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Difusão de Gases no Sistema Respiratório

Olá! Esse vídeo é uma iniciativa do departamento  de fisiologia e biofísica do ICB UFMG juntamente   com os monitores das disciplinas, e  hoje vamos falar sobre a difusão dos   gases pelo sistema respiratório. A história  de hoje começa por volta de 2.4 bilhões de   anos atrás quando ocorreu o que chamamos de "A  grande oxigenação", quando atmosfera terrestre   acumulou O2 suficiente devido a liberação desse  gás pelos seres vivos que fazem fotossíntese,   alguns organismos puderam se aproveitar de um  outro tipo de metabolismo que utiliza oxigênio   para fazer a sua respiração aeróbica. Saltando  alguns passos, muitos milhões de anos e várias   adaptações aerobiose, chegamos à especializações  com o nosso pulmão. A principal função deste órgão   é realizar as trocas gasosas que nos mantém vivos,  ou seja, obtendo o O2 necessário e eliminando o   CO2 que é produzido nos processos metabólicos.  Hoje vamos aprender um pouco sobre como esse   órgão tão precioso atua neste processo de troca  gasosa e como eles se comportam quando estão se   movimentando no nosso corpo. Bora lá? Para você  ficar mais interessado, vamos começar com uma   curiosidade sobre este órgão, você sabia que se  tirássemos os nossos pulmões e os estendessemos   juntinhos, como se fosse uma coberta, seria  suficiente para cobrir uma quadra de tênis   inteira de ponta a ponta? Isso equivale a mais  ou menos 85 metros quadrados. Podemos entender   melhor como isso é possível ao olharmos um pouco  melhor como o sistema respiratório funciona   e é organizado. Existe o fluxo de ar quando existe  alguma diferença de pressão entre dois lugares   diferentes. Se existir uma diferença o movimento  será do local de maior pressão para o de menor.   Interessantemente, é exatamente assim que funciona  nosso sistema respiratório. Quando você dá aquele   suspiro antes entregar a prova no último minuto  o seu diafragma se contrai e a caixa torácica se   expande, fazendo com que a pressão no interior dos  alvéolos fique menor do que a pressão atmosférica.   Isso resulta em uma pressão negativa que gera  um fluxo de ar para dentro dos pulmões, o que   conhecemos como inspiração. Depois de encher  os pulmões o relaxamento muscular faz com que o   diafragma volte para sua posição natural e a caixa  torácica se retraia e a pressão pleural aumente,   resultando na expiração. Ou seja, você sabia  que na verdade ao realizar uma inspiração   nosso pulmão não se espante porque tem  ar entrando? Ele se expande para o ar   entrar. O ar pode chegar até os pulmões começando  em dois lugares diferentes: entrando pela cavidade   bucal ou pela cavidade nasal. Após passarem por  essas estruturas, o ar converge na traqueia,   brônquios e bronquíolos, até chegar nos ductos  alveolares. A mágica da multiplicação do espaço   começa logo após a traqueia, nos brônquios, onde  o sistema respiratório começa a se ramificar.   Cada ramificação dá origem a uma nova, que  dá origem a outra, e a outra, e a outra,   isso se repete por até 23 vezes. Você pode pensar  nesse processo de ramificação como se fosse uma   árvore onde o brônqueo é o tronco principal  perto do chão, e vai se ramificando, até chegar   na ponta de cada galho onde estão os alvéolos. O  ar percorre todo esse caminho e alcança o interior   dos alvéolos, local onde ocorrem as trocas  gasosas. Essa rede alvéolo-capilar é um local   que tem uma densa quantidade de alvéolos  recobertos por pequenos vasos sanguíneos   conhecidos como capilares. Aqui gases contidos no  ar e no sangue se difundem passivamente através   das células epiteliais alveolares em menos de um  segundo, o O2 em direção aos capilares e o CO2 em   direção oposta, do sangue para o espaço alveolar.  Agora que você está devidamente contextualizado,   podemos começar a entender melhor como é dinâmica  de difusão desses gases. O ar atmosférico, levado   para os pulmões, é composto principalmente de N2  e O2 e possui também quantidades relativamente   pequenas de CO2, argônio e outros gases inertes.  Cada um desses gases exercem uma pressão   específica quando eles estão dentro do nosso  corpo ou na verdade em qualquer lugar fechado,   e quando estão juntos em uma mistura somam as suas  pressões, e esse resultado é igual a 1. Mas o que   isso quer dizer na prática? Significa que a soma  dessas expressões individuais, também chamadas de   pressões parciais, vai ser igual a pressão total  do local. Por exemplo, ao nível do mar a soma de   todas as pressões parciais dos gases que estão na  atmosfera terá que ser igual a 760 mm de mercúrio,   que é a pressão atmosférica ao nível do mar.  Uma curiosidade importante, a lei que defina o   conceito de pressão parcial dos gases é conhecida  como lei de Dalton. Aqui é importante saber que   essas pressões parciais são determinadas pela  quantidade desse gás que está presente vezes   a pressão total do local. Por exemplo, ao nível  do mar a pressão parcial do oxigênio vai ser sua   quantidade disponível na atmosfera, que é de  mais ou menos 20%, multiplicada pela pressão   total, que é a pressão atmosférica, que é  de 760 mm de mercúrio. Fazendo as contas,   temos 0,21 vezes 760 que é mais ou menos 159,6  mm de mercúrio, ou seja, esse é o valor da   pressão parcial de oxigênio, comumente abreviado  como PO2. Agora eu te pergunto, considere uma   atmosfera hipotética que só possui 5% de oxigênio  e que mantém sua pressão em 760 mm de mercúrio   a nível do mar, qual seria a pressão parcial do  oxigênio nesse caso? Pause o vídeo e tente fazer   aí! Bom, voltando. Fazendo as contas temos 0,05  x 760 que é mais ou menos 38 mm de mercúrio.   