rupestre da gruta do Escoural resulta do projecto luso -belga promovido pelo Servio Regional de Arqueologia do Sul, sendo publicado em meados dos anos 90 (Arajo & Lejeune 1995) . No que respeita cronologia, a falta de dataes absolutas, as sucessivas e diversas propostas foram construdas utilizando a penas critrios estilstico -formais. Recentemente uma equipa internacional procedeu recolha de amostras de crostas de 79 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&p agina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media calcite das paredes da gruta para datao pelo mtodo Urnio -Trio. Este projecto inseriu - se numa tentativa de datar vrias grutas com a rte rupestre paleoltica da Pennsula Ibrica (Pike, et al., 2012). As amostras foram selecionadas tendo como objectivo a datao absoluta sobre a respectiva formao calctica e com o fim de se obter dataes mnimas para as pinturas. No entanto, no que r espeita ao Escoural, ainda no h resultados conhecidos. Foram, entretanto, realizadas caracterizaes mineralgicas de pigmentos, juntamente com fotografias e macrofotografias e reflectografia de infravermelhos. A caracterizao de pigmentos seguiu as seg uintes metodologias: microespectroscopia de infravermelhos (micro -FTIR), microscopia electrnica de varrimento acoplada a espectrmetro de raios X (MEV -EDX), Microespectroscopia Raman e Micro -difraco de raios X (micro -DRX). Foram assim caracterizados doi s tipos de pigmentos negros (de origem mineral e de origem orgnica) e um tipo de pigmento vermelho (de origem mineral) (Silva, 2017). Apesar do que parece ser um longo historial de documentao e contextualizao arqueolgica das pinturas e gravuras da gruta do Escoural, notria a falta de documentao exaustiva, actualizada e contnua da gruta. Neste momento, urgente rever, completa r e publicar um corpus das manifestaes artsticas. Este deve ser realizado recorrendo s mais novas tecnologias de documentao em 2D e 3D e interpretada em contexto e em sintonia com os resultados da caracterizao dos pigmentos, da anlise das ocupae s arqueolgicas do stio e datada luz dos novos mtodos de datao por Urnio -Trio, tendo em conta os mais recentes resultados desta tcnica em outros contextos peninsulares (Hoffman et al., 2018). tambm relevante registar a importncia que o levan tamento tridimensional ter ao ser disponibilizado ao pblico em geral atravs de uma plataforma de depsito de contedos 3D de fcil acesso. Este permitir tanto a investigadores como ao pblico em 80 > Sara Garcs, Hiplito Collado Giraldo, Hugo Gomes, Virginia Lattao, Pierluigi Rosina, Jos Julio Garca > Arranz, Hugo A. Mira, George Nash // O projeto FIRST -ART. Uma abordagem multidisciplinar para a > caracterizao da Arte Neandertal // geral aceder e interagir com o contedo tridimensional da gruta visualizando in situ as pinturas e gravuras enaltecidas digitalmente. Este tipo de contedo foi j desenvolvido por membros da equipa noutros contextos (Garcs et al, 20 22 ). Estes resultados devero ser publicados internacionalmente, mas tambm deve ro ser disponibilizados ao pblico atravs de recursos didcticos e utilizados como atractivos tursticos. O Projeto FIRST -ART e os trabalhos em desenvolvimento Durante a primeira fase do projecto FIRST -ART, foram criados modelos tridimensionais nas cavernas Maltravieso e Escoural, utilizando tecnologia de varrimento laser 3D de alta resoluo, tanto a nvel global para ambas as grutas como a uma escala mais especfica para os seus diferentes suportes gr ficos, que serviram de base tecnolgica para o desenvolvimento de visitas virtuais . Estas serviram de base tecnolgica para o desenvolvimento de visitas virtuais que, brevemente, estaro disponveis ao pblico em geral, onde o visitante, alm de viver uma experincia totalmente imersiva tanto na gruta do Escoural e Maltravieso, pode receber explicaes e informaes de avatares digitais sobre a descoberta das grutas ou a forma de fazer as pinturas e gravuras que nelas se conservam. Estamos agora numa nova fase, alargando o protocolo de trabalho a um mbito territorial que abrange, at data, um total de 32 grutas nas comunidades autnomas das Astrias, Cantbria e Andaluzia. Esta uma nova etapa na qual o projecto FIRST -ART apoiar projectos de investiga o actualmente autorizados em cada regio autnoma e em fase de execuo em cada uma destas reas territoriais, gerando assim uma sinergia com o mesmo objectivo, ou seja, aumentar o nmero e a fiabilidade dos dados cronolgicos, tcnicos e humanos atravs da anlises laboratoriais aos pigmentos, dataes e anlises de ADN que nos permitir afirmar inequivocamente que os Neandertais foram 81 > Antrope // N. 1 5// dezembro 2022 // pp. 69 86// ISSN 2183 -1386 > http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=antrope&lang=PT#media responsveis por uma certa forma de criar e compreender a arte rupestre na Pennsula Ibrica. Os trabalhos nestas regies autnomas esto neste momento em desenvolvimento e contam com os seguintes laboratrios como parceiros: o Lab.IPT. Tomar Escola Superior de Tecnologia. Instituto Politcnico de Tomar (Portugal) ; o Departamento de Fsica e Cincias da Terra da Universidade de Ferrara (Itlia) ; a Faculdade de Cincias Geogrficas da Universidade Normal de Nanjing (China ) e o Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology , em Leipzig (Alemanha). Estes laboratrios sero complementados em cada caso por outros laboratrios independentes que iro processar as amostras subdivididas de cada gruta . Bibliografia Arajo, A.C.; Lejeune, M. (1995). Gruta do Escoural: Necrpole Neoltica e Arte Rupestre Paleoltica. Lisboa, Trabalhos de Arqueologia , n8, IPPAA. Aubry, T. y Sampaio, J. (2008): Fariseu: cronologia e interpreta o funcional do s tio. En A. Santos e J. Sampaio (eds.): Pr -hist ria, gestos intemporais. Actas del III Congresso de Arqueologia de Tr s-os -Montes, Alto Douro e Beira In - terior, I. Associa o Cultural Deportiva e Recreativa de Freixo de Num o. Oporto: 7 -30. Bicho, N. F.; Gibaja, J. F. , Stiner, M. Y Manne, T. (2010). 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