Entendendo isso, como esses gases se comportam  dentro do nosso corpo? O movimento esses gases   no sistema respiratório acontece por difusão,  isso vale tanto para os líquidos quanto para   os gases. Como acataremos a maior parte com gases  vamos entender sobre a lei que governa a interação   entre os vários mecanismos envolvidos na difusão.  Enquanto a difusão dos gases depende apenas do   gradiente de pressão, a taxa de difusão,  que é a quantidade por unidade de tempo,   depende de outros fatores. A lei de Fick que a  difusão de um gás através da lâmina de tecido   é diretamente relacionada à área superficial  do tecido, ao coeficiente de difusão do gás   e a diferença entre as pressões parciais de cada  lado do tecido, essas inversamente proporcionais   a espessura do tecido. No interior dos alvéolos  essa laâmina de tecido corresponde a barreira   alvéolo-capilar e, conforme mencionamos, é por  essa barreira que ocorrerá a transferência dos   gases por difusão entre os alvéolos e os capilares  adjacentes. Dessa maneira, a transferência de um   gás através da superfície de troca gasosa  pode ser expressa por uma simples equação.   Traduzido, quanto maior a área, menor espessura e  maior a diferença de pressão parcial, maior será a   difusão daquele gás específico. Acredite, a lei  de Fick é extremamente importante para entender   as propriedades de difusão dos gases no pulmão.  Para aqueles que não acreditam e precisa de provas   vamos ilustrar a utilidade da lei de Fick através  de um exemplo. Se a área disponível para difusão   reduzir, o que acontecerá com a transferência  do gás na membrana alvéolo-capilar? Bom,   a transferência do gás através da membrana  reduzirá. Sendo este o caso, como seria possível   restabelecer a transferência? A lei de Fick vem ao  resgate! Observe como as variáveis que mencionamos   até então estão relacionadas na equação. Por  exemplo, poderíamos reduzir a espessura para   restabelecer a transferência do gás ou poderíamos  aumentar o coeficiente de difusão dos gases. Além   disso, poderíamos aumentar a diferença de pressão  parcial. Na prática esse é um cenário que pode   estar presente em doenças pulmonares que tem  como característica danos à membrana alveolar,   que em última instância reduz a área disponível  para trocas gasosas. A espessura da membrana é   uma característica anatômica, portanto difícil  de ser alterada. O coeficiente de difusão é uma   característica do gás, portanto também é difícil  de ser alterado. Já o gradiente de pressão pode   ser modificado com facilidade. Você se lembra  quando mostramos o cálculo de PO2 no início do   vídeo? Neste caso bastaria aumentar a fração de  O2 para aumentar a PO2, isso é relativamente fácil   com cilindros de oxigênio utilizado na respiração  artificial. Agora volte olhar a equação de Fick   para difusão dos gases. No exemplo que citamos se  área disponível para difusão reduz seria possível   manter as transferência do gás constante ou  pelo menos com pouca alteração aumentando   a PO2 no ar expirado, ou seja, aumentando o  gradiente de pressão. Com a lei de Fick então   fica mais fácil entender de maneira geral porque  as doenças pulmonares que afetam a espessura ou   área da membrana alvéolo-capilar terá como  consequência prejuízo na difusão, ou seja,   a troca gasosa não será efetiva. Vamos continuar  mais um pouco? Os gases que não se dissolvem   facilmente no sangue e não possuem muita afinidade  com as proteínas plasmáticas, por exemplo, atigem   seu equilíbrio de maneira extremamente rápida  já que irão precisar apenas se espalhar dentro   dos alvéolos e sangue sem interagir fortemente.  Já os gases solúveis no sangue costumam ter uma   alta afinidade pelas proteínas lá presentes,  como por exemplo o monóxido de carbono. Esses   dois casos são comumente identificados através de  suas respectivas limitações: gases limitados pela   perfusão, onde o tempo para ocorrer o equilíbrio  das pressões parciais são apenas limitadas pela   quantidade de sangue que está passando pelos  capilares em determinado momento, ou os gases   limitados pela difusão, onde a velocidade para  alcançar o equilíbrio está sendo controlada   principalmente pela difusão pela membrana  alvéolo-capilar. Uma coisa para se notar é que,   embora O2 possua uma baixa solubilidade através  da membrana alvéolo-capilar, este gás atinge   o seu equilíbrio ainda mais rápido do que o  tempo de transfer de uma hemácia pela rede,   que é por volta de 0,75 segundos, em comparação  com equilíbrio que é de 0,25 segundos. Isso faz   com que a transferência dele para a hemácia seja  normalmente limitada pela perfusão sanguínea.   Além disso, temoso monóxido de carbono, devido  às suas características ele é frequentemente   utilizado para medir a capacidade de difusão  pulmonar. Não entraremos em detalhes técnicos,   mas este cálculo se torna extremamente útil  para o diagnóstico de várias doenças pulmonares,   como fibrose e o enfisema. Mas agora, como  nós transportamos esses gases para todo o   nosso corpo?Isso vamos deixar para um próximo  vídeo. Muito obrigado por ter assistido até aqui!